The club isn't the best place to find a lover
So the bar is where I go

Nico estava fazendo aquilo de novo. Quase todas as sextas ele ia até o meu apartamento,tentar me empurrar para as festas e barzinhos. Até que eu acabei cedendo.

Agora ele vinha as quintas. E as quartas. E algumas terças. E definitivamente toda segunda-feira.

Eu tinha que recusar a maioria dos convites,mas ele não aceitava que eu dissesse “não” nas sextas e aos sábados. Nico não aceitava “não” facilmente.

Quando naquele noite ele adentrou no meu apartamento sem nem mesmo bater,eu sabia que não tinha escolha. Eu tinha que começar a trancar as portas. E talvez,trocas as fechaduras.

 - Não. – falei sem ao menos dar-lhe a chance de falar alguma coisa.

— Se você não vai sair amanhã para um enterro – ele apontou com o indicador – um funeral – apontou com o anelar – ou um velório,você não tem porque negar.

— Esses são os seus tipos de passeios,Di Angelo – revirei os olhos,trocando de canal. Passava um ótimo documentário sobre pinguins no Discovery Channel e eu não queria ser interrompido.

— Para de ser chato – ele revirou os olhos também – Eu cortei o cabelo justamente para sair hoje!

Era verdade. Depois do que pareciam meses,ele havia aparado o cabelo. Não estava mais caído nos ombros como antes. O que Nico chamava de cabelo,eu chamava de um monte grande e fedido amontoado de óleo.

— Ficou ótimo.

—Obrigado –ele piscou e fez arminha com a mão – Agora vai colocar aquele blusinha xadrex que fica um escândalo em você!

— Cai fora – revirei os olhos, jogando uma almofada nele – Você precisa entender que quando um cara diz “não”,é “não”,Nico.

— Eu sou persistente – ele se jogou no sofá ao meu lado e começou a batucar os dedos na mesinha ao lado – Eu vou sair daqui,quando você estiver pronto para sair daqui – apoiou os pés na mesinha de centro e suspirou – E eu espero que isso seja daqui a quinze minutos,porque o Táxi não vai esperar mais do que isso.

 Era impossível discutir com Nico Di Angelo. Quando você está afim de uma boa discussão,ele só se afasta com a sua eterna frieza e fica por isso mesmo. Então,ou eu levantava e ia me preparar para mais um noite de diversão – não – ou era isso mesmo. Eu havia dito que não há opções.

 Olhando para o meu cabelo no guarda roupas todo espelhado,eu bufei com raiva. Qualquer pessoa em plena noite badalada iria adorar sair com os amigos – não eu. Eu só queria poder ficar em casa e aprender mais sobre pinguins e seus derivados.

Eu não gostava de NY. Não gostava de morar no meio de uns dos lugares mais agitados do mundo,mas era o que eu precisava no momento. Quando minha mãe me deu a chave do apartamento e disse : “ Vai”,eu sabia que também não tinha escolhas ali.

Não que ela não estivesse por mim agora. Estava,mas não no mesmo teto.

Passei os dedos no cabelo e abri o armário atrás da blusa xadrez. Não é como se eu pudesse reclamar também,o apartamento era bem localizado no meio da cidade. Se eu pensasse demais em ir a uma padaria,era capaz de uma aparecer magicamente no prédio ao lado. Eu gosto disso,mas não é o que eu quero.

Eu não sei o que eu quero.

— Você tem dez minutos,Perseu – Nico gritou da sala.

E tinha isso também. Nico precisava de mim assim como eu precisava dele. Alguém tinha que livrá-lo das enrascadas as quais ele mesmo se metia.

Coloquei a blusa xadrez e amarrei os meus tênis. Tentei melhorar a minha cara de “eu não queria mesmo estar aqui” para  o “eu não queria estar aqui”.

— Você tá ótimo! – ele sorriu e desligou a televisão. – Você vai ver,vai ser divertido!

— Você disse isso da última vez – suspirei,pegando minhas chaves na bancada e abrindo a geladeira atrás do que beber.

— Ah cara,mas foi! – ele disse apoiando-se no balcão – Eu me lembro bem de você sair carregando alguém.

—Era você. – reclamei,pegando uma água e dando um gole – Você depois de se meter em uma briga.

