Les Marcheé escrita por Marurishi


Capítulo 24
O esperado dia




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O esperado dia chegou junto com a primavera e o fim do ano. O casamento de Lady Mclin e Lorde Shaido se realizaria naquele entardecer, ao ar livre na praia de Boandis.

Ele permitiu que a noiva decidisse sobre a cerimônia, bem como decoração e o que serviriam no banquete. Ela escolheu uma cerimônia pública muito simples, de acordo com sua personalidade.

Lady Mclin estava linda e radiante. Seu vestido era longo, nos tons de verde água e turquesa, de um tecido leve e esvoaçante que deixava os ombros à mostra. Um corte simples, mas elegante, com uma longa cauda que arrastava preguiçosamente pela areia da praia a cada passo dado em direção ao altar cerimonial.

O sol estava na linha do horizonte, refletia nas pérolas do cinto, nos bordados do decote e na tiara em sua cabeça, que apesar de simples, era de diamantes e esmeraldas. Também refletia em seus olhos esverdeados, que brilhavam de felicidade e emoção. Usava apenas um batom claro nos lábios e seu rosto era tão leve e feliz que não precisava de nenhuma maquiagem. Nas mãos, trazia um pequeno buquê de astromélias brancas; e seu sorriso não escondia o quanto aquele momento fora desejado por tantos anos.

Lorde Shaido, trajado elegantemente em tons de branco, azeviche e dourado, assemelhava-se a um deus, não apenas pelo uniforme de gala exclusivo para cerimônias desse tipo, mas também pelos ornamentos e insígnias que exibiam seu status, títulos e poder. Em pé junto a grande tenda montada de frente para o mar, onde estava o altar cerimonial, admirava sua noiva se aproximando. Apreciava, principalmente, a contagiante felicidade que emanava dela.

Lady Mclin, a cada passo estava mais perto de sua felicidade. Andava lentamente sobre o corredor de flores brancas que cobriam a areia, indicando o caminho até o altar. Seus cabelos soltos ao vento ora cobriam-lhe a face, ora eram jogados para trás, dando a sensação de que os cachos castanhos dançavam de alegria antecipada ao sim que seria dito em breve.

Muitas pessoas de diversas cidades estavam presentes, inclusive grandes personalidades de Imperah. Lorde Codhe não estava e isso aborreceu Lady Khei, que sentia uma sombra de angústia e temor pelo não comparecimento do irmão.

Lady Mclin completou seu caminho e juntou-se ao seu noivo no altar. Como tradição, ambos receberam coroas de flores douradas, colocadas pelos seus progenitores sob suas cabeças. Para dar início à cerimônia, também era tradição que as moças solteiras que desejavam se casar, colocassem em volta dos noivos pequenos buquês de jasmins, simbolizando bons desejos para o casal; também acreditava-se que a união e felicidade deles seria compartilhada com aquelas que lhes ofereciam as flores.

O sacerdote estava esperando no lado esquerdo do altar. Assim que os noivos ajoelharam-se entre os muitos jasmins, ele se posicionou de frente a eles para iniciar o discurso de união.

Contudo, antes que o discurso começasse, antes que as juras pudessem ser ditas, antes das alianças serem trocadas ou que alguém pudesse aplaudir a bela união, ouviu-se grande rumor vindo da floresta próxima à praia. Todos se voltaram para ver o que acontecia.

Aquilo assustou a todos e muitos se encheram de pavor quando avistaram os cavalos, cuja marcha era de fogo. Reconheceram o grupo como sendo a Ordem Protheroi de Bherto. Lorde Codhe era convidado, a cerimônia era aberta e poderiam ir quem quisesse para assistir. Todavia, o que deixou todos com uma preocupação inquietante não era a presença deles, mas sim, estarem todos armados e trajados como indo para uma guerra.

Na medida em que se aproximavam, com Lorde Codhe à frente, marchando em seu cavalo negro, cujos cascos deixavam rastros de fogo, muitos dos convidados da cerimônia preferiram correr para um lugar seguro. Tinham ciência de que o Lorde Mago do Fogo era contrário ao casamento e a maioria sabia suas motivações pessoais.

A aproximação parecia hostil, mas Lorde Shaido não se moveu. Vãrios decidiram corajosamente ficar, se posicionando à frente dos noivos, como se pretendessem protegê-los de qualquer coisa que viesse a acontecer. Aqueles que eram fiéis a Lorde Shaido temiam e discordavam do Lorde Mago do Fogo, porque todos sabiam da tensão que existia entre o governador de Boandis e o Lorde de Bherto.

