O começo OneShot escrita por Lady Salvatore


Capítulo 1
- Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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FINAL DE 1992

A reunião havia sido tão produtiva quanto divertida. O que era raro para tal situação. Odiava reuniões de negócios, por mais que o empresário que habitava seu corpo fosse insaciável. Pessoas gananciosas, que somente pensavam em dinheiro não importasse a situação, além frias como um refrigerador. Mas essas em especial eram diferentes. O assunto era as duas coisas que mais amava: A arte e a caridade. Ambas caminhando em mãos dadas. Por essa razão havia criado a Jackson-Strong alliance, para promover um a partir do outro para crianças carentes. 
E com um parceiro de negócios como Brett Linvingstone Stone. Em sua opinião o maior escultor da atualidade, as ideias fluíam facilmente. Sem contar que o mesmo tinha um pensamento como o seu. Era solidário, era engajado e pulou de cabeça no projeto desde que o sugeriu. 
Ah, se todas as reuniões de negócios fossem como aquela. Onde o permitido era a libertação da mente, o melhor para o próximo e arte, arte e mais arte. 
— Está ótimo. - Brett afirmou de boca um tanto cheia. Com o encerramento da conversa sobre os negócios, agora serviam-se à mesa de jantar para um agradável almoço entre os dois. O amigo olhou para seu prato, curioso. - Está comendo melhor. - Sorriu. - Um milagre. Das últimas vezes com o que tinha no seu prato, até um passarinho pediria mais.  
Michael observou o recipiente em sua fronte. Realmente, nos últimos meses tem feito progressos. 
— Estou me sentindo diferente. - Confessou com um certo entusiamos na voz. - Tenho grandes planos pro ano que vem. Quero que seja o melhor ano da minha vida, então tenho que fazer progresso em alguns problemas. - E isso incluía sua anorexia. 
Brett o encarou surpreso. 
— E ao que devemos tal mudança? 
— Exaustão. - Disse de imediato. Após um longo suspiro. - Sabe aquele momento da vida em que a ficha cai? Ando tendo isso nesse fim de ano. Tenho muitos planos em vista, mas não vou contar. Quero surpreender todo mundo. - Calou-se, voltando a concentrar-se no alimento. A verdade era aquela; Estava cansado da maneira como o mundo o estava vendo, algo muito distante do que havia planejado. Queria ser considerado um mágico e não um esquisito. Talvez houvesse chegado o momento de superar os traumas e mostrar um outro lado seu. As pessoas que os seguiam mereciam isso. Se tornar menos recluso talvez, fazer mais aparições. Eram tantas coisas para pensar. - Mas não se engane com essa passividade toda que ainda tenho muito estresse. - Riu, em um leve sarcasmo. Embora fosse verdade. 
— Tipo quais? 
Michael pensou um pouco antes de responder. Afinal eram tantos para se pensar. 
— Minha relação com a gravadora está um tanto estranha desde que decidi abrir meu selo independente.  - Resolveu optar pelo mais recente. Encarou o chão meio desapontado. - É um projeto que eu quero muito fazer dá certo, mas não sei... Não tá saindo como eu planejei. 
— Mas nem por isso vai desistir, não é? Esse tipo de coisa é absolutamente normal no começo e você sabe, é um empresário também. E dos bons. 
Ele sorriu pelo elogio. 
— Não penso em desistir por enquanto. - Garantiu, um tanto mais seguro. A expressão contorceu-se para estresse novamente, segundos depois. - Primeiro o meu foco agora é encontrar um artista novo. Alguém pra contratar, investir. Algo na qual eu mesmo possa produzir, planejar, coisas do tipo. - Deu a última garfada e em seguida a empregada retirou seu prato. 
Brett ainda comia. 
— Já sabe que tipo de artista quer? - Questionou, mostrando interesse. Afinal não entendia nada do ramo. 
— Performers eu já tenho em vista bastante, recomendações de coreógrafos que trabalho. Gosto de priorizar artistas que dancem também, mas... - Pausou, para soltar um outro suspiro. - Acho que preciso variar, to querendo um vocalista nesse momento. Alguém que cante pra caralho mesmo ou que pelo menos que tenha um timbre único, não sei. - Conseguia sentir aquela exaustão invadindo seu corpo só de falar, era tanta coisa para se resolver. 
Mas Brett não parecia abalado pela sua descarga. Pelo contrário, mantinha-se pensativo e até avoado. Não soube identificar direito o que ele parecia estar raciocinando. 
Talvez nem me escutando esteja. 
— Michael, e se eu dissesse que eu posso conhecer uma pessoa assim. - Falou ainda pensativo. Michael arqueou as sobrancelhas em dúvida. - Conheço uma garota perfeita pra isso, quem sabe você também já a conheceu. É uma das melhores pessoas que já conheci, é engraçada, linda, a mãe dela é a mulher mais bonita do mundo, o pai foi um revolucionário. E canta. Canta lindo, eu sou amigo dela há alguns an...
— Mas quem é, pelo amor de Deus? - Interviu, um tanto afobado. 
Achava impossível haver alguém assim disponível no mercado com tamanhas descrições. E como assim '' quem sabe você também já a conheceu''  
— Lisa Presley. - Disse, causando um certo choque no amigo. 
— Lisa Presley canta? - Sua testa franziu-se, não imaginava. Afinal, se cantava poderia ter se lançado no mercado há anos. 
