Já anoitecia quando um Dodge Camaro SS 69 preto e com listras brancas no capô e teto, parou frente ao Cemitério de Elmwood. De dentro do veículo, um rapaz moreno e trajando um estiloso terno negro, desceu, já podendo sentir o vento gelado açoitar o seu rosto, assim como balançava as árvores da região. Ele carregava um uísque Bourbon Wild Turkey de doze anos em sua mão direita.

O rapaz fechou a porta do carro e caminhou para o cemitério, passando por diversas lápides, das mais simples até as mais elaboradas e espalhafatosas. No curto caminho de terra entre os gramados, ele pode notar uma figura feminina caminhar em sua direção. Ela era pequena e possuía o cabelo azul, um pouco desbotado. A garota carregava uma pequena bolsa em sua mão esquerda e usava um curto vestido preto, parando um pouco acima dos joelhos. Ao se aproximarem um pouco mais, ele pôde ter certeza de quem era, assim como ela pôde fazer o mesmo e, ao ficarem a centímetros um do outro, a garota lhe acertou um tapa no rosto do moreno, o fazendo virar a cabeça.

— Oi, Dallas — disse ele, massageando o seu queixo. — É um prazer te rever.

— Não pense que eu vou dizer o mesmo, Josh — devolveu ela,  o fitando com seus olhos furiosos e vermelhos de tanto chorar.

— Eu sinto muito.

— Não tanto quanto eu. — Desviou o olhar. — Não sei como alguém como ele pôde ter tido um irmão tão egoísta quanto você.

— Acho que eu mereci essa. — Sorriu fraco, fitando a garota.

— Definitivamente mereceu, mas ele não! — Irritada, Dallas aumentou a voz — Você tirou tudo o que eu mais amava, Josh.

— E como você acha que eu me sinto? — devolveu ele, também aumentando um pouco o seu tom. — Acredite, minha vida não tem sido nenhuma  bela caminhada na praia também.

— Como se isso fizesse alguma diferença pra alguém tão egoísta como você. — Dallas balançou a cabeça negativamente, enquanto uma lágrima escorria pelo seu rosto, antes de passar por ele.

— Sinto muito pela sua perda, Dallas — Josh disse, porém, sem receber nenhuma resposta, além do silêncio da garota que se afastava.

Com um suspiro pesaroso, ele voltou a andar pelo cemitério, sentindo-se mais abalado pelas palavras da garota do que gostaria de admitir para si mesmo.

Não demorou para que Josh chegassem em uma parte gradeada do cemitério, onde três lápides se encontravam. Abrindo a garrafa de uísque, ele fitou a lápide da esquerda, onde os dizeres “Killian Jones Kane, amado irmão e filho”, enfeitavam a peça de mármore. O rapaz então abriu o pequeno portão e entrou, parando frente ao túmulo.

— Olá, irmão — disse ele, após tomar um longo gole da bebida. — Faz tempo que não venho aqui, não é? Quase um ano, eu acho.

Com um suspiro, Josh sentou-se em um banco de mármore acinzentado, apoiando a garrafa de uísque ao seu lado logo em seguida. Passando a mão no cabelo, ele fitou a lápide, com um brilho nostálgico em seu olhar.

— Tanta coisa aconteceu em um ano. — Sorriu de canto, pensando nos acontecimentos passados. — Brigas novas, amizades novas, rivais novos… — Riu fraco, tomando mais um gole do Bourbon. — Mas acho você vai gostar de saber como eu conheci o amor da minha vida, irmão. — Fitando o horizonte, Josh assentiu. — Tudo começou em março do ano passado, na sala de perigo...