Renascer escrita por Luna


Capítulo 10
Nós escrevemos nosso próprio destino




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Pansy bebericava o chá calmamente alheia ao que Astória falava, estava em seu próprio mundo pensando em sua patética vida quando foi retirada de seus pensamentos com os dedos da mulher a frente de seu rosto. Sua atenção se voltou para o rosto de sua amiga e via-se apenas preocupação.

Lembrava-se quando não gostava de Astória, ela sempre foi tão certinha, todos seus movimentos eram milimetricamente calculados, sua organização beirava ao patológico e ela tentava agradar a todos com seus sorrisos e gentilezas. Tudo piorou quando Draco começou a demonstrar interesse na caçula dos Greengrass, não entendia o que ele tinha visto na garota, sempre a achou comum. Cabelos castanhos e olhos verdes, não tinha um rosto marcante e nada nela era chamativo o suficiente para se manter a atenção por mais do que alguns minutos. Ou sua opinião poderia apenas estar manchada pelo ciúme que por muito tempo sentiu de Draco.

Mas ele estava apaixonado, demorou a perceber que aquilo era realmente sério e não apenas um caso passageiro e para não perder o melhor amigo Pansy teve que aturar a presença de Astória, que com o passar do tempo também a conquistou, como conquistava todos.

Ela sorriu para a amiga tentando tranquiliza-la e passar conforto. Astória era gentil e preocupada com todos eles, tinha uma alma boa e solícita, era amável e sincera. Como o pai costumava dizer ela tinha nascido uma serpente sem veneno, mas Pansy discordava. Ela era uma sonserina afinal, criada como todos eles tinham sido, versados em manipulação, falsidade e astúcia, sempre primando pela importância da família em detrimento de qualquer coisa, às vezes até mesmo de suas almas.

— Você está tão calada. – Astória comentou. – E parece preocupada e chateada. Algo aconteceu?

— As mesmas coisas de sempre, problemas na empresa, minha mãe, meu pai, meus tios e primos. – Ela levou a xícara aos lábios novamente olhando para a nova tapeçaria.

— Você sabe que eu não gosto de fofocas e depois de tantas mentiras é ilógico colocar nossa fé no Profeta Diário, mas ele vem trazendo informações interessantes nos últimos dias.

Pansy fingiu que não fazia ideia do que a outra falava.

— O que eles andaram inventando agora? – Pansy perguntou com falso interesse.

— Eles comentaram sobre uma possível amizade entre você e Harry Potter, enaltecendo a estranheza do fato já que vocês não se davam bem na escola, além de acrescentar alguns fatos sobre sua família. Foi até mesmo levantada a hipótese dele ter voltado para a Inglaterra por sua causa.

Pansy sorriu com a última informação. Aquela ela não tinha visto ainda.

— Que estupidez.

— Então é mentira? – Astória perguntou curiosa.

— Ele não voltou por minha causa.

Astória lhe deu um de seus sorrisos gentis. Sabia que ela queria lhe fazer mais perguntar e provavelmente faria em outro momento, mas também entendia que Pansy não estava em seu melhor dia e por isso era bom deixar o assunto abafar por ora.

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Após tanto tempo procurando era bom finalmente ter encontrado algo, toda a minha busca valeria a pena. Não consigo acreditar na sorte que tive, não quero criar expectativas e depois perceber que o sinal na torneira não significa nada, mas aquela era a primeira pista que tinha encontrado em anos e não devia estar lá por qualquer motivo. Quem esculpiria uma cobra no banheiro sem qualquer razão?

Queria voltar imediatamente até lá, mas seria muito suspeito se alguém me visse entrar no banheiro feminino, a ansiedade estava me deixando agitado e sinto que Abraxas percebe meu nervosismo.

— Tom, está tudo bem?

Mantenho-me olhando para frente fingindo-me atento ao que o professor falava e contive minha fúria ao ouvir a maneira displicente que Abraxas me chamou. Como odeio esse nome, tão comum, tão simplório. Ele não enaltece toda a minha grandeza e ancestralidade, ele me faz parecer pequeno como os outros.