— Foi divertido.

—Ele era policial – relembrei. Nico deu de ombros e sorriu ainda mais,passando a mão direita no cabelo. – Você podia ter sido preso.

— Teria sido ainda mais divertido.

— Pra você – virei o resto da água e joguei a garrafa na pia – Eu sempre estou aqui pra livrar essa sua bunda incrivelmente magricela dos problemas.

Nico sorriu e deu de ombros mais uma vez. Eu gostaria de ser pelo menos 2% a mais de Nico. Queria ter mais 2% do que ele era,só pra ver como seria me meter em uma discussão com um policial e sair ileso. Mas só porque ele faria o mesmo por mim.

Saímos do apartamento e chamamos o elevador. Nico mexia nas minhas chaves e murmurava uma música.

Quando o elevador chegou,entramos e eu desabei encostando na parede. Nico fez uma careta apertando o térreo e recostou-se também.

— Você parece um velho de 79 anos,assim.

— Não enche – bocejei.

— Vamos lá –ele cruzou os braços – Vai ser divertido.

— Foi o que você disse da última vez.

Ele revirou os olhos mais uma vez e riu.

— Você precisa superar isso. Todo dia é um dia novo.

— Onde você aprendeu essa? – comecei a nuca – Em Baney ou em Dora Aventureira?

Nico revirou os olhos também e me deu um soquinho no ombro.

—Só se vive uma vez,Jackson.

Me and my friends at the table doing shots
Drinking faster and then we talk slow

.

A luz azul do barzinho era aconchegante. Eu li uma vez que se a sua cor favorita está no ambiente em que você também está,automaticamente o lugar se torna confortável. E realmente,esse eu não odiei de primeira.

Grover acenou da mesa em que estava e Nico nos guiou para lá,assim como na semana passada.  Enquanto passávamos pelas mesas até o balcão para fazer nos pedidos iniciais,Nico pediu para que eu esperasse até que seu drink estivesse pronto.

— Eu vou precisar que você melhore essa cara  - ele murmurou enquanto olhava o cardápio esperando seu pedido.

— Vou precisar de mais um três dessas – apontei para minha cerveja e sorri.

— Fica por minha conta – ele riu também e coçou o queixo – Vou precisar que você cuide da amiguinha do Will para que eu possa cuidar do Will – ele piscou com um olho só e apontou para a nossa mesa. OS olhos de Will estavam focados em Nico e ele sorriu quando nos pegou olhando. – A garoto,Percy. Tire os olhos dele – ele me cutucou – É Annabeth Chase,a amiga de faculdade.

— Você tá me empurrando para ela de novo,Di Angelo. – revirei os olhos – Ela não gostou de mim. Eu não gostei dela.

— Bem,que pena,nós gostamos de vocês dois juntos – ele disse dando de ombros novamente.

— Nós? – perguntei – Quem é o “nós”?

— Eu,minha consciência,minha parte que se preocupa com você e eu mesmo – ele explicou.

— Nico.. – neguei com a cabeça.

— Percy... – ele olhou-me reprovador. – Vai cara.

— Não deu certo na primeira vez...

— E você não é o tipo de cara que desiste de primeira,é? – ele perguntou retórico – Por que se for,a nossa crush aqui – ele apontou o indicador para si mesmo e depois para mim- acaba agora.

Revirei os olhos e concordei com a cabeça.

— Só se vive uma vez. – repeti,dando o ultimo gole na minha bebida e pegando as outras três que ele havia pedido.

.

Come over and start up a conversation with just me
And trust me I'll give it a chance now

— Insuportável – ela reclamou quando eu passei o braço por cima dela,pegando o copo de Nico para dar um gole em seu drink.

 - Invejosa – sussurrei.

— Cala a boca – ela reclamou cruzando os braços com raiva. – Tenho inveja de duas coisas em você : sua falta de senso e seu pouco carisma.

—Quanto elogios você quer trocar esta noite,hn? – revirei os olhos enquanto Nico e Will entraram em uma conversa animada sobre o Miss Universo e como Grover estava ocupado demais mexendo na máquina das músicas,eu só tinha aquele prójetil de arquiteta para conversar. – Por que diabos ele não pede o Nico logo em namoro para que eu possa ficar em casa nas sextas?

