Ai, Ai, Como Eu Me Iludo escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo Único




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“Você funciona de uma forma bem estranha”, finalmente disse Peter, parando no meio do corredor, sentindo seu coração bater tão forte que ele não sabia se estava nervoso por ter que olhá-la para enfrenta-la, ou estava tendo um ataque cardíaco. Mary MacDonald tocou as tranças ao virar-se, notando que ele havia parado de andar. A garota uniu as sobrancelhas, visivelmente confusa, segurando seu trombone enquanto seus colegas de Coro continuavam o caminho.

Peter piscou para sua pele escura, toda vez fascinado, toda vez como se fosse a primeira vez.

“Como assim?”, questionou ela.

“Bem, você só fala comigo quando quer... É muito... Inconstante. Você é muito inconstante”, Peter tomou ar, trêmulo. Mas tudo que Mary vez foi sorrir, quase solidária.

“Ah, Pete, eu sou inconstante. Acho que se quiser manter uma amizade comigo, vai ter que lidar com isso”. Seu coração pareceu pular uma batida. Todo o seu corpo reagiu a uma palavra daquela frase e o garoto sentiu uma súbita vontade de chorar quando sua garganta se fechou. Mary continuou sorrindo. “Tudo bem pra você?”

“Sim... Sim, claro”, sorriu ele, segurando as lágrimas com tanto vigor que ele seria inundado caso não desse um jeito de sair dali o mais rápido possível. Mary aumentou o sorriso e simplesmente virou-se, quase correndo atrás do coro, soltando algumas notas com seu trombone pelo corredor barulhento. Peter cobriu a boca, completamente chocado.

Mary queria ser sua amiga? Merlin, ele estava APAIXONADO, como aquela divergência de sentimentos aconteceu?

Virou-se lentamente, impressionado com sua imbecilidade. Sentiu-se tão ingênuo que a vergonha o recobria como uma película grossa. Será que ele era louco? Será que confundiu tudo sozinho ou Mary fora maldosa ao não explicar o que queria? Ele estava tão confuso... Como ela poderia ter saído com ele, em dois encontros, e de repente só queria uma amizade? Ou aquela amizade é uma amizade colorida e novamente ela não colocara as cartas na mesa?

Agarrou com força seus cachos enquanto subia as escadas para a Sala Comunal, murmurando a senha para a Mulher Gorda, sentindo-se um pouco melhor ao ver que Sirius estava na Sala deserta, comendo um alcaçuz e olhando para o teto, completamente torto naquela poltrona. Sentou-se no sofá, sentindo seu coração doer de verdade, mas era uma dor que nenhum medicamento poderia solucionar. Passou a mão no rosto, desorientado. Olhou Sirius, quase ofegante, desesperado por respostas.

“Cara... Cara, uma coisa muito ruim aconteceu”, disse ele, ainda com vontade de chorar.

Sirius se mexeu devagar, ainda em uma posição estranha na poltrona, sugando o terceiro alcaçuz de sua mão. Assentiu e deu um breve ‘jóia’, voltando a fitar o teto.

“Você não vai perguntar o que é?”, indagou Pete, chocado com o egoísmo de Sirius. Às vezes achava que ele e James eram a mesma pessoa, só tinham dupla personalidade.

“Eu não estou muito interessado, pode falar pra desabafar, mas eu não vou ouvir... Me desculpa o vacilo”, disse ele de boca cheia.

“Merlin...”, murmurou Peter, mais uma vez decepcionado.

O quadro abriu-se mais uma vez e James chegou com um pouco pálido, com a mão no estomago. Pareceu aliviado ao ver os amigos.

“Eu quase morri no banheiro, de verdade, alguém envenenou meu bolinho e eu tenho certeza que foi a McKinnon, é a cara dela fazer isso. Eu deixei minha alma naquele sanitário, eu juro que fiquei sentado naquela privada por quase duas ho...”

“Ah não”, disse Sirius, arrumando-se rapidamente na poltrona e levantando-se, saindo da Sala Comunal. James uniu as sobrancelhas e sentou-se na poltrona que o amigo desocupara.

“Ele é tão sensível quando o assunto é fisiologia humana, tsc, tsc... Tudo bem, Wormtail?”, questionou o amigo ao notar que Pettigrew estava tendo um surto interno.

“Não, está tudo horrível, James, Mary acabou com a minha vida!”, soltou Peter, desesperado por conselhos, por uma ajuda. O Potter apenas rolou os olhos e cruzou as pernas, também cruzando as mãos sob os joelhos unidos, lhe dando um olhar avaliativo.

“Problemas com mulheres, minha especialidade. Pode soltar a fita”.

