Meiko

Acenei para o meu irmão vendo-o descer a rua para ir ter com os amigos. Tentei sorrir e mostrar que estava tudo bem. Tentava que ele não se preocupasse e que não começasse com os stresses habitual dele em relação à Raimon e ao futebol. O Atsushi ficou extremamente frustrado quando soube que perdemos o jogo contra a Eito... Mal ele sabe da verdade. Não lha consigo contar. E depois de ontem, quando tive que voltar à Raimon... Isso era algo que realmente evitaria falar com ele.

Flash Back On

—Treinador Fudou!- corri até ele, alcançando-o. Assim que a Haruna me ligou e me disse o que se estava a passar, nem precisei de pensar duas vezes para começar a correr para a escola, ainda com o equipamento do clube vestido- Você teve que se demitir do seu posto foi porque...

—Não foi bem assim.- Voltou-se para mim- Sabia muito bem que isto aconteceria.

—Mas... Mas eu queria aprender a jogar como deve ser consigo. Queria jogar com você como treinador. Queria ser muito melhor e aprender tudo como os meus pais aprenderam, mas... Agora o que irá acontecer?

—É simples. Saberás tudo se continuares a jogar futebol.
Os segundos seguintes foram de completo silêncio. Encaramo-nos por breves segundos. O treinador parecia bastante sério na sua decisão e aquele olhar mostrava que algo estava por vir... Algo importante.

—Agora terás de trabalhar ao lado do teu treinador.- Voltou-me as costas e continuou a andar, afastando-se.

—O quê? Mas...

Flash Back Off

Dei por mim a encarar uma vez mais o enorme relâmpago da Raimon, o seu belo símbolo. O que poderia fazer agora? Não sabia o que sentir em relação a ter um novo treinador. Depois do que se passou, sabia que os riscos do Quinto Setor vir em cima de nós era muita, mas nunca pensei que o treinador pudesse ser obrigado a demitir-se pelo que aconteceu, sendo que parte da culpa foi minha.

—Bom dia.- Voltei-me de imediato para trás, surpreendida com o cumprimento. Nem ouvi o Tenma chegar.

—Bom dia. Já sabes que o aconteceu com o treinador Kudou?

—Sim.- Também ele parecia abatido. Como o compreendia- Agora teremos um novo treinador.- Pus-me novamente a encarar o enorme símbolo.

—Um novo treinador.

Antes do treino começar, tentei despachar-me a vestir o equipamento, trocando-o pelo uniforme escolar, e apressei-me a ir até à antiga sede do clube de futebol. A sede onde tudo tinha começado. Parei em frente à placa onde estava escrito há já muito tempo "Clube de futebol". Perguntava-me porque razão o futebol não podia ser como naquele tempo. Porque razão queria alguém muda-lo? Não era bom tal e qual como estava? Qual era o problema afinal? Abanei de imediato a cabeça, tentando livrar-me daqueles pensamentos. Não me podia dar por vencida. Aqueles seriam apenas mais alguns desafios que teria de superar. E iria fazê-lo. O futebol iria regressar à Raimon tal como devia ser.

Voltei rapidamente para o campo de treino. Foi estranho chegar lá e ver já todos os veteranos prontos para começar. Bom, todos menos o capitão. Para além da sua ausência, também estava a em falta o treinador Kudou. Era impossível não notar a falta de ambos em campo. E isso notava-se, principalmente nos veteranos. Alguns pareciam desconcentrados; não defendiam bem, não rematavam como devia ser ou então perdiam facilmente a bola. Nós os três apenas nos limitávamos a passar a trocar passes uns com os outros. Queria praticar a minha técnica, mas estava impossível fazê-lo com os veteranos a olharem-me de um forma que se pudessem, já me tinham posto a sete palmos a baixo da terra.

—O que se passará com o capitão?- o Shinzuke passou uma vez mais a bola, a qual parei com a planta do pé.

—Tenho a certeza que é por causa do remate contra a Eito.