— Você é desses velhos que gosta de ficar em casa todas as noites? – ela riu sarcástica.

— Alguém está falando com você? Porque eu não – reclamei,pegando mais uma das minhas cervejas e tirando a tampa. – Quer?

—Não- ela sussurrou,pegando seu suquinho de laranja e brindando comigo – A pessoas insuportáveis.

— A pessoas insuportáveis – sorri.

Ela tinha os cabelos loiros, um pouco abaixo dos ombros. A pele clara,os olhos cinzentos. Ela era magra e eu devo admitir que também muito bonita. As vezes,ela só parava e olhava para Will como se ele fosse um anjo na terra. Era uma das amizades mais longas e duradouras que eu conhecia,além da minha e de Nico. Quando ela sorria,automaticamente as bochechas ficavam mais avermelhadas e parecia natural e tão bonito o jeito que os lábios dela se sepravam quando ela ia suspirar por seja lá qual o motivo.

— E a faculdade? – perguntei.

Ela virou o rosto de volta para mim,curiosa. Geralmente,nós não falávamos muito. Annabeth fora do mesmo campus que eu no começo do semestre,costumávamos ir juntos para a faculdade até ela começar a namorar um cara. Depois ela terminou com o cara e as coisas nunca mais foram as mesmas para nós dois.

Annabeth virou a cabeça de lado e franziu a testa.

—Você quer mesmo fazer isso? – reclamou.

— Bem... já que estamos aqui,eu não vejo porque não. – bebi mais um gole da minha cerveja. Ela riu baixinho e apontou com o polegar para Nico,atrás de si.

—Ele mandou você me entreter enquanto estamos aqui?

— Também – murmurei e pigarreei. – Só deixe de ser chata e responda minha pergunta.

Annabeth riu,ajeitou o cabelo e começou a falar. Eu gostava de ouvi-la falar.

Take my hand, stop
Put Van The Man on the jukebox
And then we start to dance

— ... e aí a gente tentou até conversar mas eu já estava exausto dos trabalhos – respondi enquanto passava as musicas na máquina.

 - Você é muito velhaco,Percy – ela riu.      

— Velhaco – revirei os olhos,olhando-a de soslaio – Você usa “velhaco” e eu que sou o velhaco.

Ela deu de ombros e sorriu um pouco mais enquanto bebia mais um suco de laranja. Nico e os outros estavam longe das mesas agora,conversavam e dançavam animadamente na parte depois das escadas. Will sorria para Annabeth de vez em quando mas ela não retribuía porque estava concentrada demais em mim.

Annabeth se apoiou no meu ombro,ficando na ponta dos pés tentando ver a jukebox. Ela era pouco mais baixa que eu e sorria sem parar agora.

Talvez não sejamos tão insuportáveis assim.

— Olha,tem Morrissey – ela sorriu.

— Não vamos ouvir Morrisey agora – revirei os olhos,apontei para a jukebox – muito triste – depois apontei para o bar – muita gente.

— Van Morrison então.

Olhei-a por mais de um segundo pela primeira vez na noite. Annabeth era diferente – disso eu sabia,tinha muito tempo. Mas não achei que fosse do tipo que garota o qual ela estava se mostrando ser.

O meu tipo favorito.

—Van Morrison então – sorri com ela.

E engraçado. Eu estava me divertindo como Nico disse que seria. Como Nico se passou pelos meus pensamnetos,desviei os olhos para ele,que olhava diretamente. Ele sorriu,piscou com um olho só e fez a arminha com a mão. Depois voltou sua atenção para Will novamente.

Ele tinha razão.

.

Girl, you know I want your love
Your love was handmade for somebody like me

— Viu aquele reboot dos Caça Fantasmas? – ela perguntou enquanto se jogava no sofá.

Era tarde e também umas oito sextas-feiras depois daquela no bar da luz azul. Começamos a sair mais,e finalmente Nico e Will estavam dando o jeito no que eles tinham.Finalemente a gente podia se livrar um do outro,mas... nós não quisemos.

Fiz careta,jogando uma garrafa de água,a qual ela pegou no ar. Annabeth se sentou indignada no sofá.

—Não me diga que você é desse tipo!