— Canta e canta muito bem. - Respondeu, finalmente terminando sua refeição. 
— Não vou negar não, fiquei interessado. - Ambos riram. - Acha que ela toparia me mandar uma demo? 
Brett balançou os ombros. 
— Provavelmente. Quer o número dela pra que telefone? 
Ah, se tivessem lhe dito isso há alguns anos. Quando batalhou por aquele número. 
— Acho melhor não, você a conhece. Melhor você falar com ela. - Concluiu após pensar melhor. 
Não queria assustá-la. Michael Jackson te liga oferecendo um contrato? Não, sabia que poderia ser assustador. 
— Então não se conhecem? 
— Não. - Disse. - Quer dizer, sim. - Corrigiu-se, confuso. - Nos vimos algumas vezes, há anos. Acho que o pai dela ainda estava vivo, ela ia nos shows em Las Vegas, meu e dos meus irmãos. Era uma criança. 
Decidiu camuflar o ocorrido de oitenta e quatro. Algo para se esquecer, pensou ele. 
— De qualquer forma, vou falar com ela e te aviso. - O amigo comunicou, já levantando-se da mesa. 
Michael fez o mesmo e o acompanhou até a sala. Despediram-se calorosamente e ele se foi, -deixando-o com uma dúvida pairando em sua mente. 
Seria um bom negócio investir nela para o selo? 
—--x---
— Então foi isso. - Brett terminou a história deixando-a mais assustada do que quando atendeu ao telefone e a primeira coisa que ele disse foi: '' acho que te consegui um contrato'' '' Michael Jackson quer assiná-la''. Por pouco não teve uma vertigem pela quantidade de informações lhe jorrada.
Sentada em uma poltrona azul de seu quarto, ninava o bebê com cólica em seu colo, pacientemente. Enquanto a mão segurava o aparelho telefônico para ouvir Brett. 
— Olha Brett, eu não sei. - Falou de maneira duvidosa. - Eu to pensando e acho melhor esperar mais uns anos pras crianças crescerem mais, acho que não é o momento. 
— Mas Lisa, eu entendo completamente. E o Michael também entenderia, por isso acharia interessante se vocês se encontrassem para conversar, explicar sua situação. - Explicava calmamente, sem entender a relutância de Lisa. - Tenho certeza que ele esperaria por você ou pelo menos poderiam trabalhar no disco e só lançar quando você estivesse pronta pra isso. 
Sem saída para seus argumentos, Lisa calou-se. Não queria mais mentir para o amigo. 
— Podemos falar sobre isso depois? - Questionou cansada. - Eu realmente não estou interessada no momento e o bebê está chorando. - Mentiu nessa última afirmação. Ben havia acabado de dormir. 
Brett soltou um bufo. 
— Vou dá um tempo pra você pensar melhor, está sendo precipitada. - Avisou, com um tom de '' Você vai se arrepender'' em sua voz. Lisa controlou um riso solto. - Tenho que ir também, nos falamos depois? 
— Claro. - Confirmou, mais aliviada pelo fim daquele assunto. 
— Então tá, beijos nas crianças ok? Tchau. 
— No seu filho também. Beijo. 
Despediram-se harmonicamente, deixando lisa pensativa. Michael Jackson querendo contratá-la, parecia uma irônia louca do destino. 
—--x--- 
2 DIAS DEPOIS. 

Olhou o seu reflexo, esforçando-se para que não fosse direto para os defeitos. Alisou a blusa na tentativa de desamassar a peça e rodou lentamente, ainda atenta ao espelho. Via pequenas diferenças conforme observava. 
Provavelmente havia perdido três kilos. 
Dessa vez estava mais difícil recuperar o corpo da gravidez, do que da sua primeira gestação. Precisava comprar roupas novas. As velhas ainda estavam apertadas demais e as que usou durante seu tempo de grávida, grande demais. 
O fim de semana era dedicada há ela e Mônica batendo perna pelos corredores daquele shopping em procura de algo decente para que não precisasse usar moletom pelos próximos quatro meses. 
O prazo que o nutricionista lhe deu para voltar ao peso de antes. 
— Como ficou? - A voz de Mônica do lado de fora do provador a atingiu. Provavelmente entediada por sua demora. 
Em resposta, saiu da cabine exibindo, um tanto insegura, a calça jeans e a bata em seu corpo. 
— Eu gostei da calça. A blusa é um horror. - Sussurrou para que a vendedora não as ouvisse. 
Lisa riu, por isso trouxe Mônica. Se tinha algo que ela tinha, era sinceridade. 
— Não tá muito marcado? - Rodou de novo. 
— Tá bem justa atrás. - Seu olhar ia e voltava em direção a veste. - E agora que sua bunda tá enorme, marca que é uma beleza. - Gargalharam em sintonia. Realmente não podia negar que havia até gostado de ganhar peso, '' em certas partes de seu corpo''. - Mas sério, tenta outra blusa. 
Para tentar se convencer melhor, mirou-se no espelho novamente. Não estava ainda muito certa, mas resolveu seguir o conselho. Outra qualidade de Mônica: ótima conselheira. 
Adentrou ao closet outra vez e vestiu sua roupa normal. Separou a calça, entregando a vendedora para que a separasse. Como ainda precisava de pelo menos mais duas blusas, regressou as araras. 
