Les Marcheé escrita por Marurishi


Capítulo 27
Em Boandis




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Em Boandis, no Castelo de Bherto, os dias foram passando de forma amena e cada vez mais Lady Mclin era convencida dos sentimentos de Lorde Codhe. Os ânimos estavam melhores e os encontros e diálogos entre eles fluía de forma natural e tranquila.

Era uma manhã ensolarada quando Lorde Codhe convidou-a para um passeio no jardim, o qual havia construído especialmente para ela, cujas flores tinham um aroma inebriante e seu vermelho era tão intenso e brilhante que pareciam arderem em chamas.

— Que espantoso! — Mclin arregalou os olhos assim que avistou a infinidade de rosas e outras flores que adornavam o jardim. — É maravilhoso, sinto meus olhos arderem com tamanha beleza!

— Combina com você, Loren.

— Faz um bom tempo que ninguém me chama por esse nome — corou e, ainda encantada, deixou que Lorde Codhe a guiasse até um pesado banco de metal, ricamente ornamentado, na lateral do jardim, onde sentaram-se despretensiosamente.

— Sabe Codhe — continuou —, esse jardim não combina com seu castelo, nem com você. Aqui está um pedaço cheio de delicadeza, amor e sensibilidade que não condiz com as cores e formas do interior do castelo.

— Devo queimar tudo e plantar apenas dionéias? — disse divertido.

— Que bobo! — riu descontraída. — Talvez, devesse mudar algumas coisas. Disse que adotou o negro por minha ausência, mas agora estou aqui e seria justo vê-lo usando outra cor que não fosse o preto.

— E até quando estará aqui? — falou sério encarando-a. — Como posso ter certeza que ficará aqui comigo por vontade própria e não voltará para Shaido assim que sentir saudades?

— Quando você se tornou tão direto e insensível?

— No dia em que percebi sobre minha forma tola de viver, resignado e esperando por milagres.

— Sinceramente, não pretendo ir procurar por Shaido — disse em tom rancoroso. — Já faz semanas que você me salvou daquele casamento absurdo e ele ainda não se manifestou. Aliás, ninguém, além de você, parece se importar ou sentir minha falta.

Era notória a mágoa que Mclin sentia, não apenas pela falta de consideração do seu noivo, que antes de tudo, era seu amigo, mas também por todos aqueles que havia ajudado durante tantos anos, com seu poder de cura e poções. Esperava que, no mínimo, houvesse alguma comoção por parte do povo para resgatá-la ou exigir alguma explicação às portas de Bherto, mas nada disso aconteceu. Era como se ela nunca tivesse existido.

— Khei esteve aqui alguns dias atrás — falou notando-a cabisbaixa e pensativa.

— E você não me avisou? — se sobressaltou e o encarou indignada. — Eu queria vê-la. Por que não me disse? — uma luz de esperança brilhou no seu coração, pelo menos Khei ainda se preocupava com ela.

— Você ainda estava abalada e achei melhor evitar maiores aborrecimentos. Khei estava um pouco... nervosa — falou entre os dentes, lembrando de todo o transtorno que causou com o dragão.

— Não era pra menos — abriu um sorriso amargo devido os pensamentos. — O que você fez foi heroico para mim, mas para os demais, foi uma ofensa sem tamanho — fez uma longa pausa e olhou além do grande jardim de flores vermelhas como o fogo.

— Foi heroico para você e isso me basta — aproximou-se e tomou-a pela mão, depositando um beijo caloroso.

Lady Mclin sentiu seu coração bater mais forte com a aproximação. Aquele poderoso homem diante de si parecia ser o único que realmente a amava e se importava.

— Nem mesmo minha família veio buscar notícias minhas — uma ruga formou-se em sua testa. — Talvez, tenha sido um ato heróico para todos, no qual você livrou Boandis de uma bruxa indesejada!

Aquele seria o momento de revelar à Loren que houve comoção para resgatá-la da parte de muitos, mas que ele impediu qualquer um de se aproximar de suas terras. Sentiu uma fisgada no peito que lhe alertava sobre ter sido um erro, pois ela pensava que ninguém se importava, quando na verdade, todos haviam sido rechaçados por ele.

Seria tão simples dizer-lhe a verdade, contudo, agora que tinha conquistado o afeto não queria perdê-lo. Estava sendo egoísta, sabia disso e não conseguia evitar.

