Heaven escrita por Azrael Araújo


Capítulo 5
IV


Notas iniciais do capítulo

Vocês pensaram que eu não ia rebolar minha bunda hoje?



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Massageei as têmporas com os dedos, tentando em vão amenizar as pontadas que não me deixavam em paz há dias.

Maldita mononucleose.

Eu deixei escapar um suspiro enquanto encarava o céu estranhamente cheio de estrelas. A noite estava fria, como sempre em Forks, porém o céu se mantinha limpo e sem nuvens; o que era extremamente raro.

Uma nova onda de dor atravessou minha cabeça, mas eu desisti de tentar mandá-la embora. Essa coisa toda de ficar doente era novidade pra mim, uma vez que eu sempre fui saudável durante toda a vida.

Resistente como uma égua selvagem, meu pai dizia.

Pensar nele sempre me deixava nostálgica.

Isaac Swan — em seus quase um metro e noventa de altura e braços robustos como trancos de árvores — era o homem mais amoroso que existira. Pelo menos é o que diziam. Eu não me recordava de muita coisa a seu respeito... Além, é claro, de como ele foi brutalmente assassinado na minha frente por um animal selvagem.

Balancei a cabeça dolorida, mandando esses pensamentos embora e me virei para encarar o relógio de ponteiros que ficava na sala de casa.

Ainda era cedo, mas eu sabia que Renée não demoraria a chegar do trabalho.

Andei alguns passos e sentei em um dos degraus que levavam à pequena varanda na frente da casa para esperá-la.

Encarei o céu novamente enquanto enxugava o suor que escorria pelo meu rosto. A noite estava fria, eu sabia disso, mas eu poderia tirar toda a roupa aqui mesmo e dançar sentindo o vento gelado e isso nem me faria tremer. A febre já nem me incomodava mais, mas era estranho estar sempre suando em bicas.

O som de rodas no asfalto me despertou e eu esperei, em dúvida, enquanto o que parecia ser uma radiopatrulha se aproximava lentamente. O motorista estacionou no meio-fio, mas as luzes do veículo continuaram acesas.

Não demorou muito para que eu identificasse a voz que parecia ser a do passageiro.

Uma risada ecoou e a porta se abriu.

Renée desceu do lado do passageiro, balançando o cabelo amassado e segurando sua bolsa e algumas pastas com papéis. O motorista se esticou para fechar a porta e minha mãe começou a andar na minha direção, vindo pra casa.

A expressão em seu rosto me perturbou.

Eu sabia que era a mesma mulher que me dera remédio durante a madrugada. A mesma mulher que acordara cedo pra checar como estava a minha febre e depois saíra para o trabalho. A mesma mulher que eu copiosamente esperava chegar do trabalho todos os dias, sentada nos degraus da entrada de casa. A mesma mulher das fotografias com o meu pai.

Mas ela também parecia outra.

O rosto estava mais corado, o cabelo desalinhado, o coração acelerado. Um sorriso teimava em se espalhar pela sua face, mesmo que ela parecesse tentar suprimi-lo sem sucesso.

E os seus olhos... Pareciam brilhar. Pareciam estar cheios de algo novo, uma coisa mágica que eu não pude identificar.

Toda a minha percepção foi reorientada para algo ainda mais distinto.

Um cheiro doce, quase nauseante, encheu-me as narinas e eu quase podia senti-las queimar. Eu tapei o nariz com as duas mãos, assustada com aquela súbita percepção e mal registrei o momento em que Renée tocou-me a face.

— Bella? — A preocupação era visível em seu tom — Está sentindo algo?

Sua mão fria deslizou pelo meu rosto, aparando gotas de suor. Ela desceu seus dedos para encontrar minhas mãos pressionadas fortemente contra o nariz.

— Querida? — Ela tentou novamente.

Eu não conseguia assimilar suas palavras, apenas a incontrolável ânsia que me dominara.

O som de uma porta sendo aberta me despertou para o fato de que o motorista da radiopatrulha ainda não tinha ido embora.

Ergui o olhar para encontrá-lo com a metade do corpo pra fora do carro, de forma hesitante tentando falar com minha mãe.

O cheiro se intensificou e eu curvei a cabeça, cobrindo-a com as mãos ao sentir agulhadas em meu cérebro. Renée largara as coisas que estava carregando e agora suas mãos percorriam o meu corpo, preocupada, tentando fazer-me falar algo.

