Um dia comum, para mim seria se não fosse todos os corações estampados nas vitrines, ou todos os filmes na TV, até quem sabe a super lotação em todos os restaurantes da cidade. Josh havia sugerido em jantar, e para ser honesta, a ideia não me agradava muito.

Na verdade esse relacionamento todo não estava me agradando de um todo. Ele é uma ótima pessoa, é altruísta e generoso, o jeito que se dedica ao próximo é plausível, mas, sabe aquele momento que você está sozinho e sente falta de uma companhia? Então, não era Josh que vinha em minha cabeça. Não achava justo continuar assim, então, ontem decidi que não continuaria com isso.

Tivemos casos difíceis no distrito e quase não tenho tido tempo para ele ou até mesmo para mim. Mas, como ele estava com uma viagem agendada, decidi que era melhor por um ponto final nisso. Assim que cheguei, liguei para que ele viesse aqui e tivemos 'a conversa'. Expliquei á ele meus motivos, e respirei aliviada quando ele disse estar se sentindo assim também. Devido nossas rotinas de trabalho, nosso relacionamento não passava de mera comodidade, e resolvido a questão, tanto eu, quanto ele ganhamos a amizade recíproca. Conversamos mais um pouco sobre a viagem que ele ia fazer para o Haiti, desejei boa sorte e ele o mesmo para mim e assim acabou minha noite, levando junto aquele sentimento de culpa que sentia a semanas, pois em meus pensamentos eram totalmente tomados por um nome, e não era Josh o nome que preenchia eles.

Foi então que me lembrei, entre tudo isso havia um pequeno (para não dizer enorme) detalhe, Gina. Sim, Castle estava em um relacionamento sério. Meu estômago revira só de lembrar, na verdade me sinto assim desde o dia que ele saiu do distrito para passar o verão com ela. Eu havia terminado com Demming, decidida a dar uma chance para nós, mas ele havia desistido. Com o passar dos meses ele permaneceu firme no relacionamento e eu conheci o Josh, e as coisas só aconteceram. Seja como for, agora essa parte já está resolvida. Me sinto triste, mas aliviada, sei que provavelmente já o perdi, eu não o culpo por isso. Porém não vou viver uma vida de mentira, estando com alguém querendo estar com outro. Ao escutar meu celular tocar pela décima vez, percebi que se não levantasse agora ia me atrasar. Ah Deus, espero, só conseguir passar por esse dia sem desmoronar vendo Castle fazer planos com ela.

POV Castle.

Hoje realmente não será um dos melhores dias. Ao ouvir meu celular tocar o som que indicava que eu precisava levantar, não me senti animado. Na maioria das vezes seria diferente, eu levantaria bem de pressa, tomaria banho e seguiria para o distrito, não antes de passar e pegar o café que todas as manhãs me davam aquele sorriso. Eu realmente gosto daquele sorriso, o jeito em que seus olhos brilham. O mas lindo é que nem os olhos dela são decifráveis, alguns dias eles estão completamente castanhos e em outros posso ver um tom esverdeado. Tudo nela é um lindo mistério, seus olhos não seriam diferentes. Seu sorriso perfeito e o jeito que na maioria dos dias ela faz ao pegar o copo de café, passando uma mecha do cabelo para atrás da orelha, fazendo aparecer mais seu rosto, simplesmente me derrete. Droga! Eu pareço um adolescente bobo apaixonado. Sim, adolescente eu já não sou faz tempo, mas apaixonado? Ah sim, completamente. Sou apaixonado por ela desde o primeiro momento em que a vi. Inevitável sorrir ao se lembrar das mudanças em que ela passou, ela teve ao longo dos anos vários cortes de cabelo, a cor dele também ganhou um tom mais claro, que sinceramente eu adorei, pois destacou mais seus olhos e sua pele. Incrível, o poder que aquela mulher exerce em mim, um dia desses, passamos por um caso ruim, e ela pegou em minha mão, claro que sei que foi apenas para um conforto ali no momento, mas não pude evitar as batidas aceleradas que meu coração projetou. Sou um completo tolo, por que provavelmente hoje ela passará acompanhada do Doutor.