“Você se lembra que ela simplesmente esqueceu que eu existia depois daquele segundo encontro? E eu fiquei que nem um imbecil achando que falei algo errado... Que eu tinha talvez deixado claro que estava caindo de amores por ela? Então houve aquela semana, que de vez em quando ela falava comigo, com muita naturalidade, como se nada tivesse acontecido entre nós, como se não tivéssemos ficado horas aos beijos na frente de um monte de gente... E então ela sumia de novo... E hoje eu parei e confrontei-a. Eu falei que ela era inconstante demais, digo, você lembra que ela também fez isso depois do primeiro encontro, certo? Ela fez a mesma coisa! E eu, idiota, deixei! Eu deixei ela fazer isso comigo! E quando eu disse que ela era inconstante, ela simplesmente disse que para manter uma amizade com ela, eu devia me acostumar... Uma amizade... AMIZADE!”, Peter passou a mão no rosto novamente, desesperado. “Eu não beijo a porra dos meus amigos!”.

Ele tapou os ouvidos com força e fitou seus sapatos, sentindo-se um pouco mais leve após o desabafo, mas ainda assim o desespero parecia pronto para engoli-lo. Já conseguia se ver fazendo mais uma fita de músicas tristes pós-termino, e era para um termino que nunca aconteceu, já que o único idiota que se apaixonou ali fora ele. Ergueu a cabeça lentamente, olhando James, que parecia sentir pena do amigo. Droga, pensou Peter, sabendo que ele, mais uma vez, caiu na própria armadilha.

“Pete... Olha, eu não vou mentir... Não é sua culpa, é que... Olha, talvez... Bem... Ela meio que não tá nem aí pra você”, Pettigrew foi firme ao segurar as lágrimas enquanto fitava os olhos castanhos de James, “Ela não gosta de você, ela só queria te dar uns beijos e é isso. Eu sei que é cruel ela não ter deixado isso claro, mas não tinha como ela saber que você ia gostar dela”.

“Mas eu estava quieto na minha, eu nem sabia que ela existia, ela que ficou insistindo e insistindo, e insistindo...”

“Eu sei, eu sei...”

“E eu cedi, eu deixei ela entrar nessa bolha, nesse núcleo de pessoas com quem me importo e... Merlin, eu me sinto um imbecil”.

“Nah, olha, quando você se sentir um imbecil, se lembre daquela vez que Jemima, aquela veela, viajou para a França depois de uma semana me fazendo sentir o ser mais incrível e especial do mundo, roubado minha virgindade e minha pureza em uma quarta feira de sol escaldante, às quatro e trinta e dois da tarde, no meu sofá, com meu gato assistindo. Lembra que eu fiquei de cama uma semana? Que eu perdi quatorze quilos, raspei a cabeça e ouvi aquele disco do Lionel Richie tantas vezes que eu já canto mais do que ele? Cara, essas coisas acontecem”.

Peter mal piscou para James. Remus desceu as escadas do dormitório, segurando alguns livros. Sentou-se ao lado de Peter, em silêncio, até James tocar seu joelho, solidário.

“Pete está sofrendo”, avisou James. O Lupin olhou o amigo com o olhar que Peter tanto detestava, era quase um ‘ah, mais uma vez?’.

“O que aconteceu?”, questionou Moony.

“Mary meio que terminou comigo”, contou ele. Remus uniu as sobrancelhas.

“E vocês começaram algum dia?”, perguntou. James tirou a mão que acariciava o joelho de Remus e lhe deu um tapa.

“Cara, não seja insensível!”, repreendeu o Potter. Peter apenas girou os olhos.

“Ele não entende, porque ele não é como as pessoas burras que correm atrás. Remus é uma Mary!”, disse Peter, magoado. James uniu as mãos, chocado.

“Merlin... Você é totalmente um Mary Jemima... Sirius não tem uma porque, OH CÉUS ELE TAMBÉM É UM MARY JEMIMA!”, Prongs cobriu a boca, completamente impressionado ao juntar as peças.

“E posso saber o que seria um Mary Jemima?”, perguntou Remus.

“É uma pessoa que usa as outras, que não se envolve de verdade”, disse Peter “Que ilude!”.

“Eu nunca iludi ninguém”, esclareceu Remus.

“A questão não é só essa... A questão é que se você não deixar claro o que quer, deixa um vácuo pra outra pessoa viajar em possibilidades. Tem que ser como eu faço: Olha, eu só quero um pente e rala. Viu? A menina já sabe que eu só quero um pente e rala. Mas se eu estou interessado em conhece-la, eu falo: Vamos continuar saindo... Ver no que dá. Viu? É tão simples!”, disse James.

“É, eu queria que ela tivesse me dito isso!”, apontou Peter, esclarecido.

Remus riu, coçando as madeixas.

“As coisas não funcionam assim. As pessoas não têm tudo claro na mente o tempo inteiro. Você tem certeza de tudo o tempo inteiro? Além disso, você querer dela uma certeza que você tem sobre ela, é querer forçar algo que não existe, ou não aconteceu ainda...” James apoiou o queixo em uma das mãos, interessado em mais uma lição de Remus, “Você contou pra ela que estava gostando dela?”

