O Observador escrita por Uru Take-hime


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Faz muito tempo que não escrevia algo de Harry Potter e, diferente das outras fics, dessa vez estou trazendo personagens originais dentro do universo que conhecemos. Se tiverem alguma duvida quanto ao período que se passa a fic, é de anos após os acontecimentos da saga. Eu deixei apenas os sobrenomes dos personagens, pois eles não tem intimidade o suficiente para se chamar pelo primeiro nome, mas caso eu faça outra fic deles provavelmente os nomes aparecerão. Essa fic já foi postada há alguns dias no Spirit, então agora estou trazendo para cá!

Sem mais delongas: Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/726853/chapter/1

Era pra ser mais um dia comum de trabalho no Ministério da Magia, desviando de alguns bruxos e bruxas apressados enquanto eu mesmo me diria para o elevador com passos largos, ansioso para chegar ao meu escritório. Os óculos de armação fina escorregavam pelo meu nariz e constantemente tinha que ajeitá-los enquanto lia a edição do Profeta Diário daquela manhã, buscando alguma informação que pudesse ser útil além de me inteirar nas novidades. Eu estava tão concentrado na manchete sobre as eliminatórias da Copa Mundial de Quadribol que não percebi que havia parado de andar.

 

— Você vai entrar ou não?

 

Aquela pergunta tirou meus olhos do jornal e fitei o outro, este já estava dentro do elevador e pacientemente o segurava para que eu pudesse entrar. Engoli em seco, ajeitando meus óculos mais uma vez e me pus ao seu lado, vendo as portas se fecharem. De todas as pessoas, eu tinha que encontrar justo ele tão cedo? Eu conhecia bem o moreno imponente e elegante que estava observando um relógio de bolso com demasiada atenção, então comecei a pensar que estivesse atrasado para alguma coisa. Nunca me senti confortável com o silencio que se formava em situações como aquela, então arrisquei começar um dialogo:

 

— Parabéns por ter capturado o Griffiths, ele já estava começando a dar trabalho. – o elogiei, afinal era seu trabalho como Auror capturar bruxos das trevas envolvidos em crimes.

— Obrigado. – ele guardou o relógio e me observou pelo canto dos olhos – Sua investigação sobre o possível esconderijo dele foi bastante precisa, então devo lhe agradecer também...

— Oh, bem... Todos do Departamento de Investigação deram seu melhor para descobrir isso. – não esperava ouvir um agradecimento por parte dele, mesmo que eu tivesse me esforçado muito para conseguir tal informação – É você que teve de prendê-lo, então a maior parte dos créditos devem ser seus.

— Se você diz...

 

O silencio voltou a reinar no elevador e, dessa vez, preferi enfiar a cara no Profeta Diário para tentar esconder o constrangimento. Felizmente o elevador chegou ao 2º Nível e saímos no Departamento de Execução das Leis da Magia, o maior departamento do Ministério. Enquanto eu cumprimentava alguns colegas no meio do caminho, o outro tomava a frente e entrava no Escritório dos Aurores. Cheguei a vê-lo entrar em seu cubículo enquanto me dirigia ao Departamento de Investigação, esta sendo uma subdivisão do Escritório. Éramos responsáveis pela investigação e rastreamento dos bruxos criminosos, repassando essas informações para os Aurores.

Puxei minha cadeira depois de cumprimentar mais algumas pessoas e peguei algumas folhas deixadas em minha mesa, pretendia começar logo o meu trabalho. Mas sempre que eu encontrava aquele bruxo, minha mente se recusava a funcionar direito por alguns minutos e fiquei folheando os documentos em mãos, sem realmente lê-los. Eu tentava pegar todas as informações necessárias para os casos que ele trabalhava, sempre o observava de longe e, apesar da falta de coragem, quando me via ao lado dele como a pouco no elevador, tentava puxar assunto. Porque era tão difícil de esquecer?