—O que se passa contigo? Achas que isso foi um erro?- o Tenma ia apanhar se pensasse daquela forma.- Passei-lhe logo a bola.

—Não... Não é isso.

—Mas o que se passa com vocês?- voltei-me para trás, surpreendida com o grito do Kurumada-senpai- Concentrem-se!

—Dizê-lo é fácil, mas...

—Não há quem se consiga esforçar agora.

—O que disseste?- creio que a minha reação seria bem pior com a resposta do Hayami-senpai.

—Está claro que o treinador se demitiu. O capitão nem se quer vem treinar.- Ficaram logo todos desanimados. Que bando de...

Ao observa-los, o meu olhar cruzou-se logo com o do Kurama-senpai. Ele desde o início que se tinha mostrado o mais irritado com tudo o que tinha acontecido no jogo contra a Eito. Com toda a certeza que não nos perdoaria tão facilmente. Não o conhecia há muito, mas notava-se o tipo de personalidade que tinha e se eu não queria confusões para o meu lado, era melhor nem abrir a boca.

O treina acabou por correr da mesma forma, mas durou pouquíssimo. Ninguém tinha entusiasmo para treinar e os veteranos acabaram por dar como terminado o treino mais cedo. Arrumamos as bolas no sítio devido - nós os primeiro ano, obviamente - enquanto eles se foram sentar para descansar.

—O que será agora do clube de futebol, rapazes?- revirei os olhos. Mas o Hayami-senpai só se sabia queixar?

—Apesar das condições que tínhamos nos jogos, o treinador Kudou sempre nos deixou jogar livremente.- Por um lado fiquei surpreendida com o Kurumada-senpai dissera, por outros, nem por isso. Era o treinador o Kudou, foi treinador da seleção nacional e treinou jovens a quem hoje em dia o futebol ainda lhes apaixonava.

—Mas de certeza que já não voltares a fazê-lo.- Sim Kirino-senpai, faça-me sentir culpada. Olhei de esguelha para o Tenma. Estava de cabeça baixa.

—Bem, quem manda são os Quinto Setor, não é verdade? Então basta com que façamos o que eles digam, e as nossas notas melhorarão muito.- O Minamisawa-senpai só podia estar a brincar. Ele não estava a falar a sério.

—Para ti isso basta?- até aplaudia o desprezo nas palavra do Kurumada-senpai, mas não era momento para isso.

—É para isso que serve estar no clube de futebol.- Ok! Aquilo para mim tinha sido a gota de água do senhor cabelinho penteado.

—No final...- avancei um pouco para lhe dizer poucas e boas, mas detive-me ao ouvir o Kurama-senpai falar- Não importa quem venha. Tudo será igual.

—Isso não...

—Isso não é verdade.

Alguém acabou por dizer exatamente as mesma palavras que eu pensava gritar-lhes. Todos olhamos para o cimo das escadas que levavam ao campo de treino. O sol por de trás da pessoa que se aproximava dificultava um pouco ver quem era, mas nesse instante, a silhueta e a voz, fizeram-me lembrar uma pessoa muito familiar. E só quando a pessoa começou a descer as escadas, é que não consegui evitar ficar boquiaberta, arregalando os olhos. Aquilo só podia ser mentira! Eu pensei que ele estivesse fora do Japão a jogar. A minha tia disse-me que ele só voltaria dentro de algumas senas, e agora o meu tio Endou estava ali mesmo à minha frente com um enorme sorriso no rosto.

—Há quanto tempo!- a Haruna foi a primeira a cumprimenta-lo, curando-se. Claro que ela também o conhecia, ao contrário de todos os outros que pareciam não fazer a menor ideia de quem ele pudesse ser.

—Tio?- comecei a andar até ele, ainda um pouco incrédula com tudo aquilo. Sorriu-me ao ver-me junto a ele- Mas... Como? Eu pensei que...

—Desculpa não te ter avisado mais cedo, Meiko! Pedi também a tua tia para não o fazer.- Claro. Afinal ela sabia. Daí esta manhã ter estranhado a sua felicidade. Passou a mão pela minha cabeça antes de se dirigir à equipa- Está aqui a equipa toda?