Lorde Codhe avançava a cavalo, junto com os da sua Ordem e não demonstrava interesse em cumprimentos formais, seu semblante não era de alguém que vinha para ver um casamento. Isso alarmou Lorde Shaido.

— Vá com as damas para a tenda — ordenou para sua noiva.

— Acha que ele fará algo contra nós? — Lady Mclin falou em dúvida.

— Apenas procure um lugar seguro, ele não me parece estar tão amigável.

Lady Mclin não pensou duas vezes, não acreditava que Lorde Codhe fosse causar algum mal ali, mas não seria prudente arriscar, sabia o quanto Lorde Codhe se opunha ao casamento. E foi grande o alvoroço entre as mulheres que corriam para se abrigar e se esconder na tenda ou em outros lugares mais afastados do centro.

Lorde Shaido se certificou que sua noiva estava longe e segura, caminhou a passos rápidos em direção à comitiva de Lorde Codhe. Lady Mclin viu seu noivo se afastar, seus passos rápidos cruzando entre as muitas flores de jasmins, lisianthus, áster e gipsófilas; era uma visão triste e linda ao mesmo tempo, quase poética.

Alguns lordes da Ordem Protheroi passaram à frente e chegaram primeiro até Lorde Shaido, o cercando com seus cavalos e apontando para ele suas poderosas armas. Lorde Shaido, por sua vez, sentiu seu sangue ferver em raiva por aquela audácia e desrespeito, ali era seu casamento e ser acuado daquela maneira hostil era um absurdo.

Exclamou algumas injúrias enquanto ouvia os gritos de Lady Khei, que tentava, entre os cavalos, chegar até Lorde Shaido. Quando ela se colocou ao lado do amigo, falou com indignação:

— Que loucura é essa? O que os lordes pensam que estão fazendo?

Imediatamente Lady Khei também teve armas apontadas para si, e calou-se diante da surpresa; estava horrorizada.

Rapidamente os lordes da Ordem Levi foram alertados e ficaram a postos. O que estava acontecendo ali não era apenas um protesto contra o casamento, era uma interferência direta, quase uma declaração de guerra de Bherto contra Lorde Shaido e o povo de Boandis.

Lorde Codhe ignorou o amigo de infância, agora seu rival. Mantendo sua marcha rápida e decisiva, as pessoas lhe deixavam passar para não serem pisoteadas pelo seu cavalo, que ia abrindo caminho entre os muitos que permaneciam ali. Ele ainda ouvia Lorde Shaido tentando dialogar pela razão e amizade com seus lordes, mas ele não tinha ouvidos e nem tempo para isso, foi diretamente para a tenda onde Lady Mclin estava.

Sem nenhuma cautela, ele invadiu a tenda com violência onde seu cavalo derrubou algumas colunas e arranjos florais que ornamentavam o local, e tomando Lady Mclin em seus braços, se pôs em marcha veloz de volta por onde veio, levando-a embora diante dos olhos e gritos de espanto de todos os presentes.

Era absurdo, todos estavam tão chocados sem saber como reagir, além de que, se tratava de um poderoso Lorde Mago e não ousariam se manifestar, porque temiam seu poder e suas ações. Também ninguém ali estava armado para enfrentar os lordes de Bherto, mesmo os que possuíam magia e instintivamente desejaram enfrentar a Ordem, foram parados a pedido do governador, preocupado em usar magia ou deixar que uma guerra tivesse início sem necessidade.

Assim que Lorde Codhe ganhara certa distância, os lordes que coagiam  o governador e a irmã gêmea os deixaram livres. Os lordes da Ordem Levi trouxeram as montarias, bem como já vestiam suas armaduras e empunhavam suas armas; pretendiam dar início à perseguição. Lorde Shaido já estava com Enarah, seu cajado — pois as armas bélicas deveriam sempre estar junto ao seu dono, independente da ocasião —, rapidamente, o governador montou seu cavalo e foi ao encalço de Lorde Codhe; ouvia-se os gritos de protesto, inclusive, os de sua noiva.

Sem demora, Lorde Shaido alcançou o Lorde Mago e o questionou:

— Perdeu completamente sua sanidade!

— Loucura é esse casamento forçado! — gritou enfurecido. — Indo contra qualquer princípio benéfico ou coerente!

— Você não está fazendo diferente, Codhe! Ou acha que sequestrar Loren dessa forma é algo que a fará feliz?

