Fluorescent Adolescent escrita por Liids River


Capítulo 4
Why'd you only call me when you're high?


Notas iniciais do capítulo

Eu acho que o nome do capitulo é auto-explicativo.
SUHASUSAHUSAHASUHASUHSA
AMIGOS
MUUUUUUUUUUITO OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS/MENSAGENS/POSTAGENS QUE VOCÊS ME FIZERAM AAAAAAAAAAAA
amei cada um deles,vou responder agora!
Esse capitulo é dedicado a todos vocês : eu amo demais cada um!
E eu estava fazendo umas contas aqui e terão mais dois capitulos,devido ao final desse.
Vejo vocês logo menos
(eu ia postar no feriado maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas eu tive um feriado corrido ;c )
não fiz revisão desse capitulo,peço disgurpas



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 Sexta-feira.

Eu estava deitada em meu sofá,já colocando no canal do chromecast. Todos deveriam destinar as suas sextas-feiras as séries e ao friozinho de outono. Todos!

Tecnicamente,eu não deveria estar deitada. Deveria estar me arrumando para ir ao show dos Strokes com Percy e a sua trupe. Deveria ir colocar a minha saia xadrez,uma bela meia-calça,minha camiseta da banda e um casaco. Deveria usar um coturno e deveria estar pronta em 40 minutos quando o táxi chegaria com Percy e Thalia e iria a caminho do show.

Mas eu estava deitada de pijama com meu cachorro aos pés.

Não tinha avisado ninguém hoje de que não iria. Eu havia dito a semana inteira que eu não iria.

Não era brincadeira.

— Ei,querida – mamãe chamou-me no pé da escada. Ela usava um belo vestido azul que ia até os joelhos. Os cabelos soltos ao redor do rosto maduro e sapatos de salto.Tinha maquiagem ali,o que só poderia significar um coisa : encontro.

—Você está linda,mãe – sorri para ela,sentando-me no sofá. Meu cabelo parecia não ver um pente há 84 anos. – Onde você vai?

— Eu vou jantar com alguns colegas do escritório – ela sorriu,colocando um casaco e digerindo-se até a porta. Ela pegou as chaves do carro e me olhou – Tem dinheiro pra pizza embaixo do pote de biscoitos.

—Obrigada! – sorri e voltei a deitar-me no sofá – Bom encontro,mamãe.

—É um jantar de negócios,Annie.

Revirei os olhos e levantei a mão em forma de joinha.

—É sério – ela murmurou.

Sentei-me novamente no sofá encarando-a. Ela sorria enquanto digitava algumas coisas no celular. Definitivamente um encontro.Quando meus pais resolveram se seprar,fora um dos tempos mais difíceis que eu já havia enfrentado. Quero dizer,eu não imagina nenhuma razão para que acontecesse e não imaginava que acontecesse da maneira que havia acontecido.

Meu pai saíra de casa dizendo eu não aguentava a pressão familiar. E tudo bem,nem todos os homens estão prontos para o que pode ser uma família.

Eu só não entendia porquê nas fotos de jantar de família de Rachel,ele estava lá agora.

Sorrindo.

Ele,Rachel e a mãe dela.

Confuso.Eu sei.

Ela levantou os olhos para mim,um sorriso estampado no rosto.

Eu sorri de volta e fiz o movimento da arminha com a mão.

— Olha lá – ela riu – Esse movimento é bem blasé.

Eu sorri e despedi-me mais uma vez,vendo-a ir embora.

Blasé.

Definitivamente era a palavra que definia bem Nico e Percy Jackson,apesar de que se você está no meio deles,isso é bem diferente.

Peguei meu celular,pronta para pedir uma pizza e terminar a sexta-feira da melhor maneira que eu conseguiria. Deparei-me com algumas mensagens dos grupos de trabalho e de Nico.

“Não vai mesmo? Você vai contar ao resto do grupo ou eu devo fazê-lo?”

Eu sorri. Nico tinha a capacidade de fazer coisinhas pequenas virarem um tremendo “grande coisa”. Era engraçado e bem inconveniente as veze e eu tinha vontade de manda-lo parar de fazer aquilo quando se referia a mim,mas era Nico.

O garoto mais carinhoso e não “imagem que passa”,que eu já havia conhecido. Poucas pessoas conhecem Nico Di Angelo de verdade : ele estava além das roupas escuras e dos cabelos negros. Ele era mais.

“Não irei. Fico feliz que você avisa a Thalia e os outros... mesmo que eu saiba que vou escutar um monte na segunda-feira”.

A resposta veio imediatamente :

“Não vai amanhã também? Na casa da Rachel?”