— Muitas coisas estão mudando em mim nos últimos dias — ela disse dirigindo a ele um olhar doce e grato. — Me sinto um pouco perdida pela rapidez das mudanças, mas estou começando a sentir um pouco de paz.

Aquilo foi suficiente para Lorde Codhe decidir manter o silêncio sobre as tentativas de resgate. Se ela estava começando a ter paz, quem sabe nada daquilo importasse o bastante e não fosse um erro tão grave ocultar-lhe o ocorrido.

— Eu a trouxe aqui justamente para isso — sorriu. — Irei ajudá-la a se encontrar.

Com a ponta dos dedos, ele delineou uma trajetória por toda a extensão do braço até chegar ao ombro. A sensação fez Loren se arrepiar e falar em tom baixo:

— Ou irá fazer com que eu me perca em outros aspectos.

Falou referindo às novas descobertas de sentimentos e desejos que ele despertara nela. As investidas mais ousada que ele vinha demonstrando, nunca eram recusadas, pelo contrário, eram cada vez mais desejadas.

— Seu lugar é ao meu lado... — aproximou-se com os lábios tocando levemente na orelha dela e sussurrou — ficaremos juntos, para sempre.

Ela fechou os olhos arrepiando-se, rendendo-se aquelas carícias tão bem-vindas. Codhe estava sendo cuidadoso para não deixá-la desconfortável, mas demonstrava o desejo que nutria. Ela por sua vez, no íntimo, desejava que ele agisse com menos cautela.

Ele, vendo que não havia nenhum sinal de rejeição, puxou-a para si beijando-a com vontade e calor. Ela havia dito, há poucos instantes, o quanto ele se tornara direto e insensível. Talvez, fosse exatamente assim que as circunstâncias exigiam.

Por muitos anos ele vivera sendo ponderado, temendo ser ofensivo, isso lhe trouxera distanciamento e aborrecimentos. Agora era o momento certo para testar se sua nova forma de ser e agir conquistaria Loren de uma vez por todas.

Segurou-a pela cintura puxando-a para si enquanto a outra mão fazia leve pressão na nuca, aprofundando o beijo. Sentiu-a se entregando, o corpo dando indícios dos desejos velados que existiam nela, correspondendo em um beijo quente e sensual.

Surpreendeu-se quando sentiu delicados braços envolvendo-o num abraço espontâneo, unindo mais ambos os corpos.

Para Codhe a atitude dela era inesperada, houve uma certa surpresa ao sentir o corpo dela friccionando contra o seu, entretanto, não tinha a intenção de reclamar. Ele deixou suas mãos deslizarem e explorarem as curvas dela.

Talvez, se ambos não tivessem sentindo uma aproximação agitada e nervosa dos servos do castelo, teriam ido mais longe. Porém, a contragosto, foram obrigados a se recompor rapidamente para verificar o que era aquela movimentação.

 

 

No salão de espera, estava um mensageiro Imperial. Trajado de negro, com uma longa capa e capuz que escondia seu rosto, prostrou-se diante de Lorde Codhe quando este entrou no salão e, sem demora, anunciou seu objetivo.

— Venho de Imperah, sob ordem direta da Imperatriz, Lady Beriune Monslynzeth de Les Marcheé. Ela ordena que Lorde Codhe apresente-se imediatamente no Castelo de Bellephorte, para julgamento de seu coração e suas ações em Boandis.

Lorde Codhe suspirou pesadamente e estreitou os olhos. No fundo, sabia que suas ações não passariam despercebidas pelos Imperadores, mas não havia arrependimentos e enfrentaria assumindo as consequências. Ele conhecia e confiava no seu coração; como também, na justiça Imperial.

Lady Mclin, que esperou mais afastada, sentiu seu coração saltar-lhe pela boca. Tinha real conhecimento do erro feito ao sequestra-la e a possível guerra que desencadearia devido a isso. Temia por Lorde Codhe, agora que descobrira o sentimento afetuoso e ardente que sentia por ele, não desejava que ele fosse punido por um ato como aquele, considerado por ela, heroico e salvador.