— Muito mais do que você! — o cavalo de Lorde Codhe se  agitava e por várias vezes se empinava relinchando e bufando faíscas de fogo. — Você só está pensando no seu poder, no seu governo, na forma mais proveitosa de utilizar os poderes de Loren para seu benefício, na sua arrogância de se achar superior e querer ser cada vez mais!

— E você não está agindo igual ou pior? Sendo arrogante em sua vingança particular! Injuriado por ela ter escolhido a mim e não você!

— Ela não teve escolha! — gritou Lorde Codhe.

— E agora você está dando a ela uma escolha? — disse quase irônico.

— Ela pode ver o futuro que terá ao seu lado, certamente, ela não teria escolhido esse futuro se tivesse tido a chance.

— Ela teria me escolhido e você sabe disso! Apenas aceite e deixe que ela volte comigo.

Aquelas palavras afetaram o Lorde Mago do Fogo, mas ele não deu demonstração.

Lady Mclin se manteve calada e tentava a todo momento escapar de Lorde Codhe, porém, ele era muito forte e a mantinha segura, quase imobilizada em seus braços. Quando a conversa chegou naquele ponto, não pode manter-se em silêncio.

— Parem de discutir sobre mim como se eu não estivesse aqui! — falou furiosa. — Eu não sou um tipo de prêmio onde quem falar mais, leva pra casa!

— Você viu seu futuro ao lado dele! Sabe que ele não te ama e que nunca será feliz! — Lorde Codhe demonstrava grande mágoa e pesar.

As palavras do Lorde Mago entraram fundo no coração de Lady Mclin, mesmo que ela não aceitasse, aquilo era verdade. Ela sabia o futuro que teria ao lado de seu noivo. Olhou mais uma vez para Lorde Shaido e viu que nunca seria amada, se viu caindo num poço de tristeza e o pior de tudo: a solidão.

— Loren, por favor, olhe para mim. — Lorde Codhe pediu gentilmente, sussurrando. — Olhe para o meu coração, olhe para o meu amor e para o seu futuro ao meu lado.

— Acha que ela terá uma visão melhor se olhar para você? — disse o governador arrogante, observando sua noiva.

Os dois lordes esperaram pela resposta de Lady Mclin, mas nada foi dito; ela apenas fechou os olhos e baixou a cabeça, parecendo afundar-se em tristeza e desistindo.

— Descobriremos em breve!

Dizendo assim, Lorde Codhe se pôs em marcha novamente, em direção a Bherto, sendo seguido pelos lordes da sua Ordem. Cavalgava rápido e em silêncio, deixando pra trás Lorde Shaido que, ao contrário do que deveria, estava calmo e tinha um zombeteiro sorriso nos lábios.

 

 

O episódio absurdo que aconteceu no casamento de Lorde Shaido e Lady Mclin causou uma sensação de estranheza até mesmo nos lordes de sua Ordem, que murmuravam entre si com certa indignação. Não apenas pelo sequestro da noiva, mas também pela atitude passiva do governador.

Lorde Shaido, ainda montado em seu cavalo, estava calmo e mantinha um zombeteiro sorriso nos lábios. Logo, os lordes da Ordem Levi estavam ao seu lado e questionaram o que deveria ser feito a respeito do ocorrido.

— Dispensem o povo e retornaremos para o palácio. Trataremos lá do que será feito — respondeu o governador, sem tristeza nem dor em sua voz, como se o que ocorrera não significava coisa alguma.

Também todos os que assistiram aquela cena ficaram confusos pela atitude do noivo. Todos estranharam sua decisão e murmuravam horrorizados e perplexos pelo que consideraram um descaso.

Lady Khei, por sua vez, não acreditava no que acabara de acontecer. De todas as coisas possíveis, jamais pensou que seu irmão invadiria o casamento e sequestraria a noiva no altar. Era tão surreal que demorou algum tempo para assimilar tudo. Mesmo quando fora acuada pelos lordes da Ordem Protheroi não sentira tamanha perplexidade quanto no momento em que seu irmão levara Loren. Sua indignação crescia diante de Lorde Shaido, inerte, vendo a comitiva flamejante partir após um curto diálogo de meias palavras.

Lady Khei procurou em volta por seus pais, precisava de um apoio, mas não os viu e presumiu que tivessem ido embora discretamente, tamanha era a vergonha pelo que Lorde Codhe acabara de fazer. A família Protheroi sempre fora muito amiga e íntima da família Levi, a gêmea duvidava que após esse episódio a relação entre eles pudesse ser a mesma.

