POV Liam

Depois que Scott falou com o alfa, o resto de nós bolamos o resto do plano.

Maya e Farkle deveriam estar perto da Riley o tempo todo no dia seguinte, e eu teria de manter distância para que tudo acontecesse como o planejado. Lydia reforçou que eu não deveria entrar em confronto com o grupo e os amigos de Riley foram aconselhados a reagirem apenas com gritos e evitar resistir fisicamente contra os caras, mesmo que os lobisomens tivessem sido instruídos a não ferir ninguém não poderíamos confiar. 

Eu devo estar distante o suficiente para não lutar contra eles, mas perto o bastante para intervir caso a situação nos fugisse ao controle.

Farkle colocaria um rastreador na Riley antes de sairmos de casa de manhã. E Todos estávamos encarregados de cuidar da família Matthews e nos mantermos juntos, para garantir que eles não iriam tentar levar mais ninguém enquanto Scott e Malia iriam se encontrar com o alfa para resgatar Derek sem maiores complicações enquanto Stiles estava responsável pelo planejamento e execução do resgate - o mais breve possível - de sua irmã.

Estávamos todos tensos demais com o que sabíamos que aconteceria no dia seguinte, e talvez por causa disso nenhum de nós conseguiu dormir bem. Eu levantei, cansado de encarar o teto e escutar o ponteiro dos segundos andando pelo relógio. Escutava Riley andando dentro do próprio quarto e desisti de ter algum descanso. Dobrei os lençóis, decidido a ir tomar banho depois de deixar minhas coisas arrumadas na sala. e juntei com o travesseiro sobre o sofá e levantei o colchão que seria mais tarde levado para o quarto da Riley.

Demorei alguns minutos embaixo da água gelada, desejando que esse banho fosse o suficiente para me preparar para o dia que iríamos enfrentar.

Cruzei com Riley no corredor enquanto saia do banheiro. Ela já estava vestida e pronta a caminho da sala. 

— Bom dia. - Ela cumprimentou sem ânimo, sabendo que eu também não havia dormido.

Farkle e Maya já estavam na sala. Riley usava uma calça justa jeans escura, um tênis branco e um moletom azul claro da NASA. Ela sentou para conversar com os amigos que também já estavam prontos para a irem para a escola.

Riley deixou a mochila jeans sobre o sofá, juntamente com a mochila preta de Farkle e a amarela mostarda cheia de apliques e desenhos da Maya.

Farkle entregou para Riley um elástico de cabelo no qual ele havia costurado o rastreador. Enquanto ela juntava o cabelo e o prendia num rabo de cavalo alto meio bagunçado, ele pegou o celular da amiga para instalar algum programa que também serviria de rastreador.

Esse era o pior plano que já tínhamos feito, mas estávamos em desvantagem. Em Beacon Hills nós conseguimos ter alguma influência sobre as pessoas e sobre a polícia, nós conhecíamos quem estavam ao nosso redor e a última vez em que lutamos contra uma matilha foi há muito tempo. Eu nem era lobo ainda. Mas sei que foi contra a matilha de alfas e mesmo assim além de ter sido na nossa região com diversas pessoas que auxiliaram, Scott e Stiles sabiam quem eram e quantos, e ainda conseguiram fazer que alguns mudassem de lado. 

Mas nesse caso estamos lutando contra uma matilha que não temos nenhuma informação. Não sabemos quem são, quantos são, quais as suas habilidades e fraquezas, se eles são apenas lobisomens, por quais pontos eles estão espalhados e também não tínhamos como levar o confronto para a floresta, já que o mais perto de um campo que os nova-iorquinos tinham era o Central Park. E não havia como explicar para o xerife que a gente não tinha assassinado um humano inocente, nem que a luta fosse em legítima defesa. Estávamos em desvantagem e por isso acabamos concordando com esse plano estúpido.

— Porque já estão prontos e reunidos tão cedo? - Topanga perguntou ao encontrar os quatro jovens na sala, sendo que ainda faltava quase uma hora para a aula.

— Eu não fiz o meu trabalho de trigonometria. - Maya mentiu. - Riley e Farkle concordaram em me ajudar antes de sairmos para a aula.

Topanga sorriu orgulhosa da amizade e do senso de responsabilidade que aquela desculpa de Maya envolvia. E então virou para mim, buscando por uma explicação.

— Eles me acordaram.

Ela sorriu docemente e então se encaminhou para a cozinha. Maya e Farkle fizeram um bom trabalho em manter o clima normal. Eu não estava conseguindo seguir o exemplo deles. Estava tenso demais com a ideia de fazer exatamente o que os vilões queriam.

Pelo menos eu vou descobrir o que eles querem comigo. - Riley havia comentado como se fosse algo que valesse a pena arriscar a vida numa tentativa inútil de melhorar o clima.

— Panquecas, crianças. - Topanga anunciou colocando um prato de panquecas sobre a mesa já posta. 

