Renascer escrita por Luna


Capítulo 1
Pesadelos


Notas iniciais do capítulo

Se alguém chegou até aqui me digam, por favor, o que acharam. Só assim para eu saber se continuo ou não :)
Aproveitem!



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Harry acordou de um pesadelo, estava suado e respirava com dificuldade. Ele pegou os óculos no criado-mudo e botou no rosto para ver as horas, 05:45 da manhã. Mais uma vez ele tinha acordado de madrugada e como sempre se sentia incapaz de voltar a dormir. Levantou e resolveu adiantar o dia, foi tomar um banho gelado para poder despertar devidamente.

Fazia cinco anos que ele tinha abandonado tudo que um dia conheceu, ele quase não falava com as pessoas que um dia conheceu, uma vez ou outra recebia uma carta. Ele tinha pedido espaço e foi isso que recebeu e mesmo se achando egoísta não ligava. Ele tinha dado sua vida para salvar o mundo bruxo, achava que podia ser egoísta.

Vivia de forma simples em uma casa pequena em um vilarejo na Inglaterra, Bibury. Ficava a 50 km de Oxford, a maioria de suas casas datavam do século XVII e isso o encantou. Saber que aquele lugar tinha sobrevivido a guerras deu-lhe uma sensação de conforto, talvez significasse que algo poderia durar além de uma guerra nefasta que lhe arrancara tudo que era importante.

Ele não lembrava muito bem do sonho, ele quase nunca lembrava e agradecia por isso. Mas ele recordava da luz verde e do grito de uma mulher ao seu lado, quase podia sentir o peso dela nos seus braços enquanto a segurava. Por mais que não lembrasse dos sonhos ele sabia o que deveria ter acontecido nesse, pois ele era uma memória, uma das mais tristes que ele carregava. Seu maior fardo.

Ele lembrava como a noite estava fria naquele dia, de Abeforth lhes dando passagem para Hogwarts, dele, Ron e Hermione caminhando ao lado de um Neville machucado e vendo seus companheiros de casa e amigos na Sala Precisa. Da correria que foi para proteger o Castelo do ataque que viria, da sua busca pelo diadema de Rowena, do seu encontro com o Lorde das Trevas.

Ele ainda podia ver a parede explodindo e Fred sumindo na poeira, as aranhas gigantes levando Hagrid, os dementadores vindo em sua direção e ele incapaz de conjurar seu patrono já que tinha perdido qualquer chama de felicidade, lembrou de Luna e de sua força e coragem. Quando se entristecia sempre lembrava de Luna e seus olhos sonhadores, se perguntava como ela estaria depois desse tempo.

Mas havia coisas que ele evitava pensar. Mais especificamente três pessoas, Ron, Hermione e Gina.

O dia já estava amanhecendo, ele enfrentava Voldemort e naquele momento era como se nada mais existisse, nada mais importava. Era por isso que ele tinha voltado, aquele era o momento decisivo, desde que ele tinha apenas um ano aquele momento estava traçado para acontecer e ele viu a varinha vibrar na mão do outro bruxo e a centelha de um sorriso surgiu no rosto dele, a varinha sabia que estava atacando seu próprio mestre. Ela não funcionava bem para ele, ela não lhe pertencia. E no momento final o feitiço da morte ricocheteou e atingiu quem o lançara, Voldemort estava caído no Salão Principal e a guerra acabara.

Quando todos perceberam o que tinha acontecido foram lhe abraçar, lhe congratular por ter vencido o maior bruxo das trevas que existiu. Hermione chegou até ele o abraçando. Ele nem poderia acreditar no que estava acontecendo, tamanha foi a felicidade que ele a rodopiou e com alegria ouviu ela gargalhar perto do seu ouvido.

— Nós vencemos, Harry. Vencemos. – O sorriso dela parecia incapaz de diminuir.

Eles olharam em volta e perceberam que tinha algo errado. A sra. Weasley estava no chão chorando sob o corpo de alguém. Harry negava com a cabeça e por extinto agarrou a mão de Hermione a apertando. Eles não poderiam ter perdido mais ninguém.