— Fico contente que tenha me chamado. - Mônica confessou, enquanto olhavam aquela infinita quantidade de vestes. - Fazia tanto tempo que não conversávamos.  
— Vida de mãe não é fácil. - Explicou, um tanto entediada. - Ultimamente não há tempo para mais nada, nem pra mim. 
Mônica torceu os lábios. 
— Sem muitas novidades então, imagino. - O tom um tanto desconfiado para sugestivo da amiga a captou de imediato. Sabia do que ela referia-se. 
Danny. As coisas não iam bem, mas não tiraria seu dia livre de shopping para falar disso. 
— Na verdade houve uma novidade bizarra essa semana. - Só a lembrança já a fazia gargalhar. Mônica a encarou com as sobrancelhas elevadas, em uma especie de '' O que houve?''. - Michael Jackson me ofereceu um contrato de cantora. 
A blusa que Mônica segurava em sua mão, foi ao chão. Ao invés de recolhê-la, nem ao menos pareceu perceber, continuou olhando a amiga pasma. 
— Como? - Gaguejou. 
Lisa revirou os olhos e ela por si mesma recolheu a blusa. 
— Parece que ele está abrindo um selo e está em procura de artista. Brett, aquele meu amigo escultor sabe? - A amiga assentiu, ainda perplexa. - Acontece que também é amigo dele, parece que eles tem até um negócio juntos. Acabou que ele me recomendou e agora ele quer uma fita demo minha. 
A amiga só não compreendeu a indiferença na postura de Lisa. Deveria estar feliz, era uma grande realização para ela.
— E isso seria ruim por que... - Disse duvidosa. 
— Mônica, você entende a situação? Conhecer Michael Jackson, trabalhar com Michael Jackson. - Não é obvio porque não aceitei? Sua mente pensou. - O cara é um esquisitão, completamente maluco. Não gosto das coisas que leio sobre ele. 
— Eu muito menos. - Rebateu nervosa. - Essa coisa de mudar de cor, dessas plasticas, esse rancho bizarro. Também não é o santo da minha devoção e concordo com você. Mas... - Pausou, para pensar no que iria dizer para convencê-la. - Querendo ou não, é uma oportunidade. Você não vai precisar ter nenhum contato com ele que não seja profissional e vamos encarar: ele é doido? Pra caramba. Mas sabe trabalhar, sabe fazer música que as pessoas gostam. Pode ser bom pra você.
Lisa a encarou hesitante. 
— Não tenho muito interesse no tipo de música que ele faz. - Inventou uma desculpa. Nem ao menos sabia que tipo de música ele fazia direito. 
Não era uma grande fã do que estava no top dez das paradas de sucesso. Alias, o que estava no top dez das paradas de sucesso? 
— Lisa, pensa. - A encarou seriamente dessa vez. - Querendo ou não, é uma pessoa poderosa, grande, na qual não costumam dizer muito não. Seria falta de educação se você fizesse isso, ele poderia ver como uma grosseria, falta de educação. Ele e o Brett, que te indicou. 
— Está falando que eu tenho que aceitar só pra agradar esse doido? -Revoltou-se. Talvez Mônica houvesse perdido sua habilidade para aconselhar. 
— NÃO!. - Exclamou, impaciente. - Estou dizendo para que, POR EDUCAÇÃO, o conheça. Para não parecer ingrata e aí lá, você inventa uma desculpa qualquer e diz que não quer, dá qualquer desculpa. Só tô aconselhando que não faça essa desfeita. 
Droga. Pensou ela. Mônica tinha razão. Não poderia deixar que a garotinha rebelde e mimada que tentavam pintar para si refletisse na indústria que, querendo ou não, tinha intenções de adentrar um dia. Por mais que pouco lhe importasse o que pensavam sobre si, havia vezes na vida em que, infelizmente, tinha de abaixar a cabeça. 
— Tem razão. - Deu um suspiro sôfrego. - É melhor que eu o conheça mesmo. 
Mônica a encarou surpresa.
— Você já o conheceu, não se lembra? - A contestou, bem humorada. Lisa mal deveria lembrar-se do que almoçou. 
— E quando foi isso que eu não lembro? 
— Íamos aos shows dele com os irmãos, em vegas, quando éramos crianças. Fomos até no camarim. 
Lisa a encarou com ironia. 
— E você acha que eu vou me lembrar disso? Íamos em tudo quanto é show nessa época, por Deus. - Voltou a atenção para as roupas. Houve uma curta pausa até que voltassem a se manifestar no assunto. - Vou ligar para o Brett ainda hoje e pedir que ele marque uma reunião. - Avisou, firmemente. - Você está certa, seria muito grosseiro da minha parte negar assim. Se for pra dizer não, tenho que fazer do jeito certo. 
—--x---- 
SEMANAS DEPOIS

'' Pergunta da tal câmara que ele dorme'' 
'' Pede pra ele te mostrar o altar pra Elizabeth Taylor'' 
'' Manda uma indireta de como ele é um racista nojento. E também não esquece de perguntar quanto custou os ossos daquele elefante'' 

Riu com seus pensamentos. Esses foram alguns dos conselhos de seus amigos sobre o que fazer quando estivesse em frente ao homem. A casa de Brett pareceu o lugar ideal para isso acontecer, seria mais discreto para ambos no caso de alguma imprensa descobrisse. Afinal, sempre descobrem tudo. Seguindo o conselho de Mônica, ofereceu que se encontrasse para que performace ao vivo para ele ao invés de entregar uma simples demo. 
