A Cura Entre Nós escrita por Duda Borges


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Chutem quem foi a burra que pensou que tinha deixado o capítulo pra postar automático, e viu agora que não? Eu mesma!
Gente, serio, fiquei muito brava comigo mesma! Enfim né. Pelo menos o capítulo é grande!
Queria agradecer muito a Dark Spirit, Bianca, Ju Winchester , Mika e Lua Helena, por não desistirem de mim mesmo nesse tempo de demora ♥
E AGORA: MUITO OBRIGADA LUA HELENAAAA! Obrigada pela recomendação maravilhosa que me faz ter mais vontade de escrever! Amei muuuuuito, fiquei feliz demais! Espero não decepcionar ♥



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Pov. Alexa lee

Ergui meus braços para o alto, me esticando e ouvindo cada estralar que meu corpo fazia ao me mover desse jeito. Me afastei um pouco da nossa fogueira, repassando os acontecimentos que ocorreram um pouco antes de me perder de Abraham. As perguntas eram muitas, e tinha certeza que ele também estava curioso, mas ignoramos esse fato agora pelo começo. Nem eu nem ele pensávamos que iriamos nos ver novamente, e acho que nenhum dos dois estava pronto para essa conversa. 

Pela rápida explicação de Abraham, ele tinha achado Eugene perdido em algum lugar perto de um dos laboratórios destruídos, e  descobriu que ele era um cientista do CCD, mas que não tinha entrado lá desde um pouco antes do apocalipse.  De acordo com ele, Eugene parecia ter informações valiosas para o fim do apocalipse. Se eu acreditava? Nem um pouco, e não sabia como que Abraham acreditava nisso depois de tudo. Como que Eugene é cientista do CCD e não sabe nada do começo, da Resistência...? Abraham disse que ele era de um dos laboratórios que não estava trabalhando nisso.

Soltei um suspiro profundo, amarrando meu cabelo com o amarrador que Maggie me deu. Passei a mão com força sob meus olhos e me aproximei novamente, devagar. 

—Ele acabou de falar que sabe a causa da epidemia. - Ouvi Sasha falando quando me aproximei, apontando para “Eugene” . O homem mantinha uma expressão de neutralidade, e Abraham me encarou, tentando adivinhar meus pensamentos. 

—Sim, ele sabe. - Glenn respondeu, me encarando de canto. Percebi que todos estavam com medo de minhas reações . - Vou adivinhar, ele pediu para irem juntos a capital?

—Estou muito feliz que vocês se encontraram, deviam passar o resto da noite celebrando. - Abraham os cortou, se levantando e fazendo sua pose de comandante. Revirei os olhos. - Porque amanha não existe motivo algum para todos nós não nos enfiarmos naquela perua e seguir para Washington, onde Eugene deve ser entregue. 

Seus cabelos ruivos eram iluminados esporadicamente pela luz do fogo, e mesmo com sua cara fechada de sempre, eu sabia a vergonha que ele deveria estar sentindo. Ambos os dois lembram do fracasso que foi comigo, mas eu sabia que ele nunca iria parar de tentar. Não sabia se isso era mais burrice ou teimosia, mas admirei que ele ainda estava fixo na missão. 

—Ele tem razão, eu vou. – Tara , uma mulher do grupo do governador que mudou de lado e ajudou Glenn, se pronunciou. Eu sentia que podia confiar nela, pois sei como ela foi enganada pelo governador, mas o pé atrás continuava ali. 

—Não, ele esta errado. Estamos a 55% do caminho de Houston para Washington. Até agora, tivemos um caminhão blindado militar, e perdemos 8 pessoas.- Eugene se levantou dessa vez, com a sua cara de calculadora trabalhando a mil . Botei a mão na cintura, e todos nós o encaramos. 

—Não foi nossa culpa .- Rosita brandiu, mas Eugene nem se moveu.

—Eles eram...- Perguntei, e Abraham entendeu a pergunta sem eu a menos a acabar. Se por acaso eram da resistência, eu precisava saber. 

—Não, Alexa. E eles morreram, Eugene, não tinha nada que pudéssemos fazer. 

—Não acredito que teríamos melhor sorte com o carro de família que pegamos. Estamos a um dia do terminus , vamos ver o que tem la. Melhor do que tentar a sorte agora. - Terminou, e esperei a reação dos outros, quieta. Eu tinha certeza que iria pra la, com ou sem eles. 

—Não faria mal dar uma olhada. Carregar suprimentos, quem sabe até recrutar alguns para vir conosco.- Rosita falou, cruzando as pernas e encarando o militar, que parecia rever suas opções. Sentei ao seu lado, ignorando seu olhar. Eu não iria influenciar ele a nada.  

—Eu vou com vocês, mas depois.  Tenho que ver Terminus . Meu irmão pode estar lá, e eu preciso saber.- Sasha falou, com o olhar cansado e com olheiras fundas. Eu sabia a aflição que ela sentia, pois eu sentia o mesmo. Todos estávamos sentindo isso. Eu nunca senti tanto a falta de Daryl quanto eu estava sentindo agora.

— Eu também.- Bob falou, e soltei um longo suspiro, pondo a mão na cabeça e alongando as pernas. Lembrei de Eugene me olhando de maneira nada discreta quando Abraham contou a ele quem eu era, e senti vontade de rir. Ele não sabia de nada.