Peter abaixou os olhos.

“Viu, não tem como ela ler sua mente, vai ver, pra ela, você só estava curtindo o momento, assim como ela”.

“Por que você está do lado dela?”, questionou James, exaltado, ignorando a aparição repentina e silenciosa de Sirius, que sentou-se no braço da poltrona, agora com um saco de alcaçuz.

“Eu não estou do lado de ninguém! Sirius, por favor, ajude aqui. Mary terminou com Peter”, pediu Remus.

“Vocês estavam namorando?”, perguntou Sirius, confuso. Remus apontou para o amigo e olhou para Peter, como se aquilo resolvesse tudo.

“Não, nós não estávamos namorando, mas nós fomos em dois encontros e ela me deu um fora extremamente frio! Sem contar que eu passei o segundo encontro inteiro interessado em tudo nela, mas ela sequer perguntou o que eu gosto! E no primeiro encontro, que ela simplesmente me largou pra conversar com os amigos! Ela nem me apresentou pra ninguém!” Sirius deu um sonoro muxoxo, girando os olhos.

“Nunca saberemos a versão real dessa história porque você adora distorcer tudo, Peter. Você é a definição de carente e dramático, as vezes a menina foi um doce e seu cérebro maluco viu tudo errado”, disse ele, mordendo um alcaçuz. Peter não conseguia nem piscar para Sirius, completamente chocado, mais uma vez, em como ele conseguia ser frio.

“Realmente... Você é um pouquinho dramático, Pete. Mas assim, isso não isenta a Mary de culpa, claro, mas... Você é meio dramático”, apaziguou James, pegando um alcaçuz com Sirius, parecendo um pouco envergonhado.

“Talvez você tenha se iludido”, revelou Remus. “Não é sua culpa, não é culpa de ninguém, você queria que ela atendesse suas expectativas e aí que ela é um ser humano, pensante, independente, não sabe ler sua mente... Isso tudo é falta de comunicação pra mim”.

“Não é falta de comunicação, estava escrito na porra da minha cara o quanto eu gosto dela!”, Peter desviou o olhar dos três, devastado. “Olha, obrigada... Eu... Obrigada pelos conselhos, vou na cozinha”.

Peter levantou-se do sofá, coberto pelo silêncio da Sala, ainda de cabeça baixa ao passar pelo buraco do quadro. Por mais que ele repetisse a história para seus amigos, apenas ele e Mary saberiam a versão real, distorcida ou não. Porque James não estava lá, vendo a forma como Peter passou horas admirando o rosto da garota, ouvindo-a com toda a sua atenção, relatar suas aventuras com algumas amigas. Sirius não estava lá quando ela beijou seu pescoço e o tocou, como se quisesse se costurar a ele. As mãos... Ele não sentiu as mãos... Remus jamais sentiria o coração de Peter quase parar toda vez que ela ria de alguma coisa que ele dissera, a forma como ele podia parar no tempo e colocar aquele riso no repeat infinito.

Desceu as escadas, pronto para escrever hinos de tristeza mais icônicos que o ABBA. Se Mary o iludiu, ele não sabe. Talvez tenha feito isso sozinho, como todas as outras vezes. Sua mente o sabotou o fazendo colocar a cabeça no travesseiro todas as noites, pensando em seu futuro juntos, enquanto Mary talvez tenha pensado nele por alguns segundos no dia, mas naquela hora, estava roncando, ou lendo, ou conversando com amigas, ou pensando em outro alguém...

Estava na linha do ódio e do amor, sem saber se devia ou não culpá-la.

Por via das dúvidas, ia culpar-se mais uma vez.

E talvez, o karma cairia espontaneamente sobre Mary, e ela gostaria de alguém que faria o mesmo que ela fez com Peter, e ela se perguntaria se merecia aquilo, o que fez para merecer aquilo. Talvez ele tenha sido frio ao dizer várias vezes que não estava interessado nela quando ela se interessou por ele. Ou fora mal interpretado com seus olhares de tédio ou suas falas despretensiosas, tentando capar seu coração quase quebrando a caixa torácica. Não sabe o que deu errado, mas ele tinha que entender que deu.

Passou na sala do Coro de Hogwarts, admirando-a tocar seu trombone.

Ai Ai, Como Eu Me Iludo – O Terno

Seu coração pulava uma batida toda vez que a via. Não estava perdidamente apaixonado, só... Só pensava nela o tempo inteiro. E queria saber tudo sobre ela, beijá-la, abraça-la... Não era uma paixão arrebatadora, mas... Mary notou seu olhar na porta e continuou soprado o instrumento com vigor, mas lhe deu uma piscada.

Peter sorriu levemente, seguindo seu caminho.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.



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