Les Marcheé escrita por Marurishi


Capítulo 5
Ida para a capital




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Com a ida para a capital Imperah, uma nova vida aguardava os gêmeos. Suas emoções e pensamentos divergiam em alguns pontos. Khei era animada e sentia-se realizando um sonho com a oportunidade de viver na capital. Já Codhe não compartilhava dessa empolgação, pois nunca tivera vontade de morar em Imperah; o tempo todo pensava em Loren.

Mesmo que a moça não demonstrasse interesse nele, pensava que logo agora que tinha a magia poderia usar a seu favor para, finalmente, ganhar o coração dela e, quem sabe, até compartilhar a mágica.

Ainda faltava algum tempo para que pudessem fazer parte da corte, isso se o Coirlem os aceitasse; antes teriam que concluir seus estudos e demonstrar seu valor. No entanto, para Codhe e Khei cujos títulos eram todos por méritos, seria um caminho quase certo, de aprimoramento para seus corpos e mentes, principalmente, sua magia.

Depois de alguns meses em Imperah, já eram uma promessa de grande futuro para a nobreza, pois Codhe demonstrava um talento quase nato para o domínio dos seus poderes, enquanto Khei era mais lenta, porém, notável.

Codhe impressionava até os mais experientes. O fogo mágico parecia sempre ter feito parte de si, estava em toda a sua essência: havia fogo no brilho dos seus olhos, na sua personalidade, no seu temperamento, principalmente, no seu coração; que se incendiava toda vez que pensava em Loren.

Sentia a saudade lhe queimar, o sentimento ficava cada dia mais intenso, alimentado pela distância e agora, mais do que antes, se sentia tolo por nunca ter se declarado abertamente para ela. Percebia que tinha agido, até pouco tempo, como uma criança boba e envergonhada, somente quando encontrou a magia foi que o mundo parece ter lhe revelado como agir corretamente.

Mas agora, de certa forma, era tarde.

Não sabia quando voltaria a vê-la e quem sabe, ela nem quisesse vê-lo. Sua esperança era que Loren também viesse para Imperah. Poderiam se reencontrar, ficarem juntos e tudo voltaria a ser como antes, naqueles tempos em que eram todos amigos.

Codhe, mudou em muitas coisas desde que chegou na capital. Tingiu seus cabelos de um vermelho escuro e passou a trajar-se somente de preto, porque seus dias eram negros sem o brilho de Loren. Começou a colecionar armas, pois achava lindo o brilho do metal quando exposto ao fogo. Também colecionava frascos de cristais coloridos, pretendia enchê-los de perfumes e essências para presentear Loren, como se fossem poções mágicas. Muito do que fazia era pensando nela.

Da última vez que a viu, dormindo tão profundamente, não foi capaz de acordá-la para sequer dizer adeus. Isso o chateava e intrigava, mas seu humor ainda era caloroso e fez alguns amigos, alimentava gatos na rua e comprava tortas decoradas para dividir com a irmã. Recebia olhares e sorriso das moças, e por onde quer que estivesse, era sempre bem visto.

Um dos lugares que Codhe mais amava em Imperah era a Biblioteca Imperial. Logo que foi alfabetizado, começou a ler todos os livros da biblioteca de sua casa. Na escola, era um leitor assíduo, principalmente, de livros de poesia, mitos, guerras e história sobre o passado do seu reino. Mas os livros dali eram diferentes, havia magia neles, o conhecimento adquirido através de estudos e leituras o tornava mais sábio e admirável.

Pensou em Shaido, em como agiu mal com o amigo rompendo a amizade de forma grosseira por causa de Loren, no fim das contas, não adiantou de nada, somente o fez perder o amigo. Quem poderia saber o quanto Shaido também havia se magoado com aquilo?

Ele sabia exatamente onde Shaido estava, pois o amigo era bem popular na capital, sendo mais velho, já havia sido aceito no Coirlem com louvor. A fama de Shaido se espalhava por todo o império, seu poder era notório assim como o sucesso entre as mulheres, que corriam atrás dele ensandecidas.

Era sabido que muitas queriam ter um relacionamento sério com Shaido, enquanto algumas queriam um relacionamento de qualquer tipo, mas ele não mudou seus pensamentos a esse respeito desde a época da adolescência. Continuava o tipo que prioriza qualquer coisa, menos relacionamentos afetivos; Codhe ria quando ouvia alguma história sobre esses fatos. Sentia vontade de reencontrar o amigo, tantas coisas que gostaria de conversar.