—Se ele diz que estou errado, eu escuto. Amanha, vamos até o fim da linha. Depois, para Washington.

...

—Muito prazer em finalmente te conhecer, Alexa. - A voz de Rosita soou amistosa e cuidadosa. se aproximando por trás de mim, tentando não me assustar. Eu estava sentada no final no túnel , apoiada na parede, olhando o céu, que estava muito estrelado. - Nem tivemos a oportunidade de conversarmos direito. - Falou, sentando de perna de índio ao meu lado. 

Eu sentia que Rosita era muito forte, e também amigável e prestativa.  Pelo seu comportamento comigo desde o início , eu sabia que Abraham tinha contado as coisas para ela, mas eu não me importava. 

—Fico feliz que você ajudou Abraham, afinal, o que seria do homem sem uma mulher?  – Comentei, e nós duas rimos, e depois a encarei. - Mas você realmente acredita em Eugene?

—Bem, qualquer coisa nesse tipo acho que é algo que vale a pena lutar. - Disse, surpirando. Percebi que ela também nao acreditava fielmente, mas que sua esperança era maior. -  Eu sei que é complicado, mas seria uma boa ideia se você viesse conosco. 

Soltei uma risada sarcástica, esticando as pernas e observando os tons de sujeira em minha legging surrada.  Claro que era uma boa ideia. Se não tinham conseguido uma cura com a própria imunidade, o que fariam com os conhecimentos de um cientista? Talvez ele saiba um modo de isolar a cura, não sei. Eu ainda iria perguntar a ele. Os meses no laboratório me ensinaram algumas coisas. 

O laboratório em que eles estavam levando Eugene é o mesmo laboratório que as coordenadas do bilhete do meu pai levam.

Isso era o que mais me assustava. 

Pov Daryl

Apontei a besta silenciosamente para o esquilo que comia tranquilo a minha frente, setindo a brisa da floresta passar calma pelo meu corpo.  Seus pelos marrons quase o camuflavam completamente nas árvores, mas o seu pequeno descuido de ir para o chão o revelou rápido. Atirei, o atingindo em cheio.

Porém, uma outra flecha o acertou no mesmo momento que a minha. 

—O que diabos esta fazendo?- Rosnei a um dos homems do grupo , que desceu de onde estava e pegou o meu esquilo, como se fosse dele. Senti as minhas veias pulsarem, e eu ja não estava no meu melhor momento. 

—Caçando o meu café da manha- O homem respondeu, prepotente, se afastando com a caça nas mãos. 

—É meu. - Falei, segurando seu braço e o impedindod e seguir. Eu estava tentando ignorar o impulso de pular nele e o matar de uma vez, pois desde que eu estava seguindo com eles, parecia missão pessoal desse cara me irritar. 

—Minha flecha pegou primeiro, o felpudinho é todo meu. 

—Estou aqui desde antes do sol nascer . - Grunhi, me aproximando de seu rosto ferozmente.  Sua expressão era de extremo deboche, como se estivesse fazendo de propósito. E certeza que estava. Peguei o esquilo de sua mão, com força. 

—As regras da caça não significam nada por aqui. O coelho que pegou está dominado, moleque. Esta dominado, quer goste ou não. No seu lugar, eu entregaria, agora. Antes que deseje não ter levantado da cama. 

—Não é seu. - Falei firmemente novamente,  arrancando as flechas da carne do esquilo, e jogando a dele no chão. 

—Aposto que aquela vadia te deixou desnorteado, certo? Acertei? Por causa dela que você fica andando por ai como um morto que perdeu uma trepada. Devia ser das boas- Len continuou falando, e peguei lentamente minha faca de meu bolso, sentindo minhas veias pulsarem cada vez mais forte.  – Elas não duram muito tempo aqui.

Pensei novamente no carro com Beth se afastando pela mata, e do sorriso corajoso de Alexa. Realmente fiquei desnorteado depois que Beth foi capturada, mas ra Beth, praticamente uma irmazinha menor pra mim. Ergui a faca, avançando firme. 

—Calma gente, vamos abaixar as armas, ver se resolvemos o problema sem brigas. - Joe , o líder do grupo, chegou, segurando meu braço a tempo de não cravar a faca no pescoço do homem, que fiquei receoso. O afastei com força, guardando a faca.  — Você deve querer uma explicação. Eu criei uma regra no grupo para evitar que se perda a estribeira toda hora. Mantém nosso bando alegre e sem estresse. Basta dizer que esta dominado. Em tudo.

—Não vou dominar nada.- Rosnei, pensando na droga da regra. Que pensou nessa estupidez? 

—Vamos ensinar a ele, certo? Segundo as regras, temos que lhe ensinar. - Len continuou, incitando briga, olhando Joe como um cachorro animado. Bando de babacas. Eles gostavam de sangue. 

—Não seria justo punir você por uma regra que você nem sabia que existia. - Joe suspirou, colocando o corpo desanimado do esquilo na árvore, e o cortando no meio com seu facão.- Metade é melhor que nada. 

...

Estávamos andando lado a lado nos trilhos, eu a alguns metros longe deles. Nem sabia direito o porquê de estar com eles ainda, mas acho que meu desespero falou mais alto que meu senso no momento em que eles me encontraram. Eu não estava mais acostumado a ficar sozinho, sabia disso. 

