Fortão, o gato aventureiro de Arton escrita por João Eugênio Córdova Brasil


Capítulo 2
Capítulo 2 - Dizendo adeus


Notas iniciais do capítulo

Após um pequeno erro na postagem do capítulo 1 (marquei erradamente como história finalizada), eu removi aquela postagem e comecei novamente aqui... Pode parecer uma aventura infantil, mas não é!



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Rapidamente a história do gato que interveio e salvou um grupo de aventureiros correu pela cidade. Não era de se admirar e muitos se vangloriavam disso, Malpetrim era uma cidade onde qualquer um poderia ser um aventureiro ou ter seu momento de emoção. E Fortão era a prova viva disso. Até mesmo os outros animais percebiam isso e começaram a ver aquele gato com olhos diferentes.

Mas as emoções de Fortão estavam apenas começando. O grupo de aventureiros permaneceu na estalagem por mais três dias a fim de terminar seus assuntos na cidade. Em todo esse tempo sempre que cruzavam ou encontravam com o gato prontamente lhe faziam reverência e uma grande festa. A cada noite muitos dos freqüentadores das mesas e do hidromel da estalagem paravam para escutar a história de como tudo aconteceu naquele dia. Hernus, principalmente, não cansava de contar à todos sobre o bichano. Já Thuragar gritava da cozinha, sempre que podia, que era tudo verdade. E quando Fortão entrava pela janela um público divertido o aplaudia inflando seu ego mais do que ele mesmo poderia imaginar.

Ele havia ganho um lugar cativo sobre uma cadeira, junto dos aventureiros, com direito à tigela de leite sobre a mesa e tudo mais. Ficava escutando atentamente a conversa deles e mantinha-se atento ao movimento de todos à volta. Foram dias maravilhosos. Mas tudo tem um fim.

Na última noite do grupo na cidade uma pequena comemoração foi providenciada por eles para alguns de seus amigos. Os ganhos tinha sido consideráveis e justificavam um certo grau de esbanjamento. Como de costume Fortão circulava imponente por entre as mesas e convidados, sempre recebendo um afago ou palavras de enaltecimento. Todos lamentavam a despedida que viria no dia seguinte, mas principalmente o guerreiro musculoso e que acabou por se afeiçoar com Fortão e seu jeito intrépido de ser. Normalmente os dois estavam juntos, por mais estranho que isso pudesse parecer. Era um tanto curiosos um enorme guerreiro caminhando e conversando com um gato. Já de madrugada o guerreiro estava bebendo com Hernus, encostado no balcão da recepção, onde Fortão assistia tudo enquanto providenciava um bom banho.

“- Hernus, meu amigo, sentirei falta de sua hospitalidade” – disse antes de secar o último gole de sua caneca de hidromel – “mas o melhor de tudo foi a descoberta de seu guerreiro felino!”

Fortão não se acostumava com isso, mas tinha certeza de que conseguiria sobreviver com todos aqueles elogios.

“- Pois é Blander, o Fortão é um de nossos bens mais preciosos. E mesmo eu, que já o conheço, fiquei surpreso com sua atuação naquele momento.”

“- Pois agora que o conheço um pouco posso afirmar... ele é um aventureiro de alma. Percebe-se isso no olhar. Eu o reconheço como apenas um igual o poderia. Ele foi criado pela deusa para uma vida de emoção” – ele fez uma pausa de pesar – “pena que ele não possa se juntar à nós!”

As palavras finais de Blander soaram como magia. O efeito foi instantâneo em Fortão. Por um instante uma infinidade de coisas passaram por sua mente – combates, mistérios, jornadas infindáveis, uma emoção por dia – tudo o inundou como num soco.

Fortão deu um pulo e olhou fixamente para Blander como que querendo ter certeza de que escutara corretamente. O guerreiro e Hernus ficaram surpresos com a reação do felino e se entreolharam. O gato correu para o lado do guerreiro e começou a se esfregar em seu braço, a única forma que ele conhecida de demonstrar carinho e agradecimento aos seres humanos.

Blander ficou imóvel por uns instantes olhando para Fortão.

