São Francisco escrita por Dri Viana


Capítulo 26
Epílogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/727804/chapter/26

Las Vegas...

Abri os olhos com certa relutância por conta da claridade que invadia o cômodo através das frestas da cortina. Depois passei as mãos sobre olhos tentando me acostumar com a luz ali. Logo em seguida, já esticava os braços me espreguiçando na cama macia.

Que horas já deviam ser?

Acho que passava fácil das oito. Se duvidar até das nove. Ou não!

Sem muita vontade espichei o pescoço pra ver as horas no relógio digital em cima da mesinha posicionada ao lado da cama, mas ao invés de encontrar o aparelho que sempre ficava ali, o que encontrei foi outra coisa.

Imediatamente sorri ao ver o porta-retrato com uma foto que eu conhecia bem demais. E pregado na borda do retrato estava um daqueles papéis coloridos que usamos para lembretes. No papel estava escrito os seguintes dizeres: Hoje... 15 anos!

Sorri mais ainda no mesmo instante em que li aquilo.

Enfim esse dia chegou!

Confesso que até havia esquecido que era exatamente hoje a data daquela foto. Se não fosse àquele lembrete ali, ia passar batida por mim a data.

Nos últimos meses a loucura do meu trabalho como agora supervisor do centro de pesquisas ao qual faço parte e as exigências que o mesmo vinha me tomando cada vez mais, têm me deixado perdido com isso de datas. Às vezes, eu não sabia nem o dia da semana em que estávamos. Mas que bom que eu tenho a minha adorável esposa pra me recordar dessa data que virou especial pra gente.

Num pulo, eu saí da cama. Fui ao banheiro jogar água na cara e escovar os dentes. De volta ao quarto, tirei a foto do porta-retrato, guardei dentro do bolso do short que usava e logo em seguida já saia do meu quarto todo sorridente rumo à cozinha onde certamente, encontraria quem eu procurava.

15 anos!

Parece que foi ontem, mas não foi. Eu tinha a ligeira impressão de que esses anos passaram voando agora que chegamos nele. Todavia, a verdade é que não passou, não.

Tanta coisa aconteceu na minha vida ao longo desses anos. E a grande maioria delas só coisas boas, graças a Deus! Mas houveram algumas ruins também como, por exemplo: a perda de Phil ano passado, em decorrência de um aneurisma. A morte do meu padrasto foi dolorosa demais pra família toda, principalmente para a minha mãe e o meu irmão de 12 anos.

Sim, tive um irmão!

Dois anos depois de já tá casada com o Phil - evento esse que aconteceu antes de eu ir pra universidade - minha mãe engravidou, pegando a todos de surpresa, inclusive à ela própria.

Damon, meu irmão, era o oposto de mim. Falante e extremamente extrovertido, ele era muito parecido com o pai. E foi difícil e doído pra ele perder tão precocemente o Phil. Mas Damon estava superando dia após dia isso, assim como, minha mãe que se viu perdendo pela segunda vez um marido.

Tirando essa dolorosa perda... E outras coisas ruins, eu não tinha do quê reclamar, pois minha vida foi ao longo desses anos maravilhosa demais.

Há poucos passos de alcançar à porta da cozinha, eu escutei algo que me fez sorrir e parar, escondido e escorado à parede próxima da porta.

—Mamãe, o papai ronca?

Ouvi minha mulher sorrir da pergunta do nosso filho de quatro anos. Anthony era um garoto curioso e falante demais. Ele falava pelos cotovelos! Meu sogro vive dizendo em brincadeira que Tony engoliu uma vitrolinha que só desliga quando ele dorme.

—Por que a pergunta, meu amor?

—Ah, é que o James, o meu amiguinho da escola, disse ontem que ouviu a mamãe dele reclamando com o papai dele, que ele andava roncando muito e que ela não conseguia dormir, porque o papai do James parecia um dinossauro roncador.

Senti ímpetos de gargalhar diante disso, mas me contive senão me denunciaria ali. Apenas sorri com a mão na boca. No entanto, minha esposa gargalhou por mim e eu adorei o som da risada dela. A verdade é que há 15 anos eu adorava tudo nela, desde de seu sorriso até o seu mal-humor.

—Dinossauro roncador?? Essa é boa!... Quanto ao seu pai, ele ronca sim, mas não é como o pai do James, filho. O ronco do papai é bem baixo, que nem o seu.

—Eu ronco também, mamãe??

