Les Marcheé escrita por Marurishi


Capítulo 11
Havia se passado




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Havia se passado alguns dias após os acontecimentos em Boandis e os assuntos pertinentes aos fatos eram pauta urgente no castelo de Bellephorte. Quando chegou, o Imperador Lorde Thwar SancShephil cruzou os corredores silenciosamente, como uma densa névoa escura.

Caminhou em silêncio com passos largos, rápidos e altivos. Seus trajes eram negros, usava muito o couro, também o veludo e o brocado, mas no momento o que se sobressaia era sua armadura, de tonalidade igualmente escura, não era pesada como as de guerra, era apenas uma proteção para o trabalho que fazia nas fronteiras. Estava em companhia de dois Lordes Lynzeths.

Sempre retornava ao castelo em silêncio e segredo, dispensando qualquer formalidade. Poucos sabiam quando ele retornava ou quando partia, todos imaginavam que a maior parte do tempo ele estava ausente, mas ele poderia ir e vir a qualquer momento, pois deslocamento entre lugares, fosse perto ou longe, não representava problema para sua magia, esse era um poder de grande utilidade e poucos em Les Marcheé o dominavam.

Quando entrou no salão, esperava encontrar sua esposa, Imperatriz Lady Beriune Monslynzeth, mas ela ainda não estava lá. Dirigiu-se até uma grande estante, com gavetas trancadas por magia e abrindo uma delas, retirou um livro grande, o qual folheando procurou por algo, enquanto os outros lordes se assentavam em seus lugares, junto à grande mesa de cristal, no centro do salão.

Aquela era uma sala reservada para reuniões importantes, com paredes forradas por tapeçarias enigmáticas e prateleiras cheias de livros mágicos e pergaminhos encantados. Um local onde somente os poucos fiéis e confiáveis dos Imperadores tinham acesso. Naquele momento uma reunião estava sendo formada para tratar de um assunto inevitável. Estavam todos aguardando a Imperatriz.

Quando a porta foi aberta, o salão se encheu de uma luz de tons violáceos, e a medida que Lady Beriune entrava a passos rápidos, sua presença enchia a sala e iluminava. Suas vestes eram em tons de lilás, pérola e negro, um vestido longo e de muitas camadas de tule e brocado, com uma longa cauda de tule esvoaçante. Não usava jóias nem enfeites, mas a maquiagem estava completa e perfeita. Estava acompanhada pela Tríade.

Os Lordes Lynzeth levantaram-se e reverenciaram a Imperatriz, assim como a Tríade reverenciou ao Imperador. Após os cumprimentos formais, rápidos e dispensáveis, sem delongas, Lorde Thwar se pronunciou demonstrando ira e impaciência.

— Por muitos anos ratos se esconderam em nossos salões e agora dão mostra de suas sujeiras — fixou seu olhar em Lorde Meyne. — Prometemos nunca mais tolerar atitudes vulgares como essas. Sem dúvidas não tenho paciência, quero apenas cortar o mal pela raiz, eliminando aqueles que ousam se levantar contra o Império, trazendo danos de qualquer natureza.

— Eu nunca fui descuidada. — Lady Beriune falou calma com seu olhar fixo no Imperador. — Sempre soube que nada dura pra sempre, seja para o bem ou para o mal. Porém, ainda é um mal muito pequeno para grandes comoções, podemos lidar com isso sem atingir inocentes.

— Todos falam em "Maldição", mas não há maldição alguma em Boandis, apenas um poder agindo para provocar a ira de Bellephorte. — O Imperador cruzava seu olhar com todos a mesa.

— E não obteve sucesso, por isso digo que ainda é insignificante para nós. — Lady Beriune mantinha a voz aveludada e tranquila. — Infelizmente perdemos um nobre homem, Lorde Levi deixou seu coração ser contaminado e não foi capaz de acreditar na esperança. Mas eu acredito que Lorde Shaido irá governar com tal poder que impedirá qualquer tipo de interferência no futuro.

— Sabemos quem é o responsável. Apenas devemos eliminar e não dar margens para novas ações.

— Acredito que ainda não é o momento, pois causaria um mal maior. — A Imperatriz parecia se preocupar. — Posso lidar com isso. Como eu disse, a isca de Boandis não funcionou e tudo está bem novamente — abriu um leve sorriso como se fosse seu trunfo.

— Até quando a paz vai prevalecer? — retrucou o Imperador. — Estamos numa linha muito tênue com o desaparecimento de um dos seus livros.

