Quando o amor bater à porta escrita por Lyare


Capítulo 9
Esteja presente


Notas iniciais do capítulo

Pensando em acabar a fanfic no décimo capítulo, estou sem ideias kk. Boa leitura.



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Quando o amor bater à porta, esteja presente

 

Sakura acordou ainda atordoada. Sentia os olhos inchados, uma dor na região da barriga e também na cabeça. Lembrou então que estava com Itachi, estava deitada com a cabeça no braço dele. Ele dormia relaxado ao seu lado, notou que havia algumas olheiras que provavelmente eram culpa dela. Fazia dois dias desde o incidente. O enterro havia acontecido na tarde anterior e contou com a presença de vários colegas de trabalho do hospital.

O que deveria ser respondido ao ouvir um “sinto muito” ou um “meus pêsames”? Deve-se sorrir ou só acenar com a cabeça? Ela não soube direito o que fez, só agiu de forma automática. Os Uzumakis insistiram para que ela fosse passar algum tempo na casa deles, mas sabia que além de dar trabalho por precisar de companhia, atrapalharia a rotina deles — inclusive já estava atrapalhando por não estar trabalhando.

Levantou o corpo o suficiente pra pegar o remédio na cabeceira e tomá-lo, mas foi suficiente para acordar o moreno. Ele a observou voltar para seus braços e o encarar. Ainda não tinham conversado sobre o ocorrido, nem tão pouco tinham conversado direito — Itachi estava resolvendo as burocracias de Sakura nos últimos dois dias e também acabando os últimos trabalhos do semestre. Ah, como Sakura se sentia mal. Em relação ao futuro, ao presente, a onde moraria agora. Insegura em relação ao fato de estar sozinha no mundo já que duvidava que o pai fosse se importar. Sentia-se tão pequena.

Itachi levou a mão livre até a bochecha e começou a afagar. As pontas dos dedos dele iam da bochecha até a pontinha do queixo e Sakura só fechou os olhos aproveitando a companhia dele. Não demorou muito pras lágrimas começarem a cair em silêncio. Ele colhia cada uma com os dedos. Itachi entendia o que era perder alguém importante e não queria deixá-la sozinha nesse momento, por isso, contentava-se em ficar em silêncio ao lado de sua flor. O Uchiha agora acariciava-lhe os cabelos lentamente. Ela só chorava. Era como se houvesse um bolo em sua garganta. Não havia nada a fazer, a morte visitava as pessoas sem aviso prévio. Restava-lhe agora lidar com a dor.

 

Nos primeiros três dias depois do enterro, Itachi a tirava da cama por volta das nove. Os dois estavam de férias depois do Uchiha ajudá-la a terminar os próprios trabalhos que precisavam ser entregues. Ele mesmo foi até os professores de Sakura entregar e explicar o ocorrido — ela conseguiu ser aprovada em todas as disciplinas, mesmo faltando os últimos dias.

— Meu amor, você precisa levantar. — Itachi estava em pé ao lado da cama. Sakura estava agarrada ao travesseiro olhando pra parede. As olheiras estavam piores. Ela só respondia “sim” ou “não” com a cabeça.

O Uchiha via-se em uma situação complicada. Ela estava passando por um estresse pós trauma, qualquer um poderia ver isso. Sakura não queria conversar com ninguém sobre, nenhum psicólogo, ninguém. Só queria ficar envolvida em sua dor.

— Sakura. — Itachi afagou-lhe o ombro e ela se virou. Não sabia se ela tinha dormido durante a noite, por mais que sempre a tivesse em seus braços. Ele a sentou na cama com cuidado e beijou a testa. Ela fechou os olhos e o lábio tremeu. Ele sabia que ela queria chorar, ele sabia que ela precisava chorar. Ele sabia que ela precisava ser cuidada e tinha medo da parede que ela começava a construir ao redor de si mesma.

O moreno sentou e a puxou para si de forma que o lado dela se apoiou no peito de Itachi. Ele afagou os cabelos e sentiu as lágrimas quentes em seu pescoço. Ela o empurrou levemente e estavam os dois deitados na cama.

— Minha flor, você precisa colocar pra fora tudo que você está sentindo. Se você não fizer isso, você só vai destruir a si mesma. — Ela respirava mais rápido. — Eu estou aqui, pode gritar, espernear. Sinta tudo isso e depois deixe ir.