— Que tipo? – reclamei,pegando o saco de pipoca no microondas,tomando cuidado para não me queimar.

— Do tipo que não aceita reboot! – reclamou;

— Bem,eu aceito – joguei a pipoca dentro da bacia e fui até o sfá,colocando-a sobre o seu colo – Os bem feitos.

Annabeth riu e puxou minha cabeça,dando-me um beijo rápido.

— Fresco.

Annabeth colcou o filme,e enquanto ela assistia,eu a assistia. Os cabelos presos no coque a deixava ainda mais bonito. Ela usava óculos essa noite,tentando ler a legenda,por mais que a televisão não estivesse tão longe. Depois daquela noite,nós começamos a sair mais noites seguidas. Eu não via problema em aceitar os convites de terças-feiras de Nico,se ela estivesse junto. Discutíamos algumas vezes – mais do que eu gostaria de admitir – mas também,era divertido quando não estávamos fazendo absolutamente nada,mas juntos.

Algumas de suas manias,agora eram nossas manias. Alguns de seus medos,agora eram nossos medos e algumas de suas dívidas...bem,ainda eram apenas suas. Por enquanto.

— Você está prestando atenção? – ela perguntou,sem tirar os olhos da televisão. – Vem vindo uma parte ótima.

— Estou – sussurrei. E eu estava mesmo. Estava prestando atenção no que importava.

Come on now, follow my lead

I may be crazy, don't mind me

— Percy! – ela sussurrou gritando – O que você está fazendo,seu idiota?!

— Vamos logo!!

— Percy,vamos ser expulsos daqui – ela puxou a mão de volta – Vamos embora logo.

— E perder a diversão? Ah por favor – brinquei.

Puxei-a em direção a salinha de projeção do cinema. Era sábado e a rede de cinemas estava fazendo um “De volta aos Clássicos”. Era a sessão de Cantando na Chuva,e estava lotada do início das poltronas ao fim.

— Você é doido? O que aconteceu com aquele velhaco? – ela riu baixinho,correndo as escadas atrás de mim. – Você não tem mais 16 anos! Vamos acabar sendo presos,você sabia disso??

— Quem é a velhaca agora? – brinquei novamente. Empurrei a posta,e depois puxei-a para dentro.

— É sério – ela riu,tentando recuperar o fôlego – Nós dois seremos presos.

— Não se ninguém nos pegar. – comecei a mexer no projetor sob os protestos de Annabeth. Ela estava com os cabelos mais curtos,porém não menos bonitos. Estavamos nessa relação havia cinco meses e eu estava confuso em relação ao que éramos.Saíamos juntos,com ou sem os outros.Eu tinha plena certeza de que haviam alguns livros e cds de Annabeth em minha estante,assim como tinha plena certeza de que alguns dos meus haviam sumido. Eu comia mais receitas dela do que as porcarias que eu pedia em casa. Havia cabelo loiro na minha escova de cabelos. Quer dizer,sua escova de cabelos – eu não usava essa coisa antes de magicamente uma aparecer em minha casa. Roubas e escova de dentes então? Nem se fala

 Então,eu pretendia resolver aquilo.

— Certo,olha só – coloquei-a de frente a telinha do projeto e sorri – Não pisque ou pode perder algo importante.

Annabeth sorriu e fixou os olhos na telinha que projetava para o telão do cinema. Eu esperava que nenhum guarda ou lanterninha aparecesse se não as coisas ficariam estranhas e bem desconfortáveis. Estava chegando exatamente na parte que eu queria : Gene Kelly saia de sua sala,indo em direção as ruas e a chuva começava a cair.

Annabeth mantinha os olhos fixos no filme.

Mesmo com a sua capa de chuva e seu guarda chuva,ele começou a cantar e se divertido. Estava prestes a se pendurar no poste de luz. Não que eu estivesse prestando muita atenção : não. Eu estava mais interessado na reação de Annabeth.

Esperei mais alguns momentos e aconteceu.

O sorriso dela diminuiu um pouco e ela desviou os olhos para o chão. As bochechas ganharam um tom mais rosado e ela entrelaçou uma mão na outra.

— Você... – ela pigarreou – Está falando sério?

— Bem.. – eu cocei a nuca. Eu esperava outro tipo de reação.