Ao mencionar esse fato, Lorde Guy Protheroi olhou de canto para a Imperatriz, demonstrando uma desconfiança intrigante.

— Basta recuperar o livro que foi roubado, é apenas um, e sei que está seguro no momento. — Lady Beriune voltou seu olhar para Lorde Guy. — Recupere o livro, é sua responsabilidade, o senhor é um Protheroi e deve isso a Les Marcheé.

Dizendo assim, Lady Beriune se levantou e sendo acompanhada por todos em respeito, concluiu sua fala.

— Vou facilitar as coisas, a "Maldição" tinha como intuito provocar o poder que nasceu lá há algum tempo atrás, o alvo é Codhe Protheroi. O livro foi pretensiosamente parar em suas mãos, justamente para dar ênfase ao plano absurdo daqueles que pretendem despertar um mal antigo, mas Codhe não tem reagido como o esperado pelo inimigo, já que desconhece suas origens; isso nos dá muito a favor.

Todos reverenciaram a Imperatriz que saiu do salão rapidamente, sendo acompanhada apenas por Lorde Meyne, enquanto Lorde Guy e Lady Crissânea dedicavam-se a cumprir o que lhes foi ordenado. Lorde Guy parecia preocupado.

— Posso ajudá-lo! — Lady Crissânea estava a seu lado observando sua expressão cautelosa. — A Imperatriz nos disse tudo o que precisávamos saber, basta agir. Iremos pela manhã, o que me diz?

— Posso fazer isso sozinho, mas não vou recusar sua companhia — abriu um leve sorriso amável. — Iremos procurar Codhe pela manhã. Enquanto isso, podemos ir sondar o palácio de Isle para saber como andam os ânimos por lá.

— A Imperatriz parece ter certeza que tudo isso não é grande coisa e que Codhe, mesmo estando com o livro, não representa nenhum tipo de ameaça.

— Não sei quais os planos da Imperatriz, ela parece estar desviando a atenção do que realmente é importante. Todavia, Codhe é um Protheroi, qualquer um que tenha esse sangue representa uma ameaça.

— Um bom julgador por si julga os outros — disse com um sorriso aberto.

Ambos saíram de Bellephorte e se dirigiram para o centro da cidade, iriam planejar a forma de resgatar o livro.

 

 

No palácio de Isle, os ânimos de Khei estavam abalados. Não tinha esperanças de ir à Boandis despedir-se do governador já que teve todos os pedidos negado. Agora que soubera da verdade, se sentia novamente idiota, mais que antes, agora idiota por ter feito um julgamento precipitado sobre seu amigo, se sentia péssima por isso e perdeu totalmente o sono. As horas iam passando entre muitos pensamentos tristes, choros, soluços e sentimentos autodepreciativos.

O apartamento que dividia com Codhe era pequeno, apenas dois quartos, sala e banheiro. Por mais que o palácio de Isle fosse belo e confortável, os apartamentos não lembravam em nada o seu antigo lar em Boandis, o luxuoso palácio de Linmor.

Khei saiu do seu quarto e parou em frente a porta do quarto de Codhe. Se fosse outros tempos, entraria e iria pedir ajuda e consolo ao irmão, que sempre a entendia e fazia ela se sentir melhor com um simples abraço. Mas agora que eram adultos as coisas haviam mudado, cada um precisava aprender a lidar por si com seus problemas internos. Além de que, não queria perturbar o irmão pois sabia o quanto ele estava igualmente abalado e visivelmente cansado.

Caminhou até a sala, abriu a janela e sentou-se no parapeito olhando as estrelas. O céu estava limpo e bem estrelado, para distrair seus pensamentos começou a contar as estrelas e dar nomes a cada uma delas... Khei tinha feito algumas boas amizades, mas nenhuma tão íntima a ponto de abrir seu coração.

O que sentia no momento era muito profundo para compartilhar com qualquer um, então, aquelas estrelas brilhantes eram no momento a melhor companhia. Por isso lhes dava nomes, para que se tornassem as amigas que Khei gostaria de ter.

Mas não estava sendo o suficiente, Khei se sentia carente de alguém para desabafar, como antigamente, quando tinha a Loren. Sentiu saudades imensas de sua amiga e não entendia porque a outra nunca respondeu as suas cartas. Achava que o sistema de correspondência não funcionava muito bem, porque não acreditava que Loren simplesmente a ignorasse, ou poderia ter se mudado e nunca ter recebido suas cartas.