Levaram alguns minutos até ela digerir o que o namorado disse. Então deixou explodir. Itachi segurou suas costas quando ela começou a soluçar tanto que o tronco todo tremia. Era um choro sufocado, dolorido. Sem palavras. Ela sentou na cama e pegou um travesseiro e gritou nele. Ele só a observava compassivo.

— E-ela não devia ter m-morrido! — Sakura gritou de repente, magoada. As mãos seguraram a cabeça em agonia.— Não devia. Não devia. Ela não podia me deixar sozinha. Eu estou sozinha! Sozinha! Eu... Eu não gosto disso. Eu estou com medo! Estou com medo do amanhã, estou com medo. Eu só queria voltar no tempo e expulsar aquele desgraçado da minha casa! Ele não tinha aquele direito!

Ela ofegava, o coração doía, as mãos tremiam.

— Por que as pessoas abandonam a gente?! Por que elas simplesmente se vão?! Não é justo. Não é justo. Eu só... Eu só quero saber que vai ficar tudo bem. Eu só quero...

Os braços estavam no colo, o olhar cansado, exausto. Ela encarou o Uchiha clamando por algo, por algo que aplacasse o vazio que queria consumi-la. Ele fez um sinal com a mão e ela se aninhou no colo dele, como uma criança. Sakura não lembrava de ver olhos tão amorosos em toda sua vida. Ele tocava a face da jovem lentamente e não ousavam desviar o olhar.

— Você não está sozinha. Se eu puder, passarei o resto do meus dias ao seu lado. Não há o que temer sobre o amanhã, meu amor. Se ele chegar, só o viveremos da melhor forma possível.

Ele beijou a testa e as bochechas. Ela se sentiu amada, segura, como se ali nos braços de Itachi nada pudesse alcançá-la. Os olhos começaram a pesar.

— Descanse, porque estarei aqui quando acordar. — E ele ficou ali, tendo sua flor em seus braços, sendo o apoio que ela precisava.

—-

Quando Sakura acordou, estavam os dois deitados. Itachi dormia sereno ao seu lado, estavam tão próximos que sentia a respiração dele. Precisava reagir, por mais que não quisesse ou não tivesse forças. Precisava reagir, por mais que seu corpo a mandasse ficar na cama. Com cuidado, levantou e foi até o banheiro. Tirou a roupa e viu o curativo que ainda estava em sua barriga — Itachi havia aprendido a trocar curativos e fazia isso por ela, mas julgou que seria capaz de fazer ela mesma.

Saiu do banho um pouco menos tensa, pois foi necessário lavar os pontos e tinha sido uma tarefa mais desconfortável do que o planejado. Vestiu o top que tinha separado e amarrou a toalha na cintura. Pegou o álcool e começou a passar no machucado. Não soube se foi o nervosismo que embrulhou o estômago, mas quando viu estava vomitando na pia. Itachi surgiu abrindo a porta e segurou os cabelos rosados.

— Ah, eu não consigo nem fazer um curativo. — Choramingou limpando a boca.

— Um curativo em si mesma é pedir demais da situação, Sakura. — Ele suspirou e a levou pro quarto. Lá ele a sentou na cama e voltou segundos depois com o que precisava. Em minutos, o curativo estava pronto.

— Obrigada. De verdade. — Sakura murmurou. Itachi sorriu e disse que ia fazer alguma coisa pros dois comerem. Não queria mais ficar naquele quarto, então vestiu um vestido azul marinho bem folgadinho e foi pra sala.

— O que temos pra hoje? — Perguntou sentando no sofá.

— Macarrão. É tipo comida de recém casado que não sabe cozinhar. Pode durar mais de um dia. — Itachi brincou e Sakura deitou de barriga pra cima. A verdade era que o cheiro a estava deixando enjoada. Só a ideia de pensar em comer alguma coisa fazia o estômago se comprimir.

— Você não gostou? — Itachi perguntou enquanto comiam. Sakura só remexia o prato com o garfo.

— Só não estou com fome. — Suspirou desistindo de vez de comer.

— O que acha de sorvete e bolo? — O moreno sugeriu esperançoso. Soou bem aos ouvidos da Haruno a sugestão.

Meia hora depois, estavam na cafeteria dos Uzumakis. Sakura tomou um susto quando viu a movimentação no lugar. Pelo visto, Kushina tinha inventado um novo prato, pois havia muitas pessoas e, principalmente, crianças.