“Hn,não.”

“Você vai ouvir um monte na segunda-feira.”

Eu sorri. Blasé era pouco para esse Di Angelo.

“Bom show,Nico. Arranje briga e inicie uma roda punk bate e cabelo por mim : ) “

Deixei meu celular em cima da mesa de centro,indo até o telefone ao lado da geladeira. Fiz meu pedido de duas pizzas,por mais que estivesse sozinha. Coloquei o potinho com água para os cachorros dos vizinhos que vinham todas as noites atrás de comida. Eram uns folgados que eu não consegui não alimentá-los.

Sentada em cima do balcão da cozinha pensado. Queria ir. Queria ter mais alguns momentos com Percy,sendo só nós dois. Mas não queria que fosse só pra mim.

Eu vi meu celular brilhar em cima da mesa de centro da sala.

Levantei-me,indo até ele. Na tela brilhava o nome “Perseu Jackson” com uma foto de um coroinha . Não me pergunte quem e quando tinham feito aquilo,apenas tinham feito.

Atendi no quarto toque :

—Ei!

— Você não vai mais? – perguntou baixo do outro lado da linha. – Sério? Eu já estava indo buscar você.

— Eu havia comentado que não iria... – murmurei.

Ele pigarreou do outro lado e falou um pouco mais alto :

—Não achei que estivesse falando sério.

— É, todo mundo tem esse probleminha de interpretação. – murmurei. Ele riu um pouquinho do outro lado da linha e eu quase podia vê-lo abaixar a cabeça e passar a mão no cabelo.

— Alguma razão especial para não ir hoje?

—Eu estou cansada – murmurei. Não era totalmente mentira. Mas não era inteiramente verdade..

— Conta outra – ele murmurou suspirando em seguida.

Estava falhando até em mentir por telefone. Essa é nova.

—Eu tenho séries para atualizar – sussurrei caminhando pela sala. – Eu espero que você tenha um bom show.

— Você não pensou nem em me avisar? E se eu já estivesse dentro do táxi indo buscar você? – perguntou indignado

Então eu iria. Mas você não veio. E aí seria um grande desperdício de 4 doláres pra você.

— Não faça disso um grande problema,Percy – murmurei mordendo minha unha. – Isso é trabalho do Nico.

— Parece que você só avisa das coisas pro Nico. Ou só conversa com Nico.- ele respirou fundo. – Nico aqui.Nico acolá. Nico,Nico,Nico. Vou passar o telefone para o Nico para que você fale com ele...ah não espera,você falou o dia todo.

—Percy – repreendi.

—Tá,tanto faz. –ele respondeu um tanto grosseiro.

Ficamos em silêncio na linha por alguns instantes. Eu queria manda-lo para o show e pedir para que ele me deixasse em paz. Por outro lado,queria pedir para que ele tomasse cuidado nessa de “invadir” o show. Queria pedir para que ele levasse um casaco e que não arrumasse confusão. Queria pedir para que ele não chegasse muito tarde.

Mas eu permaneci em silêncio.

Ele suspirou do outro lado da linha.

—O que você vai fazer? – perguntou ainda meio rude.

—Vou ver séries – sussurrei,suspirando em seguida. – Comer alguns pedaços de pizza. Entupir meu sistema de refrigerante.

— Ainda dá tempo de ir conosco – ele murmurou.

—O que vocês vão fazer? – perguntei também.

—Ver a banda. – ele riu – Tomar um ou doze copos de cerveja. Comer um hambúrguer durante o show,talvez.

Eu sorri lembrando-me do último show.

—Não vá passar mal.

—Não vou –ele murmurou- Não se você não estiver lá pra me socorrer.

Eu sorri mordendo o peito do meu polegar. Queria muito pedir para que ele desistisse do seu programa de sexta-feira e me acompanhasse no meu programa de sexta-feira.

— Certo – sussurrei ficando em silêncio mais alguns instantes.

No fundo,alguém gritou o nome dele,fazendo-o suspirar.

—Eu queria que você fosse. – ele murmurou. – Eu preciso ir agora.

Não vá!

— Tudo bem – murmurei,jogando-me no sofá de novo. – Não chegue muito tarde.

—É...você também – ele murmurou – Quero dizer,não fique acordada até muito tarde.

—Vou tentar – sorri.

Silêncio.

Pelos Deuses,não vá.

— Hn.. –ele pigarreou. – Estão me chamando agora.

—Tudo bem. – suspirei – Bom show.

—Boa série.

Mais silêncio. Ouvi a voz de Nico mandando-o deixar de ser tão lerdo, ir logo e rir um pouquinho.