Annabeth virou-se completamente para mim e riu sem graça.

— Você me trouxe até aqui para me pedir em namoro no meio do filme? – ela riu.

Talvez eu devesse voltar a ser o velhaco.

— É? – eu sussurrei. – Na minha cabeça,era um plano legal.

Annabeth jogou-se em cima dos meus braços,logo eu agarrei sua cintura e sorri para aquele rosto corado,beijando-lhe na bochecha.

—Isso é um sim? – perguntei curioso.

— Bem – ela sussurrou antes de encostar seus lábios de leve nos meus – Se dissesse que não depois de um trabalhão desses,você ficaria no mínimo muito bravo comigo.

— Com certeza – puxei sua mão esquerda para a minha,e com a direita puxei seu rosto para mais perto – Além do mais... nós quase fomos presos.

Ela revirou os olhos e mordeu o lábio inferios.

— Eu acho melhor nós dois saírmos daqui antes que-

A porta se abriu com um estrondo,fazendo Annabeth se afastar de mim abruptamente,o rosto ganhando ainda mais cor e os olhos buscando os meus. Agarrei sua mão com mais força e sorri de lado.

— Então.. – o lanterninha olhou de mim para Annabeth com a sobrancelha erguida. – eu vou dar dois segundos para que vocês corram ante-

Mas não ouvimos o resto porque já estávamos correndo para bem longe.

Come on now, follow my lead

Come, come on now, follow my lead

— Corre Percy! – Annabeth gritou correndo bem a frente de mim – Antes que você seja preso.

Mas espera lá,foi ideia dela entrar na área proibida do Starbucks. Estava bem claro na porta “Mantenha distância se não for autorizado”.

— Você me mete em cada uma,Chase! – gritei passando por ela,agarrando sua mão enquanto um dos guardas do café corria atrás de nós dois – Eu nunca mais vou poder vir aqui!

— Você nem gosta daqui – ela riu olhando para trás e dando a língua para o guarda.

Ele se enfureceu mais,porém parou de correr apontando o polegar para o café e o indicador de volta para nós dois. Depois passou o anelar embaixo do pescoço,como se dissesse : vocês estão mortos.

Mas eu nunca havia me sentido mais vivo.

I'm in love with the shape of you

We push and pull like a magnet do

Puxei-a para dentro do apartamento,fechando a porta com o pé. Depois do desastre que fora o jantar na casa de seus pais,eu não queria ouvir mais nada de ninguém que não fosse Annabeth.Seus pais- ambos – eram as pessoas mais mesquinhas as quais eu já havia conhecido. O Sr.Chase só falava de dinheiro e a Sra.Chase só falava de ganhar dinheiro. E os dois falavam juntos sobre como gastar o dinheiro. E depois? Bem,eles falavam sobre como Annabeth poderia ganhar dinheiro.

— Eu sinto muito por hoje – ela sussurrou,puxando meu casaco,jogando-o no chão da sala,enquanto ao mesmo tempo tentava se livrar das sapatilhas – Eu sei que eles são um saco e que eles demonstram que não gostaram de você mas-

—Tudo bem – sussurrei,beijando-lhe no pescoço – Eu não preciso que eles gostem de mim.

Ela sorriu puxando meu rosto para a sua reta,enquanto eu tentava encontrar o caminho para o meu quarto. Beijou-me na bochecha direita e depois apertou meus dedos entrelaçados nos seus. Puxei suas pernas para cima,encaixando-a em meu quadril. Ela rodeou as pernas em minha cintura e puxou minha camiseta para cima,jogando-a no chão também.

— Tá meio frio pra ficar sem roupa – ela sussurrou,puxando a sua própria camiseta para cima.

— Você anda muito reclamona – sussurrrei,andando em direção ao meu quarto,puxando a porta e colocando-a em cima da minha cama.

Annabeth reviou os olhos,puxando minhas mãos para que eu me deitasse por cima dela. Subi minhas mãos do final de suas pernas,passando por cima das suas coxas,rodeando o quadril,passando por cima barriga até o pescoço.

Só para me certificar de que ela era realmente perfeita.

— Você sempre faz isso – murmurou com as mãos nos meus cabelos – Por que?