— Está tudo bem.

Reprimo a careta que quis surgir quando Slughorn me chamou ao final da aula, todos iriam para o almoço, essa seria uma boa hora para testar minha teoria. Tento me mostrar atento ao que ele fala, o velho gordo é um bom aliado e é eficiente em me passar informações, mesmo que não perceba que o faz.

— Posso contar com sua ajuda, Tom? – A barriga estufada dele quase me faz querer rir.

— Claro, professor. Seria um prazer auxiliá-lo, apenas me diga os horários. Preciso conciliar com a monitoria.

Sempre servil. Queria que toda a gentileza que uso com os outros professores fosse o suficiente para convencer Dumbledore também, mas ele parecia o único imune aos seus encantos. Sinto vontade de me esquivar quando ele bate nas minhas costas e apenas sorriu agradecido por ele ter pensado em mim.

Abraxas e Rosier estão me esperando na porta da sala como cães de guarda e felizmente agora não preciso disfarçar meu descontentamento. Os dispenso sem formalidades, Abraxas ainda se mostra relutante e com isso penso se não deveria castiga-lo futuramente, demonstrar aos outros que nem mesmo um Malfoy está acima das minhas vontades.

Desço as escadas o mais rápido que posso sem parecer suspeito, algo que percebi nesses cinco anos é que as paredes tinham olhos e ouvidos e por isso deveria tomar cuidado, não precisava que Dumbledore começasse a me vigiar.

Não há ninguém no corredor ou no banheiro, não há ninguém no meu caminho e o sorriso aparece sem eu perceber. Meus passos são decididos até a torneira, eu toco o relevo em formado de serpente e sinto o frio na minha pele. Não quero ser frustrado mais uma vez, respiro fundo para controlar meu temperamento e jogo para longe a raiva das tentativas passadas e de como me senti um tolo todas às vezes.

— Abra. – Eu ordeno.

Afastei-me quando as bacias começaram a se movimentar e em um piscar de olhos havia um buraco negro que parecia levar ao centro da terra e como a muito tempo não fazia eu sorri verdadeiramente. Depois de cinco anos, de ler tantos livros que mal me lembro de seus títulos, de procurar em toda Hogwarts e descobrir seus segredos, enfim eu tinha achado algo que sabia ser meu por direito. A câmara secreta de Salazar Sonserina.

  Uma escada surgiu antes mesmo do pensamento se firmar em minha mente e não vi motivos para não seguir pelo caminho. A escuridão era uma velha amiga, mas não quero correr o risco de tropeçar e quebrar o pescoço, penso no feitiço e a ponta da varinha se ilumina, o caminho é longo até o fim, provavelmente estou abaixo do Lago Negro.

Quando chego ao final da escada olho para cima e vejo a abertura, se alguém entrasse e visse aquilo seria um problema sem precedentes e como se adivinhasse o meu desejo a entrada é selada mais uma vez. Há ossos de animais mortos e a pele de uma cobra que só pode ser descrita como gigantesca.

Mais uma vez não escondo meu sorriso, os livros faziam tantas apostas sobre o que seria o possível monstro na câmara de Salazar, quando a verdade estava estampa no emblema de sua casa. Aquilo era tão previsível que me senti idiota também por não ter pensado nisso. Reprimi o medo, a lenda dizia que o monstro serviria ao herdeiro de Sonserina, logo serviria a mim. Ele não me faria mal.

Usei mais uma vez a língua das cobras e me deparei com uma câmara muito comprida e mal-iluminada. Olhei ao redor tentando absorver o máximo que podia do ambiente, mesmo a luz da varinha não parecia o suficiente. Há colunas de pedra com cobras em relevo que sustentam o teto, mas está muito escuro para que eu possa vê-lo realmente, é como olhar para o céu sem estrelas. Do outro lado há uma estátua, o artista conseguiu trazer toda a magnificência dele e a pedra me passava respeito ou eu me sentia assim simplesmente por saber quem era aquele homem.