— Babaca – ele resmungou na linha.

—Sua paciência e dele são iguais – murmurei mexendo em meu próprio cabelo.

— Você deveria maneirar nas ofensas,gatinha – Percy suspirou de novo. Quantos suspiros essa noite,Sr,Jackson. – Queria mesmo que você fosse.

—Você vai sobreviver sem mim –brinquei.

—Vou – ele riu. – Até mais tarde,Annabeth Chase.

—Até mais,Percy.

E desligou.

.

Quando as minhas pizzas chegaram,eram 8h da noite. Eu comi quatro pedaços – de cada – e assisti a 8 episódios de Baby Daddy. Quando a vontade de fazer xixi bateu,eram 10h da noite. Eu já aproveitei para tomar um banho e lavar o rosto. Quando a Netflix liberou a nova temporada de uma série que eu queria muito ver,eram 2h40 da manhã/madrugada.

Eu deixei o piloto em pause e fui até a cozinha esquentar mais alguns pedaços de pizza,fazer pipoca e pegar os chocolates e balas fini do estoque de minha mãe. Estava devidamente pronta para entregar a minha vida pelo final de semana inteiro à locadora vermelha,até o meu celular tocar.

2h48 da manhã.

Ou mamãe tinha sofrido um acidente.

Ou a vovó tinha sofrido um acidente.

Ou Percy e a trupe tinham sofrido um acidente.

O que? Nada de bom acontece depois das 2h da manhã.

Apertei o tempo no microondas para a pipoca e corri apara atende-lo.

— Alô?

Um risinho.Um soluço.Um arroto.

—Alô!

Percy Jackson.

— ... Percy? – só pra confirmar.

— Tá esperando ligação de mais alguém?

— Não esperava nem a sua,na verdade – respondi.

Mais um soluço.

— Você – ele pausou. Riu. – Você sabe quebrar o coração de um garoto.

—Percy..- suspirei. Ele riu um pouquinho e eu ouvi o barulho de algo caindo – Está tudo bem?

— Tudo na mais devida e perfeita paz,Annchase – ele murmurou. Eu quase podia vê-lo fazer o seu movimento de arminha com os dedos. Tinha alguma coisa errada com a sua voz. Não tinha seu tom irônico ou algo assim,e isso era bem estranho. Percy Jackson sem a sua ironia era como Chocolate prestígio sem...prestígio. – Na paz.

—O que está acontecendo?

— Eu poderia escrever 890 maneiras de te dizer isso – ele murmurou. Suspirou algumas vezes antes de continuar : - Eu acho que te amo. Mas você não me ama de volta.

Revirei os olhos. O que diabos estava acontecendo?

— Você está sozinho?

—Você liga? –ele retrucou e riu mais alto. – Acho que não!

—Tá bêbado,Percy? – perguntei estranhando seu tom que por mais que ele quisesse ser rude e grosso,eu não conseguia sentir isso.

Ele suspirou e fez um grunhido raivoso.Isso eu consegui sentir.

—Não. E eu gostaria que você me dissesse coisas bonitas como as que eu disse pra você. Diga.

—Percy!

—Diga –ele murmurou mais alto – Você gosta do meu cabelo?

Permaneci em silêncio.

— Você gosta do meu rosto?

Mais do que gostaria.

—....ou você gosta só das coisas que eu passo pra você? – perguntou mais baixo.

Lá estava ele de novo. Percy precisava achar que ele era só música e filme. Precisava parar de achar que era facilmente substituível.

E eu precisava disso também.

—É tá, talvez –ele suspirou – Talvez eu esteja um pouco bêbado . Eu acho que esse é o feito colateral de quem cabula a catequese....Mas não importa.

Comecei a desligar a televisão e correr atrás das minhas pantufas.  O que eu estava fazendo? O que diabos eu poderia fazer?

Jovem,19 anos com hábitos de 87. Sem licença para dirigir.

Você vai mesmo em busca do seu cavaleiro indefeso?

—Fala comigo,porra –ele grunhiu do outro lado. Não do jeito raivoso. Parecia mais...o que diabos Percy parecia?

—Onde você está? – reclamei já pedindo um táxi pelo celular extra da casa. A preocupação que eu não queria ter,eu estava tendo naquele exato momento.

E como eu disse antes,a cara da minha preocupação pessoal era linda demais.

— Nah! –ele gritou – Eu assisti filmes,sei o que você pensa que vai fazer. Não vou deixar você vir até aqui.

—E por que não? – estava tentando mantê-lo na linha,mandando mensagem para Thalia do outro celular. Como diabos alguém deixa outro alguém podre desse jeito na rua? Eu teria que puxar a orelha de cada um deles.

