Mágoas do Passado escrita por Liudi


Capítulo 3
Capítulo 3




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Pov. Kurt

     Assim que entrei naquela cafeteria meu coração saiu pela boca, Jane estava ali. Seus lindos olhos verdes brilhavam surpresos em me ver. Ela estava tão linda. Aparentava a mesma pessoa de anos atrás, apenas com o cabelo um pouco mais comprido.

     Após o choque ter passado, nós fizemos nosso pedido e ficamos conversando amenidades. Fomos interrompidos por duas crianças, elas vida correndo dos fundos da cafeteria.

     O menino vinha na frente e tentava segurar uma boneca longe do alcance da menina que vinha atrás. Os dois não pareciam ter mais de 4 anos.

    Olhar pra eles me fez lembrar da Mel. Mel é minha filha com a Allie e apesar de quase não vê-la eu a amava muito. Melissa ou Mel morava com a Allie e com o noivo dela, o Connor.

    Me levantei pra pegar mais guardanapos no balcão já que os da mesa tinham acabado e quando vejo o garotinho esbarrou em mim e eu segurei seus ombros o impedindo de cair, mas antes que eu pudesse fazer algo mais Roman, ou melhor, Ian o pegou no colo.

    Não sei porque, mas aqueles dois baixinhos tinham algo de muito familiar.

    O toque do meu celular me tirou dos meus devaneios. Era Pellington. Ele precisava que voltássemos ainda hoje, pois tínhamos um novo caso urgente.

Mesmo não querendo eu sabia que tinha que ir, afinal eu sou o diretor assistente do FBI, tenho muito trabalho a fazer.

    Voltei até a mesa, chamei a equipe e então nós saímos, mas não sem antes eu olhar mais uma vez pra Jane. Ela estava, se possível ainda mais linda do que quatro anos atrás. Me doía depois de tanto tempo sem notícias dela, encontra-la e já partir.

    Eu amava Jane, eu tinha certeza disso. Mas pena que essa certeza só apareceu depois que ela sumiu. Eu tentei, eu juro que tentei com todas as forças encontra-la, mas depois de um tempo a ficha caiu e eu percebi que ela não queria ser encontrada.

    Não a culpo, afinal eu fui um idiota completo com ela. O ódio me cegou tão fortemente que mesmo depois de ela ter tomado um tiro para proteger a Allie grávida da nossa filha, eu não consegui esquecer tudo o que aconteceu.

    Fui até o aeroporto com meus pensamentos me torturando.

Tasha e Reade até tentaram me entrosar na conversa mas como não tinha cabeça pra nada acabei me perdendo no assunto e decidi ir dormir.

    Enquanto chamava a aeromoça pra pedir um cobertor me virei pra Patterson, ela estava muito concentrada conversando com alguém pelo celular.

    Devia ser o Borden já que eles estavam juntos desde de antes da queda da Sandstorm e sempre foram muito apaixonados

   O voo já estava na metade e assim que recebi o travesseiro me engatei num sonho agitado.

    No sonho eu estava em campo, Zapata e Reade também estavam comigo. O local era um armazém abandonado, o mesmo onde demos fim a Sandstorm. Como o armazém era enorme nós dividimos.

    Eu adentrei o armazém mas não encontrei ninguém, o armazém estava abarrotado de caixas. Andei por algumas fileiras até encontrar alguém. Para a minha surpresa, quem estava lá era a Jane e ela não estava sozinha, tinham dois corpos caídos perto dela, ela se virou pra mim, me dizendo que já tinha criado a distração e que só precisamos prender a Shepherd, que Roman estava distraindo ela. Mas em vez de segui-la eu comecei a atirar nela, Reade e Tasha se juntaram a mim e começamos a caça-la entre as fileiras de caixas.     

    Eu tentei parar mas a arma estava grudada na minha mão, e meu dedo grudado no gatilho, ficamos nessa caçada até que conseguimos encurralar a Jane. Ela implorou, mas mesmo assim eu não dei ouvidos, assim que eu apertei o gatilho alguém me acordou.

        - Chefe, chefe. Kurt acorda, o avião já pousou. - Patterson disse enquanto me sacudia.

    Abri meus olhos, só eu e Patterson estávamos no avião. Estava escuro lá fora, mas não me importei, tudo o que eu queria era ir pra casa, mas sabia que mais cedo ou mais tarde teria que voltar pro trabalho.

    Peguei minhas coisas e fomos ao encontro de Reade e Tasha, que estavam no estacionamento. Tasha e Patterson foram embora juntas e Reade me deu uma carona até em casa.

    No caminho, não pude deixar de pensar na Jane. Meu sonho tinha me atordoado, mesmo ele não sendo verdade me fez lembrar de como a equipe, principalmente eu, tratou a Jane mal.

Mesmo ela com todo o negócio da traição e a morte da Mayfair ela tentou se redimir, incontáveis vezes, mas a única que realmente a perdoou foi a Patterson o resto de nós foi muito cabeça dura.

    Se eu pudesse voltar no tempo eu teria perdoado ela antes. Jane não mereceu como a tratamos.

    Adormeci com esses pensamentos e a culpa.

    Levantei às 5:30 de um sono sem sonhos, sabia que não conseguiria mais dormir, já que desde que vi Jane meus pensamentos estavam a mil, então fui me arrumar pro trabalho.

    Cheguei no FBI quase às 8, o trânsito hoje estava terrível, sorte minha não ter me atrasado mais.

    Por causa do meu atraso, a equipe já estava lá, eles e o Pellington estavam na sala da Patterson.

        - Bom dia - saudei a todos e sem esperar a resposta emendei – O que temos aqui?

