A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 35
Família e Dever


Notas iniciais do capítulo

faz um tempinho desde o último capítulo, espero que ainda estejam interessados hahah
boa leitura!



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b o s q u e m e l

  — Era para você estar feliz.  — John murmurou para ela de onde ele se mantinha em pé, perto da lareira que crepitava no meio daquela noite.

Cecily fungou e usou um lenço para secar suas lágrimas que ainda ousavam descer por sua face sem o consentimento dela. E dentro de si mesma ela concordava com seu irmão, pois aquele seria um dia para deixar a tristeza de lado, pois ela havia trago justiça para Gwayne. Além de ter Axel tendo o que merecia pelos crimes que havia cometido, como também feito ele pagar por ter sido o autor de tanta dor para seu coração, aquele homem gélido havia finalmente partido e ela estava livre. Entretanto, depois daquela carta tudo mudou de uma hora para outra.

Havia um ditado que dizia que corvos tinham asas negras e traziam mensagens obscuras.

E a Senhora de Bosquemel tinha que concordar com aquilo quando recebeu a notícia da morte de sua mãe, vinda de seu tio que agora estava assentado em Jardim de Cima e que disse que iria cuidar do palácio até que Eyla estivesse forte o suficiente para viajar. Depois disso ele partiria e havia sugerido que novas forças já estivessem na fortaleza Gardener até lá. O que era outro problema para adicionar à lista que crescia exponencialmente desde que aquela maldita guerra havia começado, trazendo tanta dor e destruição.

Primeiro havia sido seu próprio pai, depois Gwayne e agora sua mãe. A Rainha Elizabeth, uma mãe que havia sido tão distante dela, mas ao mesmo tempo tão amorosa com John. Que sempre tinha algo para corrigir na única filha e nunca tinha nada de ruim para apontar no filho. Que a obrigou a se casar duas vezes e nunca arranjou ninguém para o irmão dela até que fosse extremamente necessário. Mas mesmo assim, depois de tantas desavenças e frieza, ainda assim ela sentia um sentimento estranho e cheio de pesar por saber que ela havia partido. Que a mulher que lhe havia trazido ao mundo não estava mais ali para ela, mesmo que para ser ácida ou fria.

Cecily iria sentir falta de sua mãe, era um fato. Apenas não sabia como John conseguia permanecer tão calmo diante de toda a situação, logo ele que fora tão amado e protegido pela falecida monarca durante toda a vida.

 — Realmente, era para ser um dia diferente e eu não imaginava que acabaria dessa maneira. — Ela confessou limpando os últimos resquícios de choro de seu belo rosto. — Mas eu me surpreendo na verdade com o fato de você não aparentar ter sentido em nada a morte de nossa mãe, meu caro irmão.

Ela percebeu o maxilar dele cerrar com força, antes de se virar na direção dela, agora com um sorriso despontando.

— A morte de nossa mãe foi um infortúnio, mas você deve se lembrar de como ela te tratava, como ela foi odiosa durante toda a nossa vida.

— Isso não ignora o fato dela ser minha mãe, nossa mãe. — Cecee rebateu olhando para o único irmão com certo pesar por suas palavras. — Ela sempre te deu tanto carinho, pensei que estaria mais abatido com a partida dela do que qualquer outra pessoa.

John se aproximou, pegando em sua mão delicadamente e depois se sentando ao seu lado no divã.

— Realmente, não ignora. — O tom dele parecia mais ameno. — Porém, eu ainda sou rei e permaneço no meio de uma guerra, além de uma batalha próxima que foi ideia sua.

Algo obscuro ondulou na face de John e Cecily colocou uma mão sobre a bochecha dele, com carinho e ternura em seu toque.

— Com isso você não precisa se preocupar. — Ela disse com confiança e ele a olhou com incerteza. — Eu irei garantir sua vitória nesse duelo, você irá sair vencedor e por fim poderemos terminar com tanto sofrimento, voltar para nossas vidas. Ou o que restou delas…

O Rei pareceu desconcertado, ao mesmo tempo que tinha dúvida no olhar.

— E como irá fazer isso, Cecee?