No entanto, Lady Khei se surpreendeu ao ser amparada por Lady Levi, juntamente com Lady Benara, que pareciam tão chocadas quanto ela.

O altar onde deveria estar os livros sagrados para leitura do matrimônio, bem como os cálices para brindar a união estavam no chão. As tantas flores brancas espalhadas na areia, agora pisoteadas, perdiam sua brancura. Os arranjos florais espalhados, jogados para qualquer lugar durante a correia. Até os voils que decoravam as tendas estavam rasgados e voavam ao vento como fantasmas. Cadeiras viradas e quebradas. Lady Khei olhou em volta e sentiu-se num cenário pós-guerra.

Continuou ali, em pé, tendo ao lado as duas poderosas damas da família Levi, que também observavam as pessoas indo embora cheias de medo e indignação. Alguns lordes da Ordem Levi permaneceram por perto, impedindo que viessem questionar as damas ou se iniciasse murmúrios e nova contenda. Logo, elas também decidiram se retirar.

— Vamos, querida. Não há mais nada aqui. — Lady Levi convidava Lady Khei a voltar com elas para o palácio.

— Vou ficar mais um pouco, podem ir sem mim.

Todos se dispersaram e a praia ficou vazia junto ao mar escuro, pois a noite havia chego. Das últimas pessoas a deixarem o local, Lady Khei se pegou olhando para uma moça em específico, que permanecia sentada segurando um buquê de flores brancas.

Lady Khei pensou que a tristeza nos olhos que encaravam as flores nas mãos, fosse por ter suas bênçãos de prosperidade no casamento arruinadas, pois supôs que fosse das jovens solteiras que, anteriormente, haviam trazido jasmins para abençoar os noivos. Sentiu-se triste por ela e desejou poder lhe dar uma palavra de consolo.

— Foi um dia triste para todos nós — disse Lady Khei se aproximando e sentando ao lado da jovem.

— Foi a primeira vez que o vi tão convicto! — falou a jovem referindo-se a Lorde Codhe. — Você deve ser feliz, pois tem um irmão poderoso que mudará a história de Boandis.

Lady Khei ficou surpresa pelo inesperado comentário da moça, quando esta a encarou surpreendeu-se pelo lindo tom castanho dos olhos, delineados de negro com uma sombra violeta fosca. Imediatamente aquilo chamou a atenção, não apenas pelo castanho incomum, mas pela cor roxa da maquiagem, absolutamente incomum para qualquer um que não fosse ligado ao casal imperial.

A gêmea sabia de tudo o que seu irmão passara em Imperah nos dias que antecederam a quebra do selo Tione naquele livro. Inevitavelmente, como um sussurro divino, um nome lhe veio à mente.

— Elissa Irebe? — perguntou nostálgica.

— Talvez... Que bom que sua sabedoria é louvada com excelente memória! — a moça sorriu divertida enquanto arrancava algumas pétalas das flores do buquê. Só então Lady Khei percebeu que era o buquê de Lady Mclin que Elissa segurava.

— Você é a misteriosa veilana de Bellephorte, que levou o livro com o selo Tione para a biblioteca? — Lady Khei falou boquiaberta com o inesperado encontro.

— Veilana? — Elissa riu alto, quase debochado. — Não, eu não sou uma veilana. Vamos Lady Khei, tenho algo para lhe pedir.

Elissa levantou-se soberba, jogou o buquê fora, desfez o sorriso e sua expressão tornou-se dura e decidida. Lady Khei não ousou contrariar, pois sentiu um grande poder emanando daquela misteriosa jovem. Mesmo que não concordasse em segui-la, estava curiosa em saber qual seria o pedido e, principalmente, quem realmente era Elissa Irebe.

— Aonde vamos? — perguntou apreensiva.

— Logo descobrirá, mas isso dependerá de você.

— Tanto mistério. Devo chamá-la de Lady Elissa?

— Se quiser. Eu tenho muitos nomes.

— E qual seu verdadeiro nome? Quem é você realmente?

Lady Elissa não respondeu e parou de andar.

— Sente a presença de alguém por perto? — perguntou sem se virar para Lady Khei.

— Hã? — parecia confusa com a pergunta. — Eu acho que não...

— Não seja tola! Você é uma Protheroi, seu sangue é mágico e traz grandes dádivas de poderes tão antigos quanto as Musas. Ser capaz de saber se há pessoas ao seu redor é o mínimo que deveria já ter desenvolvido.