Apenas balancei a cabeça, sentindo um tipo de saliva grossa e amarga descer escorrendo pelos meus lábios enquanto uma nova onda de dor parecia quebrar a minha coluna ao meio.

Em um movimento súbito, o homem da radiopatrulha parecia estar mais perto, oferecendo ajuda. Eu podia sentir vibrações que seu corpo enviava ao meu, quase como se fôssemos polos iguais nos repelindo.

Eu o abominava e nem sabia seu nome.

Deixei escapar um grunhindo enquanto o calor que parecia ser do fogo do inferno queimava meu corpo e uma mão extremamente gelada agarrou meu rosto, forçando-me a olhar para cima. Um par de olhos dourados me encarava, em uma dúvida que foi seguida por um flash que pareceu ser de reconhecimento.

O homem de olhos dourados me soltou e se afastou, ainda me encarando assustado.

Um segundo depois, tudo ao meu redor pareceu explodir.

 

As grossas gotas de chuva serviam ao menos para me manter acordada.

Toda vez que meus olhos teimavam em se fechar, eu sentia a água gelada contra a pele e me obrigava a ficar acordada.

A floresta parecia mais densa, mais escura. E também mais perigosa, para mim, considerando o que eu acabara de fazer. Eu quase havia matado o líder da matilha — tecnicamente, o líder da aldeia.

Por sorte, ou destino, ou algum presente divino, Embry aparecera no meio da briga e levara Sam para os curandeiros da reserva. Lá ele seria todo costurado e, em algumas horas, estaria pronto para vir arrancar a minha cabeça com os dentes.

É, quem dera fosse tão fácil.

Com alguns últimos passos sôfregos eu avistei o meu destino — a mansão dos vampiros.

Enquanto cruzava a linha das árvores e avançava em direção à entrada principal da casa, eu me perguntei se os sanguessugas ficariam loucos pelo meu sangue ou, sei lá, isso era mais uma das coisas que eles tinham nojinho nos lobos.

Eu gemi, segurando o ombro direito enquanto subia o primeiro degrau do maldito lance de escadas. Uma silhueta surgiu na grande porta de vidro, mas eu mal tive tempo de identificar quem era.

Um soco me atingiu em cheio no queixo, provavelmente terminando o trabalho que Sam começara ao enfiar seus dentes na minha mandíbula. Eu gemi, rolei de lado e cuspi sangue ainda apoiada nos degraus iniciais da escada.

— Veio em busca de algum osso, Pentelha?

Eu ergui a cabeça, meio zonza pela pancada e pude ver aquela loira adoidada me encarando com uma uma expressão de escárnio. Qual era o nome dela mesmo?

Cansada e dolorida demais para responder, eu apenas tombei a cabeça de lado e fechei os olhos, sentindo a chuva lavar meu sangue aos poucos.

Outras vozes dominaram o ambiente, até que reconheci Renée — desesperada como sempre — amaldiçoando alguém e ordenando que um outro alguém me tirasse da chuva.

Pelo visto, o meu corpo seria velado por um bando de sanguessugas e uma delas até me bateu. Que digno, Swan.

É, okay, eu tinha consciência de que não morreria apesar de tudo; meu maravilhoso corpo de lobisomem, ou mulher-loba, ou lobagirl só precisaria de algumas horas de descanso para a cicatrização da carne e dos ossos... Mas quando se está na merda, não tem porque não aproveitar isso.

De qualquer forma, algum brutamontes me ergueu e me carregou para um ambiente aquecido, que eu imaginei ser dentro da casa.

Uma voz doce e extremamente agoniada tentava falar comigo, mas eu continuava grogue demais para compreender.

De olhos fechados, eu deixei a escuridão me dominar.

 

Eu pude sentir um cobertor macio cobrindo meu corpo, mais ou menos até a altura do abdômen, assim como o que julguei ser travesseiro onde minha cabeça se encontrava confortavelmente repousada. Meus olhos tremularam diante da claridade, uma luz que estava posicionada acima de mim.

Eu quase podia pensar que estava em casa — na casa das Ateara, mais precisamente, que era onde eu passava a maior parte do tempo.