—Qual o plano, Daryl?- Joe perguntou, se aproximando de mim. Ele parecia ser bem sensato, mas sentia um certo amor por sangue em sua pessoa, do mesmo jeito que os outros.  Eu tinha certeza de que ele matava por prazer, mesmo que a sua expressão de calma não demonstrasse isso. 

—Como assim?

—Está conosco, mas logo vai embora? É isso? 

—Sim. - Respondi simplesmente, tentando encurtar o papo. Eu não queria conversar. 

—Então, qual é o plano?- Joe continuou falando, e dei de ombros, ajeitando meu arco em meus braço. 

—Só estou procurando o lugar certo.- Falei, dando de ombros novamente. Eu não ia revelar a ele que eu tinha um grupo, e que estava a procura deles. O que será que fariam com essa informação?

—Não somos bons o bastante pra você?- Perguntou, e soltei uma risada sarcástica, pensando nas pessoas do grupo.  Não eram bons o bastante para ninguém, eu tinha certeza disso. Não quero nem saber o que fariam com uma mulher. Esse pensamento me deixou doente. 

—Alguns não são exatamente amistosos. - Falei, pensando no acontecimendo de manhã. 

—Você também não é muito amistoso. É preciso ter um grupo aqui, você sabe. 

—Talvez eu não precise.- Falei, mas obvio que eu sabia que precisava. Só não era eles. Meu grupo estava perdido por ai no momento, e eles era o que eu tinha pra poder dormir sem me preocupar a noite. Mas no caso, eu sabia que eles podiam fazer algo comigo dormindo mesmo assim. 

—Precisa, sim. Deveria ficar conosco. As pessoas nao precisam ser amigáveis. Não temos que ser legais, nem irmãos de arma. - Disse, suspirando a cada palavra. Eu sabia que era cansativo ser líder, principalmente de um bando de babacas. - Basta seguirmos as regras.

Falou, e eu apenas dei um sinal de cabeça, fingindo concordar. Eu não gostava nada deles. Sabia que eles lembravam o meu comportamento antes do apocalipse , mas isso era algo que nunca mais iria voltar. Talvez Merle se daria bem com eles se tivesse vivo.  Depois que você conhece o carinho, é difícil voltar a ser o que era antes. Lembro de Alexa falando isso pra mim em algum momento. 

—Você gosta de gatos, Daryl?- O homem perguntou depois de um tempo em silencio, e eu o encarei, estranhando.  –  Pois eu gosto. E eu garanto que não tem nada mais triste que um gato de rua achando que é gato de casa.

...

—É das boas, garanto. É o jeito mais fácil de seguir com pouco suprimento. - O chefe do grupo falou comigo novamente, se aproximando com um frasco de bebida na mão. A peguei imediatamente, sedento. Eu precisava de algo para me distrair, mesmo sabendo o perigo de estar sob efeito de alcool em um apocalipse. - No seu lugar, eu pegaria leve, a barriga deve estar mais vazia do que pensa.

—Não dou um trago de manhã desde antes das coisas desmoronarem.- Comentei baixo, pensando no que Alexa diria ao me ver nessa situação. Logo os rostos do meu grupo vieram a minha mente, mas espantei os pensamentos. Pensar neles agora só traria tristeza, e o foco era encontra-los. 

—“Desmoronarem”? Nunca pensei assim. Pra mim parece que as coisas estão finalmente se encaixando. Pelo menos pra gente como a gente. - Falou, e eu simplesmente concordei, como estava fazendo em praticamente qualquer coisa que ele fala. Gente como a gente? Eu não era mais parecido com eles. Mas no fundo sabia que estou bem melhor agora do que estaria se nada tivesse acontecido. 

Sem o apocalipse, eu estaria trabalhando em uma mecânica furreca na minha cidade natal, sem perspectiva de vida, comendo putas esporadicamente e bebendo muito. 

—Estamos chegando perto.- Um dos homens dele comentou, e ele assentiu, andando um pouco mais rápido. 

Ele disse isso apontando para uma placa com a escrita “ TERMINUS” , com a promessa de santuário pra todos, fixada no chão. A placa foi feita claramente a mão, toscamente colada por cima de uma placa do trilho, e eu imaginava que não era a única. 

—Ja viu isso antes? - Perguntei a Joe, que continuava ao meu lado. Se ele quer conversar, vamos conversar. 

—Sim, e vou te dizer o que é. Uma mentira. - Respondeu, cuspindo no chão ao dizer essas palavras . Isso eu ja imaginava que era, mas não podia deixar de pensar que provavelmente meus amigos seguiram para lá. Era o mais lógico ao seguir para conseguíamos nos achar. 

—E é pra lá que estamos indo?- Perguntei, parando para perceber que estávamos seguindo um caminho específico, e não apenas andando aleatoriamente. Pra ser sincero, nao sei o que pensei. 

—Agora você se interessa, então? Estávamos em uma casa, cuidando de nossas vidas, enquanto um monte de matéria fecal ambulante se escondia por la. Estrangularam nosso colega Lou e o deixaram se transformar. Lou veio para cima de todos nós .O cara escapuliu, nós o rastreamos até os trilhos , especificamente até um desses cartazes, e assim temos um destino em mente desde então. - Disse, resumindo a hostória. Um sentimento ruim passou por todo o meu corpo, mas tentei o ignorar. 

—Viu a cara dele?

—Só o Tony, mas isso basta para um reconhecimento. 