Seria mais gentil de sua parte, caso estivesse frente à ele na hora que recusasse o que ele lhe propôs. Já que era para parecer cortes, faria tudo da maneira certa.
Estava sentada no sofá, da sala de estar, com uma taça de vinho em sua mão mirando a televisão que exibia um seriado cômico na qual não prestava total atenção. Ele estava um tanto atrasado. Não de maneira exagerada, mas um pouco. O que era estranho para alguém que se descrevia como um total metódico. 
Pensou na quantidade de fãs histéricas ou até pessoas normais que em seu lugar estariam em um ataque de nervos. Não se chocava em conhecer celebridades ou ficava em pilha de excitação para tal. Não sabia exatamente se por causa de seu pai ou até por sua criação mesmo. Por mais isolada que houvesse se mantido de tudo isso, havia os contatos poderosos de sua mãe que teve de fazer sala em jantares ou sorrir falsamente em eventos. 
Uma verdadeira chatice para ela e um sonho para outros. 
— Lisa, o carro dele chegou. - A voz de Brett adentrou a soleira, a assustando por um instante. Desviou-se de seus pensamentos nostálgicos e levantou-se. Esperaria ali mesmo. 
Brett saiu da sala e ela serviu-se com mais um pouco de vinho.  
Não demorou muito para começar a ouvir vozes vinda do outro cômodo. 
— Desculpa o atraso. - Ele desculpou-se envergonhado. - Ela já chegou? 
Brett assentiu. 
— Sim, estávamos esperando por você. - Confirmou, enquanto andavam devagar para o outro cômodo. - Quer beber alguma coisa? 
— Tem vinho? - Essa noite precisava. Pensou ele. 
— Tem uma garrafa aberta com a Lisa, vamos até a sala. Ela está lá. 
Caminharam mais uns curtos passos até chegarem ao cômodo, onde a figura feminina mirava a janela. de costas para a entrada. 
Brett adentrou primeiro, enquanto Michael o seguia alguns passos atrás. 
— Lisa? - O amigo a chamou, onde em resposta ela virou-se de imediato. Não encontrou a terceira pessoa ao seu lado. 
Em uma fração de segundos, sua observação foi contrariada com a invasão daquela presença. Um tanto contraído, tímido; Como se fosse uma criança sendo obrigada pelos pais a cumprimentar visitas. Conhecia aquela sensação. 
Prendeu-se ao clichê que ele carregava. Camiseta vermelha, sapatos, calças pretas e um fedora. Típico de quando sempre o via por aí em noticiários. Mas por um momento olhou para si mesmo, ele também deveria estar achando um clichê. Toda de preto. Desde seu cabelo até toda extensão de seu vestido. 
Michael a encarou disfarçando o olhar. Definitivamente estava diferente da revista que viu em 1984 e que o encantou; Estava melhor. 
Sorriu educadamente. 
 - Bom, acho que seria um tanto inútil se eu fizesse apresentações não é? - Brett ironizou, causando risadas. Uma boa quebra de gelo. - Acho que o lance de lisa, Michael, Michael, Lisa não deve caber aqui, certo? 
— Melhor adiantar as coisas. - Michael sugeriu no mesmo humor e aproximou-se dela com a mão estendida. - Muito prazer, Lisa Marie. Fico muito feliz que tenha sugerido isso. - Ainda dentro das normas sociais, o apertou pela mão e aproximou-se para um beijo rápido no rosto. 
Fechou os olhos por um segundo. Por deus, que perfume gostoso. Pensou ela, em choque consigo mesma. 
— Agradeço eu por ter vindo, imagino que seja ocupado. - Disse pela primeira vez, ainda o encarando. 
Esperava que ele tivesse de óculos escuros, como Brett a avisou que ele sempre estava ao conhecer pessoas. Mas não
— Michael o vinho que você pediu tá ali na mesa. - Brett apontou para o móvel pequeno no centro da sala, enquanto ia até o final do cômodo onde se localizava um pequeno bar. 
Trouxe uma taça para Michael. 
— Hoje estou precisando mesmo. - Afirmou, enquanto se servia. 
Lisa tentou controlar sua reação, mais uma vez com certo pasmar por ver que ele bebia. 
— Então, eu andei pensando em algo. - Brett manifestou-se de novo. - Minha ex esposa está trazendo meu filho para ficar comigo hoje e... Ele está chegando. Porque não vão para o meu escritório e conversam lá? Depois que conversarem, vocês vem pra cá e a Lisa canta pra você. O que acham? 
Nenhum dos dois pareceu se opor. 
— Por mim tudo bem. - Michael disse em concordância. 
— Como quiserem. - Ela forçou um sorriso em resposta, sem saber o que esperar dessa conversa. 
—--x--- 
— Fiquem a vontade. - Foi a última coisa que Lisa ouviu Brett dizer ao fechar a porta de correr,amadeirada, daquele sofisticado escritório em sua casa. 
Ela olhou ao redor antes de senta-se no sofá de couro encostado em uma das paredes. Não havia estado naquela parte da casa antes. 
Ao contrário dela, Michael estava familiarizado. Fora ali que algumas de suas reuniões sobre a aliança com Brett aconteceram. 
