Deadly Sin escrita por Clarice Reis, Zabalza


Capítulo 3
Mercy


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pelo atraso e espero que gostem ♥



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Estava tão perto. Aquele aroma iria levá-lo a loucura. Involuntariamente, correu suas mãos sobre os fios loiros do garoto ali deitado, deixando agora seu rosto à mostra por completo.  

Suas feições eram doces, as bochechas levemente rosadas por causa do álcool acrescentavam a composição um pouco mais de serenidade. Otabek sentia-se vidrado, preso. Era algo que nunca havia sentido antes. 

Talvez ele estivesse com fome. 

Aproximou seu rosto devagar de Yurio, conseguindo escutar o coração do outro batendo. A melodia que a batida fazia junto com a pulsação do sangue, que corria em suas veias, era um som que não dava para explicar. 

Tocou o rosto do outro com sua mão, e deixou o pescoço todo à mostra, pronto para avançar enquanto era embalado pelo ritmo do sangue fluindo. 

Você vai ter que matá-lo. 

Otabek parou. 

 A ideia fez com que se sentisse nauseado, não queria acabar com a vida daquele menino.  

Perceber aquilo foi um choque, desde quando ele sentia pena de humanos? Já tinha matado antes, já bebeu sangue várias vezes, já teve que se livrar de corpos, por que agora era diferente? Levantou seu rosto, encarando Yurio enquanto ele dormia. Deslizou sua mão do pescoço do outro até os lábios, pressionando o inferior para baixo levemente. 

— Qual é o seu segredo? — Sussurrou. 

Foi se afastando devagar, surpreso com seu próprio autocontrole. O que esse garoto tinha de tão especial?  

Tentava entender o que acabara de acontecer, quando um som, que mais parecia uma sirene de polícia, invadiu o ambiente. Yurio abriu os olhos rapidamente e parecia estar nervoso, ele tirou o celular do bolso e respirou fundo. Otabek observava as reações do menino com bastante curiosidade, sua feição foi de anjo angelical para jovem conturbado em segundos. 

O garoto levantou-se cambaleando um pouco. 

 Ele ainda estava passando mal? Devia chamar alguém?  

Bem irônico, pensou, cinco segundos atrás você estava pensando em matá-lo, e agora está preocupado com o seu bem-estar

— Mãe? — Ele estava tentando se recompor. Não podia deixar que ela percebesse que tinha algo de errado, ou que ele estava tão bêbado a ponto de ter passado mal em um clube.  

— Oi, filho, só liguei para avisar que o evento acabou mais cedo e já estamos a caminho de casa. Quer que a gente compre uma pizza? Não sei se você e o Yuri já jantaram... 

— Sim! — Yurio precisava ganhar tempo. Tinha que encontrar o outro o mais rápido possível e voltar para casa. — Nós ainda não jantamos, pizza seria uma boa. 

— Ok, daqui a pouco estamos chegando.  

— Tchau, mãe. 

Ele encerrou a ligação. 

— Está tudo bem? — Otabek questionou.  

— Onde eles foram?  

— Eles? — Não sabia do que o garoto estava falando.  

— Seu colega de banda arrastou meu amigo para algum lugar, e sinceramente, pouco me importa se eles estão metendo por aí, mas eu preciso ir embora agora e vou levar o Yuri. — Sua paciência esgotou, não tinha muito tempo e precisava sair daquele clube o quanto antes. — Sabe onde eles estão ou não? 

Otabek pensou por um instante se deveria dizer. Viktor odiava ser interrompido quando estava com alguém, e além do mais, ele não sabia o que o outro tinha em mente quando sumiu com esse rapaz, talvez ele nem estivesse mais vivo. 

— Tudo bem, eu procuro sozinho. 

Yurio disparou pelo corredor, ele tentou ligar para Yuri, mas caiu direto na caixa postal. 

Merda, pensou, onde foi que você se meteu? 

O coração de Yuri estava disparado. Não podia acreditar na situação que estava vivendo, como havia chegado a esse ponto? Viktor era um cantor famoso, tinha arrastado ele até o palco no meio de um show, quase o beijou, e depois pediu para que esperasse um pouco no camarim enquanto atendia os fãs. Tudo que passava pela cabeça de Yuri era: Por que comigo?  Será que a qualquer momento um apresentador surgiria rindo e falando da pegadinha?  

Tudo era tão surreal e sem sentido, parecia até o roteiro de uma daquelas histórias de romance adolescente. Sentado naquela sala sozinho, ele repassou os acontecimentos dos últimos dois dias, até que se lembrou de algo extremamente importante: Yurio. Tinha deixado o garoto sozinho no meio do clube, que tipo de adulto responsável faria isso? Precisava sair dali, por mais que quisesse ficar, não podia simplesmente abandonar seu amigo, além do mais, precisavam voltar logo para casa, estava ficando tarde e eles tinham que chegar antes da mãe de Yurio.  