Eu o conheci em Hogwarts, notando-o pela primeira vez no nosso segundo ano letivo. Minha casa era a Corvinal e sempre que tínhamos aulas conjuntas com Sonserina, eu ficava bastante impressionado com sua desenvoltura em aulas teóricas e práticas, assim como os professores e rapidamente ele ficou conhecido por ser um aluno com notas excepcionais, progredindo ao longo dos anos. No meu caso, também era inteligente e conseguia notas muito boas, mas ele parecia ser bom em qualquer matéria ou tarefa que lhe dessem, então logo fora escolhido como Monitor Chefe. A primeira vez que fui notado por ele foi, provavelmente, no quarto ano quando o professor de Defesa Contra a Arte das Trevas nos contou sobre o Clube dos Duelos e quis fazer uma pequena demonstração...

 

... X ...

 

Estávamos reunidos no Grande Salão, Sonserina e Corvinal divididos por uma espécie de passarela onde o professor caminhava de um lado para o outro, contando como havia visto com seus próprios olhos o famoso Harry Potter duelando ali contra Draco Malfoy. Enaltecia a importância do Clube de Duelos naquela época, a fim de preparar os alunos a se defenderem do Lorde das Trevas, que pretendia voltar. Por fim, decidiu que para entendermos melhor o conceito do duelo, um exemplo deveria ser dado e logo pediu por voluntários, escolhendo dois alunos da Sonserina que haviam se manifestado.

 

— Muito bem, prestem atenção! Ergam as varinhas, cumprimentem-se e deem alguns passos para trás. – o professor coordenava os alunos e quando estes voltaram a ficar um de frente para o outro, fez um gesto com as mãos – Lembrem-se: devem apenas tentar se desarmar. Podem começar!

 

Os feitiços começaram de forma rápida e agressiva, ambos tinham gana para vencer e não demorou para que um deles fosse vitorioso. O grupo trajado com o verde-esmeralda fez bastante barulho e o professor quis dar uma chance para Corvinal, pedindo voluntários da nossa casa e dois alunos se manifestaram, subindo na passarela e repetindo os movimentos feitos pelos Sonserinos. Assim que o duelo começou, este foi muito mais concentrado e demorou um pouco mais que o anterior, mas ainda assim teve seu vencedor. Não satisfeito, o professor quis realizar um último duelo entre as casas.

 

— Desta vez, eu escolherei os desafiantes! – anunciou, passando os olhos pelo local e apontou para um aluno da Sonserina – Wolfgren, venha! – ordenou, se voltando para o lado da Corvinal em seguida e, com total surpresa, vi o indicador apontado para mim – Wiselyx será seu oponente.

 

Eu gostaria de saber o que estava se passando na mente do professor quando me escolheu para duelar contra um dos melhores alunos de Hogwarts. Me levantei e subi na passarela com toda a hesitação do mundo, encarando meu oponente nos olhos. Aqueles olhos tão verdes quanto seu uniforme e que contrastavam com sua pele morena como o chocolate. Sua figura já era notória e, em contra partida, meu ser era simplório até o ultimo fio do meu cabelo castanho. Nem mesmo meu olhar poderia causar impacto, sendo de um âmbar tranquilo que refletia minha própria personalidade. Fizemos os procedimentos que antecediam o duelo e o professor deu o aviso para começarmos.

 

— Expelliarmus! – Wolfgren anunciou primeiro, apontando para minha mão que empunhava a varinha.

— Protego!!

 

Para minha surpresa, consegui lançar mais rápido que o meu pensamento e minha barreira foi forte ao ponto de ricochetear o feitiço alheio contra ele mesmo, quase o desarmando. Ele chegou a ser empurrado pra trás com a força do próprio feitiço e todos ficaram em silencio, igualmente surpresos. Aposto que estavam pensando que eu era páreo para Wolfreth, mas eu mesmo sabia a verdade e não deixei esse golpe de sorte me subir à cabeça, pois o moreno voltou a atacar em seguida e proferia um feitiço atrás do outro, tentando me deixar sem saída.

Eu conseguia evitar ou lançar um contra feitiço no começo, mas me sentia pressionado e acabava dando passos para trás, como se isso pudesse me deixar mais seguro. Chegou a um ponto que seu feitiço me empurrou exatamente como eu havia feito com ele e, como eu já estava na beirada da passarela, cai em cima de alguns colegas e o professor anunciou minha derrota. Bufei e tentei me levantar enquanto a Sonserina e alguns alunos da Corvinal faziam piada de mim. Para minha surpresa, Wolfgren veio na minha direção e estendeu a mão para me ajudar a levantar.