Quando a mulher se afastou um pouco eles perceberam quem era o bruxo caído. Hermione soltou a mão de Harry para cobrir a boca e o som que saiu dela era algo que Harry nunca esqueceria. Um grito de dor e desespero. Lágrimas começaram a correr pelo rosto da menina e ela parecia incapaz de decidir se ia até o corpo de Ron Weasley ou se permanecia parada onde estava.

As próximas horas passaram como um borrão para Harry. Ele sabia que em algum momento tinha ido até a sala do diretor e falara com Dumbledore, era um momento que parecia ter sido vivido por outra pessoa. Ele tinha sido levado até a Toca e tinha tido seus ferimentos cuidado por uma chorosa Fleur.

No dia seguinte seria o enterro dos que tinham morrido na guerra, como uma forma de tributo, aqueles que morreram na Batalha de Hogwarts seriam enterrados na escola, em um jardim planejado para isso. Assim, as 15 h, vários familiares e amigos se encontravam novamente na escola. Professora Minerva tinha feito um breve discurso enaltecendo a coragem daqueles que lutaram e dos que morreram e agradeceu o sacrifício que todos fizeram pela paz no mundo bruxo.

Harry viu quando Lupin e Tonks foram enterrados, Fred e Ron foram também em um túmulo próximo. Andrômeda parecia acalentar a Sra. Weasley que não parava de chorar. A sra. Tonks parecia incapaz de chorar mais, ela perdera o marido e a filha e mantinha o neto guardado dentro de uma manta quente, o bebê parecia alheio ao que acontecia ao redor.

As pessoas foram embora aos poucos quando a cerimônia acabou, mas Harry permaneceu sentado no mesmo lugar. Ele encarava o túmulo branco de Dumbledore como se esperasse que o homem surgisse de repente e lhe falasse por enigmas. Próximo ao túmulo do ex-diretor foi colocado o túmulo do Professor Snape.

— Harry? – Ele ouviu a voz de Hermione, mas parecia distante.

Ele ouviu ela chamá-lo de novo, mas só deu atenção quando a menina se ajoelhou na frente dele e pegou seu rosto com as mãos.

— Harry, precisamos ir. – Ela falava com calma, ainda havia o rastro de lágrimas no seu rosto.

Ele apenas assentiu e levantou.

Na semana que se seguiu ele sempre ficava no quarto que antes que de Fred e Jorge, ele não descia para as refeições, mesmo quando Hermione ou a Sra. Weasley vinham chamá-lo. E foi lá que ele tomou a decisão que mudaria tudo. Tudo já estava resolvido em sua cabeça, ele iria ao banco e pegaria o suficiente para se manter nos primeiros meses, depois ele arranjaria uma forma de se sustentar, com um trabalho provavelmente. Mas o que ele sabia, com certeza, é que enlouqueceria se continuasse naquele lugar por mais tempo.

Ele ajeitou suas coisas na bolsa, ele tinha poucas roupas e pertences. Sua varinha estava esquecida dentro da bolsinha de pele de briba que ganhara de Hagrid, junto com o que tinha de mais especial. Ele enviou cartas as pessoas que gostaria de se despedir e sabia que eles viriam, como sempre tinham vindo quando ele precisava.

Naquela noite a Sra. Weasley surgiu na porta do quarto com o cenho franzido dizendo que tinha chegado algumas pessoas e que elas disseram que tinha sido a convite dele. Harry agradeceu e desceu junto com ela.

Luna foi a primeira pessoa que ele cumprimentou, ela o abraçou e disse algo engraçado sobre a barba malfeita que ele estava carregando. Neville veio depois, mais um abraço. Hagrid estava perto da porta, se ele entrasse ocuparia muito espaço, eles se cumprimentaram com um aceno.

— Você disse que precisava de nós, Harry. – Neville falou. – Aconteceu algo?