Quando Shaido apresentou-se ao Coirlem; como mandava a tradição, foi reconhecido e nomeado Lorde, não apenas pelos seus títulos de herança, que louvavam o nome de sua família desde tempos remotos, mas também, os muitos títulos conquistados por mérito desde muito jovem; logo tornou-se o centro das atenções. Sua mente havia mudado para algumas coisas, como seus objetivos e sonhos com respeito à magia. Agora, convicção e sabedoria eram suas principais características e o treinamento intensivo de corpo e mente despertou seu poder de forma poderosa e impressionante.

Aliou seu canto à magia e foi admirável. Tornou-se mestre em domínio profundo de encantamento e seus atributos só aumentavam. Não era egoísta; compartilhava com todos a sua volta, inspirando, fortalecendo, motivando, confortando e curando. No passar dos dias, em honra aos seus méritos, recebeu uma cadeira no Coirlem e como símbolo de seu alto status também lhe ofereceram uma arma bélica mágica : um cajado feito de ouro nobre, cravejado de pedras preciosas que cintilavam alimentadas pela magia de Shaido; Enarah, foi como ele o chamou, seguindo a tradição de dar nomes às armas.

O tempo passou e o nome de Shaido se espalhou pelos reinos e a notícia chegou em Boandis, no litoral, onde a cidade se orgulhava de seu futuro governador.

 

 

No entardecer do dia em que os gêmeos partiram para Imperah, Loren abriu os olhos. Com um suspiro longo e aliviado, fitou o teto do seu quarto como se fosse a primeira vez que o visse. Sorriu um riso diferente, desprovido de cansaço, dúvidas ou medo.

Levantou-se e foi até o atelier, onde encontrou sua família trabalhando igual todos os dias, porém, algo havia mudado. Loren se sentia diferente e quando viu o sorriso feliz no rosto de seus familiares, que correram para abraçá-la, sabia que eles a amavam e estavam, de fato, felizes com seu despertar.

Sua sobrinha Malessa, filha de sua irmã mais velha, era pouco mais nova que si, estava a par de toda a situação que acontecera entre ela e Codhe. Não era o tipo que se intrometeria, pois mesmo sendo pouca a diferença de idade, ainda havia uma diferença ali e o respeito era primordial, mas quando abraçou a tia, sentiu uma vontade enorme de lhe contar sobre Codhe, sobre a partida para Imperah e o quanto ele havia se empenhado em acordá-la, inclusive, com calorosos beijos.

Não foi necessário, assim que abraçou a sobrinha, Loren soube de tudo o que aconteceu. Sabia de tudo como se nunca tivesse dormido, até pode ouvir as palavras que foram ditas e sentir os beijos de Codhe. Fechou os olhos, aproveitando aquela sensação; sorriu contente.

Loren nunca gostou de trabalhar no atelier, sempre que podia escapava do serviço para fazer suas experiências, mas naquele dia foi diferente. Dirigiu-se as meadas de lã, começou a separá-las por cores, enrolando em novelos para agilizar o trabalho dos tecelões. A partir daquele dia, ninguém mais precisou ensinar, explicar, contar qualquer coisa que fosse à Loren, ela simplesmente olhava nos olhos e dizia "eu já sei".

Não saíra mais para fazer experiências, não precisava mais disso. Pegou todos os seus livros com seus rascunhos e anotações desde sua infância, e reconheceu tudo o que havia feito de errado até o momento. Passou a reescrevê-los, agora da maneira correta, fazia em silêncio, sempre com um sorriso enigmático. Para aqueles que liam sua escrita, não passava de palavras soltas, ou receitas de bolos, chás e xaropes, mas ela sabia que eram encantamentos e poções. Havia acordado para o mundo e para a magia de uma forma diferente.

Não houve labaredas de fogo envolvendo-a, nem raios de luz descendo do céu. Loren apenas olhava nos olhos das pessoas e via seus corações, sabia das suas histórias, o que estava errado com elas, algo que elas queriam lhe contar, o tipo de ajuda que buscavam e tinha conhecimento de como proceder. Havia um encantamento, uma poção, uma mágica para todo caso, cada um diferente do outro e ela conseguia saber qual era o correto. Tudo graças as suas experiências que deram todas erradas, mas depois do despertar, conseguia saber como consertar cada uma delas e fazer serem certas.