Salazar Sonserina.

Seu rosto é severo, austero. Por muitos anos imaginei como ele seria em vida, como foi criar uma escola e depois abandoná-la por conta dos demais. Perder tudo que mais lhe importava. Senti a raiva me invadir.

— Não importa o que eles fizeram para lhe impedir, eu irei vinga-lo, meu Senhor. A escola será limpa, como o Senhor sempre desejou.

Surpreendi-me quando na base da estátua surgiu uma porta de pedra que abriu sem que eu precisasse pedir, com isso apareceu uma fraca luz e não tardei em caminhar até ela. Olhei ao redor dando uma volta em torno de mim mesmo, aquilo era mais do que eu esperava.

O ar parecia limpo, como se não tivesse abandonado há quase mil anos. Passei a mão pelos lombos dos livros que enchiam a estante, tentei ler alguns títulos, livros tão antigos quanto a própria fundação de Hogwarts. Me pergunto se tem algo escrito pelos fundadores, aquilo era um tesouro imensurável, algo que nunca conseguiria descrever.

Uma mesa negra ocupava parte da sala, ela era enorme, mas possuía apenas uma cadeira. Não imagino Salazar convidando alguém para tomar chá em sua câmara dos terrores, não demoro em puxar a cadeira e me sentar. Me permito fechar os olhos e sentir a emoção de estar no mesmo lugar que Salazar, ser herdeiro de alguém tão poderoso nunca me pareceu tão real quanto nesse momento.

Eu sou o herdeiro de Salazar Sonserina e agora eu devo fazer o que ele não pode.

 

— Potter?

Um homem sacudia o braço de Harry e ele sentia a dor do aperto. Seus olhos se abriram e percebeu que o Inominável estava parado a centímetros do seu rosto.

— Você esteve por fora por um tempo muito longo, conseguiu algo? – Ele voltou a falar.

— Não. – A voz de Harry soou rouca, como se estivesse sem usá-la há muito tempo. – Não tenho nada.

Harry se levantou da cadeira e passou as mãos suadas na calça que vestia. Sentia seu coração bater acelerado, as emoções de Tom ainda lhe preenchiam e ele as sentia como se lhes pertencesse. Quanto mais longe ele ia nas lembranças, mas difícil era controlar o que sentia.

Se surpreendeu quando o homem puxou seu braço com violência e por alguns segundos não teve qualquer reação.

— O que acha que estamos fazendo aqui, Potter?  - Os lábios dele se levantaram demonstrando sua fúria.

Harry sempre mantinha a varinha perto o suficiente para usá-la, mesmo quando estava no Ministério, mesmo se estivesse na casa de Hermione ou com os Weasleys. Ele se sentia paranoico, mas conseguia respirar melhor com a varinha sempre ao seu alcance e por isso conseguiu jogar o inominável no outro lado da sala sem precisar proferir o feitiço oralmente.

O homem tentava se levantar com dificuldade segurando o lado direito da costela e escorria um filete de sangue de sua boca.

— Movimento arriscado, Michael. – Harry ajeitou sua roupa e lançou seu melhor olhar para o homem caído. – Não faria isso novamente se fosse você.

— Ou o que? – Ele perguntou em desafio.

Harry sentiu a varinha vibrar em sua mão, o desafio se tornou quase pessoal, o desprezo e a fúria o invadiu, mas não era ele, sabia disso. Ninguém ousava falar daquela forma com Tom Riddle, ele ensinou aos colegas de casa como apreciava o respeito e que seriam punidos se o tratassem de outro modo. Não aceitava mais brincadeiras ou faltas, seja elas que de tipo. E nenhum deles iria reclamar com professores ou o Diretor, Tom era muito inteligente para se deixar ser pego por um delator fraco. Harry sentiu o mesmo que Tom sentia, queria mostrar aquela criatura patética no chão que ele lhe devia respeito.