Harry encarou a todos e torcia para a reação deles não serem tão ruim quanto ele estava imaginando.

— Eu vou embora.

Ele viu as pessoas começarem a se entreolhar.

— Embora? – Gui perguntou.

— Querido, você não precisa ir. Aqui é sua casa também e… – Ele cortou a Sra. Weasley antes que ela continuasse.

— Estou indo embora do mundo bruxo.

Até mesmo Luna parecia assombrada com a decisão. E Harry olhou para a pessoa que mais lhe importava naquele momento, Hermione. Ela se mantinha seria, mas seus olhos estavam úmidos pelas lágrimas não derramadas.

— Você enlouqueceu? – Gina falou exasperada. – Você não pode ir embora. Você é Harry Potter.

Aquela afirmação pareceu tornar a decisão de Harry mais certa.

— Filha. – Sr. Weasley disse a parando com a mão. –Harry, você tem certeza disso?

— Sim. – Harry tentava conter as lágrimas. – Eu não posso continuar aqui. Não posso ser o que quer que eles esperam que eu me torne. Eu fiz o que eu tinha que fazer. Eu lutei, perdi e venci. Eu acabei aqui.

Fleur foi a primeira a vir abraçá-lo, ela já chorava.

— Você está sendo um covarde. – Gina gritou.

— Sim, talvez. – Harry falou se afastando de Fleur. – Mas eu já fui corajoso por muito tempo. Acho que ser covarde agora não terá problemas.

Gina saiu furiosa da sala batendo a porta da casa com força. Molly veio até ele e lhe deu um abraço apertado falando que respeitaria qualquer decisão que ele tomasse, mas já chorava efusivamente, depois dela os outros vieram e todos falaram palavras de força e incentivo. Todos pareciam entender a decisão que ele tomara. No fim a última pessoa que faltava vir em sua direção era Hermione, mas ela continuava parada no mesmo lugar.

— Podemos conversar? – Hermione perguntou e depois dele assentir ela subiu as escadas com ele lhe seguindo.

Ela entrou no quarto que ele estava ocupando e colocou o feitiço que impediria os outros de ouvir.

— Você está indo embora. – Ela disse.

— Você poderia vir comigo. – Harry falou, mesmo que já soubesse a resposta.

— Voltarei para Hogwarts quando ela for reconstruída, depois irei para o Ministério e ajudarei a reconstruir o mundo que ajudamos a salvar. – Hermione falava com determinação e uma ponta de amargura.

— Herms… – Harry suplicou. – Por favor, diga que não me odeia.

— Você está nos abandonando.

— Eu perdi muito.

— EU TAMBÉM! – Ela gritou. – Eu também perdi.

— Não. – Ele falou contendo as lágrimas. – Eu perdi muito, Hermione. Meus pais, Sirius, Dumbledore, Ron, Lupin… Eu perdi muito.

Ela não o encarava mais.

— Ele querem o salvador do mundo bruxo e eu não posso ser isso. Eu não quero ser.

— Então você vai fugir. – Ela falou.

— Eu passei todos esses anos correndo em direção ao perigo e desafios. Que mal há em correr na direção contrária agora? – Ele deu de ombros. – Eu vou embora.

Harry apontou para a bolsa jogada ao pé da cama.

Aquele momento seria um de seus muitos pesadelos. Quando Hermione baixaria os olhos para ver a bolsa e o olhava com amargura. Em seus pesadelos ele tentaria alcançar a lágrima solitária que escorreu no rosto dela e tentaria segurá-la quando ela lhe desse as costas e saísse pela porta sem lhe dizer nada. Nos pesadelos ele gritava por ela, mas nenhum som saia e ele nunca mais a veria. Algumas vezes ele só recebia uma carta dizendo que Hermione morrera o odiando e ele acordava suado e assustado.

Fazia cinco anos que ele se afastara de todos. Cinco anos que ele era apenas Harry, mas tudo mudaria com o som da campainha que tocaria dentre alguns minutos.


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