Sentou ao mesmo sofá, mantendo uma distância confortável dela. A garrafa de vinho fora para a pequena mesa a frente, e ambos ainda seguraram suas taças. 
— Você não parece muito nervosa, o que é bom. Mostra confiança.- Ele reparou, quebrando o silêncio. Michael riu com uma lembrança. - Quando fui para a minha primeira reunião dessas, era uma criança. Também estava seguro, mas nervoso pra porra. 
Por pouco, Lisa não cuspiu o pouco de vinho que estava em sua boca. Havia escutado direito? Pensou. Aprontou a postura e ele não pareceu perceber seu susto. Já era a segunda vez em menos de dez minutos que ele lhe provocava essa reação. 
Não parecia tão inocente como se dizia ser. 
— Showbiz me deixa um pouco nervosa sim, mas acho que por já esta acostumada há tanto tempo acaba que meu nervosismo deve ser diferente do nervosismo que outras pessoas sentiriam nessa situação. - Explicou, tentando disfarçar a quase gafe segundos antes. 
— E porque demorou tanto pra ir atrás disso? Se já era algo que queria, que conseguia lidar? 
Ela pensou um pouco. 
— Queria ver um outro lado da vida antes. A atenção não me atrai tanto. Música sim, fama não sei bem. 
— Fama você tem desde que nasceu, não tem razão para ainda querê-la. - Disse em tentativa de confortá-la. Fez uma pausa para serví-la com mais uma taça, recebendo um sorriso em troca. Nossa, que mulher bonita, sua mente lhe gritou. Um tanto atônito, relembrou-se das coisas que tinha de falar, afinal era por isso que veio. - Se importa se eu fizer uma série de perguntas de uma vez? - Soltou uma leve risada. Lisa franziu as sobrancelhas em resposta, sem entender. - É que não quero esquecer e também não quero perder seu tempo. Tudo bem se eu fizer? 
— Vai em frente. - Permitiu, um tanto curiosa sobre o assunto. 
— Quero saber de você como artista: Que tipo de música quer cantar, quero saber se compõe, quero saber como está interessada em se lançar, sobre a sua vida pessoal também pra que a gente possa conduzir com seus horários, Brett me disse que teve um bebê a pouco tempo. - A cabeça dela ficou um tanto zonza. Realmente ele tinha muitas dúvidas. - Me perdoe. - Pediu em seguida. - Mas é que... 
— Eu entendo. - Ela interviu, realmente compreendia a visão dele como o produtor disso. Afinal, era seu dinheiro. - Sobre música eu gosto de sons diferentes. Nem tão comercial, meio anos 60. Acho que folk é mais a minha praia. - Já deixou bem claro, caso ele ou qualquer empresário tentassem moldá-la para algo que não queria para poder vender. Mas Michael não pareceu abatido com isso. - Sim, eu escrevo algumas letras. Meu marido é musico e dividimos isso. Eu a letra, ele a melodia. - Não imaginou que se sentiria tão a vontade com ele em pouco tempo. Até lembrar-se da real intenção pela qual veio. Estava ali para recusar, não poderia sair desse planejamento simplesmente por ele parecer simpático durante uma conversa. Isso não justificada nada do que via por aí sobre Michael. Sua expressão fechou-se para seriedade. - Eu agradeço que tenha me perguntado sobre isso de mercado e também por ter mencionado meu filho, já que isso interfere muito no que eu tenho planejado pra agora. 
Ele que ia beber mais um tanto, interrompeu o caminho da taça até sua boca. 
— O que quer dizer? - Perguntou em dúvida. 
— Acabei de ter esse bebê. Quero esperar pelo menos mais dois anos antes de começar a planejar algo. Não da agora, você entende? 
Entender, ele entendia. Só não conseguia compreender o por que Brett havia dito que ela estava interessada em cantar se esse era o caso. 
— Claro que sim. - Mentiu. - O meu azar é que eu realmente estava planejando algo pra pelo menos um ano ou seis meses, no mínimo. - Desanimou-se, sem conseguir disfarçar. Nem ao menos por educação. Precisava girar esse dinheiro investido o quanto antes. Suspirou pesadamente. - Azar pra mim, mas sorte pra você. 
— Não entendi. - Disse ela. Sorte para mim? Como assim? Pensou. 
— Há alguns dias tive uma reunião de acionistas da sony. Como estou com um selo novo, de aliança com eles me perguntaram sobre possíveis artistas que eu tinha em mente e falei de você. - Lisa não conseguiu conter o sorriso em sua face. - Falei que estava interessada em se lançar e ficaram extasiados com a possibilidade. Se não vier pro meu selo, assim que eu disser que está livre, alguém lá vai querer te contratar com certeza. Estão mais dispostos a esperarem do que eu, que acabei de abrir esse negócio e tenho pressa. 
Olhou em seu relógio disfarçadamente. Odiava admitir que talvez havia perdido tempo, embora sua decepção não fosse com ela e sim com o destino. 
Por mais que a novidade a houvesse pegado no pulo, Lisa não conseguiu disfarçar a felicidade que brilhou em sua face. Não imaginou que as coisas fossem sair assim, tal como queria e planejava. 
Até mirá-lo. Estava claramente desapontado; Agora sentia-se um tanto culpada pela forma que pré julgou que seria aquele encontro. A vida pessoal dele a parte, Michael parecia realmente disposto em ajudá-la. 