Se eu pudesse simplesmente tirar ele de perto, assim como faço em meus livros seria tão bom. Mas, ele faz bem a ela e eu não faria isso, seria egoísmo da minha parte. Eu sempre me esforcei ao máximo para disfarçar a vontade que tinha de jogar ele janela a baixo toda vez que ele aparecia no distrito, e me esforço para ser um bom parceiro, afinal passar algum tempo com ela é melhor do que nunca mais ver seu sorriso, ou escutar sua voz.

Alguns meses atrás, até tentei voltar em um relacionamento com minha ex mulher a Gina, mas bastou algumas horas em Hamptons para que ela entendesse que meu coração era completamente preenchido. Inconscientemente passei horas falando sobre a detetive, é inevitável. Eu me senti super mal, não pretendia ser desagradável, porém é mais forte que eu. Graças a Deus ela entendeu, disse que seria bobeira investimos em algo que provavelmente ia afundar. Passamos juntos o verão, mas apenas como amigos, e tudo que fizemos foi trabalhar em meu mais novo livro, que para ajudar é completamente inspirado na Kate. Como sei que não terei chances com ela, que ela não vê como eu a vejo, projeto todas minhas emoções e sentimentos nas páginas de Nikki Heat. Engraçado é que quando me perguntam até que ponto vai a inspiração e onde entra a ficção eu digo que apenas detalhes da detetive e alguns casos me ajudam a compor a personagem, mas se fosse dizer a verdade, diria que todo ele, cada estrofe, cada parágrafo até mesmo cada vírgula era completamente inspirado nela e nesse sentimento que trago dentro de mim. Claro que como não posso falar nada sobre isso, mantive a ideia de um relacionamento sério com Gina, ela não se opôs quando expliquei os motivos. Para a mídia não costumo comentar, então tudo que eles têm é apenas um grande ponto interrogativo e suspeitas sobre minha vida amorosa. Mas, para Beckett, eu estava feliz e comprometido.

A ironia é que de feliz só tinha o sorriso que forçava todos os dias pela manhã, mas como minha mãe sempre diz, ‘a vida nem sempre será fácil’. Espero um dia estar curado de todo esse sentimento, mas hoje, eu vou vestir o sorriso e me torturar mais um pouco, afinal aquele lindo sorriso me espera e eu já estou atrasado.

POV Kate

Já no distrito, tentei manter o foco no novo caso que acabamos de ser informados. Achei estranho ao ligar para o Castle e ele não atender, bom, as comemorações devem ter começado cedo. Nossa, esse pensamento realmente me machuca. Ele tinha que ser tão gentil, e charmoso? Já havia olhado várias vezes em direção ao elevador e Esposito é esperto, preciso disfarçar melhor a ansiedade e a falta que ele está fazendo hoje.

Olhado sua cadeira ao lado da minha mesa, me sinto incompleta, desde quando isso começou? Não sei explicar onde tudo teve início, ou onde sua presença passou a ser necessária. Lembrando dos anos que passamos aqui na companhia do escritor, me faz sorrir. Como ele me irritava, me irrita até hoje, mas as palavras uma vez ditas pelo capitão me fazem refletir.

Certa vez ele se meteu onde não devia, não que seja novidade, ele sempre faz isso. Mas, naquele caso foi diferente, ele tocou em feridas internas, o caso da minha mãe sempre foi extremamente doloroso. E ao questionar o capitão e pedir para que tirasse Castle do caso, ele me disse que poderia ter tirado ele daqui desde o primeiro dia, mas não o fez porque ele me fazia bem. Eu lógico que quis gritar e disse que não tinha lógica aquilo. Mas aqui sentada, me esforçando para disfarçar e não encarar o elevador pela milésima vez percebo que a lógica é algo que nem sempre faz sentido na hora. Sua presença e teorias loucas me faziam bem sim, diminuía o clima tenso e triste que todos os casos trazem.