—Não. Falta o capitão.- Já que ninguém se dignava a responder, tive de o fazer.

—Está bem. Não faz mal.- O seu sorriso continuava sem desaparecer, assim como meu espanto- A partir de hoje sou o novo treinador. Chamo-me Endou Mamoru.- Agora sim estava estupefacta! Ele seria o nosso novo treinador?!

—O quê?! Endou Mamoru?! O lendário goleiro da Raimon?!- todos estavam boquiabertos por finalmente saberem que ele era o famoso Endou Mamoru, eu estava por saber que ele seria nosso treinador. Parecia que a minha boca se ia rasgar com o enorme sorriso que eu tinha estampado e que só se queria alargar ainda mais- Encantado.- Todos os veteranos se levantaram de imediato.

—Não acredito.

—Que surpresa.- Bem podiam dizê-lo.

—Mas Endou-san, tu és o novo treinador?

—Sim.

—É fantástico!- claro que o Tenma estava empolgado.

—É ele em pessoa!- ele o Shinzuke não conseguia estar quieto.

—Sim! Vamos aprender a jogar futebol com o Endou Mamoru! É como um sonho.- O meu tio olhou para o Tenma, o qual abriu um enorme sorriso.

—O plano para depois das aulas é este: uma prática especial no campo de futebol junto ao rio.

—No campo junto ao rio?

—Mas porquê nesse sítio?

—Porque aí vocês encontraram algo que não podem ver no campo do instituto.

—Algo que não podemos ver no instituto?- também estava curiosa.

—E para que necessitamos ver isso?

—Para vencer.- Todos os veteranos se entreolharam. Estavam assim tão chocados porquê- Se praticamos todos juntos, a Raimon será muitíssimo melhor. Espero-vos lá.- Voltou-nos as costas e começou a ir embora sem dizer nada mais.

—Vamos treinar com o Endou Mamoru!- o Tenma estava realmente empolgado.

—Mas quem pensa ele que é?- olhei logo para o Kurama-senpai.

—Para vencer?- o Amagi-senpai não se mostrava convencido.

—Não esperava isto de um treinador enviado pelo Quinto Setor.

—Acham mesmo que ele é do Quinto Setor?- agora já não conseguia ficar calada- Alguém que ama o futebol como o teu tio já mais se iria aliar a pessoas como as do Quinto Setor! Não digam coisas absurdas como essas!

Saí a correr mesmo antes de me responderem, não por ter medo de ser repreendida por responder a uma veterano - não que isso não fosse acontecer mais tarde -, mas queria falar com o meu tio. Não podia esperar para quando regressasse a casa.

—Tio Endou! Espera!- ele deteve-se e voltou-se logo para mim, sorrindo.

—O que se passa, Meiko?

—Porque não me disseste que ias voltar para o Japão? E que serias nosso treinador?

—Não foi mais divertido sendo uma surpresa?

—Não!- ele apenas se riu.

—Desculpa! Desculpa!- terminou de rir e encarou-me- Mas o que importa agora é que vamos dar o nosso melhor para ganhar os próximos jogos.- Sorri e assenti de imediato após o choque inicial, vendo-o estender-me o punho, contra o qual choquei o meu.

—Claro que sim! O Atsushi vai-se delirar quando te vir.- Riu-se.

—É provável! Também tenho imensas dele! Mas antes de ir visita-la e aliviar um pouco as saudades dela também.- Um pouco do meu sorriso desapareceu.

Ela de certeza que ficará muito feliz.- Aproximou-se e afagou-me novamente os cabelos loiros.

—A tua mãe vai voltar. A minha prima Malina é mais forte do que aparenta.- E parou, deixando-me encara-lo.

—Eu sei, tio Endou. Eu sei.

Todos me diziam aquilo, mas eu não via a hora de a ver acordada e poder aprender a jogar futebol também com a minha mãe. Talvez assim o meu pai voltasse para junto de nós. Não o admitia muitas vezes, mas sentia a falta dele.