— Fiz você perder seu tempo, não foi? Eu sinto muito. - Lamentou, provavelmente pela primeira vez com sinceridade naquele meio tempo que estava com ele. 
Michael sorriu sem exibir os dentes. 
— Não vou mentir e dizer que eu não queria você, porque seria hipocrisia minha. Eu quero e quero muito. - Afirmou com uma certeza que a fez arrepiar-se por dentro. O que foi isso? Pensou Lisa. Inabalado pelo que disse, ele continuou. - Mas, não vou ser egoísta e também entendo sua situação. Mas eu ainda posso e quero ajudar. - Tateou o bolso de sua calça. - Por isso se precisar de um produtor musical, me liga. - Retirou um cartão do lugar, entregando-a em seguida. 
Ela olhou o numero pensativa. Talvez não fosse uma ideia rui,. 
— Devia ter avisado que só queria conversar sobre suas propostas e também sobre as minhas intenções. Acabou que eu não sabia que tinha pressa. - Estranhamente sua culpa ainda não havia passado. 
— No mundo real isso se chama pesquisa de mercado. - Michael ironizou, puxando um sorriso dela. 
— Burra fui eu então, já que sei mais do mundo real que você. 
Mas ao invés de receber a reação descontraída dele por sua brincadeira, o olhar dele continuou intenso. Lisa o observou sem saber o que pensar.
Estaria ofendido pelo que disse? 
— Acha que eu não sei sobre a vida? - A voz dele saiu em um tom na qual não soube identificar. Frágil, forte, bravo, frio. Era como se fosse tudo junto. Ele deu mais um gole no vinho. Um gole que dessa vez esvaziou todo. - Acredite ou não, tem uma realidade muito crua debaixo da fantasia, me surpreende que da onde veio, não saiba disso. 
Mesmo sem querer, aquilo a abateu. 
— O que quer dizer com isso? - Agora foi grosseira. 
— Quero dizer que você deve pensar que eu sou gay, sei que pensa. Que deve pensar que eu sou bizarro ou que não vivo na realidade, que fiz milhões de plásticas, que sou racista, que durmo sabe se lá onde e todas essas coisas. - Explicou, estranhamente calmo. - Mas não. Eu não sou gay, durmo em uma cama, tenho uma doença de pele rara e sem cura e tento ser o mais normal que a minha realidade permite. Mas eu choro, eu dou risada, eu bebo, eu falo palavrão pra caralho, eu gosto de ter amigos por perto e também de ter meu tempo, detesto da satisfações, leio, faço maratonas de filmes, amo ter coleções de tudo quanto é coisa, adoro animais, adoro mulheres, me divertir, faço as melhores pegadinhas do mundo, meus amigos me consideram um piadista. Tudo isso. - Ela o encarou, abrindo a boca e fechando-a várias vezes em procura do que dizer. - E todo dia quando eu acordo eu não posso ler um jornal ou assistir uma televisão direito por que eu sei que se eu fizer isso, o meu dia vai ser arruinado por mais uma mentira que vai de '' ele só se alimenta de flores'' pra '' Ele acredita ser um alienígena''. E a única verdade nisso tudo é que já estou cansado de toda essa merda. 
Sem saber exatamente o que falar perante tais palavras, houve uma longa pausa. Não era do tipo de pessoa que acreditava em tudo que a mídia a reportava, pois também era desse meio por mais afastada que quisesse ser. Mas a repleta quantidade de coisas, jogadas a cima que via sobre ele, somada pelas aparições, mudanças na pele, no rosto, isolamento. Tudo isso eram muitos pontos a favor dos jornais. 
— Quando a gente se cansa de algo, a gente muda isso. - Fora a única coisa que conseguiu refletir sobre as palavras dele. 
— Eu concordo com você. - Assentiu. - Sempre achei que o silêncio fosse calar tudo, que não precisava explicar nada pra ninguém. Mas não tem dado muito certo. A partir do ano que vem muita coisa vai mudar, e vai ser pra melhor, tenho certeza. - Disse esperançoso. - Demorou, mas eu tenho visto que se isolar não é a saída. Quer dizer, eu fiz isso porque não poderia sair também. Não posso ir ao cinema, então fiz meu próprio. Não posso fazer coisas que as pessoas normalmente fazem, mas também não queria me privar disso. Chega a ser louco até pra mim mesmo pensar que eu tive que criar meu próprio mundo simplesmente porque as pessoas não me deixam conviver no real. - Riu com sua própria desgraça. 
Lisa refletiu sobre aquilo, ainda abalada. 
— Você é muito incompreendido. - De repente sentiu-se raivosa consigo mesmo. - Isso é muito injusto. - Exclamou com certo ódio. 
— Injustiças te deixam zangada? - A voz dele saiu como se tivesse zombando dela. 
— Acho que deveria deixar qualquer um bravo, no mínimo. - Silêncio. Um rápido para que pudessem refletir sobre as palavras de cada um. Com verdades ou com mentiras de tabloides, algo era correto para Lisa; Aquele era um homem recluso e misterioso até para quem pertencia a indústria. Por qual razão, assim, no primeiro encontro que tinham, Michael lhe despejava tantas coisas e parecia se importar tanto com o que pensava? Quis calar-se perante tal dúvida, mas não conseguiu. - Por que eu? - Disse simplesmente. Ele a encarou. - Eu entendo os rumores, mas você mesmo disse que odeia dá satisfações, isso o faz misterioso. Me contou tudo tão rápido, tem uma razão pra isso? - Tomou cuidado para não soar desconfiada, queria simplesmente que ele encarasse como uma curiosidade sua.