Estava concentrada nos detalhes do caso, eu realmente precisava me concentrar e jogar longe os pensamentos a respeito dele, afinal eu não tinha mais um relacionamento, mas ele tinha e como disse a minha chance já havia passado. Enquanto lia alguns detalhes sobre um possível suspeito não percebi sua chegada, mas, seu perfume era algo que me acostumei, poderia senti-lo de longe e ao levantar a cabeça, lá estava ele... Segurando dois copos de café, me oferecendo um que peguei de bom grado e agradeci como em todas as manhãs.

Seu sorriso perfeito e o jeito que seus belos olhos azuis diminuíam me faziam sorrir de volta. Sua postura me deixava nervosa, ele estava lindo, como eu adoro ele nessa camisa em tom de azul marinho, a jaqueta preta por cima o deixa de certa forma elegante.. ‘Droga! Se concentra Kate’. Eu pensei sem dizer nada.

— Bom dia detetive! - Ele me disse sorrindo, retirando a jaqueta e se sentando em sua cadeira, enfim o dia podia começar. Esses sentimentos estão me matando, não lembro de ser tão dependente de alguém assim desde minha época da infância.

— Bom dia Castle! - Eu disse de volta, tentando disfarçar a bagunça que estava acontecendo em minha cabeça.

— Então, temos um caso novo?- Ele perguntou mexendo em alguns papéis sobre minha mesa, antes isso até me incomodava, mas hoje o tenho como parceiro mesmo, e não me incomodo mais, ok, as vezes ainda sim. Mas na maioria dos dias não.

— Saberia se atendesse o telefone, eu liguei para nos encontrar na cena do crime, mas, acho que estava ocupado. - Ótimo acabei de jogar minhas frustrações, e pior em voz alta.

— Eu perdi a hora, estava no banho quando você me ligou . - No banho? Realmente eu não precisava desse detalhe. Ele precisava esfregar na minha cara que outra pessoa o tem? Mas o que eu estou pensando? Isso não é justo. Ele tem todo o direito de estar no banho com quem quiser, mesmo que eu preferisse que fosse eu no lugar dela.

— Está tudo bem Beckett? Tá diferente. – ‘Vamos lá Katie, concentre-se’.

— Estou Sim, apenas cansada. Foi uma longa semana!

— Sim. - Ele disse um pouco cabisbaixo, será que não gostaria de estar aqui?.

— Pode ir para casa se quiser Castle! Podemos sobreviver um dia sem você, além do mais deve ter planos para hoje. Tudo bem se quiser ir.

— Não me quer por perto detetive? Sinto muito, terá que me aguentar. Não vou a lugar nenhum! - Meu coração voltou a bater, estava segurando a respiração desde minhas últimas palavras, ‘Pode ir’. Onde? Não quero que ele vá. ‘Planos para hoje’, realmente não sei o que está acontecendo comigo.

Parece que a grande muralha em mim desmoronou e levou com ela todo meu alto controle e serenidade. Vou precisar usar todo meu treinamento hoje e vestir a detetive durona para não deixar transparecer o ciúme que estava sentindo ao me lembrar que ele era para ser meu, apenas meu.

POV Castle

No elevador eu controlava meus batimentos que antecediam ao lindo sorriso que me motivou sair de casa hoje. Ao abrir a porta, me deparei com ela em sua mesa, estava completamente concentrada em algo que lia, deve ser algo do caso.

Ela sempre leva todos bem a sério e é uma das coisas que me fizeram me apaixonar por ela. Sua determinação em fazer justiça pelas famílias das vitimas, e claro não posso mentir dizendo que o jeito extremamente sexy dela ao incorporar a ‘detetive Beckett durona’ não me faziam imaginar o que poderíamos fazer juntos sozinhos em meu quarto. Droga! Que pensamentos são esses? Parece que o dia de hoje está tornando mais difícil me conter. E a visão dos cachos levemente dourados caído sobre seu rosto e o aroma de cerejas que senti ao me aproximar de sua mesa, não me ajudaram em nada a mudar os pensamentos de antes.

Como todas as manhãs, ao receber o olhar dela, lhe entreguei seu café, esse que decorei a forma preferida dela, e a moça da cafeteria nem me perguntava mais.. Ela ao pegar me agradeceu e enfim pude ver o que precisava naquele dia, seu sorriso. Inevitavelmente sorri de volta, ao receber suas palavras de ‘bom dia’. Tirei meu casaco e me sentei na cadeira que todos falavam ser minha.