Lady Mclin procurou ver o futuro, tentou sondar a mente daquele mensageiro em busca de maior conhecimento. Mas era apenas um mensageiro e nada sabia além do que lhe foi ordenado anunciar. Elevou sua mente mais adiante, em busca de algo maior diretamente em Imperah, porém, era inútil, pois sua visão não podia alcançar tão longe assim, menos ainda, os planos dos Imperadores.

Correu até Lorde Codhe, o abraçando e voltando sua mente para o futuro dele. Olhou-o nos olhos e viu que não havia medo nem arrependimento. Ali estava mais um motivo para crescer seu amor pelo homem que estava diante de si. Ela o admirou ainda mais e ficou tranquila, porque soube que o que quer que acontecesse, ele enfrentaria virtuosamente.

 

 

No palácio do Governo, Lorde Shaido recebia, igualmente, um mensageiro Imperial.

— Venho de Imperah, sob ordem direta da Imperatriz, Lady Beriune Monslynzeth de Les Marcheé. Ela ordena que Lorde Shaido apresente-se imediatamente no Castelo de Bellephorte, para julgamento de seu coração e suas ações em Boandis.

— Nada tenho a temer. Partirei imediatamente — falou sério e convicto.

Lady Khei estava ali naquele momento e ouvira atentamente as palavras do mensageiro sabendo que se tratava do sequestro de Loren; logo pensou — “Lorde Shaido seria julgado, mas por qual motivo? O de não ter feito nada para resgatá-la?” — Ficou extremamente curiosa sobre qual seria o julgamento e sentença dada pelos Imperadores neste caso, pois acreditava que a atitude de Lorde Shaido tenha sido pensada em prol do povo, evitando a ira de Bherto sobre Boandis. Ela mesmo havia ido até o irmão e constatado que Loren estava bem, feliz e em paz.

Se a ideia de resgatar Lady Mclin tivesse sido levada adiante, talvez, essa paz que Bherto estava nas últimas semanas, fosse abalada e uma possível guerra teria início; o que não seria bom para nenhum dos lados. O coração de Loren estava bem e era isso o que importava. Por que, então, Lorde Shaido seria julgado?

Por outro lado, o coração de Lady Khei ficou apertado. Seu irmão havia perturbado a paz e desencadeado muitos sentimentos contrários, devido ao seus atos. Mesmo que depois de alguns dias, tenha obtido sucesso em acalmar e confortar Lady Mclin e a maioria do povo ficou feliz pelo casamento não ter se realizado, ainda sim, agiu contra a harmonia e leis que regiam o reino. Lorde Codhe teria um julgamento mais severo. Um bom resultado no final, talvez, não fosse o suficiente para sanar os vários atos mal feitos anteriormente.

Ansiedade e antecipação só geram maus pressentimentos, inúteis e inviáveis. Lady Khei controlou-se e depositou toda sua confiança na justiça e bons olhos dos Imperadores, que como foi dito, julgariam primeiramente o coração e depois as ações.

 

 

Eram seis dias de viagem, três para ir e três para voltar, além dos dias do julgamento. Imperah era longe de Boandis e isso incomodava Lorde Codhe.

Nunca se preocupou com distâncias, nem viagens longas ou necessidade de se ausentar por algum tempo, porém, agora era diferente, ele tinha Loren em seu castelo e um sentimento mais intenso estava se desenvolvendo entre eles. Além de um outro motivo secreto, que dizia respeito aos seus planos para o futuro.

Todavia, o motivo da convocação era incontestável, não havia menor dúvida de que obedeceria qualquer ordem dada pela Imperatriz, seu único pesar era ficar longe de Loren. Chegava ser irônico o fato de ter ficado anos sem sequer ter notícias dela e agora uns míseros dias lhe pareciam uma eternidade.

Para Lorde Shaido era diferente. Voltar à Imperah significava ver Belle e isso lhe fazia sorrir. Sentira saudades e, pela primeira vez na sua vida, seu coração batera acelerado pela antecipação.

Ambos os Lordes viajaram no mesmo trem, no mesmo dia, mas em cabines diferentes. Estavam evitando um ao outro, naturalmente, era o esperado. Nenhum deles viajava sozinho, nobres da Ordem Protheroi acompanhavam Lorde Codhe, enquanto conselheiros do governo e lordes da Ordem Levi estavam ao lado de Lorde Shaido.