Concordei, tirando os pensamentos ruins da cabeça. Mas eles aumentaram quando avisei um pedaço da embalagem de chocolate big cat nos trilhos. 

...

—Finalmente os achamos. - Tony murmurou, enquanto estávamos abaixados atrás dos arbustos entre a estrada e a floresta. Respirei fundo, ouvindo o leve farfalhar de passos ao nosso redor, alguns de animais e alguns de errantes. 

Pareciam ter duas pessoas ao lado de um carro no meio ds rua, com apenas a fraca luz do final do dia os iluminando. Não conseguia enxergar seus rostos . 

Depois de um tempo nos trilhos, eles desviaram o caminho pela floresta , achando que estava próximos dos que procuravam. Fizeram isso com o intuito de os pegar desprevenidos. 

Observei enquanto Joe e seus capangas saiam lentamente do mato em direção ao carro no meio da estrada, mas continuei parado. Não queria me meter nisso. 

—Poxa vida, você pisou na bola, cuzão. - Ouvi a voz forte do lider gritar, e sabia que provavelmente ele ja tinha uma arma na cabeça do homem. - Ouviu? Pisou na bola.  Hoje é o dia do acerto de contas, senhor. De retribuir. Equilibrar o universo inteiro. - Continuou a berrar , e senti a diversão em sua voz. Eu estava certo, ele gostava de sangue. Sai devagar dos arbustos, me aproximando das pessoas a frente, atraido pela identidade dos sobreviventes. 

—Merda, e eu que pensei em dormir logo no revéllion. Quem vai fazer a contagem regressiva comigo?

—Dez mississipi, nove msisisipi...- Ouvi a voz dos outros soarem , e me aproximei mais ainda, até que o rosto dos prisioneiros se fez visível a minha vista. 

—Joe! - Gritei, aparecendo diante das sombras, e olhando o rosto do homem que Joe tanto perseguiu por esses dias.

Era Rick.

Observei Len com a mira na cabeça de Michonne, que me encarou assustada e ao mesmo tempo surpresa. Não avistei Alexa, nem Judith.

— Espere ai.

—Você me parou no oito, Daryl.

—É só esperar um pouco.- Pedi, tremendo levemente. Tentei manter a firmeza, mas eu sabia que a situação não era nada favorável para a gente. 

—Foi o cara que matou o Lou, não tem conversa. -Len gritou, e apertei a mão, encarando Joe, que me encarava de volta de modo curioso. 

—Hoje em dia a gente tem muito tempo de sobra, Len. Desembucha, Daryl.- Falou, relaxando a arma em sua mão e se pondo em uma posição debochada. 

—Essas pessoas... você precisa solta-las. São pessoas boas.- Comecei, receoso por conta da quantidade de armas ao nosso redor. Um tiro , e a confusão estava instalada. 

—Acho que o Lou não concordaria com isso. Claro que não terei como falar com ele pois o seu amigo aqui o estrangulou em um banheiro. - Aumentou a voz no final, pressionando a arma na têmpora de Rick, que me olhava impassivo. Uma estranha calma residia em seu olhar, mas foquei no olhar sanguinário de Joe. 

—Você quer sangue, eu entendo, mas tire de mim, cara. Vamos lá. - Falei, erguendo os braços. Não vou mentir, eu estava desesperado. Não iria deixar nada acontecer com eles, mas não sabia mais que plano seguir. Se eu soubesse que eram eles antes...

—Esse homem matou o nosso amigo. Você falou que ele é gente boa, essa é uma mentira. - Começou, me encarando. Seu olhr faiscava , e seu dedo tremia perigosamente no gatulho. - É uma mentira!

—Vamos la...- Comecei, mas um dos homens golpeou minha barriga com a arma antes que eu tivesse tempo de falar algo. Senti um gosto metálico invadir a minha boca, e minhas armas foram para longe. 

—Ensinem ele, pessoal. Ensinem até o fim. - Joe gritou, e senti mais ataques em minha direção, de todos os lados. Eram tantos que eu não tinha tempo de revidar. 

Entre golpes, consegui ver um dos homens com Carl nos braços, com uma faca no pescoço. Eu sabia o que eles poderiam fazer com o garoto.  Dei um chute na barriga de um dos homens , mas eu sentia meu corpo enfraquecer a cada golpe, então não consegui a força que deveria. 

Tentei avistar Rick para ver o que estava acontecendo, e então o vi mexer a cabeça, junto com um som alto de tiro.

Mas ai me deram uma coronhada na testa.  

Meu coração acelerou. 

Mesmo com a minha visão comprometida por conta do sangue que pingava nos meus olhos, vi que Rick lutava com um dos homens, e avancei em um dos que me atacava, torcendo seu braço. 

—Me mostrei o que você é capaz! - O grito de Joe ecoou pela floresta, e o que foi dito, foi atendido. 

Rick, com uma frieza fora do normal, mordeu e arrancou a jugular de Joe, que morreu em menos de um minuto com uma face totalmente de surpresa estampada em seu rosto. Os homens pararam de me bater ao ver a cena, e abri um sorriso, com gosto. 

Joguei o homem em que torci o braço de cabeça no carro, e me ergui, com dificuldade. 

Observei Rick e Michonne pegando as armas dos que o prendiam, aproveitando a surpresa. e logo o som de tiros circulou no ar.