 

— Você foi bem Wiselyx, no fim não consegui te desarmar. – alegou assim que eu já havia me recomposto e, de fato, segurava minha varinha com firmeza – Mas tente atacar da próxima vez. Feitiços de defesa não duram para sempre...

 

... X ...

 

Eu sabia que seu conselho era sincero e só assenti com a cabeça como um idiota, pois não tinha coragem alguma para falar com ele na época. Ora, eu era um rato de biblioteca que devorava qualquer livro que podia e estava sempre estudando, quase não tinha amigos e só me manifestava nas aulas quando era necessário. Eu era elogiado por minha inteligência, mas poucos comemoravam comigo e o que me confortava era deixar meus pais orgulhosos. Mesmo que eu tentasse me encaixar em algum grupo, dificilmente me davam a oportunidade ou me sentia a vontade, então chegou a um ponto que eu desisti e me preocupei apenas com as coisas que eu já possuía.

Ainda que meus olhos o perseguissem por Hogwarts, eu só fui me dar conta do verdadeiro motivo quando Wolfgren começou a namorar uma garota de sua casa. Eu fiquei em choque e meu coração parecia estar sendo torturado, tamanha era a dor que me corroeu quando os vi se beijando. Pois é, eu o amava... Como um covarde, mas o amava. A admiração e a insistência de observá-lo eram só uma ponta dos meus sentimentos, que começaram a vir à tona e, mesmo que me machucasse vê-lo com outras pessoas, pelo menos eu podia continuar olhando sem que ele tivesse a mínima ideia disso. Eu pretendia que fosse assim até superar essa paixonite, mas as coisas mudaram naquele dia...

 

... X ...

 

Faltavam poucos dias para a graduação em Hogwarts e eu estava tranquilo, minhas notas foram praticamente acima da média e eu não tinha algo que manchasse meu histórico escolar, então nada me impedia de sair dali com a cabeça erguida e tentar um cargo no Ministério da Magia, como era o meu desejo. A única coisa que poderia me deixar chateado no momento era a ideia de que não veria Wolfgren mais, não poderia ficar observando-o de longe e muito menos transmitir meus sentimentos, embora eu já tinha desistido dessa parte há muito tempo. Meu rosto fechou-se em uma expressão de tristeza sem que eu percebesse e só sai de meus pensamentos quando senti meus óculos serem tirados do meu rosto.

 

— Verbena? – notei uma forma alada no corredor onde eu estava e chamei por minha coruja, a única que fazia brincadeiras desse tipo para me alegrar – Me devolva os óculos! Não consigo enxergar nada... – estiquei as mãos para alcançá-la, em vão – Vamos... Devolva, Verbena!

— Accio!

 

Parei de me mover quando ouvi aquele feitiço e notei que o objeto foi solto pela coruja, indo imediatamente para a pessoa que o entoou. Estava me esforçando para ver quem era, mas só consegui distinguir plenamente quando Wolfgren estava a meio metro de mim, fazendo meu coração dar um tranco no peito. De todas as pessoas da escola, tinha que ser ele? Verbena piou alto enquanto nos rodeava, despertando-me da paralisia bem a tempo de esticar a mão e receber meus óculos de volta, colocando-os no rosto sem demora.

 

— Obrigado...

— Sem problemas. – as esmeraldas ficaram me encarando por um tempo mais longo do que eu poderia aguentar, sentia minhas bochechas arderem pouco a pouco – Sua coruja parece muito travessa... Tome cuidado para que ela não pegue seus óculos outra vez.

— Tudo bem, eu já estou acostumado. – dei de ombros, tendo um bom motivo para desviar meu olhar e observar Verbena, que pousara num galho de uma das árvores ao lado do corredor – Ela gosta de me distrair.