Não havia sigilo sobre o julgamento e muito se comentava sobre qual a decisão dos Imperadores. O maior medo de Lorde Codhe era o de ser obrigado a devolver Lady Mclin para se casar, contra a vontade, com Lorde Shaido. Esse também era o temor de muitos em Boandis, que continuavam rejeitando a união do governador com a bruxa. Se fosse essa a decisão dos Imperadores, Lorde Codhe não aceitaria calado, mesmo que lhe custasse duras penas, não permitiria perder Loren, ou deixá-la voltar para uma vida onde não era amada.

Lorde Shaido nada temia nada, independente de qual fosse sua sentença. A única coisa que não desejava era perder a oportunidade de revelar seus sentimentos para Belle.

Quando chegaram a Imperah, foram recebidos por lordes de Bellephorte que imediatamente os acompanharam até o castelo. Lady Beriune não pretendia perder tempo com algo que já estava decidido, pois conhecia todos os fatos e já havia feito seu julgamento.

Aos olhos da Imperatriz, ambos tiveram o coração sincero em suas ações. Lorde Shaido, em respeito a vontade de seu falecido avô, mesmo não amando Lady Mclin, aceitou ignorar seus próprios sentimentos em prol de algo maior. Ele colocou o povo de Boandis à frente de seu coração e pretendia cumprir suas obrigações, incluído se casar com Lady Mclin, mesmo que isso significasse jamais ter a chance de provar o amor verdadeiro que sentia por Belle.

Lorde Codhe, por sua vez, agiu errado interferindo no casamento de forma violenta e causando temor desnecessário. Todavia, Lady Beriune conhecia muito bem as façanhas que um coração apaixonado é capaz de fazer. Um amor absoluto pode tirar a razão até dos mais sábios e o amor à Lady Mclin que o Lorde Mago dedicava era verdadeiro. Ele demonstrou isso quando conseguiu apaziguar a relação entre eles e despertar novos sentimentos, bem-vindos e essenciais para que o coração dela abandonasse por completo qualquer sombra de trevas. Esse fato era o de maior importância em todos os aspectos. Com esse pensamento e a prioridade do bem-estar da maioria, Lady Beriune tomou sua decisão e escreveu sua sentença.

O julgamento foi aberto no dia seguinte a chegada dos Lordes de Boandis. Pela primeira vez eles estariam pessoalmente diante da Imperatriz.

— A Imperatriz, Lady Beriune Monslynzeth de Les Marcheé! – retumbou a voz do arauto imperial.

Majestosamente, ela entrou acompanhada de Lorde Meyne e os juízes que presidiriam aquele julgamento. Trajava um vestido longo de seda e rendas em tons roxo e preto, muitas jóias de ouro e ametistas, realçando sua nobreza e poder. Sua enorme coroa reluzia ofuscante, contrastando com seus cabelos negros, presos em um coque alto. Ambos foram surpreendido quando a viram, principalmente, pelos brilhantes olhos castanhos.

Lorde Codhe teve certeza, já a tinha visto. Apesar da maquiagem e vestimentas diferentes, com certeza era ela na biblioteca naquele episódio passado com o livro que continha o selo; era a veilana Elissa. Claro, era de se esperar que a Imperatriz estivesse relacionada ao selo Tione, mas nunca pensou que ela se envolvesse pessoalmente; sentiu-se lisonjeado.

Para Lorde Shaido, a lembrança era do dia que recebera um presente de forma estranha. Ele havia se esquecido daquela caixinha de cor marsala que recebeu na cafeteria, no meio de sua viagem de volta a Boandis: “Um presente para o futuro, quando tiver dúvidas em seu coração”, fora o que ela lhe dissera na ocasião.

— É ela! — disse Lorde Shaido, quase para si, relembrando o dia em que recebeu o presente.

— Sim, é uma afirmação bem óbvia — Lorde Codhe debochou.

— Estou dizendo que já a vi antes, como sendo outra pessoa. Ela me deu um presente algum tempo atrás — falou sério sem desviar o olhar.

— Que coincidência, ela também me deu um presente um tempo atrás — falou irônico lembrando-se do dia e que encontrou o livro pela primeira vez em sua mesa. — Aliás, um muito poderoso, sabe... era um livro com o selo Tione — virou-se para encarar o outro, com um sorriso zombeteiro continuou: — E o seu presente, o que era?