Eu já estava agindo feito vó mesmo,que se dane.

— Porque eu não tenho certeza se sei onde é aqui – ele sussurrou.

—Olha só – respondi um tanto brava. – Isso é muita irresponsabilidade sua.

—Que se foda.

—Percy! – reclamei.

Ele ficou em silêncio por alguns minutos. Onde diabos estavam os outros? Nico? Leo? Rachel? Eu pensei que todos iriam para a casa dela depois de invadirem o show.

Lendo a sentença acima,dá até pra entender porquê eu não havia ido.

Thalia respondeu a minha mensagem – as letras um tanto bagunçadas – alguns minutos depois :

“ Percy? Bem,ele estava acompanhk de outrs pessol quando saumos.”

“Quê?”

“Ele estava acompnahndk de oytrs pessok”

“Thalia,não estou entendo o que diabos você está digitando”.

Ela mandou um áudio de 2 minutos dizendo de 56 maneiras diferentes que Percy estava acompanhado de outra garota quando o show acabou,e afirmou que estava indo embora com ela.

Todas as 56 formas diferentes que Thalia dissera no áudio quebraram meu coração e me fizeram ter vontade de desligar a porcaria do telefone na cara de Percy Jackson.

—Imbecil – resmunguei no telefone. – Você é um imbecil.

—Você não é a primeira garota de hoje que me diz isso,docinho – ele riu e soluçou .

—Não me chame de docinho! – resmunguei,enviando mais uma mensagem para Thalia. Se ela soubesse onde ele estava,bem. Se não...? Que se dane.

— Tudo bem,amor.

—Não me chama assim também.

— Hn..-ele resmungou. – Só os mais chegados que podem?

—Cala a sua boca,seu babaca – reclamei. Thalia havia enviado o endereço não tão longe do apartamento dos meninos... Por que Thalia tinha o endereço da garota? E por que ele só não caminhava até em casa? Por que diabos Percy Jackson tinha que ocupar 90% dos meus pensamentos e me importunar as 3h da manhã?

— Você está só nos apelidinhos fofos hoje,Annabeth – ele riu irônico. A ironia estava de volta,então o antigo Percy também estava?

— Você merece – respondi anotando o endereço.

Ele ficou mais alguns minutos em silêncio. Eu queria muito que Percy não tivesse desmaiado ou algo assim.  E por outro lado,queria muito que ele tivesse desmaiado e batido aquela cabelo desgramada no chão.

Queria que ele soubesse o quão desgraçada da cabeça Percy estava me deixando.

— Hn.. –ele sussurrou,parecia estar engoliando alguma coisa. – Sabe,eu não preciso de você. Assim como eu não preciso de Thalias e Rachels e Nicos,e... Leos,não é? Ninguém precisa? Quem precisa? Ninguém – ele dibagava sozinho.

—Então não me ligue.

—Você sempre tem a resposta pronta pra tudo? –ele riu.  – Aposto que você as escreve.

—E você? –perguntei já ouvindo a buzina do taxista do lado de fora. Saí batendo a porta e trancando-a,pedindo a todos os deuses que o taxista fosse de boa índole essa hora. -  Sempre faz garotas saírem as 3h da manhã para resgatar você?

— Não quero que você venha –ele respondeu. Ao longe eu ouvi alguma coisa se quebrar. – Não é pra isso que eu tô ligando – murmurou,a voz ainda mais arrastada.

Entrei no táxi,dando... boa madrugada ao taxista.

Graças aos Deuses,era uma taxista mulher. Muito bonita e alta.

E de bom humor,devo ressaltar.

Disse o endereço rapidamente,logo colocando o telefone de volta no ouvido.

—Você não está vindo está? – ele perguntou,dando mais um gole em seja-lá-o-que-ele-estava-bebendo.

— O que você acha,gênio? – revirei os olhos.

— Eu vou ficou extremamente irritado se você aparecer aqui,essa hora com um taxista. – ele resmungou. – E eu estou falando sérissímo.

—Você não está nem conseguindo falar direito –resmunguei. Passei as mãos nos cabelos,tanto nervoso com ele quanto...ah diabos,com quem ele estava?

—Eu consigo fazer um quarto – resmungou.

—Quatro.

—Isso também –ele murmurou. – Mas se você me der um monte de tijolos e concreto,eu construo um quarto também.

Não dê risada.

Se você der risada ele vai achar que está conseguindo te vencer.

— Nem um risinho,hun? – ele resmungou. – Eu não deveria ter ligado.