Sem se importar em estar usando camisola, se enrolou em um manto grosso e calçou sapatilhas saindo para a rua. Era madrugada e estava frio, mas em seu estado atual, não se importou com o vento forte e a brisa gelada, apenas queria caminhar.

Foi andando pelas ruas desertas, largas e limpas. O único movimento era de inúmeros gatos que estavam por todos os cantos, os mesmos gatos que seu irmão mimava e gostava de alimentar na rua, já que não podia trazê-los para dentro do palácio. Com Khei, eles fugiam quando ela se aproximava.

Imperah era considerada uma das cidades mais seguras e Khei havia aprendido rápido a dominar a magia nobre, desenvolveu alguns talentos específicos, nada tão surpreendente quanto o irmão, mas suficiente para se proteger; e ela estava confiante nisso.

Nunca havia saído tão tarde da noite e achou a cidade encantadora, com tantas luzes que refletiam nas calçadas e vidraças, as estrelas iluminavam os telhados, até as árvores pareciam ter um tom mágico. Ficou apreciando tudo em seu caminho e teve curiosidade em ver como seria o castelo de Bellephorte a noite. Ficava um pouco mais afastado, mas era imenso e podia ser visto de longe, logo tomou a direção do castelo.

Passou em frente o famoso Le Triunf Café, um café muito refinado onde os nobres costumavam frequentar, cujos valores eram um pouco acima dos outros. Mesmo tendo plenas condições, ela preferia economizar para o futuro, raramente ia ali e, por isso, não sabia que ele funcionava em tempo integral, se surpreendeu em ver aberto e com alguns clientes.

Parou em frente a vitrine observando como tudo parecia mais bonito com as luzes noturnas: as tortas, bolos, taças de café decoradas, macarrones, cupcakes. Sentiu uma nostalgia lembrando da época em que vinham de Boandis à Capital com o coral da escola, e ficavam muito tempo olhando aquela vitrine, que parecia conter itens mágicos. Sorria feito uma criança, enquanto sua mente lhe trazia ótimas memórias em frente aquela vitrine tão bonita e doce.

Estava tão absorvida que não notou um dos cliente, sentado próximo a vitrine, a observando com um interesse nada discreto.

 

O Le Triunf Café tinha uma atmosfera quase mágica, com sua iluminação amarela refletindo no vidro da vitrine onde Khei olhava absorvida pelas doces lembranças. Não notou o cliente que se levantou e cruzou a porta, indo parar ao seu lado.

— Moça, não é bom ter um desejo e não poder realizá-lo, pode escolher o que mais lhe agrada na vitrine, eu pagarei.

Khei assustou-se pela inesperada abordagem. Olhou atônita, sem saber como reagir e o analisou de cabeça aos pés.

Diante de si estava um homem de vinte e poucos anos, alto, forte e lindo! Olhou para o uniforme, com certeza era muito rico e elegante, tinha a padronagem do uniforme imperial com insígnia e brasões que de alguma forma lhe pareceram familiares, devido a semelhança com o brasão de sua própria família. Porém, ela não conseguiu identificar quem ele seria, mas tinha certeza que ali estava um lorde de alguma hierarquia alta, que sem dúvida a confundiu com uma pobre moça humilde, que estava faminta e não possuía nenhuma moeda para comprar qualquer coisa.

Afinal, estava usando uma camisola com um manto grosso e sapatilhas... Além de nenhuma maquiagem no rosto e o cabelo totalmente solto e descabelado pelo vento. Quem sairia assim na rua a não ser que fosse realmente pobre?

Imediatamente teve vontade de sair correndo e se esconder no primeiro beco que encontrasse, mas o lorde estava ali e parecia disposto a não deixá-la ir para casa "com fome". Era essa uma das principais características dos nobres, sempre atentos aos necessitados ajudando em tudo o que pudessem.

— Desculpe, eu acho que não posso aceitar — desviou o olhar para o chão e tentou se afastar constrangida.

— Não há motivos para constrangimentos — ele quase sorriu. — Entendo que, talvez, não se sinta bem em entrar e sentar, pode levar para casa se desejar, e se tiver mais irmãos, pode escolher algo para eles também.

Khei lembrou que tinha sim, um irmão, e se ele soubesse da situação que a irmãzinha se encontrava, provavelmente a mataria!