— Silver não é tão carinhoso assim. – o moreno comentou e supus que era o nome da coruja dele, sorrindo por descobrir mais alguma coisa a seu respeito antes da graduação – Mas está sempre perto quando eu preciso. Tenho certeza que ele vai sentir falta de voar livremente pelos arredores de Hogwarts.

— Penso o mesmo. Duvido que vou conseguir manter Verbena presa de novo. – dei um suspiro profundo, pensativo – Eu mesmo vou sentir falta daqui.

— Sim, eu também. O tempo na escola está acabando e parece que passou tão rápido, mas já faz sete anos... O que pretende fazer agora?

— Hmm... – hesitei em responder, mas decidi falar já que nossa conversa estava progredindo – Pretendo tentar um cargo no Ministério da Magia. Não consigo me imaginar trabalhando em outro lugar...

— Mesmo? Eu também... Quero dizer, eu pretendo ser um Auror.

 

Saber disso me fez querer ser um Auror também, quase de imediato. Acabei percebendo no mesmo instante que não estava disposto a me afastar, a deixar de vê-lo. Mas era patético, eu nem tinha coragem para me declarar e, mesmo assim, queria ir atrás dele. Eu sabia o quão difícil eram os testes para ser um Auror, mas tinha certeza que Wolfgren poderia passar e quanto a mim... Bem, há cargos mais administrativos no Ministério e mesmo assim poderia vê-lo de vez em quando. Nossa conversa se estendeu por mais alguns minutos até que um dos amigos dele o chamou no fim do corredor.

 

— Eu vou indo... Espero que você consiga entrar no Ministério.

— Eu desejo o mesmo para você e obrigado por antes...

— De nada. Alias, devia tentar colocar lentes... Você fica bonito sem os óculos, Wiselyx.

 

Eu prendi a respiração assim que ouvi aquelas palavras. Ele ainda se lembrava do meu sobrenome e me elogiou espontaneamente, me fazendo arregalar os olhos. Minha reação aturdida o fez exibir a fileira de dentes branquinhos com um sorriso e girou nos calcanhares, indo na direção do amigo que o esperava. Qualquer ruído ao redor foi abafado pelas batidas que ecoavam dentro de mim e um nó subiu a minha garganta, me fazendo estremecer. Por tanto tempo eu fiquei o observando em silencio e, com simples palavras, ele conseguia virar meu mundo de cabeça pra baixo. Eu daria tudo para me livrar daquela angustia, daquela covardia! Ele era sempre natural, encarava e fala de frente, era por essas e outras que...

 

— Eu gosto de você.

 

Meus lábios se moveram sem que eu pudesse me conter, completando meus pensamentos. Os sentimentos que eu tinha guardado tão bem transbordaram como um copo cheio, escorrendo e inundando tudo ao meu redor. Wolfgren ainda estava perto o suficiente para me ouvir, tanto que parou de andar e virou o rosto lentamente para me encarar, com aquele par de esmeraldas arregalados. Quando nossos olhares se cruzaram, eu percebi a besteira que tinha feito e dei alguns passos pra trás, colocando o resto das minhas forças nas pernas para poder sair correndo dali. Eu tive medo do que poderia ouvir dele, então simplesmente fugi e o meu único consolo era que a pressão em meu coração havia ido embora.

 

... X ...

 

Coloquei os documentos sobre a mesa, não conseguia me concentrar neles de maneira nenhuma! Reviver essas lembranças era como remoer meus próprios sentimentos, que não haviam diminuído nenhum pouco ao longo desses anos. Só voltei a encontrá-lo no Ministério, quando este se tornou um Auror oficialmente e eu já estava trabalhando no Departamento de Investigações. Confesso, lutei muito pelo cargo, pois sabia que ele estaria por perto e eu mesmo poderia auxiliá-lo em seu trabalho. Meu único receio era que ele falasse sobre minha declaração, mesmo depois dos anos que passaram e felizmente – ou infelizmente, eu não sabia definir – ele jamais tocou no assunto.