“- Então queres vir conosco?!”

“- Miaaaauu!” – foi a forma dele dizer sim.

Então ele correu para frente de Hernus e apoiou-se em seu peito e encarando-o com afeto e agradecimento enquanto ronronava freneticamente esperou por uma resposta.

“- Meu amigo...” – ele disse com carinho – “então irá seguir seu caminho? Sabia que isso aconteceria um dia. Estava na cara que seu destino seria grandioso e longe do marasmo de uma estalagem.”

Fortão o fitava com carinho como que pedindo permissão.

“- Não precisa me pedir nada meu amigo... tens toda a liberdade para ir contanto que prometa nos visitar sempre que possível!”

Não sei se gatos podem sorrir, mas quem olhasse para Fortão naquele momento teria convicção de que ele estava sorrindo, pelo menos por dentro. O gato deu um pulo para o colo de Hernus e em seguida pulou para Blander até se postar sentado em seu ombro.

O enorme guerreiro, agora com semblante de criança, voltou-se para a área das mesas, onde a comemoração continuava, e colocou-se bem em seu centro para fazer o anúncio.

“- Meus amigos!!!” – todos pararam para escutar – “tenho um novo companheiro de armas.... O GATO VAI CONOSCO!!!!”

Houve um estrondoso rebuliço entre palmas e vivas de todos. Os companheiros de Blander se aproximaram deles com seus jarros em brinde. Por incrível que pareça ninguém ficou surpreso ou estranhou o acontecido. Num mundo como Arton não haveria por que se estranhar coisa alguma. Num mundo onde chove ácido e demônios insectóides infestam e matam, onde orcs e góblins se organizam em exércitos, onde golens ameaçam destruir todo um reino e onde deuses podem andar entre nós, por que surpreenderia o fato de um gato entrar para um grupo de aventureiros.

“- Finalmente alguém que preste neste grupo!” – gritou o anão para o elfo – “e melhor lutador que tu Ehllinthel!”

“- E com certeza menos reclamão que tu, anão de araque!”

“- Quer dizer que teremos de dividir nossos espólios em cinco?” – perguntou o bardo com olhos estreitos para Fortão e com sorriso malicioso num dos cantos da boca, mas num tom notadamente debochado.

Fortão estreitou o olhar de volta ao bardo de cabelos longos e loiros encarando-o e soltou em resposta um curto mio. Após um instante de silêncio todos começaram a gargalhar em alvoroço.

Gustav pegou o gato do ombro de Blander e o colocou sobre a mesa após acariciá-lo – “ok, dividimos o ouro, mas tu ficas com as gatinhas de cauda e eu com as humanas, certo?!”

Fortão respondeu com um ronco e correu para a janela, parando por um instante em seu parapeito. Blander gritou para ele não se atrasar que sairiam no navio da manhã. O gato saltou para a noite correndo pelas vielas. Ele queria se despedir da cidade que amou conhecer e viver até aquele dia. Tentou encontrar todos seus amigos para despedidas rápidas e promessas de um retorno triunfal. Foram algumas horas de agitação, encontros emocionantes e conselhos valiosos.

Já em hora avançada da madrugada ele retornou para a estalagem e procurou o quarto dos irmãos que além de serem donos do estabelecimento se consideravam donos dele. Era inegável que ele sentiria muita falta dos dois, mas sua hora havia chegado. Ele havia esperado ansiosamente por este dia e não iria deixá-lo passar. Mas para não se esquecer daqueles momentos ele fez o que poderia como despedida – passou o resto da madrugada dormindo aos pés da cama de um e depois do outro. Ambos, mesmo entristecidos, iriam ainda se lembrar e comentar aquela última noite por meses. Eles viram o gato entrando silenciosamente pela janela enquanto os dois conversavam e fumavam calmamente sentados em suas poltronas num canto do cômodo. O aroma típico e inebriante do fumo de Hongari preenchia o quarto. Fortão o adorava o aroma produzido pelos cachimbos e sentiu-se embalado em seu sono.

Sua vida nunca mais foi a mesma e o início de tudo estava marcado naquela madrugada.


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