Levantando o olhar para tentar mais uma vez desfazer aquela situação, lhe chamou a atenção o cinturão negro adornado de ouro, só então Khei reparou na espada incrivelmente grande e poderosa que o rapaz portava. Sem dúvidas, ele não era um qualquer, porque somente os Lordes do Coirlem ou superiores portavam armas assim e as exibiam no seu dia a dia como mostra de seu poder e magia.

Aquela não era uma espada comum, era uma arma bélica e emanava um brilho mágico, faiscante. Podia-se notar uma névoa que a circulava criando uma proteção ou demonstrando que a arma era encantada.

— Chegou recentemente em Imperah? — o rapaz perguntou sorrindo. — Parece que é a primeira vez que vê um nobre de Bellephorte.

Khei abriu a boca em um perfeito "O", nobres lordes do Coirlem já lhe eram personalidades muito respeitáveis e poderosas, um lorde nobre de Bellephorte era algo incrivelmente maior e melhor, que com certeza não se encontrava todo dia em uma cafeteria. Por que ele estava ali?

— O que... Eu... O lorde... Eu não... — Khei gaguejava e cada vez que tentava falar piorava. — Por que está aqui? Digo... Não, me perdoe... Eu não devia estar aqui... Eu não sou daqui... Quer dizer, eu sou, mas não sou como o lorde está pensando.

— Está tudo bem, eu não estou pensando nada — falou tranquilamente como prevendo tal reação. — Apenas aceite algo para comer e não se importe com o fato de que sou um lorde. — Fez um gesto para que ela entrasse na cafeteria, que parecia agora estar quase vazia.

— Mas eu não estou com fome — sentiu que dizer aquilo seria má educação mas não sabia como agir. — Desculpe, eu realmente nunca fiquei frente a frente com um Lorde de Bellephorte, são como mitos para mim e eu não sei como lidar com isso.

— Então pense em mim como um simples lorde do Coirlen, o mais simples deles — ele riu como se achasse muita graça na reação de Khei.

— Um pouco difícil, sou estudante residente com títulos de nobreza e sei o meu lugar bem como o vosso. Ainda que fosse o mais simples dos lordes do Coirlem, não poderia tratá-lo senão com respeito e louvor. Não sou pobre, não posso deixá-lo pensando assim, é como se estivesse enganando-o.

Khei notou o olhar dele em si, observando-a. Julgou que ele estaria tentando encontrar o resquício de nobreza que, de camisola, sapatilhas e descabelada, não tinha nenhum. Talvez por isso ele riu abertamente.

— Acha que ofereci pagar-lhe algo porque achei que fosse uma pobre moça faminta? — riu ainda mais.

— Bem, eu não pareço muito nobre no momento e realmente estava absorvida pela vitrine de doces... me lembrou bastante da minha infância, dos tempos que cantava no coral e vinha para a capital representar minha escola — Khei tinha o problema de falar demais com qualquer um que lhe desse um pingo de atenção, e naquela noite em específico, estava se sentindo muito carente e queria conversar com alguém.

— Vamos entrar e conversar. Pode me dizer de onde você vem e o que estuda em  Imperah.

— Não estou vestida apropriada para entrar em um local como esse e eu realmente não sei se é apropriado nesta hora da noite estar aqui na companhia de um homem, mesmo sendo o senhor um lorde.

— Se este é o problema, eu não estou sozinho — apontou para uma mesa onde estava sentada uma moça lendo um jornal distraidamente.

— Ah! Com certeza ela é uma nobre de Bellephorte também, isso é realmente incrível!! Por isso que não se vê nobres de Bellephorte vagando por aí? Saem apenas durante a noite, depois que todos estão dormindo? — Mais uma vez, Khei se arrependeu de seu comentário besta, mas o lorde pareceu se divertir com aquilo.

— Não exatamente, passamos o tempo todo ocupados, são raros os momentos que temos para deixar o castelo e espairecer a mente, degustando um bom café e conversando sobre assuntos normais — disse se dirigindo para o interior do café, seguido por Khei que não teve alternativas além de segui-lo.

Ao se aproximar da mesa, a moça levantou o olhar e ofereceu um sorriso amigável, indicando que Khei era bem-vinda à mesa.

— Deixe-me apresentar-lhe minha amiga, esta é Lady Crissânea e eu sou Lorde Guy. — Ambos fizeram um pequeno aceno inclinando a cabeça como cumprimento, que Khei retribuiu com uma reverência.