Logo, Loren soube como encontrar as muitas pessoas que sofriam, fosse com uma enfermidade, problemas de discórdia na família, coração partido, maldição pendente; Loren via uma aura de cor opaca sobre os ombros dessas pessoas e quando as olhava nos olhos, via refletir na pupila o mal que as afligia e se oferecia gratuitamente para ajudá-las.

Foi assim que Loren Macrin, em poucos meses, ficou conhecida e famosa, e por sua mágica ser completamente diferente do que o povo estava acostumado, foi chamada de bruxa. Não foi tanta surpresa ou ofensa para a família Macrin, que sabia das raízes antigas, mas deixou o Sr. Macrin chateado e preocupado, afinal, bruxas nunca foram bem vistas no império.

No entanto, Loren se empenhou em demonstrar seu valor unicamente em auxílio dos necessitados, empregando sua magia para ajudar e confortar de forma gratuita e benevolente. O próprio governador, Lorde Levi, vendo seu potencial e poder, a intitulou lady e deu-lhe uma cadeira em seu ministério. Eram tantas as pessoas que tinham problemas e necessitavam de ajuda que sua fama se estendia. Decidiu que mudaria seu nome, pois a velha Loren havia adormecido para sempre, e agora, ali estava uma nova pessoa, que passou a se chamar somente Lady Mclin.

Com o passar dos meses, essas notícias chegaram até Imperah, onde no Coirlem, foi mencionado o nome Mclin, a lady que via o mal no coração alheio e com sua sabedoria e magia, o curava. Lorde Shaido ficou interessado, enviou-lhe em nome do Coirlem uma carta convidando-a para visitar Imperah, mas ela não desejava ir, estava muito ocupada com seu labor e satisfeita com o que tinha, não queria muito além do que já possuía.

Ainda pensava em Shaido, e talvez, ali fosse a oportunidade de se aproximar do seu coração; isso a fez ponderar a ideia de ir até a capital. Também lembrou-se de Codhe, agora que sabia o quanto ele a amava, se sentia constrangida em encontrá-lo novamente. Preferiu deixar o convite sem resposta até pensar em uma solução.

O mais estranho do seu poder era que conseguia ver, saber e curar todo e qualquer problema das outras pessoas, mas quando se referia a si mesma, seus poderes não faziam nenhum efeito.

Depois de algum tempo, Lady Mclin não precisava ir até os necessitados, as pessoas que iam até ela. A Vila Menor onde morava, afastada do centro, tinha em sua maioria casas feitas de pedra, perto umas das outras. Eram rústicas e espaçosas, onde a casa dos Macrins, por ser também um atelier, era a maior de todas e ainda mais afastada. Ela atendia a todos e não cobrava nada pela sua ajuda, ainda sim, lhe pagavam com o que tinham: moedas, jóias, perfumes, tecidos bordados, o que tivessem de melhor ou mais bonito ofereciam em agradecimento por soluções de sofrimentos. Por isso, as posses de Lady Mclin estavam aumentando e acumulando riquezas.

Aplicou seus ganhos para ampliação da casa e atelier, melhor conforto para sua família, sem deixar de investir um pouco em si, sem extravagâncias.

 

 

Em Imperah, Lorde Shaido se sentia ofendido em ter sido ignorado por Lady Mclin, afinal, lhe convidara a visitar a capital e jamais obteve uma resposta. Soava-lhe como uma desfeita.

Mais alguns meses se passaram e decidiu tirar alguns dias para ir até Boandis conhecer pessoalmente a dama em questão. Conhecera muitas pessoas interessantes em Imperah, muitas lhe chamavam a atenção por diferentes características, nunca nenhuma lhe ousou contrariar ou recusar qualquer que fosse sua proposta, por isso, ficou obcecado em saber mais sobre Lady Mclin. O que ela tinha de tão diferente que o ignorou?

Lorde Shaido havia se tornando arrogante e orgulhoso, já não aceitava que lhe tratassem de outra forma, se não com louvor. Era certo que sua posição lhe dava dignidade para isso, todos concordavam que ele era merecedor, mas em seu íntimo, se satisfazia mais com elogios do que quando elogiava. E de fato, poucas vezes encontrava alguém que lhe fosse melhor, maior em poder ou mais atraente. Até o dia em que precisou ir na Biblioteca Imperial no período da noite, diferente do seu costume que era ir durante o dia.


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Notas finais do capítulo

Muuuuito grata por lerem!!



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