Aproveitei a deixa para pegar a faca de um dos homens, que olhava para o lado contrario, e derrubar um no chão. 

—Filho da p...- Começou um deles, mas enfiei a faca em seu pescoço antes que terminasse, e observei o sangue jorrar no chão de barro frioz  Esmaguei a cabeça do que estava no chão, me certificando de que ja estava morto.

—Daryl! - Michonne gritou, segundos antes de atirar no último homem atrás de mim, que provavelmente ia me atacar. A agradeci com o olhar, e limpei o sangue do rosto com as mãos. Mas não devia. 

O que observei em seguida me marcou para sempre.

Quando vi, Rick enfiva a faca em um homem ja morto, com pingos de sangue escorrendo por todo o seu rosto e corpo. Por mais que o homem ja estivesse morto faz tempo, Rick ainda o atacava, dilacerando sua carne de maneira que no final, nao era mais reconhecível.

Michonne tinha Carl em seus braços, e percebi o medo no olhar do menino. Espero que ele entenda seu pai. 

 

É nesses momentos que você percebe o quanto o apocalipse te afetou, e o quanto essas coisas são cada vez mais necessárias para a sobrevivência.

...

Afastamos os corpos de qualquer jeito para dentro da floresta, apenas para os tirar de nossas vistas, mas as manchas de sangue e os indícios de luta não iriam sair.

Eu estava realmente feliz em vê-los vivos, e o alívio ainda me dominava, mas fiquei preocupado com a saúde mental de Rick depois da luta. Eu ja tinha pensado no quanto estávamos quebrados antes, imagina agora depois de tudo que passamos. 

A diferença é que agora eu não pensava mais em fugir disso tudo. 

Me aproximei de Rick, que estava sentado no chão apoiado no carro. Seu rosto ainda tinha traços de sangue,  e o arrependimento era nítido em sua expressão. 

—Eu nao sabia o que eles eram.- Murmurei quando me sentei ao seu lado, o entregando uma garrafa de agua. Ele pegou, derramando-a lentamente em um trapo que estava em suas mãos, a usando para limpar o rosto. 

—Como acabou com eles?- Perguntou, agora com um olhar mais tranquilo e limpo. Seus cabelos meio loiros agora estavam escuros de sujeira e sangue, e eu sabia que não estava muito diferente. 

—Eu estava com Beth, nós saimos juntos de lá. Fiquei com ela por um tempinho...- Comecei, mas as palavras sumiram sem eu ao menos saber porque. Eu ainda não tinha entendido o que aconteceu. 

—Ela morreu?

—Ela simplesmente foi embora. - Falei, lembrando do carro se afastando a alta velocidade. Não tinha como explicar, e percebi que Rick entendia. Simplesmente fugimos de uma horda, e um carro a pegou. - Foi depois disso que eles me acharam. Eu sabia que eles eram sangue ruim, mas tinham um código. Era simples, burro, mas era o bastante pra mim no momento. - Confessei, e assim que falei essas palavras em voz alta elas criaram um sentido mais real. 

—E voce estava sozinho.

—Falavam que procuravam por um cara. Ontem a noite, disseram que o haviam visto. Eu fazia corpo mole, pois ia deixa-los. Só que fiquei. - Comecei, pensando nos acontecimentos de forma cronólogica. -  Foi ai que vi que eram vocês três, bem na hora que você me viu. Eu não sabia do que eles eram capazes. - Falei, abaixando a cabeça. Eu nunca iria me perdoar de não ter pensado na possibilidade de ser eles antes. 

—A culpa não é sua, Daryl. - Ouvi sua voz, e logo depois um leve tapa no braço. Mesmo tão quebrado quanto, Rick ainda se importava com os outros.  - Ei. A culpa não é sua. Tudo que importa é você estar aqui conosco. Você é meu irmão. - Falou, e eu concordei. Eu era realmente grato por todo o apoio e carinho que Rick dava pra mim desde o início, e estava aliviado demais de ter achado alguém. Não arrisquei perguntar algo de Judith. 

—O que voce fez ontem a noite, qualquer um teria feito.- Comentei, observando o olhar fixo do xerife no meio da floresta depois de um tempo. Eu sabia a sensação de passar diversas vezes uma cena na cabeça, e sabia que ele estava assim. 

—Não, não aquilo. Não daquele jeito.  - Murmurou, apoiando a cabeça nas pernas, cansado. Eu sabia que os acontecimentos iam acumulando dentro da pessoa, até chegar a um ponto que aquilo te muda. Era isso que estava acontecendo com Rick. 

—Alguma coisa aconteceu, você não é assim.

—Daryl, você viu o que fiz com Tyreese. Não sou só isso, mas faz parte de mim. - Comentou, levantando a cabeça e suspirando. Todos temos o nosso lado animal. - E é  por isso que estamos aqui. Eu sou assim pelo Carl. Quero mantê-lo vivo, custe o que custar. - Falou, e eu concordei. Eu podia não gostar da sua atitude, mas querendo ou não, eu sabia que faria igual por aqueles que amo. 

...

Descansamos por apenas algumas horas durante a noite, todos se recuperando da luta anterior. Porém, duvido que alguem realmente tenha conseguido descansar. Mas não podíamos ficar muito tempo parados. 

