Lily Evans não conseguia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Já fazia mais ou menos uma semana e mesmo assim a dor não parecia dar sinais de que iria embora ou até mesmo diminuir. Tinha sido uma semana definitivamente ruim.

Snape a seguindo pelos corredores tentando em vão se desculpar. Ela não conseguia entender. Em que momento ele havia se tornado aquela pessoa? Como ela não percebeu? O que, de fato, havia acontecido?

Lily não conseguia dormir, sempre que dormia tinha pesadelos e quando acordada as palavras ditas por ele rodavam sua mente. Uma memória nem tão distante, porém muito dolorosa.

“Eu não preciso da ajuda de uma sangue-ruim imunda como você.”

Como ela tinha chegado a esse ponto? Não dormia, comia pouco e durante as aulas ficava avoada por não conseguir pensar em nada que não o acontecimento. Por um tempo culpou os Marotos, até perceber que a culpa era somente dela.

Ela não havia percebido o que seu amigo estava se tornando, apesar de todos os sinais. Ela preferia fingir não ver que ele agora andava com o grupo de futuros Comensais da Morte. Ela não fez nada para mudar a situação. Somente ela.

E quando a percepção disso chegou a si, pareceu ficar mil vezes pior. A culpa era dela. Ela que é uma sangue-ruim imunda, e nunca conseguiria deixar de ser. Finalmente, como não havia se permitido fazer a uma semana, ela chorou. A culpada era ela, afinal.

Foi desse jeito que James Potter a encontrou na Torre de Astronomia. Mais magra que o normal, com olheiras profundas e chorando. Aquilo partiu seu coração. Seu lírio não devia sofrer daquela maneira, não era justo. A ruiva era uma pessoa tão boa, não merecia sofrer por culpa de um Ranhoso como Snape. Ela não devia sofrer por ninguém.

Claro que ele havia percebido que a Evans não estava bem. Ele sempre percebia. O problema era que ela não deixava ele se aproximar, não o deixava ajudar. Por isso James estava dando para ela um tempo. Porém, aquela cena o fez perceber que se ninguém interferisse, ela ficaria cada vez pior.

Então, depois de tomar uma decisão, ele se aproximou e a puxou para seus braços com um tanto de medo de ser rejeitado, mas ele não foi. A ruiva se agarrou a ele como se ele fosse seu porto seguro e desabou mais ainda enquanto murmurava algo que não conseguia entender e quando conseguiu preferia não tê-lo feito.

Lily Evans estava totalmente quebrada, havia sido traída da pior maneira possível. Ela poderia odiar Snape com todas as suas forças, poderia desprezá-lo, mas não. Lily se culpava. E enquanto James a abraçava tentando fazer com que se acalmasse, ela repetia:

“É culpa minha, é tudo culpa minha... Se eu não fosse uma sangue-ruim talvez... Se eu ao menos tivesse percebido... Ah! Eu fui uma péssima amiga...” Eram algumas das frases que o Maroto entendia por entre os soluços da ruiva. E naquele momento, James Potter odiou Severus Snape como nunca antes.

“Ei, Evans, olha para mim. A culpa não é sua, você é a vítima. Ele que foi um idiota preconceituoso. Você ser ou não nascida trouxa, não vai importar para quem realmente gosta de você.” Ele a olhava nos olhos com carinho enquanto acariciava sua face, limpando suas lágrimas que lentamente voltavam a cair.

“Mas se eu tivesse percebido... Se eu tivesse feito alguma coisa...” A ruiva olhava desesperadamente para o Potter.

“Não teria mudado nada, às vezes as pessoas simplesmente não valem a pena. Você não pode mudar uma pessoa a força, por mais que você queira.” A garota voltou a abraçar James até se acalmar totalmente enquanto ele acariciava seus cabelos, sem se importar nem um pouco se sua camisa iria ficar molhada.

A única coisa que importava para ele era que ela ficasse bem. Queria poder sugar a dor dela. Queria poder fazer qualquer coisa para ajuda-la, mas estava impotente, portanto somente se limitou a consolá-la e a fazê-la entender que a culpa de nada daquilo era dela.

Depois da ruiva se acalmar, eles ainda ficaram ali durante um tempo. E em algum momento ele percebeu que ela tinha caído no sono. Levantou-se e pegou-a no colo. Não queria fazer um feitiço de levitação, preferia senti-la perto de si.

Chegou ao Salão Comunal da Grifinória e, usando um de seus truques marotos, liberou a escada para o dormitório feminino. Levou a ruiva até sua cama e a deitou calmamente, com muito de sua determinação estava se afastando quando Lily o segurou e puxou para perto olhando em seus olhos e dizendo.

“Obrigada James. Você não é nada como o Snape.” Ela o beijou no rosto e voltou a dormir. Ele ficou estático por um momento e logo começou a sorrir como um idiota. Foi a primeira vez que ela havia o chamado de James e ele esperava que não fosse a última, pois saindo de seus lábios seu nome soava muito melhor.

No dia seguinte, Snape misteriosamente amanheceu com o cabelo rosa, e ficou daquele jeito por um mês. Lily apenas sorriu. Talvez James Potter não fosse tão ruim assim...