A taxista fez a rotatória do final da avenida onde ficava o prédio dele. Comecei a prestar mais atenção nas poucas almas que tinham ali. A grande maioria, mendigos e bêbados.

— E como foi a sua noite? – perguntei tentando fazê-lo ficar acordado. Ouvi ao longe mais alguma coisa se quebrando.

—Bem... o ponto alto e melhor até agora é esse telefoneeeeema. –ele arrastou a palavras “telefonema”. Ficou parecendo um... Deuses o que diabos ele parecia? – O show foi bem decepcionante,não cantaram as melhores músicas.

—Imagino – murmurei,olhando as ruas ainda mais desertas. Duas ruas atrás de onde Percy morava.

— O after show foi bem interessante.

Apertei o celular com raiva.

—Poupe-me dos detalhes.

—Não são tantos assim,meu amor.

— Cala essa boca. –resmunguei. Olhei para o retrovisor vendo a taxista sorrir um pouco. Ah pelos Deuses,era a madrugada “dê risada da minha cara de idiota”?

— Está cada vez mais difícil fazer você me escutar. – ele reclamou.

—Bem,eu não sou muito fã de ouvir bêbados as 3am.

Ele respirou fundo novamente. A taxista deu a volta em mais uma rua e eu vi um corpo sentado na calçada,uma das mãos rente ao ouvido,a outra no alto com uma garrafa pronta a ser jogado em um carro do outro lado da rua.

O corpo sentado jogou a garrafa no carro.

No telefone,ouvi alguma coisa se quebrando e um risinho de Percy.

— Não tô bêbado. Sou contra isso. Quer dizer,pelo menos um dia do ano,eu faço essa besteira,mas não acho que estou bêbado o suficiente hoje. – ele inclinou a cabeça para o telefone. – Eu estou dizendo que amo você e você só... quer saber,deixa isso pra lá sab-

Desliguei o telefone e pedi para a taxista encostar perto do corpo sentado.

Percy não se intimidou com os faróis altos em seu rosto. Ele desligou o celular e começou a girá-lo nas mãos.

—Devo esperar?

—Por favor –sussurrei para a taxista.

Ele estava completamente vestido de preto que contrastava com a pele um tanto pálida.  Os cabelos estavam jogados para trás e do lado esquerdo ele tinha um engradado de cerveja,apenas uma garrafa sobrando. Virou a cabeça para mim por um instante, fazendo-me vislumbrar aqueles olhos verdes brilhantes por alguns segundos. Ele revirou-os e apoiou os braços mais para trás,estendendo as pernas e apoiando-se nas mãos.

Fiquei em pé poucos metros longe dele,cruzando os braços.

Ele levantou uma sobrancelha.

Fiz o mesmo.

Ele segurou um sorriso.

Eu fiz careta.

Não tinha a menor graça.

Ele passou uma das mãos no cabelo,voltando a sua pose original.

— Eu esperava gritos,esperneio e um bela bronca. – ele disse por fim.

Se eu me aproximasse mais alguns passos,eu poderia chutá-lo.

— E você continua em silêncio –ele resmungou. – Só pra deixar bem claro : não pedi pra você vir até aqui.

Eu olhei para a taxista,mas ela só balançava a cabeça como se estivesse ouvindo alguma coisa em seu rádio. E deveria estar,não sei.

Nem eu conseguia raciocinar direito às 3am.

—Sabe que antes de finalmente ligar pra você,eu liguei pra mais 2 pessoas –ele disse,fazendo um 5 na mão.Nada bem. – A primeira,estava com Nico. A segunda,estava ocupada demais me odiando e tem você aqui.

— A idiota que atende no primeiro toque – murmurei.

Ele franziu a testa contrariado. Eu não estava com paciência para admirar Percy Jackson no momento,mas se estivesse...ele estava bem bonito. Por mais que estivesse parecendo um menino perdido e bêbado. E um tanto sujo.

— Terceiro toque –ele pontuou.

—Isso porquê eu sou a terceira opção.

Ele olhou-me um tanto surpreso. A boca entreaberta, a cabeça jogada para o lado como se não acreditasse nas minhas palavras. Os olhos cerraram-se um pouco e ele sussurrou.

— Você é inacreditável.

—Eu? – eu estava tão brava que não conseguia mais medir as palavras. Percy Jackson precisava escutar,então bem...eu diria. – Você que se põe em risco invadindo um grande show! Você que saí na companhia de outras pessoas as quais você nem ao menos deve conhecer,você que tá bêbado na sarjeta! Você quem me ligou as três da manhã e eu sou inacreditável? – grunhi com raiva. Eu poderia socar a sua cara linda. – Eu poderia socar essa sua cara cínica.