O olhar de Carl estava baixo, totalmente alheio aos acontecimentos ao seu redor. Eu sabia que ele deveria estar processando a visão do pai, mas querendo ou não, não tínhamos mais tempo para isso. O apocalipse nos fez assim, e não iriamos voltar a ser o que era antes. 

Michonne me encarou e se aproximou dele, e entendi a mensagem. Fiquei feliz ao ver o quanto os dois estavam próximos, e sabia que isso ajudaria muito Carl após a perda da mãe. Continuamos seguindo pelos trilos. 

—Estamos chegando, vamos chegar antes do pôr do sol.  — Comentei, observando as placas cada vez mais recentes e preservadas, além de outras indicando o final da linha a alguns quilômetros. 

—Então agora vamos pelo mato, não sabemos quem eles são exatamente. - Rick comentou, e todos assentimos com a cabeça. Não se pode confiar em ninguém .

Andamos por mais uns vinte minutos, e logo uma grade cheia de folhas chegou a nossa visão, indicando que chegamos ao Terminus. Nos aproximamos dela, ficando agachados na beirada, afastando algumas folhas apenas para os nossos olhos. A cerca não era vigoada. 

—É um local grande. - Carl sussurrou, e concordei. Conseguíamos ver um grande galpão com dois andares, mas pela extensão das grades para os lados imaginei que era muito mais que isso, ainda mais que era uma construção principal da linha do trem. 

Observei algumas pessoas andando com coisas nas mãos, mas nenhuma que passou era conhecida. 

Um baque de decepção invadiu meu ser.

O que eu esperava? Ver todos os nossos amigos correndo por ai? Achar Alexa cuidando da horta como se nada tivesse acontecido? Ver Beth sã e salva tocando violão? 

—Vamos nos dividir, observar um pouco , ver o que tiver pra ver e nos prepararmos para entrar. - Rick indicou, de afastando um pouco das grades e nos encarando. - Vamos todos ficar perto.

 Decidimos esconder algumas armas enterradas na mata ao redor do local, em caso de emergencia. Nunca se sabe o que pode acontecer.

Não tinha muito o que olhar. Vi mais pessoas caminhando para lá e pra cá , cada um com sua tarefa. Avistei uma espécie de horta, e algumas pessoas pintando placas em um chão de concreto. Vi até mesmo crianças, mas infelizmente não consegui ver dentro das construções, pois as janelas eram escuras . 

Depois de um tempo, decidimos arriscar na sorte. 

Pulamos a grade pela parte de trás, caindo dentro do terreno e andando agachados até a porta mais próxima.  Entramos no primeiro prédio que vimos, ainda agachados e silenciosos, em fila. 

—Sigam os trilhos até o ponto em que todas as linhas se encontram. Existem mapas nos cruzamentos para guia-los na sua jornada...- Uma voz soava alta a medida que adentrávamos os corredores finos do galpão, e logo nos levantamos, saindo em uma parte alta e retangular, onde parecia que estavam uma linha de produção. 

—Ola. - Carl falou, indicando a nossa posição. Estávamos os 4 em pé lado a lado, e todos os olhares viraram para a nossa direção, surpresos. 

—Aposto que Albert é quem esta vigiando o perímetro.- Um homem alto de cabelo de pinico falou, soltando um pincel dentro do pote e suspirando, irritado. - Estão aqui para nos roubar?- Perguntou, se aproximando de nós. Percebi que alguns dos outros estavam com as mãos atrás das pernas . Eles tinham armas. 

—Não. Só queríamos vê-los antes que nos vissem. - Rick falou, se mexendo levemente e desconfortavelmente.  Percebi seu desconforto, e eu sentia a mesma coisa. Que situação bizarra.  

—Faz sentido. - O homem bradou, mexendo a cabeça para os lados. Parecia levemente incomodado, mas logo um sorriso surgiu em seu rosto, muito mais forçado do que deveria. -Geralmente fazemos isso onde os trilhos se encontram, mas, mesmo assim. Bem vindos ao terminus! Meu nome é Gareth. - Disse, colocando as mãos na cintura. Me senti em um reality show careta em que o próximo desafio estava chegando.  - Parece que estão há um tempão na estrada. - Essa frase saiu automaticamente, como se sempre falasse isso. 

—Estamos, sim. Sou Rick, esses são Carl, Daryl e Michonne. - O xerife nos apresentou, e dei um farfalhar de cabeça quando ele disse meu nome. Eu segurava a besta forte em minhas mãos, mesmo que ela não estivesde em posição de tiro. 

—Estão nervosos, entendo, também estávamos assim quando chegamos. Viemos aqui por santuário. Vocês nao estao aqui por isso?

—Sim. - Concordamos todos, nos encarando de canto de olho. Tudo parecia muito automático. 

—Que bom, vocês o acharam! Alex, apresente o resto do local para eles. - Indicou a um homem de cabelos pretos, que sorriu minimamente para nós, como se estivesse sendo forçado.  - Não temos nada a esconder por aqui, mas o vagão de boas vindas la na frente é mais legal, eu juro. 

—Precisamos das armas de todos. As ponham na sua frente, por favor. - Alex pediu, se aproximando mais ainda. Parecia ser um tanto prepotente, o que me irritou na hora. 

—Sei que entendem.- Gareth falou, enquanto eu colocava minha crossbow no chão. Entender, entendíamos. 