— Você pode não levantar da próxima vez. – A voz de Harry soou baixa e ameaçadora.

Justine Vance os encontrou em uma situação bastante comprometedora, Harry parado com a varinha apontado para baixo claramente transtornado e Michael ainda caído. Ela sacou a varinha por via das dúvidas, achava que toda aquela euforia com o grande Harry Potter era tolice, o rapaz mal tinha avançado na vida adulta, seu histórico escolar não era o mais sublime que ela já tinha visto. Claro que ele tinha salvado a todos ao matar o Lorde das Trevas, mas ainda sim parecia haver muita expectativa em cima de um homem tão comum.

— O que aconteceu aqui? – Ela perguntou sem avançar na sala.

— Ele me atacou. – Michael falou se erguendo com dificuldade. – Deveria denunciá-lo.

— Você pode fazê-lo, é claro. O Quartel dos Aurores está a alguns andares de distancia, mas o que aconteceria quando você chegasse lá? – Harry deu alguns passos se aproximando de Michael e Justine percebeu e sabia que Harry também que o inominável se esforçou para não encolher. – Diria que tivemos um confronto e eu o ataquei, o que aconteceria é que você sairia desse caso e me dariam outra pessoa, por que você é substituível, mas só existe um Harry Potter.

Harry deu um pequeno sorriso de lado demonstrando seu desdém.

— Eu sou Justine Vance, sr. Potter. – Ela avançou na direção dele e estendeu a mão para ele que retribuiu o gesto, ambos ignorando o homem gemendo ainda no chão.

— Vance? – Ele reconheceu o nome e uma dor bastante conhecida o invadiu.

Justine viu o brilho esverdeado se tornar opaco, percebeu a visão dele ficar desfocada e engolir em seco.

— Imagino que se lembre da minha irmã, Emmeline.

— Sim. – A voz dele soou distante e ele focou seus olhos na mulher diante de si. Ela e Emmeline eram parecidas de muitas maneiras, seu cabelo escuro, olhos inteligentes, mas lembrava-se que Emmeline parecia sempre estar com um pequeno sorriso nos lábios, algo discreto, como se ela soubesse de uma piada que mais ninguém tivesse conhecimento, enquanto Justine parecia preocupada. – Eu sinto muito, srta. Vance.

— Já faz muito tempo, sr. Potter. Ela morreu fazendo o que acreditava, defendo o nosso mundo.

Lembrava-se da voz afrontosa de Snape, sabia que o professor tinha tido alguma relação na morte de Emmeline e Amélia Bones e por um motivo completamente estúpido sentia como se a culpa fosse sua também.

— Ainda sim eu sinto muito.

Justine sorriu, porque Harry realmente parecia sentir muito a morte de sua irmã, mesmo que soubesse que eles se viram apenas uma vez. Já tinha lido alguns relatórios que enaltecia o quanto Harry Potter sofria pelo complexo de culpa, queria dizer que nada daquilo era culpa dele, que deveria ser o suficiente saber que ele tinha salvado todos eles, mas não era o momento.

— O Ministro quer vê-lo, Sr. Potter. Pediu que o levasse até ele imediatamente.

— Pode me chamar de Harry, srta. Vance. – Ele pediu.

— Então me chame apenas de Justine. – Ela sorriu.

Ele nunca tinha estado naquele nível antes e mesmo perguntando a Justine o que Quim queria a mulher não respondeu, havia um rapaz franzino na antessala que levantou rapidamente e de forma abobalhada quando os viu se aproximar.

— Sr. Potter, srta. Vance, o Ministro pediu para que entrassem assim que chegassem, por favor. – Ele abriu a porta e se afastou o suficiente para que pudessem passar, mas tão perto que Harry se sentiu desconfortável.

— Obrigada, John. – Justine falou ao fechar a porta. – Ele é um grande fã, talvez depois você devesse assinar uma das inúmeras fotos que ele tem sua.