Com essa pequena crítica áspera, Lady Elissa virou-se para a gêmea e a encarou ferozmente, concluindo:

— Use sua magia para sentir presenças ao seu redor!

Lady Khei ficou assustada. Isso era um poder interessante de ter, mas jamais pensou que ela própria o teria. Acreditava que somente lordes de Bellephorte fossem capacitados para isso.

— Rápido, eu não estou aqui para perder meu tempo — disse severa.

— Não sei como fazer isso! — Lady Khei parecia entrar em pânico.

— Concentre-se! Você tem a magia no sangue. Os livros de Belle devem ter lhe ensinado alguma coisa sobre concentração, busca e compreensão.

Depois de tantos eventos em um único dia, o fato de Lady Elissa saber sobre os livros de Belle já nem surpreenderam Lady Khei, preferiu focar-se no que a jovem lady lhe ordenava a fazer. Suspirou e fechou os olhos, lembrando-se do que lera nos livros de magia sobre tal poder.

Concentrando-se em buscar por presenças na sua volta como um rastreando, isso era chamado de radar mágico e não demandava tanta força, apenas concentração. Sua mente pareceu sair de seu corpo e cruzar rapidamente por muitos lugares em torno de onde se encontravam. Mas não sentiu ninguém.

— Consigo ir longe, mas não sinto ninguém — disse surpresa ao ver a tamanha facilidade com que conseguiu a façanha.

— Tente novamente — Lady Elissa ordenou e novamente Lady Khei foi em busca de alguma presença.

Abriu os olhos surpresa com uma exclamação no olhar.

— Oh! Senti a sua presença, de forma diferente agora. Extremamente poderosa — seus olhos brilharam em admiração. — Lady Elissa, por acaso você é uma Musa?

Elissa riu cobrindo os lábios com a mão enluvada, ria da ingenuidade nada velada de Khei achando o fato encantador. A gêmea, por sua vez a encarou com dúvidas e receio.

— É claro que não — respondeu simples. — Ou talvez seja algo semelhante, já que tenho grande poder. Por isso, decidi vir pessoalmente ajudá-la a resgatar o poder Protheroi que tem estado adormecido por décadas.

— Pensei que houvessem Protherois em Bellephorte, e que meu irmão fosse um poder significativo.

— Não há mais Protherois em Bellephorte — falou com voz grave e um tanto magoada. — Esse é um dos motivos que estou aqui, porque se dependesse dos Protherois mais velhos, a magia do seu sangue morreria para sempre!

— Meu irmão é um Lorde Mago e ...

— Eu sei bem disso — interrompeu bruscamente —, mas no momento, ele está dando prioridade ao seus planos pessoais e isso me preocupa.

— Então, devo fazer algo sobre meu irmão e Lady Mclin?

— Sim, porque precisamos ter certeza que Lady Mclin encontre logo o amor e a felicidade.

— Farei por meu irmão e pela amizade com Loren.

— Antes, ouça meus conselhos — abrandou a voz, ainda que continuasse autoritária. — Escolha os melhores homens de Boandis e de início à uma Ordem. Busque pela justiça, honra e poder nas memórias dos livros que Belle lhe mostrou.

— E se eles recusarem por fidelidade ao governador ou por qualquer outro motivo?

— Não será uma Ordem para se opor ao governo, pelo contrário, em breve lutarão unidos — dizia sabiamente como se pudesse vislumbrar o futuro. — Mostre-lhe seu poder, mostre-lhes sua magia, que poderá estar em um olhar, num pensamento ou numa palavra escrita ou proferida. Não há motivos para alguém se opor, pois você e sua Ordem se unirão a Ordem Protheroi para combater um mal muito maior do que rixas pessoais de amores frustrados.

— Que mal é esse que devemos combater? Não parece que temos grandes ameaças — de repente ficou temerosa. — Pode ver o futuro?

— Está a caminho algo maior que precisará de grande poder para ser combatido e toda ajuda será bem vinda. O quanto você será capaz de liderar uma Ordem que deverá lutar pelo bem e pela harmonia de Boandis, eu ainda não sei. Mas acredito totalmente que o poder Protheroi igual ou até maior que das Eras passadas esteja novamente em Les Marcheé.

E dizendo assim, Lady Elissa Irebe sumiu em uma cintilante névoa roxa, deixando Lady Khei sozinha e com sua mente cheia de novos planos para o futuro.

Aquele encontro mudaria para sempre os pensamentos de Lady Khei.

 

 

 


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