Quase podia imaginar ela vindo até a cama, vestindo um dos meus moletons antigos que eu não usava mais. Os olhos inchados de sono, a pele morena quente, a boca com gosto de café. Ela me beijaria, se jogaria na cama comigo e ficaríamos abraçadas apenas esquecendo do mundo fora daquelas paredes.

Ela reclamaria por eu ter chegado tarde na noite passada, diria a Sam para pegar mais leve comigo nas rondas, me faria carinho até que eu dormisse novamente porque "eu vou estar aqui quando você acordar".

Isso tudo até poderia ser real, não fosse pelo cheiro que não me deixava em paz. Quinn sempre tivera cheiro de terra molhada pela chuva, suave e agradável. Ela tinha cheiro de casa.

Quando a minha mente ficou clara e consciente, eu engasguei com o fedor de vampiro que estava impregnado em todo o ambiente.

Eu tossi e sentei-me na cama; minha garganta estava seca. Meu corpo estava em alerta, meus instintos gritando para que eu saísse daquele ambiente dominado por criaturas perigosas.

— Ei, calma. — Uma voz doce tentou.

Olhei ao redor pela primeira vez, tirando o cobertor de cima de mim e sentando-me com as pernas para fora da cama.

Eu estava em um quarto, relativamente grande, cheio de estantes de CD's e livros antigos. A cama onde eu me encontrava não era uma cama — era um tipo de maca hospitalar com vários tubos e máquinas ao redor. Uma grande parede de vidro permitia uma vista da floresta e do que parecia ser um pequeno rio mais distante. na parede oposta à maca, havia um grande sofá branco.

Sentada casualmente no sofá, parecendo bastante interessada em um livro escrito em alguma antiga língua estava... Uma vampira. Ruiva.

Não.

Era "a" vampira ruiva, a filha pródiga da família Cullen.

— Fico lisonjeada que pense assim. — Ela fechou o pesado livro e o colocou sobre o sofá.

Ah, é claro, a leitora de mentes.

A ruiva sorriu parecendo divertida e eu revirei os olhos.

— Sou Edythe. — Ela acenou com a cabeça e eu acenei em resposta.

Não importa seu nome, você vai continuar sendo a ruiva pra mim.

Ela riu abertamente dessa vez, provavelmente pensando no quanto era eu babaca.

A ruiva possuía os mesmos olhos dourados como o resto do seu bando, mas eram aí que as semelhanças acabavam.

Ela continuava sentada tranquilamente, me encarando. Usava apenas uma calça de tecido claro e uma camisa social com as mangas arregaçadas até o cotovelo. Eu me perguntava porque vampiros eram sempre tão formais assim; se era uma coisa de instintos ou, sei lá, uma eternidade vivendo em um corpo morto que te deixa antiquado.

De qualquer forma, minha garganta continuava seca e a ruiva notou isso, me indicando uma pequena mesa que eu não havia notado — fui até lá, ignorando as diversas frutas e bebendo uma garrafa inteira de água de uma vez.

— Então... Como se sente? — Ela tentou de novo.

Eu apenas dei de ombros, um pouco constrangida.

— Posso dizer que estou pronta pra outra.

— Mas nem pense nisso, Isabella. — a voz autoritária da minha mãe preencheu o ambiente.

Olhei na direção em que ela entrava, uma das duas portas existentes no ambiente. A loira adoidada estava em seu flanco, ajudando-a a andar.

Minha mãe continuava magra e pálida, com olheiras profundas ao redor de seus olhos. Ela permanecia, irritantemente, acariciando a deformação que deveria ser sua barriga.

— Mãe. — Eu me encontrei sem jeito, sem saber como agir. Gostaria de abraçá-la, de conversar, mas a sua situação... A velha Sra. Ateara havia me convencido de que ela não estava realmente doente, mas...

Além de todas as minhas complicações internas, havia também a loira desmiolada que farejava ao redor da minha mãe como um cão.

Eu quase podia ouvi-la rosnando para mim se eu tentasse dar um passo.

— O que acha que está esperando? Comece a contar o que aconteceu e porque chegou aqui praticamente morta!

Eu revirei os olhos diante do seu exagero. — Eu não estava morta, mãe.

Ela bufou e tentou cruzar os braços, mas a barriga a impediu.