— Eu gosto de você – sussurrei,beijando-a no pescoço – De você toda.

Although my heart is falling too

I'm in love with your body

Os cabelos jogados ao redor do travesseiro,a boca entreaberta e os risinhos baixos enquanto ela sussurrava meu nome baixinho. Puxei sua mão para cima,entrelaçando com a minha,beijei seu pescoço,sua barriga e toda pele exposta que eu via pela frente.

A respiração de Annabeth ficou mais pesada e ela puxou os meus cabelos para cima.

— Eu amo você,namorado – sussurrou,jogando a cabeça para trás,o corpo começando a tremer.

— Também amo você,namorada – sussurrei,apertando-lhe os dedos e escondendo minha cabeça em seu pescoço.

And last night you were in my room

And now my bedsheets smell like you

Eu acordei com a luz do sol passando pela minha janela. Eu sempre esquecia de fechá-la quando Annabeth dormia por aqui,propositalmente. Eu gostava de acordar mais cedo só para poder apreciá-la. Hoje,ela estava deitada de bruços,a cabeça enterrada no meu travesseiro,os cabelos bagunçados caindo pelas costas,o lençol fino cobrindo-lhe a cintura. A curvatura de sua cintura a mostra. Sem pensar muito,passei meus dedos por entre seus cabelos,acariciando-lhe as costas nuas.

Annabeth era pequena comparada a mim e gigantesca comparada a si mesma. Cada forma e cada pedaço de seu corpo me encantava e eu queria que ela visse da mesma forma. Não que Annabeth fosse uma moça de muitas inseguranças,mas ela tinha algumas as quais estávamos trabalhando nelas.

Ela cheirava a limão e à mim. Cheirava muito mais a limão do que a mim – graças aos deuses.

Desci meus dedos pelas suas costas,vendo a pele se arrepiar por alguns minutos. Puxei o lençol mais para cima,cobrindo-lhe.

Annabeth moveu-se um pouco,revelando o rosto amassado por conta do sono. Ela sorriu um pouco,ainda d eolhos fechados e enterrou a cabeça de volta em meu travesseiro,aspirando.

— Bom dia,namorada. – sussurrei,passando a mão em suas costas de novo.

Ela virou o rosto para mim,abrindo os olhos lentamente,as bochechas rosadas e os olhos cinzentos tão brilhantes como se eu fosse a sua pessoa favorita.

— Bom dia,namorado.

Every day discovering something brand new

I'm in love with your body

— Ela é maravilhosa – Nico murmurou enquanto colocava as coisas em seu carro.  – Você ainda me deve os agradecimentos.

—Que tipo de agradecimento? – revirei os olhos,colocando mais uma caixa em seu porta-malas.

Ele estava se mudando para o apartamento de Will. O que era ótimo visto que Nico era muito pequeno para a casa que morava. Eu não admitiria nunca para ele,mas um Nico pequeno em uma casa tão grande,me deixava sempre preocupado.

— Bem,vocês se odiavam  ele apontou – Agora,vocês se amam.

Revirei os olhos novamente,batendo a porta de seu porta malas.

— É um clássico,Nico – murmurei,olhando-a. Ela estava vestindo um shorts curto e uma camiseta regata. Os cabelos presos em um coque e ela arrumava alguns livros de Nico,ajoelhada na grama da parte da frente da casa. – ódio,depois amor.

—Não não,meu querido – ele arqueou a sobrancelha – O Poderoso Chefão é um clássico. Isso,foi graças à mim.

—Certo –concordei só para que ele parasse de me encher o saco.

— Podemos até considerar isso um clássico –ele se encostou no porta malas ao meu lado,também observando-a. – Você sabe...

—... – olhei-o.

—Primeiro vem o ódio,depois o amor e em seguida casamento – ele pisocu e fez a arminha com o dedo.

—Não viaja. – murmurei. Annabeth desviou os olhos para mim,e sorriu tímida.

Ela não gostava de ser observada na surdina.

Nico riu e mandou um beijo para ela no ar,deixando-a ainda mais constrangida.

—Vocês dois poderiam deixar de murmurar coisinhas ai e vir me ajuda,hn? – ela reclamou alto para que ouvíssemos.