— O que tá acontecendo? — Sakura indagou. Itachi tinha uma cara de quem tinha aprontado.

— O Naruto tinha chamado a gente outro dia... Hoje é o dia do bolo com sorvete.

Sakura bem imaginou que isso tinha sido ideia de Naruto pra atrair aquela renca de criança e movimentar o lugar. De repente, viu uma pessoa vestida de tigre.

— Não acredito. — Sakura viu Naruto vir na sua direção usando aquelas fantasias enormes de animais, com direito a cabeção. Suspeitou que fosse ele porque ele vinha correndo todo destrambelhado.

— Sakura-chan! Que bom que vocês vieram! A gente bem que tava precisando de ajuda. — Naruto puxou os dois pelas mãos pra dentro da loja e Sakura estava sem entender até ver as fantasias no vestiário.

— Tá brincando, né? — A jovem disse em um fiapo de voz. Uma fantasia de mico e uma de unicórnio aguardava pelos dois.

— Espero vocês lá fora. — Naruto escapuliu deixando-os sozinhos.
Itachi começou a tirar os sapatos e tirou o suéter sob o olhar incrédulo de Sakura. Ele ia fazer isso mesmo?

— Que foi? Eles precisam de ajuda. — Itachi respondeu inocentemente.

— Você planejou isso. — Sakura estreitou os olhos e Itachi continuou a agir normalmente. — Tudo bem. Mas a fantasia de mico é minha.

Itachi não tinha imaginado que as coisas acabariam daquele jeito, mas estava feliz. Sakura estava sentada com várias crianças lendo um livro infantil em um dos cantinhos de leitura do café. Ela parecia estar se divertindo, mas ele sempre ficava atento para o caso de ela estar desconfortável, pois de forma alguma queria forçá-la a alguma coisa.

Quando viajaram naquele fim de semana, reparou em como a rosada dava-se bem com crianças. Talvez aquilo a deixasse feliz. E bom, se pra isso precisasse ficar vestido de unicórnio branco e rosa, não reclamaria. Brincou de batatinha quente com as crianças e sempre uma delas vinha tentar puxar o rabo da fantasia. Mas tudo bem, sobreviveria pelo bem de Sakura.

— Vocês foram incríveis hoje. — Kushina exclamou quando colocou um bolo de chocolate com morango na mesa. Sakura, Itachi e Naruto estavam exaustos ao redor da mesa.

— Minha flor, está sentindo dor? — Itachi indagou quando viu a cara de Sakura.

— Não, eu não me mexi muito. Só estou morrendo de fome. — Foi ela mesma quem pegou uma faca e cortou uma fatia generosa do bolo. Kushina tinha os olhos brilhando, Itachi estava atualizando os Uzumakis sobre o estado da rosada.

— Achei que a Hinata viria hoje. — Minato disse enquanto trouxe um pote enorme de sorvete de creme. Sakura também o atacou para o alívio geral. Era melhor isso do que ficar sem comer.

— Ela teve uma apresentação da Hanabi pra ir hoje, pediu desculpas. — Naruto falou enquanto comia. Os três já estavam sem fantasia, por mais que Sakura tivesse dito pra Itachi que ele ficava bem de unicórnio.

— Vocês precisam aparecer mais vezes. — Kushina resmungou. — Sei que estão de férias agora, podem vir sempre que quiserem.

— Claro, mãe. — Naruto respondeu com a boca cheia. A Uzumaki balançou a cabeça rindo.

Quando chegaram em casa, Sakura parecia mais tranquila. Gastar energia com as crianças a fizera bem. Ficaria bem, sabia que sim. Itachi estava ali, Naruto, Minato e Kushina. Não estava sozinha. Por mais que fosse difícil, continuaria a caminhar. Mamãe desejaria isso. E sentia que a veria de novo algum dia.

— Itachi? — Sakura indagou sentada no sofá. O Uchiha guardava alguns pedaços de bolo e sorvete que Kushina insistiu que trouxessem.

— Hm? — Ele virou na direção dela.

— Obrigada. — Então ela sorriu. Sorriu com a certeza de que tentaria ficar bem. — Quero dormir na sala hoje, tô enjoada do seu quarto.

— Uma festa do pijama então? — Ele brincou e ela acenou com a cabeça algumas vezes. Ficaria tudo bem, eles acreditavam nisso.


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