        - Ontem à tarde Carl Eaggles estava sendo transferido da Auburn Prison* para o Tribunal de NY e no meio do caminho o comboio foi atacado. Eram cinco carros e no total 14 agentes. Foram todos mortos, não sabemos quem fez isso. – Nos explicou Pellington.  

        - Espera, esse cara não é aquele maníaco que sequestrava, torturava e depois desovava os corpos das mulheres atrás de casa? – Perguntou Reade reconhecendo o criminoso. Assim que ele terminou de falar Patterson puxou sua ficha e além dela várias manchetes de jornal apareceram na tela.

        - Ao que parece é ele mesmo, eu me lembro do caso dele, na época foi um escândalo. Se não fosse o vizinho desconfiar de todo o carregamento de cal que ele comprava** e ter ajudado uma das vítimas a fugir ele nunca teria sido preso. – Disse Tasha.

        - Sim, o crime foi a uns oito anos atrás e na época o advogado alegou insanidade, mas o juiz não concordou ele foi pra cadeia. – Disse Patterson com seu tablet em mãos. – Aqui também diz que faz seis meses que o advogado dele pediu o fechamento do caso alegando que a vítima que foi resgatada viva foi até ele por livre e espontânea vontade e ele não fez nada do ela não queria.

    Nessa parte eu enruguei o rosto já que Patterson achou uma foto de como a vítima foi encontrada, o rosto da mulher estava desfigurado de tantas pancadas, além de ela quase parecer um cadáver de tão magra. Ninguém em sã consciência permitiria uma coisa daquelas.

Continuamos a vasculhar o arquivo dele, até que Reade achou uma informação importante.

        - Pessoal, acho que vocês vão querer ver isso. – Disse apontando pra tela que ele analisava. – Faz um ano que mudaram o juiz responsável pelo caso dele e esse novo juiz, Jefferson Hale, aceitou a dois meses o pedido de encerramento do caso e soltura do Eaggles.

Patterson que enquanto ele falava digitava furiosamente se virou para nós sorrindo triunfante.

        - Consegui! – Exclamou satisfeita consigo mesma. – O pai do Jefferson Hale, Jonathan Hale além de um advogado muito renomado também é um dos sócios de Leonard Van Petersen, o dono da mineradora Van Petersen, que por sua vez é tio por parte de mãe do Carl Eaggles.

        - Então Van Petersen pediu pro amigo dar um jeito do filho de livrar a barra do sobrinho? Por que ele defenderia o sobrinho se sabia que ele era um maníaco? – Perguntou Zapata indignada.

        - Por que Van Petersen tá morrendo. – Disse Patterson mostrando o prontuário médico dele. – Ele tem uma metástase*** que já avançou metade do corpo. Pelo diagnóstico do médico no máximo mais um ano e meio de vida. Ele não tem filhos, provavelmente o único herdeiro é o Eaggles. Ele não parece ser uma pessoa que deixaria um patrimônio enorme desses pra qualquer um que não fosse da família.

        - Achei uma coisa. – Disse Zapata. – Achei uma conta do irmão do motorista dos Hale, nela tem uma transferência de 6 milhões de dólares. – Disse enquanto mostrava o recibo na tela.

        - Então o Van Petersen pagou 6 milhões de dólares para que os Hale o ajudassem, mas porque Jefferson? Por que o Jonathan Hale não cuidou pessoalmente do caso?

        - Por que pra todos os efeitos ele se aposentou. – Eu disse.

        - Mas aparentemente ele continua usando a influência dele em troca de dinheiro.

        - Ok, isso é um escândalo e tanto. – Disse Pellington que até agora nos observava calado. – Mas ainda não conseguimos esclarecer o porquê da emboscada e da morte de 14 pessoas que não tinham nada a ver com o caso. Reúnam mais algumas provas e poderemos desmascarar de vez esse esquema dos Hale. – Disse enquanto se levantava e saia pela porta.

    Depois disso o dia correu normal. Patterson, Reade e Tasha continuariam atrás de provas enquanto eu terminava o relatório do último caso. Já era quase hora do almoço quando Patterson invadiu minha sala esbaforida e com seu fiel tablet em mãos.

        - Kurt você tem que ver isso, eu estava olhando as fotos da perícia da emboscada e você não vai acreditar no que eu achei. – Disse enquanto praticamente empurrava o tablete em minhas mãos.

    Assim que vi o que ela queria me mostrar meu coração deu um salto, no chão perto do carro onde o Eaggles era transportado tinha um broche. O broche tinha a imagem de um pássaro, mas não era qualquer desenho. Era o mesmo desenho da tatuagem que Jane tem no pescoço. Shepherd tinha o mesmo broche no dia em que desmascaramos Sandstorm e ela morreu.

   Minhas mãos fraquejaram e se não fosse por Patterson o tablet tinha caído de minhas mãos. Em momento nenhum me passou pela cabeça que Jane ou Ro..., ou Ian eram os culpados. Mas seja lá quem foi que planejou aquela emboscada, tenho certeza que está ligado diretamente com a Sandstorm.


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Notas finais do capítulo

* Auburn Prison: Prisão de segurança máxima que fica na cidade de Auburn que fica nos arredores de NY.
** Cal é “bom” para se esconder um corpo, porque ele apressa a decomposição deixando só os ossos.
*** Metástase: Quando o câncer se espalha além do local onde começou (sítio primário) para outras partes do corpo é denominado metástase. A metástase pode ocorrer quando as células cancerosas viajam através da corrente sanguínea ou dos vasos linfáticos para outras áreas do corpo.



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