Yuri pegou seu celular e estava pronto para mandar uma mensagem, quando um clique fez com que ele despertasse. A porta foi aberta e revelou Viktor, com seus cabelos agora presos em um rabo de cavalo. Sentiu-se de volta ao jardim da infância, quando sua paixãozinha vem conversar com você e todos aqueles sentimentos tomam contam. Não, pensou, você tem que se despedir, precisa encontrar Yurio o mais rápido possível. Sabia que era o certo a se fazer, mas aquele homem tornava a tarefa de ir embora bastante difícil. 

— Desculpa a demora, você sabe como é. — Sorriu charmoso e entregou uma rosa para Yuri, o rosto do rapaz assumiu a mesma tonalidade da flor que recebera. — Meu pedido de desculpas. 

— Você não precisa se desculpar. — Sussurrou, observando o rapaz sentar ao seu lado. 

— Eu te convidei, não é muito cortês da minha parte deixá-lo sozinho aqui. — Viktor ajeitou um fio de cabelo que caía sob o rosto de Yuri, inclinando seu rosto de leve para perto dele. — Afinal, não é todo dia que alguém tão adorável se perde no meu camarim. 

As palavras de Viktor pareciam o encantar, como uma espécie de feitiço. Sentia-se atraído e queria cair em tentação. 

Em um ato repentino, a mão do cantor encostou em sua nuca, a acariciando cuidadosamente. Aquilo o fez estremecer por completo, não estranhava o ato, longe disso, aquele carinho era aconchegante. 

— Eu posso voltar outro dia se quiser, não precisa ficar aqui por minha causa. — Esperava que ele admitisse ter outros compromissos, assim poderia sair sem que parecesse que estava inventando uma desculpa, porque convenhamos, a história verdadeira do porque precisava ir realmente soava como uma. 

— Não tenho mais nada para fazer essa noite, sou todo seu. — Viktor sussurrou as palavras no ouvido do outro. — Quero continuar de onde paramos ontem. 

Aquelas palavras mexeram com Yuri. Era difícil acreditar que aquele homem realmente estivesse interessado nele.  

Suas inseguranças sempre foram um problema para a sua vida amorosa. Não tinha confiança o suficiente para chegar em alguém, mesmo que a pessoa demonstrasse interesse, e não teve muitos relacionamentos, os poucos que tivera não duraram muito e ele sempre achou que a culpa disso era dele. Yuri queria que seus medos o abandonassem por pelo menos um instante, queria ser ousado, surpreender Viktor e fazer com que ele o achasse interessante ou até mesmo atraente.  Sabia que não poderia ficar por muito mais tempo, mas desejava vê-lo novamente. Queria que Viktor sentisse o mesmo. 

— Você parece pensativo... — Aquela frase o retirou de seus devaneios. Observou o rapaz, que agora de pernas cruzadas, escorava-se no braço do sofá. 

— Estava me perguntando se vamos nos encontrar depois de hoje. — Não sabia de onde tinha surgido a coragem para falar aquilo.  

— Você gostaria de me ver outra vez?  — Ele foi se aproximando de Yuri, e tinha um sorriso malicioso em seu rosto. 

— Talvez eu queira. — Falou sem jeito e pressionou a rosa de leve, tentando não desviar o olhar dela. A área que pressionava era espinhosa, o que resultou em um corte. Ele rapidamente olhou para o sangue e levou o dedo a boca, na tentativa de estancá-lo. — Ouch. 

A postura de Viktor mudou bruscamente, seu jeito descontraído se transformou em uma postura séria, sentado com a coluna reta. O cheiro era delicioso, era no mínimo tentador. Seus olhos focaram-se nos lábios do outro, que sugava lentamente o sangue do corte. 

Ele não conseguiu se segurar, em um piscar de olhos, curvou-se sobre Yuri no sofá, fazendo-o deitar lentamente, não desviou seu olhar do rapaz nem por um momento. 

Yuri estava no mínimo surpreso, tudo estava acontecendo muito rápido. Pensou em se afastar, mas por que faria isso? Ele desejava Viktor, não tinha motivos para evitar o que quer que fosse acontecer ali. Decidiu que não deixaria que suas inseguranças falassem mais alto, ele ia fazer exatamente o que queria fazer. Naquele instante, esqueceu totalmente que precisava ir embora, esqueceu totalmente que tinha que encontrar Yurio. Tudo se resumia àquele momento 

Os dedos gélidos de Viktor tocaram o queixo de Yuri, conseguia sentir todo o sangue dele fluir pelo corpo, escutava as palpitações de seu coração. Tudo aquilo o deixava recheado de desejo, ele queria aquilo. Acabou com a distância entre eles e depois de algum tempo, sua língua pediu lentamente passagem pela boca do outro, logo roçando contra a do rapaz. O sangue que correu do dedo ainda estava presente, e o sabor era algo indescritível, parecia algum tipo de droga que fazia com que ele quisesse cada vez mais. 

Conseguiria mais. 

Lentamente sentou por cima dele, equilibrando-se para não cair do sofá, e explorou o peitoral do outro com suas mãos, deixando algumas marcas de unha por onde passava. 