A verdade era que poderia dizer que era os dois. Sendo filha de quem era, sempre teve de ser cautelosa perante as pessoas que apareciam em sua vida. 
— Acho que temos realidades parecidas, sempre achei que você poderia ser alguém que pudesse me entender. - Foi sincero, tanto que a olhou fundo nos olhos perante cada coisa que disse. 
Lisa rapidamente refletiu sobre seus dizeres. 
— Sempre? Como assim sempre? 
Merda. Michael pensou, amaldiçoando a si mesmo por ter se entregado assim. Bom, foda-se. Caso fossem tornar-se amigos, ela saberia mais cedo ou mais tarde. 
— Já tentei marcar algo entre nós. - Confessou timidamente. Dessa vez não conseguiu fitá-la. - Duas vezes. - Podia sentir suas bochechas corando. 
Interessada, Lisa virou seu corpo em total direção ao dele para que pudesse escutar melhor. 
— Quando foi isso? - Arqueou as sobrancelhas em uma expressão divertida. 
— A primeira vez em 84. Via você em algumas revistas, eu estava no olho do furacão ali. No auge dos auges, achei que seria bom alguém que entendesse. Sua mãe e eu temos o mesmo advogado e ele me deu o contato. - Resolveu omitir a parte da aparência dela ter sido um afrodisíaco para tal convite. - Sua mãe atendeu, pedi a permissão dela pra te levar pra jantar. - Ambos gargalharam alto. - Ela disse que você estava estudando, acho que longe. Não sei direito, não deixou. - Lembrou-se das palavras de Priscilla. '' Lisa está estudando, AFINAL TEM DEZESSEIS ANOS''. Deixando a idade dela bem frisada para que o, homem, dez anos mais velho do outro lado da linha entendesse bem. 
— E depois, quando foi a segunda vez? - A pergunta o puxou de volta para a terra. 
— A segunda foi no casamento do Branca, o advogado. Sua mãe estava lá, fui cumprimentá-la, era a primeira vez que nos conhecíamos. Perguntei se você estava lá e ela disse que não. Fiz um convite para que as duas me visitassem qualquer dia, ela foi educada e falou que eu poderia ligar quando quisesse. - Apesar que até hoje acreditava que fora apenas para não ser grossa. 
— E por que não ligou? 
Contava ou não? Pensou rápido, apesar que os efeitos do vinho dentro de sua mente já o impediam de raciocinar uma desculpa. Não havia tempo. 
— Você se casou pouco tempo depois. - Disse rápido, em esperança que ela não o ouvisse. 
Lisa não compreendeu aquela razão, afinal não parecia motivos.
— Mas o que isso tem hav... - Pausou a fala, enquanto a ficha caía. - Entendi. - Sussurrou, um tanto embaraçada. Ele estava interessado. 
— É feliz no seu casamento? - Brincou, descontraído. Causando mais uma onda de risadas entre os dois. 
Por dentro uma nuvem negra a atingiu só de pensar naquela resposta. Não estavam em seus melhores momentos e isso lhe causava cada vez mais medo. 
Antes que pudessem alongar mais o assunto, uma batida na porta os despertou para fora daquela fantasia. Ah, não. Falou para si mesmo ao imaginar que seria obrigada a sair dali. O que chegava a ser um paradoxo completamente extremista se comparasse a relutância que foi para simplesmente conhecê-lo. 
Era a empregada. 
— O senhor Strong mandou perguntar se estão bem? 
Céus, há quanto tempo estavam ali? Michael olhou em seu relógio, de novo, dessa vez impactado. Nem havia percebido o tempo passar. 
— Já estamos indo. - Lisa foi a primeira em se manifestar. 
Em seguida, a mulher saiu na mesma postura rigída que entrou. 
— Viu a indireta disso? - Disse Michael enquanto levantavam-se. - Perguntar se estão bem agora significa '' Não vão dá o fora daí não? - Outra piada. 
Lisa estava chegando a conclusão de que talvez ele fosse mesmo quem dizia ser. Por mais complexo que fosse imaginar. 
— Ainda quer que eu cante? 
Afinal, pelo tom da conversa, caso fosse contratada não seria pelo selo dele. O que agora começava a ver como um azar seu também. 
— Eu estaria mentindo se dissesse que não estou curioso para ouví-la.
Lisa suspirou pesadamente. 
Antes sentia indiferença pelo que Michael poderia ou não achar de sua voz, mas agora... Vendo-o, conhecendo-o, a opinião dele passou a valer para ela, o que fez as borboletas em seu estomago instalaram-se. 
— Vai na frente para afinar seu violão. - Ele sugeriu ao perceber a careta de nervoso que ela fez. - Eu vou pegar essas taças e levar lá pra cozinha. - Apanhou a garrafa em uma mão e as taças manteve enroscada em seus dedos, de modo que pudesse segurar as duas. 
Lisa assentiu em concordância e virou-se até a saída. 