— Sou Khei Protheroi, grata por vossa amabilidade. — Khei ficou esperando que ambos lhe dissessem seus títulos, para que soubesse de quem se tratavam, porém, nem mesmo os sobrenomes foram pronunciados e Khei achou estranho, mas seria péssimo perguntar.

— Bem vinda a mesa Khei! É sempre bom conversar com pessoas novas! — Lady Crissânea dizia com o riso aberto e olhava furtivamente para Lorde Guy, que correspondeu com um sorriso de canto muito suspeito.

— Então Khei, de onde você é? — colocou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos, com o olhar dando total atenção para Khei.

— Sou de Boandis, no litoral. Eu e meu irmão viemos para Imperah terminar nossos estudos de magia buscando uma oportunidade no Coirlem. — Khei intercalava o olhar entre um e outro a sua frente, sem saber o que pensar, pois Lorde Guy lhe fitava serenamente com atenção, enquanto Lady Crissânea parecia ter um sorriso divertido e curioso.

— Quem é o seu irmão? — Lorde Guy perguntou naturalmente.

— Ele se chama Codhe, muito elogiado pelos nossos mestres — falou com orgulho. — Iremos concluir nossos estudos em algumas semanas.

— E suponho que irão para a faculdade aprimorar seus estudos de magia e receber seus títulos de lordes por mérito.

— Exatamente. “Era tão óbvio assim ou Lorde Guy tinha o poder de saber das coisas?”

— Eu conheço o seu irmão, ele vem se destacando em Imperah, não apenas pelo ótimo desempenho nos estudos, mas também na magia. Dizem que ele domina o fogo melhor que muitos mestres dessa arte. — Lorde Guy olhou para Lady Crissânea como se buscasse uma confirmação, que foi dada em seguida.

— Sim, até os nobres de Bellephorte tem ouvido falar no nome de Codhe Protheroi. Há grandes expectativas em relação a ele quando assumir uma cadeira no Coirlem.

— Eu não tenho certeza que ele vá assumir uma cadeira, ainda não nos formamos… — Khei ficou um pouco apreensiva com aquela possível nomeação e logo foi interrompida.

— Ah, mas ele vai, podemos garantir! — o rapaz abriu novamente o sorriso, certo de sua afirmação. — Vocês podem não ter conhecimento ainda, mas há uma legião de apoiadores que desejam a liderança de seu irmão no Coirlem.

Então vieram os pedidos. Khei ficou novamente boquiaberta com aquela revelação. Seu irmão era tão popular assim? Até os nobres de Bellephorte o apoiavam e ele nem imaginava? Ou ele sabia de tudo isso e não havia lhe contado? Agora Khei estava em dúvidas e cheia de perguntas.

Não havia pedido nada ainda, mesmo assim, recebeu um pedaço de torta de amoras com marzipã, sua favorita e se admirou de como adivinharam o seu gosto.

— É minha favorita! Como sabiam?

Ninguém lhe respondeu, Lady Crissânea já degustava seu café como se não tivesse ouvido nada e logo a conversa tomou um rumo bem ameno, com Khei fazendo perguntas sobre a rotina dos nobres de Bellephorte, magias, costumes, curiosidades...

O que mais surpreendia Khei não era o fato de estar em plena madrugada, de camisola, sapatilhas e descabelada, em um café na companhia de dois nobres de Bellephorte, conversando tranquilamente sobre coisas do dia a dia, mas sim a forma com que ambos a tratavam, como se a conhecessem de longa data.

Não foi apenas seu gosto pela torta, na medida que iam conversando ela notou que as perguntas eram feitas apenas para confirmar suas respostas, mas seu sentimento não era de preocupação, e sim de privilégio. Sentia-se a moça de maior sorte por ter obtido a atenção de personalidades tão importantes sem ter feito nenhum esforço. Concluiu que tudo isso era graças ao seu irmão famoso ao ponto de que ela, como irmã, também tornou-se digna de receber um tratamento especial como aquele.

Khei sem dúvidas, era uma moça de sorte. Ela não sabia, mas estava em companhia de duas das mais importantes personalidades em Les Marcheé, dois Lordes Magos da mais alta estirpe e cujos poderes eram únicos e inigualáveis.

Ela não tinha ideia do quanto esse encontro fora providencial, havia sido uma coincidência que eles a encontrassem no meio da madrugada, já que pretendiam procurar os gêmeos apenas pela manhã. Mas assim que Lorde Guy a reconheceu olhando a vitrine, o trabalho foi adiantado e muitas preocupações resolvidas de maneira simples e natural.


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