Harry não saberia dizer se ela estava falando a verdade ou brincando, no fim ela piscou um olho e a dúvida continuou. Ele encarou todas as pessoas que estavam no Gabinete, Quim parecia estar observando alguns documentos antes deles chegarem, Hermione e Gui estavam conversando próximos sentados em um sofá que ficava perto da lareira e havia Tobias Gamp, o atual chefe dos Aurores, Harry o detestava profundamente.

— Justine você ficará também. – Quim apontou o lugar onde ela deveria sentar e Harry soube que aquilo não deveria ser bom. – Harry, meu rapaz, como você está?

— Muito bem, sr. Ministro. – Harry foi polido o que fez o Ministro sorrir.

Nenhum deles queria estar ali, isso era facilmente perceptível e o que os tinha levado até aquele momento Harry apostaria suas botas que era a ineficácia dos inomináveis em arrancar algo útil dele.

O silêncio se instaurou durante quase um minuto antes que alguém resolvesse começar a falar e para o desagrado de Harry o voluntário foi Tobias.

— Então Vance, algum progresso? – Ele se sentava como se estivesse em seu escritório e falava como se eles fossem um bando de crianças.

— Não, senhor. – Ela deu um olhar longo para Harry. – Nada que podemos utilizar apareceu ainda.

Ela usou as palavras que Harry usava a cada sessão. O auror deu um sorriso debochado e apoiou os cotovelos no joelho olhando diretamente para Harry.

— Eu li os relatórios, garoto. Vai mentir agora na nossa cara e dizer que não tem nada nessa sua cabecinha aí?

— Como Justine falou, não há nada que possamos usar. – Harry não fraquejou.

— Estamos nisso há meses, meses. O que estamos esperando? O próximo corpo? – Tobias disse ainda olhando para Harry. – Quando você vai parar de mentir e dizer que não conseguiu acessar nenhuma memória de Você-sabe-quem?

— Desculpe, senhor. Acho que houve um equívoco, eu nunca disse que não tinha acesso as lembranças de Tom Riddle, o que eu falei é que não tem nada útil nelas.

Harry sentiu todos pararem, é como se tivessem lançado um feitiço ao redor. Viu o auror querer avançar em cima de si e ser barrado pelo braço forte de Quim.

— Vamos todos nos acalmar. – A voz forte do Ministro se fez presente. – Harry, o que isso quer dizer?

— Eu consegui algumas memórias de Tom, mas nada que podemos utilizar. – Ele tentou ser o mais claro possível.

— Não é você que decide isso, moleque. – O tom de Tobias estava começando a irritá-lo.

— Desculpe, mas sim, sou eu que decido. Não foi para isso que fui chamado? Estou por dentro de todos os casos relacionados até o momento, li todos os relatórios que Hermione me entregou e agora estou vasculhando minha mente em busca das lembranças de um psicopata, buscando algo que possa nos ajudar. As memórias são progressivas, ainda não consigo acessar algo especifico, é como ler um livro, tem que ser uma página por vez.

— Isso já era o esperado. – Justine falou ao seu lado. – Não sabemos também se as memórias terão se perdido com o tempo ou se funciona exatamente como a nossa, no caso Harry só teria acesso a lembranças que foram marcantes para Tom Riddle.

Harry se surpreendeu por ela chama-lo pelo seu verdadeiro nome, quase ninguém o faz.

— Por que você não nos disse nada? – Hermione falou e parecia magoada. – Poderíamos fazer algo para ajudar.

— Você já fez o suficiente, Hermione. Obrigada. – Ele não queria soar tão rancoroso, mas saiu mesmo assim.

— Como especialista, srta. Granger, qualquer meio para ajudar ou facilitar a vinda das memórias pode ser algo maléfico e trazer problemas para Harry. – Justine parecia preocupada com a hipótese levantada.

— Que tipo de problemas? – Gui perguntou.

— Bem, ele pode não ter um controle sobre o que ver e então as memórias de Tom Riddle podem suplantar as memórias dele, só o que Harry saberá é aquilo que o Riddle viveu em seus cinquenta e quatro anos até sua morte.