Depois de um bom gole de chá e uma chamada de atenção do meu superior, pedindo pelo meu relatório dos documentos sobre a mesa, pude mergulhar no trabalho e assim fiquei pelo resto do dia. No fim, eu realmente me apeguei aquele cargo e fazer as investigações atiçava meu cérebro, me fazia pensar sempre um passo a frente dos criminosos para poder rastreá-los e seguir todas as pistas possíveis. Meus colegas eram igualmente inteligentes e consegui abrir um pouco mais meu circulo de amizades, sendo respeitado e elogiado com regularidade. Sobre a minha carreira sólida e cheia de progressos eu não tinha do que reclamar, pelo menos. Estava para encerrar o expediente quando ninguém menos que Wolfgren veio até a minha mesa, me fazendo levantar rápido demais.

 

— Espero não estar atrapalhando... – ele começou, observando minha ação repentina.

— Não! De forma alguma... Precisa de alguma informação especifica? Eu posso reunir algumas coisas, dependendo do que for... – não era costume um Auror aparecer pessoalmente para pegar informações, geralmente as reuníamos de acordo com os casos e enviávamos diretamente para o Escritório dos Aurores.

— Não preciso de nada disso, fique tranquilo.

— Oh... – me acalmei e tornei a me sentar – Sendo assim, o que deseja?

— Hm... – ele parecia hesitar e estranhei, não era do feitio dele agir assim. Depois, o vi mexer no bolso da calça e dali retirou dois tickets, estendendo em minha direção.

— O que...? – cortei minha própria pergunta assim que vi do que se tratava: eram ingressos para assistir a um dos jogos das eliminatórias da Copa Mundial de Quadribol, sendo que iria ocorrer naquele fim de semana. Eu acabei me levantando de novo pela empolgação – Não posso acreditar! Esses ingressos já estão esgotados há tempos, como conseguiu?

— Eu me garanti quando lançaram... – um sorriso surgiu nos lábios de Wolfgren, parecendo satisfeito com a minha reação – Eu percebi que você estava acompanhando as noticias pelo Profeta Diário, então... Não quer ir assistir comigo?

 

A minha euforia se misturou com a surpresa e eu não sabia o que pensar daquele convite repentino. Nem nos meus mais loucos sonhos imaginei que um dia ele me chamaria para sair daquele jeito, o Auror esperava pela minha resposta pacientemente. Mas como dizer não? Eu estava louco para assistir aquele jogo e era uma oportunidade de ouro, inclusive para estar perto dele. Mas será que eu conseguiria passar tanto tempo ao lado de Wolfgren sem cometer nenhuma besteira? Para matar a minha hesitação, decidi responder de uma vez:

 

— Claro! Eu adoraria.

— Ótimo! Me encontre em frente ao estádio, estarei esperando.

 

Ele se afastou da minha mesa e seguiu para a saída, então pude respirar direito novamente. Eu não posso acreditar, vou ter um encontro com Wolfgren... Não, espere! Eu não posso assumir que isso seja um encontro, talvez ele tenha comprado o ingresso pra outra pessoa e ela não pode ir mais, então está me chamando de última hora. É, provavelmente é isso... Mesmo pensando assim, meu coração continua pulando no peito! Eu não tenho solução... Só espero que possamos conversar direito e que eu consiga manter meus anseios completamente refreados! Confesso que voltei para casa com um sorriso bobo no rosto, esperando com grande ansiedade o dia do jogo.

 

... X ...

 

Eu não queria chegar atrasado ao encontro... Quero dizer, ao jogo, e por isso levantei cedo para arrumar tudo o que precisava com antecedência. Eu já havia tomado banho, me vestido – depois de quase explodir minha varinha enquanto fazia peças e mais peças voarem para fora do guarda roupa -, e estava terminando de pentear o cabelo enquanto fitava meu reflexo no espelho. Eu ainda sentia um pouco de hesitação, mas quando decidi aceitar o convite dele também quis jogar meus medos para o alto e aproveitar o dia ao lado do bruxo que eu amava. Assim que deixei o pente sobre o móvel, Verbena voou para perto e bicou a manga da minha jaqueta.