—Pense nisso – Nico socou meu ombro de leve e foi até ela.

Every day discovering something brand new

I'm in love with the shape of you

— ... e aí tudo que eu estava planejando foi por água abaixo – ela chorou baixinho no meu ombro – Só porque aquele babaca disse que todo o projeto estava errado. Mas eu tinha feito tudo nos mínimos detalhes,sabe Percy? Eu não consig-

Parecia bom. Casamento.

Apesar de ainda ter um pouco de medo do isso poderia significar para nós dois. Depois de dois anos de namoro,talvez fosse a hora?

Eu não sei. Nico não podia me ajudar e nem mesmo meus pais. Ou os pais dela – que me odiavam,aliás.

Era uma decisão minha e bem...dela. Mas eu tinha que perguntar primeiro.

E se as nossas brigas ficassem mais constantes depois disso? Uma coisa é discutir e cada um ter o seu quarto,sua casa e poder se isolar por um tempo e depois se entender. Outra é brigar e bem,não ter para onde correr porquê a pessoa está em todos os cantos do seu lugar.

De qualquer forma,ela já está em todos os cantos,certo? Ela não saia da minha cabeça por nenhum segundo.

E eu amava todas as suas formas,até a amis irritante delas. Quando ela reclamava dos meus atrasos – não que estivesse errada,mas ninguém é tão pontual quanto Annabeth. Ela não podia exigir que todos fossem iguais. Era extremamente insegura quando queria e essa era a sua pior forma. Ela não conseguia se ver do jeito que via.

Não que ela quisesse. Não se deixava ver.

—...e por mais que eu esteja de cabeça nessa,eu acho melhor – ela murmurava.

Mas relacionamentos não são só coisas ruins. Se for,há algo de muito errado.

Eu amava suas formas individuais....mas talvez fosse hora de termos formas nossas.

— .. e aí talvez ela seja despedida,sabe? – le aestava roendo a unha do mindinho.

Olhei seus pés juntos com os meus. Passei a mão nas suas costas,fazendo-lhe um carinho. Ela sorriu um pouquinho mas continuou roendo a unha.

Esfreguei meus pés nos seus,sorrindo. Ela sorriu.

Entrelacei minha mão direita na sua,fazendo-lhe um careta para o dedo babado.

— Ei – chamei-lhe a atenção enquanto ela olhava para a televisão.

— Sim? – sussurrou,virando os olhos para mim.

— Vamos casar? – perguntei. Annabeth arregalou os olhos e se endireitou no sofá. Estava corada e as a mão ficou um pouco gelada,mas permaneceu em silencio. – Vicê sabe...você morar aqui comigo. A gente assina uns pepéis,eu posso ver uns anéis – pigarreei. – Desculpe.

—Está me pedindo em casamento? – murmurou tímida.

— Eu deveria ter lhe chamado pra ir no cinema antes? – sussurrei envergonhado. Que falta de romantismo,Jackson!

Ela riu baixinho e se aconchegou no meu colo,sentando-se de frnete para mim. O sorrisinho debochado ali,porém o rosto tinha aquele rubor tão conhecido por mim,como se ela estivesse considerando.

 - Por que? – ela sussurrou.

—Por que eu quero me casar com você? – perguntei de volta,revirando os olhos. Entrelacei minhas mãos atrás de suas costas,sustentando-a. – Porque você pode encontrar alguém mais interessante...2

— É sério – ela murmurou baixo,escondendo os olhos dos meus. Enroscou as mãos em minha camiseta envergonhada – Você me dá uma razão boa..e eu me caso com você.

Eu encarei seu rosto corado. Eu podia fazer uma lista com 1400 motivos para casar com Annabeth Chase. Talvez eu fizesse depois de muito velho. Depois dos meus 79 anos. Ou depois de um almoço de domingo com os nossos netos e bisnetos. Depois de assistir cantando na chuva pela quinquagésima vez. Depois de discutirmos e brigarmos feio. Depois de  deitar e não dormir. Ou deitar e só dormir.

— Chamar você de namorada não é mais a mesma coisa – sussurrei,puxando seu rosto para que ela olhasse para mim. – E eu amo você. Cada parte de você. Cada forma. – ela riu de lado e beijou-me rapidamente.