— E então teremos um novo Lorde das Trevas. – Tobias sorriu debochado. – Digo que deveríamos olhar na cabeça dele e arrancar o que ele tanto quer esconder.

— Se leu os relatórios verá que alguns inomináveis já tentaram isso e falharam. Não acho que Veritasserum terá algum êxito. Você poderia pensar em tortura também, mas acredite eu já consegui me erguer depois de ser cruciado por Voldemort, eu aguento mais do que a maioria.

Todos estremeceram a menção do nome do bruxo das trevas.

— Ninguém fará qualquer uma dessas coisas, Harry. – Quim falou. – Se você acha que ainda não pode nos ajudar então esperaremos.

Harry sorriu para o Ministro, mas foi um gesto vazio, não havia nada em seus olhos.

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— Minha mãe viajou novamente para a América, não entendo a fixação que ela tem pelo lugar, é tão bagunçado e cheio de pessoas sem educação. – Pansy soou desgostosa.

— E seus tios, eles já se acalmaram? – Harry quis parecer interessado, mesmo que apenas parte da sua atenção estivesse naquele almoço.

— Como você deve saber os jornais e revistam tem colocado bastante destaque na nossa amizade, alguns deles até mesmo relatam um possível romance. Algumas pessoas ainda podem torcer o nariz para você, mas ninguém nega que seu nome é o mais importante desse país e ter meu nome vinculado ao seu tornou minha pretensão à presidência mais forte.

Harry sorriu.

— Fico feliz de ser útil. – Ele segurou a mão dela por alguns segundos a mais do que o necessário o que fez com que ela erguesse uma sobrancelha o questionando sobre o movimento.

— Desculpe pelo toque, mas tinha que dar tempo do cara à esquerda fotografar. Amanhã estará em todos os lugares e você vai conseguir o que quer.

Pansy o olhou como se Harry fosse outra pessoa, ele não era o garoto que ela conheceu na escola e também não era o homem que encontrou meses atrás.

— Você está diferente. – Ela falou baixo.

— Isso é tão ruim assim? Modifique sua expressão ou vão achar que estamos com problemas. – Ele sorriu novamente.

Pansy fez o que ele falou e dessa vez ela agarrou a mão dele, ela nunca tinha feito qualquer movimento para tocá-lo, Harry era o sentimentalista afetivo. Pansy era fria e distante.

— Meu pai costumava dizer que tudo que fazemos na vida há um preço e que sempre devemos pensar se estamos dispostos a pagá-lo. O que você está fazendo, o que você está vendo está mudando você aos poucos, mas de forma profunda. Talvez você não perceba, talvez perceba e ignore, eu não sei, Harry. Mas eu sei que você não vai querer se transformar em algo que passou anos detestando.

— E no que eu me transformaria?

— Em mim. Sorrisos falsos e amáveis, palavras sedutoras e que fazem com que as pessoas caiam em cima de você, joguinhos e fingimento. Eu cresci vendo isso, eu aprendi a fazer cada uma dessas coisas.

— Tom encantava todo mundo, era inteligente e sabia exatamente o que falar e quando deveria falar, assim como quando deveria ficar em silêncio. Era mestre em chantagem e medo e não confiava em ninguém. Era desconfiado e sempre mantinha alguns feitiços de monitoramento, só para ter certeza que não estava sendo vigiado. Agora eu sei de mais feitiços do que poderia aprender em Hogwarts, sei fatos históricos, aprendi transfiguração melhor do que Minerva poderia me ensinar em um ano inteiro, poderia agora com um movimento de varinha me transformar em outra pessoa na sua frente ou colocar o veneno certo no seu vinho que você nem saberia que ingeriu.

— As lembranças dele são as suas agora. – Ela sussurrou.

— As boas e as ruins. – Ele apertou a mão dela.

— E como são as ruins? – Ela não queria saber realmente, mas estava ali por Harry.

— Ele não poderia fazer muita coisa em Hogwarts, não com Dumbledore tão perto. Tudo ainda era apenas manipulação, influência e medo. Embora... você conhece alguma Isabela Rosier?