 

— O que houve? – questionei e a vi pousar sobre o móvel, bicando a maçaneta da gaveta – O que está fazendo? Você é sempre tão travessa... – me aproximei, fazendo carinho em sua cabeça e abri a gaveta, encontrando um estojo de lentes de contato – Oh... Você lembra que eu guardei isso aqui. Mas eu não devo usar... – Verbena piou e mordiscou meus dedos em resposta a minha recusa, me fazendo revirar os olhos – Eu raramente uso as lentes, porque usaria hoje? Eu sei que ele me elogiou sem os óculos, mas... – as memórias vieram de novo e com a insistência da coruja, acabei aceitando a sugestão – Está bem, mas se ficar ruim a culpa será sua!

 

Verbena parecia satisfeita enquanto me via colocar as lentes, estufando o peito e sacudindo as penas, como se quisesse dizer que eu estava bonito. Ri e lhe fiz mais um pouco de carinho, além de alimentá-la antes de sair de casa. Apanhei minha vassoura e sai pela janela mesmo, voando até o estádio onde ocorreria o jogo. Eu sei, aparatar seria bem mais fácil, só que... Eu realmente quero chegar inteiro e apesar da praticidade, aparatar sempre é mais perigoso e arriscado. Já havia acordado mais cedo com esse propósito e, por isso, o voo foi tranquilo até o local, embora achar um lugar para pousar foi um tanto complicado. Havia uma multidão de pessoas em torno do estádio, não sabia nem se poderia encontrar Wolfgren ali! Mas depois de estar com os pés firmes no chão e procurar um pouco, consegui encontrá-lo.

 

— Desculpe a demora... – pedi, um pouco sem folgo.

— Não se preocupe Wiselyx, não está atrasado. – ele me tranquilizou com um sorriso e analisava bem o meu rosto – Você está com lentes...

— Ah, sim! Verbena insistiu para que eu usasse, não sei o que deu nela... – expliquei, um pouco sem jeito apesar de não estar mentindo.

— Eu me lembro de sua coruja. Ela está bem? Silver machucou uma das asas, então tenho que deixá-lo dentro de casa esses dias.

— Ela está ótima! E espero que sua coruja melhore também...

 

Podíamos continuar conversando, mas era melhor que já estivéssemos dentro do estádio e por isso nos dirigimos para a entrada. Havia uma aglomeração de pessoas ali, todos querendo entrar para se acomodarem e assistirem ao jogo, então o “empurra-empurra” era inevitável. Teríamos nos separado se Wolfgren não tivesse agarrado minha mão e me mantido perto dele, o que me fez engolir em seco e olhar para os meus pés, pensativo. Bem, ele só fez isso para que não nos perdêssemos um do outro, certo? Acabei entrando em silencio no estádio, subindo até nossos assentos e só liberei minha respiração quando a mão dele soltou a minha.

O jogo não demorou a ser anunciado, com os dois times entrando em campo e sendo aplaudidos com entusiasmo, embora houvesse aquela rivalidade no ar. A medida que o tempo passava, o barulho ensurdecedor do estádio parecia competir contra a voz do narrador, principalmente quando um dos times estava perto de marcar um ponto e eu mesmo me deixei levar em muitos momentos, gritando e estendendo os braços para o alto. Wolfgren torcia muito também, sempre me acompanhava e nos levantamos com a arquibancada quando o apanhador do time perseguiu o pomo de ouro. Ele havia participado do time de Quadribol da Sonserina durante nosso tempo na escola, então eu reconhecia o tipo de brilho que passava em seus olhos durante a partida.

 

— Vencemos! – ditou com grande alivio depois dos vários gritos e barulhos que a arquibancada produziu, vendo o time sobrevoar o estádio com o pomo de ouro em mãos – Podemos ter marcado menos pontos, mas nosso apanhador é o melhor!

— Sim, talvez seja nossa vez de ganhar a Copa, finalmente! – concordei, esperando boa parte da multidão se movimentar para as saídas ou seriamos empurrados novamente.

— Eu espero por isso. – ele ficou sentado ao meu lado, observando a arquibancada ficar com menos gente aos poucos – Quer tomar uma cerveja amanteigada?

— Eu acho que cairia bem, depois de um jogo tão intenso.