—Odiaria ver o outro homem. - Alex disse para mim enquanto me revistada. Eu tinha esquecido que minha cara provavelmente estava pior que a de todos pela surra que levei, mas realmente, os outros levaram a pior.  - Mereceram?

—Sim. -Carl respondeu, e me apiedei do garoto. Ele tinha passado por muita coisa nesses dias. 

—Não somos esse tipo de pessoas, mas tambem nao somos burros. -Gareth falou, com as mãos atrás das costas, em uma posição relaxada.  Depois de revistados, Alex entregou as nossas armas de volta, o que peguei rapidamente. Não me sentia seguro sem elas por perto. 

Após isso, Alex foi nos guiando pelo local, saindo do alto galpão em que estávamos. Percebi algumas pessoas se afastando rapidamente a medida que andávamos, e algumas portas sendo fechadas. 

—Há quanto tempo esse local existe?- Rick perguntou, começando um assunto com o homem. 

—Quase desde o começo. Quando os campos ficaram lotados, começaram a achar esse lugar. Deve ser o instinto, sabe? Seguir o caminho. - Assenti, abrindo um sorriso irônico. Isso estava ficando cada vez pior e mais suspeito. 

Nos aproximamos de um local aberto, onde tinha uma grande churrasqueira com uma mulher mexendo coisas em cima. Algumas cadeiras e outros móveis estavam espalhados pelo local, e avistei alguns girassóis.  O cheiro de comida fez meu estômago roncar, e a mulher levantou o rosto, nos reparando. 

—Oi, soube que entraram pelos fundos. Coisa inteligente, vão se adaptar bem aqui. - Disse, sorrindo como se fosse um robô. Ela estava virando pedaços de carne bem assados com uma espátula, e parecia que estávamos fazendo parte de um almoço de domingo.  

—Mary, pode preparar um prato para essa gente nova? - Alex pediu, e Mary separou alguns pratos, satisfeita. Fiquei observando ela colocar as carnes, junto com um pouco de arroz e tomate, e senti minha barriga roncar. 

—Por que fazem isso? Deixam pessoas entrar?- Michonne perguntou, encarando desconfiadamente Alex, que ajudava Mary. 

Olhei ao redor enquanto eles conversaram, e percebi alguns elementos familiares. Uma mulher usava um ponche cor amarelo queimado, muito parecido com o que Maggie usava.

Observei quando Alex tirou um relógio de bolso e o olhou, e arregalei os olhos. Era igual o que Hershell tinha dado a Glenn a algum tempo atrás. 

—Quanto mais gente, melhor e mais fortes ficamso. Por isso botamos os sinais. - Respondeu o homem, pegando dois pratos e se virando para a gente. - Podem comer! 

E foi ai que avistei um reflexo branco fora das grades, e o final de cabelos claros correndo para o lado direito.

Alexa. 

Eu jurava que tinha visto Alexa. 

Mas antes que nós pudéssemos fazer qualquer coisa, Rick arrancou o relógio do bolso do homem e colocou a arma em sua cabeça, derrubando os dois pratos diretamente no chão. Todos erguemos nossas armas, apontando para todos os lados, pois estavamos literalmente cercados. 

—Onde conseguiu esse relógio?- Rick rugiu, apertando o aparelho forte com as mãos. Sua fúria era evidente, e percebi que ele viu as mesmas coisas que eu. Então eu realmente não estava doido. Apontei melhor a besta, me concentrando. 

—Quer respostas? Quer mais alguma coisa? Pois as tera quando abaixarem as armas. - Alex tentou negociar, mas o rosto de Rick continuou impassível. Observei algumas pessoas a postos ao nosso redor, e senti o suor pingar.  Estavamos em uma situação totalmente desfavorável novamente. 

—Vi seu homem no telhado com um rifle de atirador. Ele é bom de mira? - Rick gritou, irônico, e pressionou a arma mais forte contra a cabeça do homem. Eles esqueciam que estavamos mais acostumados com luta que os outros. - Onde conseguiu esse relogio?

—Não faça nada! Eu cuido disso, abaixe!- Alex gritou ao atirador, e vi o sniper abaixar a arma. - Me escute, somos muitos e...

—Onde conseguiu o relógio?- Rick gritou pela terceira vez, e percebi seus olhos se encherem de raiva a cada vez que ele tinha que peguntar. 

—Tirei de um morto, não achei que ele ia precisar.- O homem com a arma na cabeça gaguejou, e deu pra perceber que era obviamente uma informação falsa. Ergui mais a besta, mirando na direção de dois homens a distancia. Michonne e Carl faziam o mesmo. 

—E a armadura de choque? O poncho?- Rosnei, ao ver um homem com uma das armaduras que tínhamos na prisão. 

—Tirei a armadura de um policial morto e achei o poncho em um varal. - A voz de Gareth surgiu no ar, e todos nós o encaramos. Sua expressão era de uma calma falsa, quase psicopata, e deu sorriso era frio. Senti vontade de dar uma flechada na cara dele sem dó. 

—Gareth, nós podemos esperar.-Alex gaguejou mais, e Rick o esmagou mais um pouco, agora sem o relógio nas mãos. 

—Cala boca, Alex.

—Voce fala só comigo.- O xerife continuou as ameaças, e girei, apontando a arma para os homens atrás de mim, que se aproximaram durante o diálogo. A situação ficava mais tensa a cada minuto.

—O que resta a ser dito? Vocês nao confiam na gente. 

—Gareth...