— Chame o seu marido. — Eu afirmei — Nós teremos problemas.

Segundos depois, o vampiro chefe da família apareceu na entrada do quarto — pedindo licença por interromper o pequeno chilique de Renée, ele veio até mim estendendo-me a mão.

Eu hesitei, mas no fim das contas o cumprimentei para, talvez, sinalizar que estava ali em paz.

— Algo que precisamos saber, Isabella?

Eu assenti.

— Renée corre perigo.

 

— Vejamos bem tudo isso. — Ele começou a listar em seus dedos pálidos — Você tentou convencer o lobo-chefe de que a gravidez não era um risco para vocês...

— O alfa. Ele é o alfa. — Corrigi.

— ...Então isso não deu certo e vocês brigaram, e brigaram feio pela forma como você chegou aqui...

— E a sua esposa alienada terminou o serviço, me nocauteando. — fuzilei a loira do outro lado da sala. Ela apenas piscou e soprou um "sem ressentimento, querida".

— ...E agora nós estamos em guerra contra os lobisomens porque eles querem matar Renée e a criança, o que implica que todos vamos ser mortos também já que estamos protegendo ela.

— Teoricamente vocês estão em guerra com todos os Quileutes, não só os lobisomens.

Os vampiros me encararam incrédulos.

— Caramba garota. — O grandalhão gargalhou — A sua noite foi  bem animada.

Apenas dei de ombros, encarando a floresta através do vidro da janela.

Pela posição em que o sol se encontrava, eu deveria ter dormido algumas horas enquanto me curava. A ruiva havia sido a alma bondosa que me remendou e me limpou depois que eu caí na entrada da casa.

— De qualquer forma — Me voltei para os vampiros — Precisamos nos preparar. Se eu já me curei, Sam provavelmente já deve estar de pé e ele não vai hesitar em atacar.

— Mas ele sabe que você está do nosso lado agora. — o loiro, Carlisle, pontuou — E ele sabe que você o conhece, assim como todos os outros. Acha que ele atacaria mesmo em meio a essa desvantagem?

Neguei com a cabeça.

— Sam não tem escrúpulos. Ele é um péssimo líder, mas possui bons guerreiros como Paul e Jared, e bons estrategistas como Leah e Embry.

— Então, o que faremos agora? — Emmett questionou.

Eu suspirei, pensando. Qual será o primeiro passo de Sam?

— Apenas vamos esperar, por enquanto. Sam sabe que não vamos abaixar a guarda... Nós somos muitos e eles também, mas temos a vantagem de que vocês não precisam descansar. A maioria dos garotos está exausto pelas rondas excessivas que Sam os obriga a fazer.

Com isso determinado, a pequena reunião se dissipou.

Eu caminhei em direção a saída, precisando de um pouco de ar. Eu poderia dar algumas voltas em torno da região para demarcar um perímetro de segurança.

— É uma boa ideia. Poderemos nos dividir nas vigílias.

A ruiva surgiu do além, ao meu lado.

Eu a encarei enquanto atravessava o gramado da entrada dos fundos da casa.

— Eu queria agradecer. — Comecei — Por, você sabe... Colocar os meus ossos no lugar e tudo aquilo.

Ela riu.

— Não foi nada. Sempre que precisar, é só me chamar. — Bateu uma fraca continência na minha direção.

Permanecemos em silêncio por um minuto inteiro — eu mal podia ouvir seus passos contra o chão — até que ela se pronunciou novamente.

Mas antes que ela pudesse falar, ouvi um som muito familiar.

Lobos na floresta, e vinham em nossa direção.


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Notas finais do capítulo

erros corrijo depois!
então, eu queria pedir mil perdões pela demora. eu tive que viajar, passei mais de um mês fora de casa e talz... agora que voltei eu tô doente e, pasmem, cheia de problemas pra resolver. mas não quero que pensem que eu abandonaria as fics, nada disso. se um dia eu parar de postar aqui é porque eu morri, e se eu morrer a Iara avisa vocês :3
enfim, sobre o capítulo... quem diria que a Edythe consegue ler a mente da Bella hein? serasi ela viu as lembranças da Bella com a Quinn? ahsuhaaushaus
enfim, espero que tenham gostado. até o próximo capítulo e/ou até as outras fics que eu vou att também ahsuhaushaus

only love ♥



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