Sobre a mesa também tinha calda, frutas, torradas, suco de laranja e café. Eu estava tão distraído com minhas preocupações que sequer havia notado o tempo passar enquanto a senhora Matthews preparava o café da manhã.

Sentei com Riley e seus amigos para tomar o café da manhã enquanto Topanga deixou o cômodo para chamar Auggie e Cory.

Enquanto estávamos sentados todos à mesa todos conversavam sobre como seria o dia.

— Está tudo bem, Liam? - Topanga perguntou. - Você está um tanto quieto hoje.

Eu ri sem graça tentando disfarçar.

— Eu só estou nervoso com uma prova que vou ter hoje. - Eu disse, mas gaguejei e ela pareceu não acreditar.

— Ele brigou com a ex namorada ontem pelo telefone. - Maya sussurrou alto o suficiente para que todos escutassem apenas para fingir que estava contando um segredo.

— Maya. - Riley repreendeu o comentário da amiga, mesmo sabendo que não era verdade.

— Eu sinto muito, querido. - Topanga comentou e tocou minha mão de leve.

Me virei para Maya como se estivesse incomodado por ela ter revelado algo que eu não queria e então, em silêncio, agradeci por ela ter me salvado.

[...]

Chegando na escola encontramos com Zay, Lucas e Smackle que estavam preocupados com a Maya por causa do reaparecimento do seu pai e da confusão que havia acontecido mais cedo na noite anterior.

Eles já estão a postos. - Recebi a mensagem de Scott e mostrei para Riley. Era hora de me afastar e ela deveria ficar do lado de fora.

— Eu estou com uma vontade enorme de tomar um chocolate quente. - Riley comentou encarando um grupo de estudantes que deixavam a cafeteria do outro lado da rua que nunca frequentamos.

— Eu vou comprar um café. - Comentei assim que entendi o que ela estava fazendo. - Quer que eu compre um chocolate pra você?

Ela apenas abriu o maior sorriso como confirmação e me abraçou de lado enquanto dizia que eu era o melhor. E por um instante eu quase esqueci que ela estava em perigo.

— Você devia parar de fazer todas as vontades da Riley. - Maya me disse rindo. - Eu não vou conseguir alcançar essas novas expectativas dela. 

Ri da resposta dela deixando o grupo e atravessando a rua.

— Você é a minha única expectativa, Peaches. - Escutei Riley responder a amiga mesmo já estando um tanto distante.

Entrei na cafeteria e pedi o café e o chocolate quente enquanto encarava o grupo de adolescentes do outro lado da rua.

Esperei a moça servir e colocar em embalagem para viagem enquanto esperava que a alcateia de Brandon não aparecesse. 

Ela colocou o pacote de papel amarronzado sobre o balcão e então uma vã branca entrou na rua em alta velocidade. Adolescente gritavam e se jogavam para as calçadas tentando sair da rua que não costumava ter muitos carros justamente por causa da redução de velocidade no perímetro escolar. A vã parou abruptamente em frente a escola e todo mundo que estava no estabelecimento parou o que estava fazendo para tentar entender a cena. Me dirigi a porta já sabendo o que estava acontecendo. 

Escutei gritos de Riley. 

Deixei o pacote sobre o balcão. Maya gritava por socorro e eu corri instintivamente, mesmo sabendo que eu não deveria interferir. Esse era o plano. Mas não consegui me conter.

Lucas tentava lutar com um dos caras e foi jogado ao chão. Mais pessoas se acumulavam e eu tive dificuldade de alcançar o centro onde tudo acontecia.

A maioria das pessoas fugiam e corriam para todos os lados. Outras congelaram.

Acertei um golpe em Brandon, que mesmo encapuzado eu reconhecia, ele recuou, mas não largou o braço de Riley, a jogou para outro cara que a segurou com força e a jogou para a parte traseira do veículo que estava sem todos os bancos. Tentei alcançá-la, mas Brandon me afastou antes de também entrar no veículo que parecia sucateado. Ela me encarou uma última vez antes que a porta da vã se fechasse e saíssem em disparada ainda mais rápido do que haviam chegado.

POV Lucas

Eu não entendia bem o que estava acontecendo até que os caras pegaram Riley. Eu reagi. Mas eles eram muitos e mais fortes. Um me acertou um golpe e escutei um que estava dentro da vã murmurar “você não entende o que significa ‘não deixe feridos’, idiota?”.

Avancei outra vez mais confiante porque agora sabia que o cara tinha ordens de não ferir ninguém, mas eles previam todos os meus movimentos e fui empurrado para o chão enquanto um deles alcançava Riley.

Smackle havia corrido para dentro da escola. E Zay estava congelado. Não se movia. Maya e Farkle gritavam por ajuda e então Liam apareceu. Fiquei aliviado pelo auxílio. Achei que nós dois seríamos o suficiente para impedir aquilo, mas minha esperança tola durou menos que um segundo.