 

Levantamos e nos dirigimos para a saída, Wolfgren acabou segurando minha mão novamente, apesar de não ter mais tantos bruxos aglomerados na passagem. É quase como se ele estivesse aproveitando a situação, mas isso deve ser fruto da minha imaginação. Quando saímos do estádio, caminhamos até uma das várias barracas de comes e bebes montadas ao redor, pedindo duas canecas cheias de cerveja amanteigada. A bebida desceu forte e gordurosa em minha garganta, mas se não tomasse de uma vez eu provavelmente me enjoaria. O moreno parecia degustar da cerveja com mais vontade, bebendo lentamente e lambendo os lábios em seguida, o que me fez suspirar.

 

— Delicioso! – Wolfgren apoiou a caneca vazia sobre o balcão, satisfeito – Obrigado por ter vindo comigo, assistir ao vivo é muito melhor.

— Eu que agradeço pelo convite... Não podia perder o dinheiro do ingresso, não é?

— O que quer dizer? – o vi erguer uma sobrancelha, confuso.

— Bem, você tinha dois ingressos... Tinha comprado para mais alguém, certo?

— Sim... – ele entendeu e negou com a cabeça em seguida – Mas eu comprei pensando em você.

— Que?! – foi minha vez de ficar confuso, quase engasgando com o último gole de cerveja.

— Eu comprei o ingresso já pensando em te convidar para assistir comigo. – reforçou o que havia dito, com firmeza na voz – Como eu disse antes, vi que você estava interessado nos jogos, sempre chega ao Ministério lendo a coluna de esportes.

— Oh... Bem... Eu não pensei que você tinha percebido. – não sabia bem o que dizer, mas continuava muito surpreso.

— Tantos anos me observando e não percebeu que eu comecei a fazer o mesmo? – sua pergunta me tirou a fala e meus olhos âmbar se arregalaram. A cerveja estava com álcool ou eu estou alucinando pelo calor? – Estou dizendo, eu te chamei porque queria sair com você.

— Ma-mas isso... Como...

— Wiselyx, você está todo vermelho. – ele comentou em um tom de divertimento e antes que eu pudesse processar os acontecimentos, a mão de Wolfgren já estava afastando minha franja e as pontas de seus dedos roçaram em minha bochecha. – Como eu imaginava, você ainda gosta de mim.

— Do que você...? – aquela antiga sensação de temor me percorreu e eu queria sair correndo outra vez, mas o Auror parecia adivinhar os meus pensamento e segurou o meu braço – Eu... Eu achei que você... Tinha se esquecido...

— Como esquecer? Eu sentia seus olhos em mim, não sei quando percebi isso... E sempre me questionei o que passava na sua mente, embora assumi que fosse mais um admirador das minhas capacidades. Mas eu te encontrei naquele dia, um pouco antes da graduação... E você se declarou.

— Eu não queria dizer! – eu tentei me afastar, mas tudo o que consegui foi ir para o lado da barraca, onde havia menos pessoas – Escapou de mim antes que eu pudesse pensar! Eu já estava conformado que meus sentimentos nunca poderiam chegar até você.

— E porque não? – Wolfgren me rodeava, impedindo qualquer brecha de fuga – Não seria o primeiro garoto a se declarar para mim na escola.

— Exatamente! – fechei as mãos em punho, me lembrando de alguns rumores que eu havia escutado na época de Hogwarts – Você recebia declarações, mas raramente as correspondia. Tinham muitas pessoas interessadas em você, então porque comigo seria diferente? Eu passava mais tempo na biblioteca do que socializando com meus colegas da Corvinal, eu não poderia simplesmente expressar o que eu sentia... Sinto.

— Mas você se expressou. – ele rebateu, segurando meus ombros – E está se expressando agora.

— Porque você fez com que eu transbordasse! Eu me dei conta de que poderia não vê-lo mais e isso me angustiou. Além disso, ouvir um elogio seu de repente foi um pouco... Demais.

— Foi um elogio sincero e volto a dizer: você está lindo sem os óculos.