—Bem,você está aqui-ele apoiou-se em uma das mãos tonto e levantou-se – Eu deixei bem claro que não estava pedindo pra você vir.

— Não estou aqui por você!

—Então por quem?

Epa.

É,Annabeth Chase.

Por quem?

Desviei os olhos e entrelacei meus dedos.

—É,como eu imaginei –ele resmungou. – Vai pra casa...é tarde já.

Eu queria poder subir nas costas dele e quebrar aquele pescoço em 8 pedaços.

— Por que você não vai? – resmunguei – Afinal...não é longe.

Ele revirou os olhos colocando as mãos na cintura. Parecia impaciente.

—Nico tá lá – ele suspirou – Com uma pessoa.

Ah sim.

Certo

E onde está a sua pessoa? – eu quis perguntar.

Ele suspirou mais uma vez e fez careta. Ele olhou-me de cima a baixo e fez uma careta maior ainda.

—...e você tá muito bem vestido pra ficar me olhando de cima a baixo assim! – resmunguei sentindo minha cara esquentar.

— Não é isso. Nem tudo é um ataque a você,Chase. –ele revirou os olhos e apoiou-se no poste atrás de si. – Tá girando um pouco.

Aproximei-me de Percy,pegando seu braço. Ele estava gelado e eu tive que conter a vontade de xingá-lo mais um pouco ao sentir sua catinga de bebida. Franzi o nariz ao colocar o rosto em seu pescoço.

— Isso é cheiro de cabra macho!

—Isso é cheiro de garota barata.

—A Rachel vai ficar feliz em saber. – ele riu.

Larguei-o imediatamente.

Mas que porr..?

Ele levantou as mãos em rendição e deu um sorrisinho de lado.

—Te peguei.

Também sorri.

E lhe dei o dedo do meio.

—Tão doce.

—Você merece.

Caminhei de volta para o táxi,sem chama-lo. Eu não sabia ao certo o que estava fazendo ou para onde estava indo,mas sabia que não queria pagar mais de 16 doláres de táxi e que não queria ficar em uma rua distante de casa,escura com o garoto mais complicado que eu já havia conhecido,bêbado.

Ele me seguiu. Sentou-se ao meu lado.

Afastei-me sentando-me na outra janela,não querendo contato.

Ele se deitou,colocando a cabeça em minhas coxas.

Bufei.

— Para onde? – perguntou a taxista,olhando-me pelo retrovisor.

Percy levantou os olhos para mim,curioso. Dei-lhe um peteleco na testa e sussurrei,revirando os olhos para os dois.

— Para onde você me buscou.

...

..

...

— Você estava em casa quando me atendeu? – Percy sussurrou depois de alguns momentos em silêncio. A taxista já dirigia de volta para minha casa,o rádio soando um música baixinho. O relógio marcava 3:45 da manhã e eu não poderia me sentir mais culpada por :

Estar na rua essa hora.

Fazê-la estar na rua essa hora.

Estar com Percy Jackson essa hora.

Apoiei meu cotovelo em sua testa,não querendo vê-lo.

—Sim – sussurrei de volta.

Ele suspirou,puxando meu braço para si. Ele abraçou-o  e beijou o lado de dentro do meu cotovelo,contendo um risinho.

—Que bom que você veio.

— Eu sei –sussurrei de volta.

Ele franziu a testa,a boca em uma linha reta.

— Eu acho que vou vomitar – sussurrou um tempo depois.

Bom que foi a tempo da taxista entregar-lhe um saquinho plástico.

.

— Que horas são?

Eu deixei-o sentado no sofá enquanto ia até a cozinha pegar um copo de água. Eu estava cansada demais para voltar a ver minhas séries. E estava cansada de ver Percy apontar seu dedo na minha cara e dizer que não precisava de mim.

Voltei para a entrada da sala om um copo cheio nas mãos. Ele  estava olhando ao redor,sentado no sofá,quieto. Os cabelos despenteados e os braços rígidos. A camiseta já tivera mangas um dia pois estava bem mal cordada agora.

— Quatro horas – sussurrei,chamando-lhe atenção. Seus olhos esverdeados agora com as pupilas visíveis como nunca. A boca vermelha e as bochecha quase no mesmo tom. – Da manhã.

Ele mordeu o lado de dentro da boca e olhou para o copo em minhas mãos.

— Sinto muito – sussurrou.

Caminhei até ele,sentando-me ao seu lado. Passei-lhe o copo com água e abri uma caixinha na mesinha de centro,pegando um remédio para dor de cabeça.