Liam acertou um murro no cara mais alto que puxava Riley enquanto ela relutava. Ele ainda chegou a pegar seu braço, mas foi afastado enquanto dois jogaram Riley na vã velha. A porta bateu enquanto eu ainda estava no chão e com a mesma velocidade em que tinham aparecido, o carro desapareceu. 

Maya estava em lágrimas.

— Levaram a Riley. - Ela gritou. Liam a segurou antes que ela caísse ao chão.

Me levantei percebendo os ralados nos braços, mãos e cotovelos por causa da queda. Zay continuava estático.

Segundos se passaram como se o mundo estivesse em câmera lenta e Cory deixou o prédio aterrorizado ao lado de Smackle. Ele estava com as mãos na cabeça e encarou todos os jovens espalhados procurando pela filha. Ele desceu a escadaria correndo e perguntou pela Riley. Estávamos em silêncio, mas ele entendeu as palavras que ninguém conseguia dizer.

Liam encarava o chão ainda segurando Maya que chorava contra seu peito. Farkle tentava descongelar Zay e eu permaneci ali. Frustrado. Impotente.

Ouvi sirenes e sabia que alguém já havia chamado a polícia.

Cory estava ao meu lado com as mãos na cabeça gritando pela filha. Eu não conseguia me mover, respirar, pensar ou ter qualquer reação. Uma viatura estacionou junto ao meio fio no alvoroço de estudantes assustados. Um oficial saiu do veículo e foi atacado pelo senhor Matthews que demandava que o trouxessem sua filha imediatamente.

— Eu anotei a placa. - Uma voz que eu não conhecia anunciou no meio dos estudantes.

Uma menina trouxe seu caderno e entregou aos policiais que anunciaram o veículo na rádio e avisou que uma viatura estava a caminho para escutar depoimentos das testemunhas. E então partiram em busca da vã branca.

POV Scott

Riley seria levada. E nós havíamos permitido aquilo. 

Nós nunca havíamos arriscado um de nós desse jeito. Mas nós nos vimos ficando sem opções e ela foi louca o bastante para assumir que aquele era um bom plano. Mas agora. Observando a nossa situação atual, eu temia que não fossemos a tal da melhor matilha existente e que não conseguiríamos resgatar a doce e inocente Stilinski.

Stiles nunca se perdoaria. Os Matthews e o xerife nunca se recuperariam. Nenhum de nós saberia viver sabendo que éramos responsáveis pelo pior plano existente na terra. Pelo pior plano com o qual todos em sã – talvez não tão sã – consciência concordamos.

Eu era responsável por todos e eu estava permitindo que isso fosse levado adiante.

O alfa estava em pé na frente do carro nos encarando. Eu e Malia esperando pela mensagem de Liam. Esperávamos na saída da cidade com os caras que não eram de nossa confiança. Eu e Malia com o Jeep de frente para o carro popular preto que eu não reconhecia.

O alfa estava em pé na frente do veículos nos encarando incessantemente. Ao lado do carro, perto da porta de trás, um menino que parecia mais novo que Liam e um outro que estava dentro do veículo, mas estava de costas. Eu o conhecia.

Minha cabeça praticamente gritava que era Isaac, mas fiquei quieto. Minha cabeça deveria estar me pregando peças. Isaac era parte da família. Ele nunca faria isso com a gente. Ele não seria cúmplice dos caras que torturavam o Derek.

O carro deles era um carro popular preto. Estávamos num ponto afastado do último posto de gasolina na via. Não havia árvores e floresta como na saída de Beacon Hills. Era areia e asfalto.

Senti o celular vibrar.

Riley foi levada. — Liam enviou.

Enquanto eu lia a mensagem, o celular do alfa tocou. Ele atendeu e gargalhou com o que lhe foi dito e nos encarou sorrindo como se estivesse prestes a receber o maior prêmio da loteria.

— Muito obrigado, meus filhotes. – Ele disse e então se dirigiu a lateral do carro e abriu a porta traseira.

Ele puxou um saco preto brutalmente e jogou-o no chão.

— Pode conferir o pacote. – Ele disse ainda rindo com tom de divertimento na voz. – Eu tô de bom humor.

O estrondo do corpo de Derek encontrando o chão foi alto. Malia se aproximou hesitante e abaixou para abrir o zíper do saco preto. Escutei ela sussurrar o nome do tio enquanto o encarava naquele saco. Derek. Ele estava desacordado e extremamente ferido. Malia segurou seu pulso e assentiu, me confirmando que apesar da aparência frágil e sem vida, ele estava vivo.

— Foi um prazer fazer negócios com você! – Ele afirmou e entrou no carro.

O menino sentou no banco de passageiro e partiram.

Derek havia sido resgatado.

Agora era a vez da Riley.