Les Marcheé escrita por Marurishi


Capítulo 18
Lorde Meyne




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Lorde Meyne cruzou os corredores em direção à ala oeste do castelo, com passos rápidos e decididos. Ainda tentando imaginar uma forma de descobrir as verdadeiras intenções de sua esposa. Ao contrário dela, ele não conseguia fingir.

Uma ideia lhe veio a mente e ele sorriu, pensou que, talvez, pelo fato de estar diretamente ligado aos acontecimentos de responsabilidade imperial, Lady Beriune pudesse lhe oferecer um auxílio.

Certamente, deveria esclarecer toda a situação para a Imperatriz, mesmo que fosse vergonhoso para ele ir até sua soberana, dizer que sua esposa estava lançando maldições ridículas em uma cidade, apenas por vingança pessoal. De certa forma isso nem seria novidade.

Todavia, agora era mais que necessário, uma vez que o alvo da vingança de sua esposa era o novo detentor do selo Tione. Seria embaraçoso por muitas razões.

Nas conversas privada, Lorde Meyne sempre se sentia constrangido diante da Imperatriz. Todas as vezes que precisava ficar a sós com ela era difícil. Tinha medo de agir de forma desproporcional ou irritá-la de alguma maneira; isso acontecia com frequência.

Assim que fosse possível, ele iria até a Imperatriz, em particular e depois disso, talvez, teria uma preocupação a menos.

 

 

As novidades deixaram Lady Hestea feliz e sorridente como há muito tempo não se sentia. O selo tão temido fora quebrado pelas mãos de um Protheroi sem que ela precisasse se envolver, esse fato havia sido sensacional.

Aproveitou seu bom humor para visitar suas filhas e entregar-lhes os presentes que havia comprado alguns dias atrás. Elas estavam juntas no quarto, sentadas a mesa montando um quebra-cabeça. Eram assistidas pela tia Lady Reiea e por mais três veilanas que participavam da brincadeira divertida.

Lady Hestea estava radiante, moldava um largo sorriso que, por incrível que pareça, era sincero. Allegra a recebeu com igual alegria, era muito pequena para notar qualquer coisa suspeita na mãe. Mas o mesmo não se dizia de Ahiel, que não demostrava sequer uma emoção diante da mãe, era fria como o mármore e até mesmo seus movimentos eram contidos, como se não fizesse questão nenhuma de mexer um dedo sequer, permanecendo sentada olhando para o além, imóvel como uma boneca de porcelana.

A menina agia assim toda vez que mãe estava perto e essas atitudes sempre incomodaram Lady Hestea, pois agora não mais podia expressar seu descontentamento com agressões, devido ao fato das meninas sempre estarem rodeadas de veilanas, que obedeciam rigidamente as regras ditadas pela Imperatriz, sobre nunca deixar Lady Hestea sozinha com as filhas.

O fato de que ela não mais batia nem dizia palavras duras, fazia com que a pequena Allegra acreditasse que sua mãe tinha se curado de uma doença que a fazia ser daquele jeito impaciente e violenta. Allegra estava feliz, porque agora sua mãe as tratava bem e eram finalmente uma família feliz.

Lady Hestea havia conseguido concretizar seus planos, pelo menos, a respeito da pequena Allegra, mas não para Ahiel. Quando ela ofereceu o presente para a primogênita, Ahiel esforçou-se para pegar, porém, não abriu e não mudou um nervo de sua face para esboçar qualquer reação.

— Podia ao menos agradecer, vegetal ingrato! — Lady Hestea estava de bom humor e debochar da filha era a prova disso. Num ato bobo, apertou as bochechas de Ahiel com força exagerada, logo as veilanas se aproximaram para evitar que o toque tomasse proporções maiores.

Não foi necessário que elas intervissem, imediatamente Ahiel se moveu, com um tapa certeiro afastou a mão da mãe e a olhou nos olhos de forma intensa e profunda, como se buscando a verdade por trás daquele presente.

Mais odiado do que quando Ahiel insistia em se fingir de estátua, era quando ela movia seu olhar daquela forma encarando alguém. Lady Hestea odiava mais que qualquer outra coisa e não podia suportar aqueles olhos rosáceos invadindo sua alma. Sentia-se nua, usava todo seu poder para bloquear qualquer coisa da filha, não que acreditasse que aquele ser tão estúpido tivesse algum poder, mas preferia evitar mesmo assim.

