Nicto [CcL 17] escrita por Lady Lanai Carano


Capítulo 1
Nyctus, do grego "escuridão" - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

E aí gente?
Espero que gostem de mais uma história para o Café com Letra. Eu juro que um dia vou postar alguma coisa que não seja do CcL, mas por hora vai ser isso ^^
Beijos de Mel ^^



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— Boa noite, meu amor – mamãe fala da porta, com um sorriso gentil e tranquilizador no rosto. A luz cálida do corredor ilumina fracamente o meu quarto, mas é o suficiente para enxergar tudo perfeitamente.

— Boa noite, mamãe. – Aconchego-me nas cobertas, sentindo a maciez familiar do travesseiro debaixo da minha cabeça e o conforto do antigo colchão que rangia baixinho a cada movimento. Eu não me importo. Tudo na casa era velho, mas eu não sentiria aquele aconchego em nenhum outro lugar.

Mamãe deixa a porta entreaberta, permitindo que um feixe de luz do corredor penetrasse no quarto. Olho ao redor. A escrivaninha simples encostada na parede, a estante abarrotada de livros à esquerda, a janela com as persianas fechadas à direita, e uma cômoda cheia de roupas e quinquilharias em um canto.

Um quarto comum – e familiar. Tudo está como deveria estar.

A chuva ruge lá fora. Tempestades eram comuns naquela área do país, por isso todas as casas possuíam fundações resistentes. Desde que a chuva não entrasse na nossa casa, tudo estaria bem. Fecho os olhos para dormir...

Clang. Alguma coisa cai do lado de fora, lá longe, na rua. Abro os olhos e eu vejo... nada.

A escuridão súbita me sufoca. Meu coração acelera, e a minha mente começa a passar todo o tipo de cena já existente em filmes de terror. Uma mão pútrida e esquelética, com a pele em um tom doentio de verde e unhas rachadas e sujas, sai debaixo da minha cama deslizando silenciosamente até os meus pés...

Agarro as cobertas e tento pensar racionalmente. Um poste deve ter caído lá fora, com a força da tempestade, o que cortou a energia da casa. A mão é fruto da minha imaginação. É isso. Simples.

Viro de bruços na cama, arfando. Não é nada simples.

O suor frio brota por todo o meu corpo. O calor se torna insuportável. A chuva lá fora já não é tão aconchegante. Tremendo, arregalo os olhos e tento captar qualquer sinal de luz, mas não há nenhum. Eu estou no mais completo escuro.

Começo a chorar copiosamente, baixinho. Não quero acordar a mamãe. Ela já estava aborrecida comigo, por não conseguir dormir sem uma luz acesa mesmo na minha idade, imagino que ficaria possessa se eu a acordasse com o meu choro. Seria humilhante.

Minha respiração está acelerada, e eu sinto ondas de náuseas. Eu não consigo ver nada, não consigo enxergar o meu quarto, o meu porto seguro. Agora, ele é só um espaço vazio e desconhecido. A escuridão fez com que as paredes se aproximassem e me sufocassem.

Tão rápida quanto começou, a chuva para. Por um breve instante, sinto alívio; o barulho da tempestade estava me dando calafrios. Mas aquele momento fugaz se esvai na hora. A água acumulada na calha começa a pingar em intervalos irregulares do lado de fora da casa, fazendo soar como passos.

Me enfio debaixo das cobertas, sentindo as lágrimas quentes e o suor salgado empaparem o meu pijama. Lembre-se do que mamãe dizia quando você tinha esses ataques quando criança, penso. Quando está escuro, só quer dizer que não tem luz. As coisas são exatamente as mesmas, você só não pode enxerga-las.

Não são as mesmas. Não são. Não consigo ver nada. Minha visão se foi. Encolho, sentindo o desespero tomar conta de cada célula do meu corpo. Eu nunca vou enxergar novamente.

Ofego, tentando puxar um pouco de ar para os meus pulmões, tentando oxigenar meu cérebro e me fazer pensar com clareza. Mas eu não consigo mais respirar. O meu nariz entope por causa do choro, minha garganta dói. Não quero mais aquilo. Quero sair logo desse pesadelo.

O tique-taque do relógio na cabeceira da cama e as gotas ocasionais de chuva no lado de fora eram os únicos sons, além do zumbido no meu ouvido. Tremo da cabeça aos pés.

Sem conseguir me controlar, uma sensação quente e úmida se espalha pelas minhas pernas. O cheiro de urina, suor e adrenalina; tudo se propagava naquela escuridão sufocante. Arranho os meus braços, deixando sulcos profundos na minha pele. Eu não vejo nada. Nada.

Minha consciência começa a deixar o meu corpo, e sinto que vou desmaiar por falta de oxigenação. Soluço e me encolho ainda mais. Eu vou morrer. Eu vou morrer. Eu vou morrer...

Uma luz surge do corredor. Mamãe está segurando uma vela, o fogo lançando brilho por todo o quarto. Consigo ver a mobília, posicionada perfeitamente onde estava antes. O quarto me era familiar novamente.

Mamãe olha para o meu estado deprimente com reprovação. O alívio percorre cada centímetro do meu corpo. Foram apenas alguns minutos no escuro, mas me pareceram horas. Sorrio para mamãe. Pontos pretos surgem em minha visão, e eu desmaio, minha mente me tragando outra vez para a desesperadora escuridão.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?
Não sou muito boa com horror psicológico. É realmente difícil retratar a sensação de uma fobia, espero ter feito um trabalho razoável.
Beijos de Mel ^^