Para disfarçar o nervosismo da aproximação junto com todos os pensamentos que hoje estavam maiores, comecei a mexer em alguns papéis que estavam sobre a mesa dela. Sei que ela não gosta muito que faço isso, mas com o tempo ela parece ter aceitado melhor, e eu precisava de algo para me concentrar. Tentei seguir um possível diálogo perguntando sobre o caso, e ela disse um pouco áspera que havia me ligado e que provavelmente estava ocupado. Ah se ela soubesse a razão do meu atraso, que tudo que me ocupou essa manhã foi pensar nela é o quanto eu a amava.

Realmente perdi a hora, fiquei na minha cama pensando em tudo nela que eu gostava, e como gostava de tudo, digamos que fiquei pensando muito tempo. No banho, não foi diferente, eu estava criando coragem para fazer meu coração doer ao vê-la sair para comemorar o dia dos namorados com o Doutor e me preparando para passar pelo dia sorrindo como se nada estivesse acontecendo. O que me fez demorar um pouco mais que o normal e não ouvir o telefone tocar. Expliquei para ela e notei que hoje ela estava diferente.

Estava quieta e distante, o caso não parecia ser um dos piores, nãoo deveria ser por conta disso. Ao perguntar se estava bem, ela apenas disse estar cansada, e eu entendo, a semana foi bem longa e se a conhecia bem, ela não havia dormido bem essa noite. Detesto pensar que o Doutor da moto tenha algo a ver com isso. Foi difícil esse pensamento e acabei por concordar que estava cansado também, mas queria poder dizer que não era dos casos, e sim de lutar contra esse sentimento todo e não a ter para mim. Então veio a surpresa, ela disse para que fosse para casa, que não precisava ficar ali.

O que está acontecendo com ela hoje? Vou fazer o que em casa? Escrever? Como, se minha inspiração está aqui, séria e extremamente linda a minha frente?! Bom hora de por o velho ‘Castle irritante’ para fora.

— Não me quer por perto detetive? Sinto muito, terá que me aguentar. Não vou a lugar nenhum. - Eu sei que pode ser egoísmo, ou seja, lá o que pode parecer, mas, eu não vou mesmo. Hoje como todos os outros dias irei passar aqui, ao seu lado. Eu realmente agradeci quando ela sorriu após dizer que não ia a lugar nenhum. Eu não sei o que estava acontecendo com ela, geralmente nunca sei.

Mas, se tem algo que posso fazer e que venho fazendo esses anos é deixa-la confortável, inventar teorias loucas que eu sei que a fazem sorrir e trazer quantas xícaras de café fosse necessário. A noite ela pode até ficar com o ‘doutorzinho’, mas durante o dia ela ficará comigo. Nem que seja apenas como amigo, mas um bom parceiro não abandona nunca, e eu farei isso. Sempre!

        POV Kate

Castle parecia diferente hoje, ele estava se esforçando para me irritar. Usou todo o arsenal de teorias possíveis, CIA, máfia, ‘um mafioso infiltrado na CIA’. Realmente não tinha fim a criatividade dele. E graças a isso, o dia passou bem rápido. E detesto admitir, mas, uma das teorias loucas, não eram tão loucas assim e nos fez chegar no culpado.

Realmente ele era infiltrado, não na CIA, para tristeza do Castle mas, o caso tinha ligação com rivalidade entre famílias opostas na máfia é clichê, bem clichê para o dia de hoje, tudo foi devido a proibição de um relacionamento entre membros das famílias opostas. Sim, quão Romeu e Julieta isso soa hein? Claro que Castle não poderia estar mais feliz, ele conseguiu de alguma forma juntar o casal, eu realmente não sei como ele faz isso.Mas, ele é um romancista não é? Shakespeare sentiria orgulho dele hoje.

Nunca diria isso em voz alta, pois não haveria espaço para o ego dele nesse Distrito. As horas praticamente voaram e faltava muito pouco para o fim do expediente, Javi enfim ia levar Lanie para um jantar romântico, e Ryan, bom Ryan tinha o casamento perfeito, aquele que parece filme, nem precisava perguntar para saber que a noite estava garantida. Optei por ser boazinha e deixar a papelada para amanhã, eles haviam dado 100% hoje e mereciam ir para casa mais cedo e se arrumarem para a noite.