— Famílias puro-sangues costumam repetir nomes como forma de homenagem, mas pelo contexto, sim eu reconheço o nome. Isabela era irmã de Evan Rosier. – A lembrança do nome do marido fez Pansy sentir um calafrio. – Ela se casou com algum Lestrange, ninguém relevante para a história. Isabela provavelmente viveria até o fim de sua vida se não tivesse sido tão tola. Ela atacou Alastor Moody, no meio do Ministério da Magia.

Nenhum dos dois parecia perceber que ainda estavam de mãos dadas. Harry reprimiu o sorriso ao ouvir a história, aquilo parecia um belo absurdo.

— Por que ela faria isso?

— Moody matou o irmão dela, ele era um Comensal e resistiu a prisão. Ela foi mandada para Azkaban por isso onde ficou até morrer. Ela teve alguns filhos, você deve ter cruzado com alguns deles por aí enquanto era caçado pelos Comensais. Por que o interesse?

— Tom a torturou, o irmão dela foi impertinente e ele queria ressaltar um ponto.

— Que ele era um psicopata que deveria ter sido morto enquanto dormia?

— Acho que estava mais para ele era quem mandava e quem desobedecesse sofreria as consequências.

Pansy mudou de assunto sem dar qualquer aviso e pegou Harry de surpresa, adorava aquilo, principalmente nas últimas semanas. Assim não dava tempo dele vestir sua máscara.

— E como estão as coisas entre você e a Granger? Ainda se ignorando?

Ele deu de ombros, não queria realmente trazer aquele assunto. Começou a brincar com os dedos dela.

— Antes eu a conhecia, sabia que não importava o que acontecesse sempre voltaríamos um para o outro. – Ele deu um sorriso triste. – Acho que estamos tão distantes que não conseguimos mais encontrar o caminho de volta.

— Tenho certeza que você pode resolver isso, você é o grande Harry Potter. – Ela fez barulho como se uma plateia estivesse gritando o nome dele, o fez rir por alguns segundos. Falar sobre Hermione sempre trazia uma mágoa para os olhos dele. – Escute alguém que perdeu a pessoa que amava, Harry. Você pode resolver isso, ela está viva, está ao alcance de suas mãos, você pode tê-la, basta querer.

Harry soltou a mão dela e encostou-se à cadeira, ele tinha vestido sua máscara e havia raiva em seus olhos.

— Você não sabe do que está falando.

— Você a ama, se tortura porque o Weasley morreu e posso apostar que ele também sentia algo por ela. Esse seu sentimento não começou agora, ele é antigo, mas você o guardou bem fundo para tentar esquecê-lo, era sua melhor amiga e tinha uma queda pelo seu melhor amigo, se você falasse qualquer coisa era capaz de perdê-los e você não queria mais ficar sozinho.

— Como você...?

— Está tudo aí. – Ela apontou para ele. – Nós só precisamos observar bem, perceber os sinais.

Tudo ficava pior quando ouvia a voz dela dizendo as verdades que ele tentou sufocar por todos aqueles anos. Ele balançou a cabeça e pediu que mudassem de assunto, remoer aquilo não fariam as coisas melhorarem e ele estava cansado de sentir aquela dor no fundo do peito.

— Bem, você disse que precisava de ajuda em algo. – Ela estendeu a mão pedindo para que ele começasse a falar.

Ele ponderou, não sabia como ela reagiria, provavelmente melhor do que Hermione, Gui ou Neville. Se algum deles soubesse era capaz de ser enviado ao Sain’t Mungos.

— Preciso de algo, mas não posso pedir a mais ninguém. Meus amigos e Hermione jamais entenderiam, as pessoas do Ministério podem interpretar isso de forma errada e levantar suspeitas de que as lembranças de Voldemort estão me corrompendo.

— E o que seria?

— Preciso aprender Arte das Trevas. Preciso saber tudo que puder sobre Magia das Trevas.