Senti na voz do meu pequeno o espanto dele ao questionar sua mãe.

—Sim.

—Mas não é só gente grande que ronca?

—Gente pequena também ronca, rapazinho.

—Você também ronca, mamãe?

De onde eu estava escondido apenas balancei a cabeça em negação sorrindo enquanto ao mesmo tempo ouvia minha esposa responder um "não" ao nosso menino.

—O Hank ronca, não é mamãe?

—Sim, às vezes.

—Uma vez, eu ouvi o Hank também latir baixinho enquanto ele dormia.

Meu filho sorriu após contar isso e o som da risadinha dele era tão lindo quanto o de sua mãe.

Sentí um leve puxão no meu short, na parte de trás. Virei o rosto e encontrei minha bonequinha me encarando com carinha de sono. Por isso que não ouvi sua voz ali na cozinha. Minha pequena certamente estava dormindo e havia acordado agora.

Ela era igual a mãe, que tinha dificuldades em acordar. Se bem que a maternidade fez minha esposa perder a dificuldade em acordar. Depois que nossos filhos nasceram, Sara ficou com o sono leve. Qualquer barulho já lhe despertava. Principalmente, quando era algum barulho vindo do quarto dos nossos gêmeos.

—Ei, minha bonequinha!

Murmurei pegando Mel no colo e depois lhe dei um beijo em seu rostinho.

—Papai o que você tá fazendo aí escondido?

A voz alta de Mel nos denunciou ali.

—Mel?? Gil??

Ouvi minha esposa chamar-nos de dentro da cozinha. Apareci na porta revelando então nossa presença ali.

—Oi, querida! Bom dia!

Com Mel ainda no colo fui até Sara e lhe dei um beijo ouvindo meus filhos disserem em coro "eca". Sara beijou Mel e depois disso fui até Anthony lhe dar um beijo na testa.

—Papai hoje você vai levar a gente à tarde no parque não é? Você prometeu.

—Vou sim, Tony. - Respondi ao meu garoto enquanto acomodava sua irmã na cadeira ao lado da dele.

—Papai, você não disse o que fazia escondido atrás da porta?

Se Tony era curioso, Mel era mais ainda. E ambos puxaram isso de Sara. Assim como puxaram também, o jeito desconfiado e cismado de ser.

—Grissom, você estava escondido atrás da porta espiando a minha conversa com Tony?

Sara fingiu seriedade, mas a verdade é que ela parecia prestes a rir daquilo.

—Foi sem querer, juro! - Sorri matreiramente e erguendo as mãos, após me acomodar ao lado dos meus filhos à mesa.

—O papai tem que ficar de castigo, porque é feio ouvir escondido a conversa atrás da porta, não é mamãe?

—Isso mesmo, Tony. Você merece um castigo por isso, Gil.

Sorri vendo Sara se aproximar da mesa e depositar o copo com vitamina que havia preparado para Tony e outro pra Mel.

—Ele tem que ficar de castigo no cantinho.

Meu filho sentenciou com certa seriedade e autoritarismo como sua mãe costuma falar com ele e Mel quando aprontam.

—Castigo anotado, filho. - Vi minha esposa então se curvar próximo à mim e me murmurar: _Você vai ficar de castigo no cantinho. Ouviu bem, Grissom?

—Ao invés, do cantinho esse castigo podia ser na cama e de preferência com você nela junto comigo. - Resmunguei à Sara antes de lhe roubar um beijo.

—Olha as crianças, seu nerd pervertido.

Sara me sussurrou batendo-me de leve no ombro. Sorri enquanto minha esposa se afastou de mim pra ir buscar algo na geladeira. Reparei que nossos filhos me encaravam com umas carinhas bem inquisidoras. Sentí até medo de que eles tivessem ouvido o que disse à Sara.

—Do que está rindo, papai?

Fui salvo de responder a pergunta de Tony pela chegada de Lynda. Ela é uma moça que tomava conta dos gêmeos e ajudava nos serviços da casa. Lynda era muito bem paga pelos serviços e era uma excelente pessoa. Sara e eu contratamos essa moça pouco antes do término da licença-maternidade de minha esposa e até hoje Lynda seguia com a gente.

—Bom dia, família feliz!

—Lynda!

Vi Anthony e Mel saírem de suas cadeiras e correrem pra abraçar a babá. Lynda estava de férias e estava de volta hoje pra trabalhar. Os meninos já sentiam enorme saudade dela.

