Passou a mão pela grande barriga inchada e com veias anormais, completamente fraca, andando de forma quase arrastada pelas calçadas da rua trouxa, aproximando-se daquele orfanato. De seus olhos pretos, dançavam lágrimas, os lábios se chocando, pelo frio, a pele mais pálida que a neve que começava a cair.

“Oi, meu amor.” Aproximou-se do mesmo, vendo seu marido, Tom Riddle Sr. Sentado na cama, encarando ao redor com estranheza. Sorriu de forma controlada, o coração martelando pela ansiedade. “O que há querido? Não se sente bem?”

“Quem diabos é você?” Perguntou ele de forma rude erguendo-se da cama, empurrando os lençóis para longe, analisando-a com o mais puro escárnio. “Onde estou?”

“Está em casa.” Respondeu, nervosa, o estômago gelado, tentando tocá-lo e seu amado desviou, deixando-a encolhida e completamente ferida. “Meu amor, você não se lembra de mim…?”

“Por que diabos em me lembraria de você?” Questionou Riddle recolhendo as vestimentas e trajando-as de forma apressada, completamente assustado e tremendo. Merope sabia como ele se sentia; pelo jeito que as mãos se apertavam. Conhecia seu Tom dos pés a cabeça. “Eu não conheço você.”

“Nós somos casados.” Argumentou vendo que o mesmo estava prestes a sair. Riddle a encarou com um nojo e o coração tão frágil de Merope se partiu mais uma vez. “Tom, eu te amo!” A garganta se fechou, os olhinhos pretos cheios de lágrimas. “Você não me ama?”

“Eu nem mesmo sei seu nome, garota. Por que eu amaria você?” Rebateu de forma fria, saindo do quarto e batendo a porta, assustando a pobrezinha grávida, que agarrou ao seu filho, a última lembrança que teria de seu amado Tom Riddle; que nunca mais retornara aos seus braços.

As moças do orfanato a receberam bem, sabendo cuidar de parto. Gritou, chorou, esperneou, os olhos embaçados, vidrados na luz que balançava no teto… Mas tudo o que conseguia pensar era nele. Seu Tom. Onde estaria? Com quem estaria? Estaria feliz? Triste? Será que saberia que naquela noite fria, no meio daquele orfanato trouxa, sua ex-esposa se encontraria morta em poucos minutos e seu filho estaria aos prantos?

Dor. Era só isso que consumia o corpo pequeno e anormalmente magro da pequena Gaunt; fechar seus olhos apenas piorava as coisas. Ela sempre acabava revivendo as torturas que passara quando criança. As maldades cometidas por seu pai, Servolo, e irmão, Morfino.

“Uma completa inútil essa garota!” Exclamou aquele monstro, empurrando-a no chão na casa suja, enquanto tremia, chorando em silêncio. “Morfino, leve essa vadia para o quarto dela e ensine uma boa lição a essa vagabunda amante de trouxas!”

Foi puxada pelo braço, soluçando, arrastada até seu quarto, onde fora marcada de formas que nunca quis. Pobre Merope, só queria que a família entendesse e confiasse nela; a amasse.

"Vagabunda!" Gritava seu irmão sempre que ela passava por ele. "Por que está tão tristinha? Não gostou de como nos relacionamos ontem, irmãzinha." Tocou o ombro dela com violência. "Ainda está apaixonadinha por aquele trouxa sujo? Saiba que ele nunca vai querer nada com alguém pobre como você."

Também, em seus últimos segundos respirando, ofegante, o corpo vermelho e estremecendo pelo frio, lembrava-se de como fora feliz no tempo que tinha seu amado Riddle enfeitiçado… Amando-a.

Sorriu, o corpo tremendo, sem sentir mais dor, pensando nos beijos quentes, o jeito que a mão de seu querido Tom a tocava e sussurrava o quanto a amava. As lágrimas não paravam e a mente nublada, tornou-se borrões ao que ouviu a voz estridente de seu filho.

Tocou-o com sua mão ensanguentada e grande, vendo aquele rostinho bonito. Olhou para a moça do orfanato, sorrindo de forma perdida e sussurrou o nome daquele que mudara sua vida, mesmo não sabendo o que fizera. Seus olhos se fecharam e a mão esguia encostou no chão.

O único som no Orfanato Wool era o choro de seu filhinho.

Que Tom Servolo Riddle fosse amado, do jeitinho que Merope Gaunt não fora, mas tanto precisara.