Seu bom humor sumiu e Lady Hestea forçou-se a continuar sorrindo e fingindo que estava tudo bem. Ficou mais algum tempo com Allegra e logo saiu da sala, descontar sua raiva em algo ou alguém longe dali.

Assim que a mãe sumiu da vista, Ahiel se levantou e rapidamente correu na direção oposta do caminho da mãe. Lady Reiea a seguiu, chamando-a intrigada. Contudo, a perdeu de vista em meio a tantos corredores do castelo. Era incrível como Ahiel tinha o dom de sumir num piscar de olhos e depois, assim como desaparecia, aparecia.

 

 

Ahiel cruzou os corredores secretos da ala oeste do castelo em silêncio, andava próxima a parede, com a palma da mão deslizando o mármore liso e frio. Fazia seu caminho sem pressa, o olhar parecia distraído, fitando sempre à frente, sem desviar. Seus passos lentos tinham um destino.

Ela conhecia quase todos os corredores e passagens secretas de Bellephorte, o caminho que mais usava era o acesso à biblioteca particular da Imperatriz. Essa passagem era trancada pelo lado de dentro da biblioteca, mas Ahiel sabia o momento em que a Imperatriz estava lá, assim como Lady Beriune sabia quando Ahiel ia até lá para lhe dizer algo. No momento, a menina precisava contar à Imperatriz o que acabara de ver.

Tão logo estava na biblioteca, sentou-se diante da Imperatriz.

— Minha criança, o que a traz aqui tão depressa? — falou docilmente, com um sorriso de incentivo para Ahiel.

— Minha mãe, ela fará novamente — sussurrou, num misto de doçura e mistério. — Boandis será amaldiçoada.

— E você viu qual o objetivo disso?

— Vi. Sua obsessão em amaldiçoar Boandis, é mais que aperfeiçoamento de seus poderes — fechou os olhos enquanto falava buscando lembrar-se do que viu —, há algo em Boandis que ela deseja.

— E você sabe o que é que ela deseja? — apoiou o cotovelo na mesa e encostou a palma da mão no queixo, tinha um olhar pensativo e um sorriso que mostrava já estar planejando algo.

— Alguém para quebrar o Tione selado, mas isso já foi feito e agora ela quer aquele poder para si, ela quer invocar aquele mal adormecido.

Lady Beriune tinha plena certeza que seus verdadeiros inimigos eram os Kailes. Eles estavam usando Lady Hestea para despertar aquele mal e trazê-lo para Les Marcheé. O que Ahiel lhe revelava era mais uma confirmação.

— Minha doce criança, que as Musas a abençoe com maior poder, mas te mantenham oculta do destino! Você precisa ser a mais pura e verdadeira, pois o que vamos enfrentar em breve corromperá até mesmo os de bom coração — abraçou-a com ternura. — Resista, minha criança, nunca deixe seu coração se magoar ou escurecer! Resista porque você é a primeira desta Era a nascer com esse dom de ver as verdades no coração alheio.

— Eu não sou a primeira, existe outra além de mim, eu a vi em sonho. Eu sei até onde ela está.

— Onde ela está?

— Em Boandis.

—  Qual o nome dela?

— Isso eu ainda não sei, mas posso descobrir.

— Descubra, por favor! É importante protegê-la de qualquer mágoa, ódio e vingança.

Lady Beriune desconfiava sobre o poder de Lady Mclin e do que todos diziam sobre ela ser capaz de ver o mal no coração alheio e curar, mas ainda assim duvidava que fosse o mesmo tipo de poder antigo como os que tinham as sacerdotisas de Roaná.

Pensou que não conhecia toda a descendência de Loren e ali poderia estar algo que comprovasse a veracidade desse dom tão fascinante. A imperatriz se empolgou com a ideia de que ela poderia ser descendente do Templo de Azurita, ou ainda, ter como ancestrais algo ainda mais inusitado! Por isso, precisava garantir que ela estivesse do lado do bem. Um poder como esse sendo usado para o mal seria catastrófico.


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