 

Novamente qualquer ruído ao meu redor havia sido abafado pelo meu coração traiçoeiro, tamborilando como um louco dentro de mim. Só a voz do moreno me alcançava, mas isso ampliava o meu tormento. Onde ele queria chegar com tudo isso? Ele não tinha se manifestado quando nos reencontramos no Ministério e agora atingia na ferida com toda a força. Com o meu silencio, Wolfgren fez uma expressão de preocupação e soltou meus ombros, fazendo com que uma de suas mãos tocasse na minha. Bem lentamente, ele a segurou e fez com que os dedos se entrelaçassem, me puxando para uma parte mais afastada do estádio. Ao invés de correr, me deixei ser guiado por ele e esperava colocar um ponto definitivo naquele assunto.

 

— Aqui não vão nos ouvir ou incomodar. – comentou ao olhar para trás e ver que as barracas e bruxos estavam a uma boa distancia – Wiselyx, preste atenção: mesmo que o que você tenha dito fosse verdade, o momento em que você disse que gostava de mim fez tudo mudar.

— O que quer dizer?

— Eu compreendi o motivo de você estar sempre me observando, percebi que o seu olhar era diferente dos outros desde o começo. Você tinha sentimentos puros e verdadeiros sobre mim, isso me aqueceu por dentro. Eu não tive tempo de falar com você depois, a graduação tornou os últimos dias em Hogwarts uma verdadeira bagunça e depois eu me foquei em meu exame para me tornar um Auror. – sua mão livre tocou meu queixo, me obrigando a encará-lo – Mas eu tinha em mente que você estaria no Ministério, eu acreditei nisso e esperei para te encontrar de novo. Quando eu tive certeza de que você estava lá, precisava confirmar se os seus sentimentos não haviam mudado com o tempo... E você sempre agia de forma ambígua do meu lado, nem mesmo tentou tocar no assunto. Por isso eu decidi te chamar para sair, saber se você ainda gostava de mim.

— E para que você queria saber disso?

 

Wolfgren me lançou um olhar de incredulidade, como se minha pergunta fosse um absurdo. Eu não queria me enganar, me iludir e me transformar em um tolo cego pelos sentimentos. Ele não me respondeu com palavras, mas repousou minha mão sobre seu peito e, para minha surpresa, o coração dele parecia tão acelerado quanto o meu. Agora eu podia ouvir os dois órgãos pulsando quase em sincronia e só desviei a atenção quando notei o rosto alheio inclinar-se na minha direção, buscando um novo contato. Eu ainda tinha a sensação de que estava preso dentro de um sonho, mas o beijo cálido que trocamos foi o bastante para saber que eu estava acordado e nenhuma magia poderia me salvar agora. Eu estava irrevogavelmente apaixonado por ele.

 

— Ficou claro agora?

— Sim... Como a água. – devolvi com um riso frouxo, ainda sentindo o calor dele em meus lábios – Mas tem certeza de que é isso que você quer?

— Tenho. Eu já te fiz esperar demais, não acha? – ele acompanhou meu riso e voltou a afastar minha franja, me encarando nos olhos – Eu passei a te observar tanto quanto você o fazia. Durante os anos que passaram, eu senti uma ansiedade tão grande de te ver novamente, então tive a certeza de que queria lhe dar uma chance. E você? Vai me dar essa chance?

— Eu seria o mais louco dos bruxos se não fizesse isso.

 

Eu me despi dos meus medos e inseguranças, nunca me senti tão firme em uma decisão como aquela. Wolfgren estava ali, disposto a me amar como eu o amava! Nunca esperaria por isso, mas já que estava acontecendo eu iria me agarrar aquilo com todas as forças. Voltamos de mãos dadas até o local onde nossas vassouras estavam guardadas, conversando e combinando o próximo encontro. A felicidade que me preenchia era tão grande que me sentia melhor por dividi-la com ele, assim aos poucos eu me acostumava ao meu pulsante coração e me enchia de certezas, não mais de duvidas. Não era como se pudéssemos berrar aos quatro ventos o que estava acontecendo, teríamos que ser discretos principalmente no Ministério, mas sozinhos poderíamos desfrutar do ápice de cada um dos nossos sentimentos. E eu estava louco para ter esses momentos ao seu lado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Observador" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.