Ela suspirou, pois havia postergado aquela conversa por tempo demais e ainda achava que não era o momento para tê-la. Porém, ainda assim teria que dizer a verdade a seu irmão hora ou outra, acreditando que ele entenderia as razões e objetivos finais dela naquela guerra. Cecily se levantou, as saias de seu vestido sendo erguidas levemente por seus pequenos punhos, andou até a penteadeira devagar e respirando fundo antes de pegar a chave que apenas ela possuía e abrir uma das gavetas, onde havia apenas duas coisas. Uma carta com o selo partido e uma pequena garrafa cheia de um líquido púrpura.

— O que é isso, irmã?

Ela suspirou levemente se aproximando do irmão e dando a ele o vidro.

— Eu enviei uma carta a mamãe quando sai de Monte Chifre e consegui uma resposta antes de… antes de tudo acontecer. — Ela comentou dando a carta também, que John começou a ler imediatamente. — Como pode ver, nossa mãe tinha habilidades secretas que nenhum de nós tinha conhecimento sobre.

— Venenos… — John murmurou preso em pensamentos ao mesmo tempo que levantava o frasco contra a luz da lareira para ver o conteúdo púrpura com mais clareza.

— Sim e nossa mãe sugeriu que essa fosse a forma mais fácil de terminar a guerra.

— Envenenar Niklaus?

Cecily concordou com um aceno leve.

— Porém, não seguiremos da forma que mamãe sugeriu. — Cecily pegou a carta e o frasco do irmão, guardando de volta na gaveta. — Me entenda bem, meu irmão. Eu não me orgulho do que estou prestes a fazer e vou ter de me remediar com os deuses por muito tempo nos anos seguintes como punição. Entretanto, isso é necessário, para garantir o futuro de nossa casa.

— O você irá fazer exatamente, Cecee?

— Esse veneno iria matar Niklaus com apenas um gole, mas isso não resolveria nossos problemas. Ele seria um mártir para os rebeldes e ainda teríamos mais guerra antes da paz, por isso teremos que seguir por outra forma e você ainda irá lutar com ele. Irá lutar com uma vitória garantida e ninguém nunca saberá do que eu precisei fazer para que nosso futuro fosse garantido.

 

 

t o r r a l t a

Niklaus mal se lembrava da última vez que havia tido um jantar com sua família.

Era a primeira vez em dias que se via vestindo um gibão prateado e calças confortáveis, ao invés da armadura pesada e couro por baixo. Sentava-se confortavelmente no cadeirão almofadado e não precisava manter a postura perante homens e lordes, pois apenas quem ele confiava que o circundava naquele momento calmo. As velas no candelabro principal iluminavam o rosto cheio de marcas de expressão de sua tia Lynesse, a face séria de seu primo Emmett, além da beleza de Blair e Armelyne.

Todos haviam comido o melhor que puderam e tentaram esquecer de todos os problemas com vinho e conversa fiada. Ele não havia tido os pensamentos levados para a esposa que carregava seu herdeiro ou herdeira, ou no que deveria fazer com a mesma assim que desse à luz. Blair tinha mantido um sorriso no rosto e comentado sobre tudo o que havia acontecido naquela pequena corte. Sua tia e seu primo respondiam a tudo o melhor que podiam. E Lyne ao menos havia feito o esforço de ter comparecido depois da tristeza que havia lhe abatido após a prisão do noivo.

Tudo aquilo o fazia se lembrar de como a vida havia sido mais simples antes da morte de Lady Dalena e da declaração de seu pai como rei. Agora ele tinha metade da Campina para governar, lordes furiosos que não queriam dobrar o joelho e uma família abalada.

— Creio que já esteja tarde para mim, irei me recolher. — Sua tia disse com uma reverência polida que ele dispensou com um movimento leve da mão e Ebbert a acompanhou, deixando apenas os três irmãos Hightower juntos.

Blair abandonou todas as normas de etiqueta de lado ao colocar os dois cotovelos sobre a mesa e apoiar sua cabeça nas mãos.

— Quando irá voltar a batalhar? — A garota mais velha questionou com um suspiro de pesar pela partida que o irmão teria que fazer mais uma vez.

— Sinceramente, já devia ter voltado, mas quis ficar apenas mais um pouco para poder pensar com clareza e estar perto de vocês.