— Eu sinto muito ter atrapalhado seu.. –ele rodou o indicador para a minha bagunça,sussurrou ainda com a voz embargada e arrastada -...seu programa de velho.

Entreguei-lhe o remédio.

—Não fica silenciosa de novo – ele sussurrou. Tomou o remédio e a água em seguida. – É horrível tentar adivinhar o que você está pensando.

Eu ri.

Sem dedo do meio dessa vez.

Eu ri mesmo.

Ele sorriu um pouquinho,e aos poucos os olhos foram caindo junto com o sorriso,como na vez que ele fez o discurso de orador na formatura. A expressão se fechou,os olhos ficaram nostálgicos e saudosos.

— Ei – sussurrei pegando sua mão. – Não..

— Desculpe – ele sussurrou balançando a cabeça,puxando a mão de volta e passando nos olhos – Que droga.

— Tudo bem,Percy – pigarreei. Eu fazia a pose “vou socar sua cara” mas era só uma mudança de humor repentina que eu mudava de humor repentinamente também. – Por favor não fique sentimental e comece a chorar!

Ele riu de repente,olhando-me. Os olhos um tanto vermelhos,a boca tão próxima.

Assim como o cheiro de cerveja.

— Tô sempre indo pelo lado errado –ele sussurrou.

—Do que você tá falando? –sussurrei também.

—Não sei –sussurrou. Ele colocou a mão esquerda na minha,puxando-a. Levando até o lado esquerdo do peito. – Não sei se isso explica.

Batia tão forte que eu cheguei a achar que iria sair correndo.

— Isso só explica o quão acelerado o corpo fica quando você ingere muito álcool – levantei-me,pegando o copo de suas mãos.

O que?

Percy tinha algumas coisas a me explicar antes de... bem,vocês sabem.

.

Eu ajudei-o a subir até meu quarto-

Ei! Não pense besteira.

Para que ele pudesse se ajeitar da melhor forma.

Eu sei o que vocês estão se questionando. E má notícia : eu não tenho respostas ainda.

Ele vai ficar?

Vocês vão ficar?

Sua mãe não chegou ainda? Que diabos de encontro é esse que dura a noite toda?

Eu sei. Eu sei.

Absurdo.

Percy entrou em meu quarto um pouco cambaleante. As mãos não deixando o cabelo nenhum segundo.

— ...

—...

—...eu preciso fazer xixi –ele sussurrou.

Percy era grande demais pro meu quarto. Quero dizer,ele não parecia bem ali. Tudo parecia muito “não-Percy”.

Apontei-lhe a porta do banheiro e ele acenou, indo ate lá.

Comecei a juntar algumas roupas e livros que estavam jogados pela cama.

Espero...

Por que que eu estou arrumando a cama?

Ah céus. Sem pânico.

Sem.Pânico.

Eu ouvi Percy ligar a torneira e fui até meu armário. No fundo,tinha uma camiseta velha do meu pai,peguei-a para ele.

— Eu me sinto mais limpo depois de lavar as mãos  e o rosto,o quão estranho isso é? – ele murmurou. O cabelo estava molhado assim como o rosto e as mãos.

Entreguei-lhe a toalha e a camiseta.

Ele olhou de lado.

— O que foi? –sussurrei. Fala que nem mulher,Annabeth!

— Não faz meu tipo. – ele murmurou e sorriu. Parecia melhor. Não posso dizer com certeza,com Percy...eu nunca posso.

— É melhor pra dormir – sussurrei. – Eu acho. Não sei. Tanto faz.

O rosto de Percy se iluminou um pouco enquanto ele ia digerindo minhas palavras.

—Vou ficar pra...dormir? –perguntou.

Ótimo. Ótimo mesmo.

Senti meu rosto esquentar enquanto a sua mão fria encostava na minha,pegando a camiseta.

—É tarde...pra ir pra casa,eu acho. Não sei – suspirei – Tanto faz.

Ele riu um pouco e eu dei de ombros.

Tanto faz nada. Eu quero mesmo que ele fique.

Percy colocou as mãos ao redor do meu rosto,fazendo-me olhá-lo. EU sorri um pouquinho ao ver seus olhos dilatados por conta da pouca luz. O sorrisinho de lado se abriu e ele beijou-me na testa.

Um gesto um pouco bobo,mas muito carinhoso.

— Você é meu número de emergência então? – ele riu,ajeitando a cabeça de lado. Parecia muito o vocalista de uma banda post-grunge. Até os caninos mais acentuados eram os caninos mais bonitos que eu já havia visto.

—Sou seu terceiro número de emergência – sussurrei,sentando-me na beirada de minha cama.