— O-o que? – Pansy tinha os olhos azuis muito abertos, assim como a boca.

— Não me entenda mal também, não você. Eu não sei com o que estamos lidando, mas aquilo não é algo bom. As lembranças são limitadas e o conhecimento também, mas se Hermione e os outros estão certos sobre tudo isso e eu puder ajudar quero fazer mais do que o suficiente. Tom passa todo o tempo livre lendo sobre Magia das Trevas, aprendendo tudo que consegue absorver, há coisas na minha mente, informações incompletas, coisas que não entendo.

— Harry...

— Eu poderia conseguir livros, mas isso poderia me deixar ainda mais perdido. Eu preciso de alguém com conhecimento, que possa me ensinar. Só você pode me ajudar.

— Isso pode ser muito arriscado, você não acha? Juntar suas lembranças com magia das trevas...?

— Seu medo é que eu me torne ele? – Harry perguntou com a voz sofrida.

— Magia das trevas é viciante, sedutora. Meu medo é que você não saiba lidar com tudo que está acontecendo.

— Pan, quem matou o Evan está a solta, essa pessoa provavelmente está procurando sua próxima vítima. Eu sinto que esse é o caminho, chame de intuição, sexto sentido, minha sorte novamente me levando para o caminho certo, as lembranças de Tom me influenciando, eu não sei. Mas eu sinto isso, sinto que entendendo essa magia eu vou ser capaz de entender o que está acontecendo.

Ele parecia tão sincero, sua voz parecia afetada e seus olhos tinham aquele brilho que ela tinha começado a gostar.

— Eu sinto como se já soubesse o motivo de tudo isso estar acontecendo, é quase como se estivesse na ponta da língua, mas eu não lembro o que é. Está no fundo da minha mente e por mais que eu me force não chego até lá e...

— Okay, okay. – Ela disse derrotada. – Eu tenho a pessoa perfeita para ajuda-lo.

o0o0o0

Ele travou quando eles aparataram em frente aqueles portões, na última vez que tinha ido até lá as coisas não tinham ocorrido da melhor forma possível. Pensou que jamais teria que voltar aquela casa, pensou em voltar, mas Pansy segurou seu braço e o obrigou a andar.

— Você disse que precisava de ajuda.

— Não pensei que você me traria justamente para cá. Duvido que qualquer um nesse lugar queira me ajudar. – Ele soou amargurado.

— Você pode se surpreender, Potter. – Ela sorriu do seu lado. – Desfaça essa cara e não ouse me envergonhar.

A grande porta de madeira abriu antes que eles batessem e Pansy entrou já o conduzindo pelo local como se fizesse isso todos os dias. Estavam em um grande hall, havia portas, diversas portas que deveriam levar para as dezenas de salas que aquele lugar possuía, a escada de mármore negro contrastava com a claridade do ambiente e no topo surgiu uma linda mulher que não poderia estar mais surpresa em vê-los parados no meio de sua casa.

Ela terminou de descer as escadas e Pansy avançou para cumprimenta-la. Ele nunca procurou saber como a vida de seus colegas de Hogwarts continuou depois da escola, sabia sobre aqueles mais próximos de si, como Neville e pensando agora não fazia ideia do que tinha acontecido com Simas e Dino, ou Parvati e Padma. E muito menos se preocupou em saber qual tinha sido o fim de Draco Malfoy, mas vendo a mulher diante de si não poderia imaginar algo muito ruim.

Não havia como descrevê-la com um adjetivo inferior a perfeita. Seus cabelos eram castanhos e seus olhos verdes, mas de um tom mais claro que o seu, algo sutil, como tudo nela soava. Seu rosto era fino e delicado, seu sorriso era terno e passado o choque inicial ela parecia achar divertido tê-lo ali parado feito um idiota.

— Harry, acho que nunca teve a chance de conhecer Astória Malfoy. Tori, este é Harry Potter. – Pansy falou ao seu lado tocando seu braço e o tirando de seu encantamento.


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