Blair sorriu de seu lugar na mesa e Armelyne apenas cerrou o cenho.

— Já sabe se vai aceitar a proposta? — A pergunta da Hightower mais nova fora rápida como o corte de uma espada afiada.

Ele demorou alguns poucos segundos olhando para o vermelho escuro do vinho que tinha em mãos. O lembrava do sangue do campo de batalha e das vidas que haviam perecido na guerra, especialmente na Batalha de Bosquemel onde ele havia perdido quase tudo.

— Poderia colocar um fim rápido em tudo isso. — Nik respondeu levantando o olhar.

— Poderia ser uma armadilha! — Blair rebateu rapidamente.

— Poderia ser a salvação de Otto. — Armelyne finalizou finalmente mostrando um pouco de emoção, nem que fosse apenas uma mistura inconsistente de paixão, desejo e saudade. Blair trocou o olhar dele para Lyne, perdida nas próprias ideias e pensamentos.

Um silêncio se prolongou pela mesa antes que o Rei tomasse a palavra.

— Seria praticamente um julgamento por combate, fazer uma armadilha acabariam com a honra de John.

— Isso se aquela peste alguma vez teve algo parecido com honra! — As palavras saíram com fúria da noiva de Otto.

— De qualquer forma… — Ele deixou todo o ar preso nos pulmões sair devagar. — Ainda assim, seria nossa grande chance de vitória, um acordo perante os Sete não poderia ser quebrado. E John nunca teve fama por suas habilidades como um guerreiro, creio que posso me garantir com minha lâmina.

— Nik, não vejo muitas garantias, podem haver tantas complicações.

Blair havia visto muito desde que aquela guerra havia começado e aprendido bastante. Uma das coisas que tinha se fixado com mais força em sua mente era a de desconfiar das pessoas e do que elas prometiam, especialmente com tanto a perder naquela batalha de ambos os lados. Já Niklaus via como uma chance de escrever o ponto final naquela história sem perder mais vidas e sem mais batalhas.

— Mesmo que fosse uma chance de paz, finalmente. — As palavras vindas de Blair ficaram rondando as cabeças dos três irmãos por algum tempo, até que Armlyne se levantasse com suas roupas mais simples do que vestia antes de seu amado ser feito prisioneiro.

A mais nova seguiu até o mais velho. Irmãos apenas por parte de pai, mas ainda assim irmãos de qualquer forma. Havia sangue de Gerold correndo nas veias de ambos e amor mútuo batendo nos corações selvagens.

— Eu acredito em você Nik, sabe que eu acredito. — Verdade vinha em cada sílaba de Armelyne. — Minha opinião é que pegue o resto de nosso exército, vá até os Gardener, afie sua espada e por fim crave no coração de John. Por minha mãe e a morte dela que nunca será realmente vingada, pelo nosso pai e por todos que já partiram.

Ela encostou os lábios na testa dele e depositou um beijo antes de sair dali.

Blair observou e recostou em sua cadeira, digerindo tudo o que a irmã mais nova havia dito e o que ela também pensava no assunto antes de também dizer o que queria.

— Eu acredito em você na mesma efervescência. — Ela murmurou com um tom choroso, quase como mais uma despedida que tinha de fazer. — Creio em suas habilidades e que vai voltar para nós vivo e vitorioso. Quero paz e quero ser feliz no final de tudo isso Nik. E mais ainda, quero que você tenha a oportunidade de ver seu filho e de pegá-lo no colo ao menos uma vez.

Blair se levantou por fim secando as lágrimas que desciam por suas bochechas, ela também se aproximou e depositou um beijo fraternal em sua face.

Niklaus permaneceu ali após sua outra irmã também partir, pelo que pareceram minutos ou quem sabe talvez horas. Pensando no que suas duas irmãs haviam dito, no que ele poderia ganhar ou perder. Na sua esposa presa andares acima dele, na criança que nasceria em pouco tempo. No povo que agora era responsabilidade dele e nos lordes que haviam colocado suas espadas a sua disposição.

Uma decisão, sim ou não. Decisão de um Rei.


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Notas finais do capítulo

comentários são sempre bem-vindos :)
espero que tenham gostado! beijinhos ♥



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