Lorde Shaido o encarou também para dar uma resposta desaforada o suficiente para calar o amigo, porém, antes que pudesse revidar, ouviram a voz grave do juiz:

— Silêncio! — o juiz gritou fazendo com que os dois se sobressaltassem. — Somente a Imperatriz e os juízes aqui presentes têm o direito à palavra. Permaneçam em silêncio até ouvirem vossas sentenças.

Lorde Shaido fechou os olhos, buscando controle para não alterar suas feições e demonstrar sua insatisfação em ser tratado como um criminoso sem direito a defesa, enquanto Lorde Codhe sorria discretamente, parecendo se divertir com a situação.

— Como ousam desviar o olhar! — o juiz vociferou e bateu com força o grande martelo de ferro na mesa, o barulho fez Lorde Shaido abrir imediatamente os olhos e encarar o juiz com um olhar ainda mais irritado.

— Prestem atenção e não desviem sua atenção — a Imperatriz falou sem delongas. — Não quero tomar vosso tempo com assunto tão simples. Conheço vossos corações, vejo tudo e sei os seus desejos, bem como o que é melhor para meu povo.

Lorde Codhe ficou sério e perdeu seu ar descontraído, diante da Imperatriz, ficou tenso e preocupado, enquanto Lorde Shaido dedicava total atenção às palavras de Lady Beriune.

Depois de algum tempo de discurso dos juízes, narrando os acontecimentos, prós e contras, foi com grande alívio que ambos ouviram a sentença da Imperatriz, finalizando com palavras que soaram tão melodiosas aos ouvidos deles.

— Não deverá haver casamento contra vontade, mesmo que seja o último desejo de um nobre, como foi Lorde Thon Levi. Enaltecemos suas memórias, entretanto, aqueles que seguem em vida devem desfrutar do amor. Por isso, Lorde Shaido está livre de sua promessa, deve procurar outra noiva; alguém que corresponda aos seus sentimentos — e olhando para Lorde Codhe, continuou. — Assim como Lorde Codhe também está livre, para se casar com Lady Mclin, caso ela o aceite e assim desejem. Não há mais nada a ser dito, essa é a sentença final e não poderá ser modificada ou contestada.

Dizendo assim, levantou-se e sem esperar as devidas reverências, se retirou do salão. Todos se levantaram e reverenciaram, alguns murmuravam contrariados, mas a maioria estava feliz e concordava.

Lorde Shaido se aproximou do amigo e colocou a mão no ombro do outro, chamando a atenção.

— Sinto como se lhe devesse um favor — Lorde Shaido tinha um ar alegre, pois estava satisfeito com a sentença; mas não sorriu.

— O favor que fiz foi a Loren e não a você — Lorde Codhe respondeu seco se afastando.

— Por que passou a me odiar? O que exatamente fiz para me tornar seu inimigo? — pareceu realmente magoado.

— Além de magoar a Loren? Nada mais.

— Foi você que rompeu a amizade, antes mesmo de imaginarmos que Loren estava apaixonada por mim. Eu não sabia de nada naquela época.

— Estamos grandinhos pra esse tipo de discussão, não acha?

— Apenas queria entender seus motivos, eu nunca tive nada contra você, pelo contrário, você e Khei são os amigos que mais estimo — falou com pesar e ressentimentos. — Se alguém deveria ter mágoas, sou eu, por ter sido excluído da vida de vocês.

Lorde Codhe abriu a boca para responder, mas não disse nada. Na verdade, não tinha o que dizer, aquilo era um fato real e sabia da totalidade de sua culpa. Sentiu toda mágoa que Lorde Shaido guardara disso, sabia que sempre fora o errado ao não dar chances de uma reaproximação, mas como poderia voltar uma amizade como antes, depois de tudo?

No fundo, Lorde Codhe não queria aquele distanciamento e se arrependera. Ele desejava ter seu amigo de volta, sabia que não seria uma amizade como antes, mas queria deixar de lado esse orgulho e ciúme que lhe pressionava a ser rude e manter Shaido afastado, agora que tinha Loren consigo, não havia motivos para essa atitude. Viu o outro se afastar rapidamente por um corredor lateral, pensou em segui-lo, mas precisava de um tempo para pensar em como retomar os laços de amizade que haviam se rompido por motivos que hoje estavam totalmente resolvidos.


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