—Meus pequenos!

Sara e eu apenas observamos a interação e carinho de nossos filhos com Lynda. Eles gostavam demais dela e ela deles.

Depois de dar a devida atenção aos dois, Lynda veio cumprimentar à mim e Sara. Ela nos contou como tinham sido suas férias e nos revelou que desde a semana passada já estava louca pra voltar à trabalhar, pois sentia falta das crianças.

Poucos instantes depois, após os gêmeos acabarem de comer, Lynda os levou pra escovarem os dentes e trocarem a roupa, pois eles ainda usavam pijamas.

Então ficamos apenas Sara e eu na cozinha.

—Viu o lembrete?

Minha esposa me indagou tão logo ficamos sozinhos.

—Vi. - Tirei a foto do bolso e coloquei sobre a mesa. _Enfim chegamos aos 15 anos dessa foto!

Minha esposa pegou a fotografia e pude vê-la fitar aquilo com extremo carinho. Depois virando o papel, ela leu silenciosamente o que eu havia escrito ali 15 anos atrás.

—E você acertou suas previsões, senhor vidente! - Ela me disse e fitou-me logo em seguida.

Sorri pra ela.

De fato, eu tinha acertado mesmo!

Tudo o que disse à ela naquela tarde de pôr-do-sol na praia de São Francisco e que estava escrito no verso daquela foto, tinha concretizado-se.

Estávamos casados, com dois filhos que tinham os nomes que eu e ela dissemos àquele dia. Morávamos numa casa bonita em Las Vegas. E tínhamos um cachorro de nome Hank.

Foram cinco anos de namoro e dois de noivado, até a gente casar após eu ter me estabilizado num emprego de pesquisador e Sara no dela de perita no Laboratório de Criminalística. Três anos de casados e então veio os gêmeos pra somar mais felicidade em nossas vidas. E ano passado chegou Hank que adotamos numa feira de adoção! Somando tudo temos: 15 anos!

15 anos... De felicidade!

15 anos... Que aquela hóspede insuportável apareceu na minha casa e na minha vida pra roubar meu coração!

15 anos ... Que eu não sei mais o que é viver sem a Sara!

E 15 anos... De um amor que só fez crescer e crescer ao longo desse tempo que já estamos juntos.

Ela e nossos filhos eram tudo pra mim!

—E você bem que não levou a sério o que eu te disse naquela época, não é? - Puxei Sara que estava de pé ao meu lado e fiz a minha esposa se acomodar em meu colo.

—Admito que não levei à sério mesmo. - Ela tinha um sorriso nos lábios. O mesmo sorriso que há anos eu amo. _A gente não mudou muito, mudou Gil? - Sara observava novamente nós dois na fotografia.

—Acho que não. Você, por exemplo, continua linda, ciumenta, chata e implicante.

—Ei!... - Ela socou meu braço. Os anos passaram, mas aquele seu costume não mudou, continuou. _E você também continua chato, ciumento e sabe ser implicante quando quer, tá?!

—Faltou mencionar que sou lindo como eu disse que você era. - Murmurei antes de beijar seu pescoço.

—Não tá merecendo ser chamado de lindo.

Nós sorrimos e eu tomei a iniciativa de beijá-la bem devagar como passou a ser meu jeito favorito de beijá-la.

Quem diria lá atrás que nós dois iríamos estar juntos até hoje? Ou melhor, quem diria pra início de conversa, que íamos nos apaixonar e ficar juntos até hoje?

E se Deus quiser ficaremos juntos até o fim da vida, porque pra mim seria assim. Sara e eu, juntos pro resto das nossas vidas.

—Eu te amo, minha eterna "garota insuportável"!

Sara me sorriu do seu jeito lindo. E uma de suas mãos tocaram minha barba, que desde que deixei crescer, a minha esposa não queria mais que eu tirasse apenas aparasse.

—E eu também te amo, meu eterno "quatro olhos" e "nerd estranho e sem graça"!

Nós sorrimos e por mais uma vez ali, nos beijamos.

Fim


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso meninas.

Ficamos por aqui.

Quero agradecer a companhia de cada uma de vocês e os comentários que recebi. E se não correspondia as expectativas ou faltou algo na estória, me desculpem.

Quero que saibam que foi um prazer enorme contar com a companhia, o carinho e os comentários de vocês.

Um grande beijo em cada de vocês.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "São Francisco" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.