— Eu devo acreditar nas palavras de um velhaco? – ela brincou.

Empurrei-a para deitar-se no sofá sob seus protestos. Deitei-me sobre ela,sorrindo ao ver sua cara brava,por mais que eu amasse esse jeitinho também,as vezes eu tinha medo. Mas só as vezes.

— Casa comigo – murmurei de novo.

Ela colocou a mão embaixo do queixo e fingiu pensar :

—Não.

— Assim você acaba comigo – revirei os olhos. – Vamos lá,case comgo. – pedi de novo.

Ela passou os braços ao redor do meu pescoço e ficou séria.

— Não.

— Annabeth! – reclamei,enquanto ela ria. – Eu não vou pedir de novo!

Ela me empurrou e se levantou,indo em direção à cozinha. A minha camiseta em seu corpo,as pernas a mostra. Revirei os olhos para o jeito como ela puxava a camiseta para baixo,pra que eu não olhasse.

— Se eu lhe conheço bem – murmurou,andando de costas até a cozinha – Você vai pedir até eu aceitar!

Come on, be my baby, come on

Come on, be my baby, come on

A música alta irritava um pouco os meus ouvidos. Eu estava ficando mais velho hoje,então talvez fosse isso. O barzinho da luz verde era irritantemente pequeno. Eu não conseguia enxergar um palmo a minha frente de tão lotado e todo mundo parecia pegajoso demais naquele lugar. E Nico estava lá,no meio de todo mundo dançando animadamente com Will.

Ela não estava hoje. Por que? Ah porque ela é uma cabeça dura,sabichona e metida.

E isso quer dizer que discutimos e que ela terminou comigo. Há uma semana.

Uma garota se postou do meu lado no bar,tinha os cabelos escuros e os olhos azuis. Vestia um pedaço de pano tão pequeno que eu fiquei envergonhado só de olhar. Era magra e arqueava a sobrancelha pra mim.

— Então.. – ela murmurou por cima da música.

Meu telefone tocou e eu corri dali.

Correndo de garotas. Correndo daquele lugar horrível. Correndo de tudo.

— Preciso de você – foi a primeira coisa que ela havia dito depois do meu “alô”.

Correndo de volta pra ela.

Every day discovering something brand new

I'm in love with the shape of you

— Se levante,Percy! – ela murmurou brava – Anda.

— Case comigo – murmurei de novo.

— Não!

—Então eu vou ficar aqui por um bom tempo – murmurei. O pátio da empresa que ela trabalhava estava começando a ficar mais cheio e as bochechas de Annabeth mais coradas.

— Por favor –e la murmurou com urgência – Meu chefe vai chegar em menos de dez minutos.

—Você tem dez minutos para dizer que sim – murmurei,cruzando os braços.

Annabeth me encarou furiosa.

Eu amava essa forma também.

I'm in love with your body

 Ela apertou minha mão direita com força,jogando a cabeça para trás enquanto eu tentava recuperar minhas forças. Puxei sua perna para cima,enroscando-a em meu quadril,ouvindo-a chamar novamente meu nome.

—Case comigo – murmurei em seu ouvido.,e empurrei seu pescoço para o lado,beijando-lhe ali – Vai,case-se comigo.

Ela riu,empurrando seu corpo para junto do meu de novo. Grunhi em seu ouvido,fazendo-a repetir o movimento. Annabeth passou as unhas pelas minhas costas,a respiração mais alta,os gemidos menos contidos. Desceu as mãos até onde nossos corpos se encaixavam,subindo os dedos cuidadosamente pelo meu peito.

— Percy – sussurrou baixinho,abrindo os olhos cinzentos rapidamente e beijando-me nos lábios ainda mais rapidamente. Puxou minha mão,fazendo-a correr pelo lado do seu corpo. Da sua forma perfeita.A nossa forma perfeita.

Escondi minha cabeça em seu pescoço de novo e sussurrei :

—Case-se comigo.

Annabeth encostou nossas testas,os olhos fechados com força,enquanto o corpo tremia.

—Eu caso – sussurrou.

I'm in love with the shape of you

Por aqui entre nós : eu amava tudo individualmente em Annabeth.

Mas era hora de amar o que éramos juntos.

Hora de amar a nossa forma.