Ele deu um risinho um tanto constrangido e colocou as mãos no fim da sua camiseta,puxando-a por cima da cabeça de uma vez. Jogou-a nos pés da minha cama enquanto eu mantinha minha cabeça devidamente abaixada sem olhá-lo.

O que diabos você está fazendo da sua vida,Chase?

Ainda olhando para baixo,peguei os pés de Percy cobertos pela meia preta virem até onde eu estava. Fiquei cutucando minha unha como se a minha vida dependesse daquela cutícula que ali estava. Senti o colchão afundar dos dois lados do meu corpo,enquanto Percy apoiava-as em punho dos meus lados.

Continue olhando para baixo,Chase!

Na mão direita estava enrolada a camiseta que eu entreguei a ele. O relógio de parede que minha mãe havia colocado ali fazia seu habitual “tic” com a passagem dos segundos.

Percy abaixou o rosto até a altura do meu,e eu fechei os olhos. O que diabos ele estava fazendo também? Que droga!

— Ei – sussurrou baixinho. Senti seu nariz passear pelo meu,indo para a minha bochecha e meu pescoço.

— Percy – murmurei. Na verdade,eu queria empurrá-lo e ficar irritada com a sua noite. Queria lhe perguntar com quem estava e o que estava pensando quando decidiu me ligar. Queria entender o que estava acontecendo e queria logo,antes que alguma coisa desse terrivelmente errada para mim.

Ele encostou sua testa na minha,fazendo levantar um pouco a cabeça. Eu sentia sua respiração em meu rosto,o cheiro da bebida se misturando com o cheiro Percy habitual. Senti seus lábios em minha testa mais uma vez,em seguida em minha bochecha. Senti meu rosto esquentar assim como o meu coração que se acelerou.

Abri os olhos encontrando-me com os seus quase tão escuros por conta da pupila dilatada.

Isso queria dizer alguma coisa,certo? Ou é só por conta da escuridão?

—O que está fazendo? – sussurrei desviando os olhos para a sua maldita boca vermelha.

Ele sorriu de lado. Olhou para baixo e de volta para mim :

—Agradecendo.

E encostou seus lábios nos meus.

Não de forma violenta. Ou rude,como ele havia sido boa parte da noite.

Mas de forma lenta. Doce. Amável.

Quase como se ele fosse um garoto dando o primeiro beijo. Como se ele fosse alguém que fugira da catequese com uma colega para observar o céu azul no parque. E foi como naquela vez no parque,observando o céu.

Era só nós dois.

A mão direita veio até a minha nuca,enrolando meus cabelos em seus dedos. Passei os meus dedos timidamente até um de seus ombros e fiz o mesmo que ele,enrolando seus cabelos sedosos em meus dedos,puxando-o.

Percy era macio. Era boca,era pele e era caos.

E por alguns minutos,eu me permiti ser como Percy.

Eu era boca,pele e caos.

Percy empurrou-me contra a minha cama,colocando um d seus joelhos entre as minhas pernas,beijando-me ainda com a sua delicadeza. Entrelaçou uma das mãos com a minha,colocando a camiseta de lado.

Afastou-se respirando fundo.

— É isso – sussurrou em uma lufada de ar só. – Eu estou completamente perdido. Você vai se dar conta de que não somos mais um e outro. Individuais. Nós somos um só. Até quando não estou pensando em você,eu estou pensando em você... e ..

Passei o braço ao redor de seu pescoço,puxando seus cabelos da nuca.

Não seja assim. Não estrague o momento.

Eu que faço isso. Eu que estrago os momentos.

Ele sorriu de lado como se pudesse ler meus pensamentos. Olhou para nossas mãos entrelaçadas em cima da minha cama. Voltou a me encarar e sorriu de novo.

—...

—...

—... e eu, Percy? – sussurrei,referindo-me a uma conversa anterior.

Percy acariciou meu nariz com o seu. Era difícil vê-lo sorrindo para outras pessoas como ele sorria para mim.

Eu me sentia especial.

Isso deve ser porque você é. Aceite isso.

— Você é você – ele repetiu olhando nossas mãos de novo – E agora somos nós.

Eu sorri apertando sua mão de volta e no fundo... agradecendo internamente que ele tenha me ligado. 

Mesmo que eu fosse o terceiro número.

E que eu tenha atendido no terceiro toque.

E que a ligação tivesse sido às 3h am.


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Notas finais do capítulo

NHAW BEIJOS
então : vou desenvolver só um pouco esse relacionamento. Próximo capitulo discussões e se eu conseguir fazer o desfecho tudo num só ia ser show
eu gostei de escrever esse capitulo
senti uma nostalgia tremenda hehe
bjão!