—Calado, esta tudo bem. Rick, o que quer?

—Cade o nosso pessoal?

—Não respondeu a pergunta.- Gareth falou, sorrindo. E depois, o som de tiros altos ecoaram pelo ar. 

—Pro chão, agora!- A voz de Rick ecoou por cima dos tiros, e começamos a correr quando ele jogou Alex para longe.  Percebi que os tiros saiam de todos os lados, mas eles nao miravam na gente.

Eles estavam nos guiando.

Corremos por vários locais, nunca conseguindo ir pra cerca como queríamos. Abri uma porta qualquer e passamos correndo, chegando a um local cheio de containers.

 E percebemos que dentro dos conteiner tinham pessoas.

—Socorro! Nos ajudem! - As vozes saíam abafadas de dentro dos containers, mas não tínhamos tempo de ajudar ninguém. Os tiros continuavam. 

—Mas que caralho! - Rosnei, quando entramos em outro galpão com varias velas acesas, como um ritual. Era uma espécie de culto religioso, com frases escritas no chão de maneira bizarra, além de fotos e flores podres. 

—Que diabos é esse local?- Ouvi Rick perguntar, enquanto procurávamos saídas a todo o custo. 

—Esse pessoal não quer nos matar.- Carl falou, baixo, e assenti. 

—Não, estao atirando nos nossos pés. - Michonne comentou, e assenti novamente. 

Saímos por outra porta que achamos aberta,  chegando ao ar livre.

Porém, estávamos encurralados. 

—Abaixem as armas, agora! - Ouvimos a voz do Gareth saindo de algum lugar, e logo avistei seu cabelo de pinico em cima de um telhado. Como ele tinha parado lá? .- Agora! Líder do bando, va a sua esquerda! Para o vagão. Obedeça e o menino vai junto, qualquer outra coisa, ele morre, e você terminam ai do mesmo jeito.

—Agora o arqueiro. - Ele continuou, nos encarando como se tivesse vencido. - Agora a samurai.

—Fiquem diante da porta. - Alex, que não sei como ainda estava vivo, falou. 

—Meu filho.- Rick rugiu, enquanto esperávamos na frente do contêiner escuro. Avistei novamente um reflexo branco na mata, e suspirei.

Certeza que era Alexa, ou minha mente estava me pregando peças pesadas. 

—Vai, menino. Líder, abre a porta e entre. - Sentenciou, depois de um momento longo de tensão, e um sentimento de alívio me cercou quando o menino se aproximou de nós.

Rick abriu o container, revelando um cheiro úmido no meio da escuridão a nossa frente. Entramos em silencio , com o som das pegadas no metal frio, e finalmente a porta foi fechada, nos deixando no escuro total.

Soquei a parede, com raiva. Como não pensamos que algo assim ia acontecer? 

Como que Alexa estava ali fora? Por que ela não nos ajudou? Ou eu finalmente tinha pirado? 

—Rick?- Uma voz conhecida saiu no meio da escuridão, e ergui meu olhar para o outro lado do container, enquanto me acostumava com a escuridão. 

Observei os cabelos castanhos e curtos de Maggie surgirem na fraca luz que saia das frestas, juntamente com Glenn , Bob e Sasha. 

—Vocês estao aqui. - Rick falou, e todos nos aproximamos, nos abraçando rapidamente . Um sentimento de alívio em ver a maioria do grupo junto afastou um pouco o sentimento de receio. Tinha alguns não conhecidos junto, e os encaramos, desconfiados. 

—Eles são nossos amigos. Eles ajudaram a nos salvar.- Glenn explicou, e fizemos uma breve apresentação. 

“Abraham” .

Esse nome me lembrava alguma coisa, mas eu não lembrava o que. 

—Então eles sao nossos amigos também.  — Rick sentenciou, abraçando Carl pelo lado. 

Maggie não fez nenhuma pergunta sobre o paradeiro de Beth, mas eu sabia que ela apenas fez isso pois não era o momento. Do mesmo jeito que não perguntei de Judith. 

—Pelo tempo que durar. - O militar ruivo sentenciou, indo para trás. Percebi que ele era totalmente esquentado. 

—Daryl, Alexa esta la fora. - Maggie disse, se aproximando de mim, com um olhar tranquilo.  Essas palavras diminuíram a tensão de meus ombros, e não pude deixar de sentir uma pequena fagulha acendendo dentro de mim. Minha pequena estava viva e bem.  - Achamos melhor ela ficar la fora , pois não sabiamos como seria, e não seria bom arriscar e traze-la junto, considerando as circunstâncias.- Ela disse, e assenti. Pelo menos uma decisão inteligente foi feita hoje. -  Certeza que  ela vai nos ajudar. 

—Deixamos umas armas enterradas la fora, espero que ela encontre de algum jeito.  - Carl sentenciou, e concordei. Minha pequena era esperta, ela ia dar um jeito. 

—Não, eles vão se sentir muito burros quando descobrirem .- Rick sussurrou olhando para a parede, mas todos nós escutamos.

—Descobrirem o que exatamente? - Uma mulher chamada Rosita perguntou, apoiando o quadril no contêiner. 

—Que eles mexeram com as pessoas erradas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu sei que foi bem “ boring” , mas o próximo vai ser praticamente só luta e confusão pra compensar esse! Se lembram quem mais ajuda eles a fugirem de la?



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