Michael não a fez ir na frente com essa intenção ou com nenhuma outra, mas não conseguiu controlar a direção para qual seus olhos partiram assim que ela se virou. Era uma boa bunda. Não esperava por aquilo, essa era definitivamente sua maior surpresa do dia. Mas era esse o limite na qual poderia ir; Olhar e olhar disfarçadamente para não desrespeitá-la. 
Após fazer o que avisou, regressou a sala. Onde encontrou Brett, com o filho que comia um pacote de doritos, no sofá. Lisa em uma poltrona separada, dedilhando uns acordes de um violão preto.
— Porcarias a essa hora, Stacy? - Bagunçou os cabelos loiros da criança que sorriu para ele. - Desse jeito vai ir mal na escola. - Riu, sentando-se ao lado dele. 
— Quer um pouco? - O garoto esticou o pacote em sua direção, falando de boca cheia. 
— Mas é claro que não. - Disse, apanhando uma pilha deles para si. - Jamais comeria algo assim, faz muito mal a saúde. - Elevou a mão até a boca, onde jogou metade do recipiente lá dentro. - Você não deveria se encher disso, é um péssimo exemplo. - Disse brincalhão, enquanto mastigava e fazia os presentes rirem. 
— Já está afinado. - Lisa mudou o assunto, levando os olhares para ela. Ela sorriu um tanto incerta pelo mesmo frio na barriga. - Eu não seria tão clichê a ponto de escolher uma música do meu pai pra cantar, então nada de Elvis Presley por hoje. - Graças a deus. Pensou Michael, mas obviamente calou-se. - Essa se chama I wont back down e é do Johnny Cash. 
—-x---
Ainda com a incerteza, terminou a canção focada na expressão dele. Queria saber se enxergava algo, mas não. Ele se manteve o tempo todo, com o olhar fixo ao chão e a cabeça apoiada nas próprias mãos. Continuando assim até alguns segundos após terminar a primeira. 
Até perguntar: Poderia cantar outra? 
Um tanto despreparada, a fúria das batidas de seu coração não a permitiam pensar muito. Foi para a primeira canção que veio a tona. The way you look tonight. Havia quebrado a regra; Disse que não ia fazer um clichê em cantar algo de seu pai e acabou cantando um dos maiores clichês de todos os tempos. 
Merda. Amaldiçoou a si mesma. Burra, burra, burra. 
Durante a segunda canção ele manteve a mesma postura da primeira. A opinião dele não deveria importar mais, afinal não seria Michael que a contrataria. Mas não conseguia mais negar desde que saíram daquele escritório. A impressão havia mudado e de repente o que ele pensava valia o mundo para ela naquele momento. 
— E então... - Brett virou-se para Michael, já captando a inquietude da colega. Além dele próprio que também estava impaciente. 
Michael respirou fundo antes de responder o que já sabia desde que ela abriu a boca para ressoar o primeiro verso. 
Virou-se para o menino.
— Stacy, o que você achou? - Perguntou, bagunçando os cabelos dele novamente. 
— Foi muito legal. Você canta muito bem, Lisa. - Afirmou, embora estivesse mais entretido em seus salgadinhos. 
Michael a encarou com um sorriso. 
— Viu, crianças não mentem nunca. 
—--x----
Separaram-se do amigável abraço ainda com o entusiasmo em vista de qualquer um que os visse. Brett havia subido para colocar o filho na cama, logo após tirarem uma foto para registrar o momento que fora captado por um dos empregados do dono da casa. Estavam sozinhos, já perto da porta de saída.
— Foi um prazer. Gostei muito de te conhecer, de verdade mesmo. - Disse ela, sinceramente e ainda sim sem parecer uma puxa-saco, na visão dele. 
— Igualmente pra mim. Eu adorei. - Agradeceu, completo por uma gratidão que não soube explicar.
Gostou muito daquela sensação. Sentiu que ela o tratou da mesma forma que trataria qualquer outra pessoa que conhecesse. Na verdade, gostou até demais daquilo. Contaria nos dedos de uma mão a quantidade de pessoas que reagiam assim ao lhe ver pela primeira vez, após toda explosão de thriller. O grande antes e depois de sua carreira e vida. Não estava errado quando há anos atrás achou que seria interessante caso viessem a se encontrarem de novo. 
— Eu vou te dá meu cartão, afinal eu já tenho o seu. - Avisou, enquanto revirava sua bolsa. Achou o pequeno papelzinho e o entregou. - Talvez eu não assine com você, provavelmente mas... Acho que vou precisar de um representante se for mesmo assinar com alguém lá na sony. Um representante e um conselheiro. 
Michael assentiu em concordância, com os olhos presos no papel. Decoraria aquele número. 
— Não se preocupa enquanto a isso. - A encarou, intensamente. - Algo me diz que você e eu ainda vamos nos meter em muitos problemas juntos. - Ele sorriu, mas ela não. Manteve-se fixa no que ele lhe disse. Como assim? Queria perguntar. Mas além de paralisada pela presença dele, pela primeira vez durante toda a noite, já era tarde demais. Michael caminhava até a porta para ir-se. - Pensa nisso. - Piscou, um gesto rápido antes de colocar seus óculos escuros e finalmente sair. 
Ao finalmente ouvir o bater da porta, Lisa soltou o ar que prendeu em sua garganta ao ouvir as últimas palavras dele. Tocou sua pele e estava quente. 
Que diabos havia acontecido ali? 


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Notas finais do capítulo

;)



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