Interrompeu o beijo e mordiscou a língua de Yuri de leve, resultando em uma pequena ferida. Antes de qualquer reação dele, Viktor começou a sugar sua língua, e levou uma de suas mãos até a calça do outro. 

Um gemido escapou. 

Yuri não poderia negar, ele gostava de toda aquela interação. O toque de Viktor era capaz de deixá-lo completamente inebriado, não era como o de ninguém com quem já havia ficado. Claramente estava hipnotizado por aquele homem e queria mais.  Repousou suas mãos nas coxas do outro, depois fazendo com elas subissem até suas nádegas.  

Aquilo arrancou um pequeno riso de Viktor, que cessou o beijo e voltou sua atenção para o pescoço dele. 

Aquela era a oportunidade. Finalmente poderia ter o sangue daquele rapaz.  

Por alguma razão, suas presas não queriam sair. 

Mas por que? 

Se aquele sabor lhe deixara tão hipnotizado, ele precisava provar mais. O seu coração deu uma palpitada, levantou-se para observar o outro. 

O rosto de Yuri estava totalmente vermelho, seus olhos castanhos estavam semicerrados. Ele era lindo. Não se conteve e acariciou uma de suas bochechas de leve, logo depois depositando um beijo no local. 

Isso não era algo normal de acontecer. Na verdade, nunca tinha acontecido antes. 

Ele não queria machucá-lo. 

Desde quando sentia esse tipo de coisa? Durante toda a sua existência como vampiro, nunca teve nenhum tipo de relação com humanos que não fosse para se alimentar ou sexo casual, nunca desenvolveu emoções em relação a eles e agora estava querendo proteger alguém que mal conhecia? Tudo era muito estranho. 

Percebeu que estava divagando a algum tempo, quando sentiu a mão de Yuri em seu rosto. Ficou surpreso quando ele o puxou para mais um beijo. Permaneceram daquele jeito, até que vozes surgiram no corredor. 

— Você não pode invadir um camarim desse jeito.  

— Me larga, eu sei que ele tá aqui!  

Aquela voz era... Yurio? 

Os dois se afastaram, mas não chegaram a levantar do sofá. A porta foi aberta com brusquidão e por ela entrou um Yurio furioso sendo seguido de perto por Otabek que parecia bastante frustrado. 

— Quem é você? — Viktor arqueou uma das sobrancelhas.  

— Yurio... — Yuri tentou se explicar, mas foi interrompido. 

— A gente tem que ir agora! — Usou um tom de voz firme. — Sinto muito se eu estou interrompendo sua noite de sexo selvagem, mas temos pouco tempo pra chegar em casa. 

— A sua mãe? 

— É, ela ligou e disse que já estava no caminho. 

Yuri encarou Viktor e a única coisa que conseguiu dizer antes de começar a ser arrastado para fora foi: 

— Me desculpe, mas eu realmente tenho que ir. 

— Espere, pelo menos me dê o seu número.  

— Não dá tempo. — Foi Yurio quem respondeu.  

E assim, os dois saíram praticamente correndo pelo corredor, deixando os outros dois homens sozinhos no camarim.  

— O que aconteceu aqui? — Viktor ainda tentava entender a situação. — Você sabe quem é esse garoto? 

— Acho que os dois são amigos. — Otabek respondeu. 

— Por onde ele entrou? 

— Estava comigo... — Falou de uma maneira seca e deu as costas para o mais velho, o deixando só no cômodo.  

— Com você e saiu vivo? — Disse um tanto debochado, logo levantando-se. 

Instantaneamente o outro parou no corredor, olhando fixamente para o chão. Viktor sabia exatamente como o afetar com as palavras e fazê-lo falar. Não só com o rapaz, quase ninguém resistia a sua oratória, isso facilitava muito as coisas para ele. 

— Eu preciso pensar. — Cerrou os punhos e continuou andando pelo corredor, parecia estar tenso por algum motivo, vê-lo desse jeito era no mínimo incomum.  

Vindo na direção oposta, JJ cruzou com Otabek, que esbarrou em seu ombro, e continuou seguindo como se nada tivesse acontecido.  

— Alguém está estressadinho?— zombou, andando até Viktor.— Qual o problema dele? 

— Parece que estamos vivendo para ver o nosso amigo ter compaixão por alguém. 

— Então eu perco vocês de vista por alguns segundos e já recebo uma bomba dessas? — Repousou um de seus cotovelos contra parede e levou seu rosto perto ao do vocalista. — Tô liberado para zonar com ele? 

— Sintam-se livres, só não destruam nenhuma sala.— Encolheu os ombros e se afastou de JJ com um toque em seu nariz. — Vamos, ou você quer perder mais algum minuto aqui dentro? 

Se existia algo de que gostavam era festa. Viktor precisava afastar a curiosidade do  outro de qualquer jeito, até ele mesmo tentar entender o que tinha acontecido naquela noite. 

 


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