Não que seja só pelo fato do calendário dizer que era dia dos namorados, eu realmente não me apegava a essas coisas, mas se pensássemos assim, não haveria nada, nem Natal, Páscoa, nada. Me despedi deles, recebendo grandes abraços, a quem eu ia negar, amava aqueles dois. Tinha os como irmãos, e Lanie? O que seria da minha vida sem ela? Que a propósito deu pulos quando soube que havia terminado com Josh, claro que sugeriu que falasse de uma vez com Castle, que dissesse tudo que estava sentindo, ah se fosse tão fácil quanto a Lanie faz parecer, mas, conversar com ela me acalmou. Ela sempre me fazia sentir melhor.

Prometi a ela que não ficaria curtindo uma ‘fossa’ como ela havia dito, e que leria um pouco e teria de companhia um bom vinho. Sorri e a abracei quando ela propôs desistir do seu jantar para ficar comigo. Eu sempre soube que podia contar com ela, mas me senti amada só pelo fato da oferta, que neguei é claro. Não seria a primeira vez que estaria sozinha em meu apartamento e não seria a primeira vez que estaria triste. 

Voltando para minha mesa, para pegar minhas coisas, vi Castle sentado nela com duas xícaras de café. Essa visão me fez suspirar, ele sempre sabia o que fazer. E não negaria que adoro o café da maneira que ele prepara. Não sei se é o ingrediente secreto que ele faz questão de dizer que não me contaria, ou as mãos que preparam. ‘Certo, sorriso no rosto e você consegue fazer isso.’ Eu disse para mim mesma, ao me aproximar contendo a vontade de abraça-lo, segurar seu rosto olhando para aqueles malditos olhos azuis que tiravam meu juízo e beija-lo.

— Ainda por aqui Castle?! .

— Sim, está cedo e bom... Eu te fiz um café. - Ele parecia nervoso, estava com o semblante entristecido. Meu Deus, como preciso me segurar para não abraçar ele.

— Ótimo! Um café é sempre bem vindo. - Eu sorri, recebendo um pequeno sorriso dele, o que estava acontecendo? - Ei? Está tudo bem?

— Não! É... Na verdade está. Eu, eu preciso ir. - Ele se levantou sem olhar diretamente para mim - Boa Noite Kate!

— Boa Noite Castle! - Foi tudo que consegui dizer, ao vê-lo saindo apressadamente. Estranhei quando o vi descer pelas escadas, ele nunca fazia isso. Estaria com pressa para encontrar Gina? Mas havia dito ser ainda cedo. Realmente não entendi, ele estava feliz com o fim do caso e de repente parecia outro.

Enfim, se pudesse correria atrás dele, o convidaria para meu apartamento e dividiria o vinho com ele. Ok! Prometi que não ia me afogar em tristezas e não vou. Me despedi do capitão que também tinha grandes planos e fui para casa.

O sentimento não era dos melhores, mas, peguei um de seus livros, esses que me faziam companhia a anos, após tomar um banho quente e demorado, me sentei na sala. Trouxe o livro que havia separado e uma garrafa de vinho, optei por não ligar a TV, queria silêncio. Apenas eu, o vinho as palavras escritas daquele que se eu não fosse tão insegura e complicada estaria aqui comigo. Desculpa Lanie, mas cumprir a promessa ficou difícil ao sentir o vazio e a lágrima que escorreu pelo meu rosto.

POV Castle

Eu queria ter agido diferente, queria ter saído de lá diferente, mas não consegui. Ao olhar para ela tudo que eu pensava era sobre quem a tinha. Quem a beijaria, quem poderia sentir o aroma que eu tanto gostava. E esse alguém não era eu. Isso me matou por dentro, senti literalmente como se meu coração se transformasse em cacos. Com o desenrolar do caso e o todo o motivo, que era uma disputa de territórios entre famílias rivais e acabamos esbarrando em um caso de amor entre elas, ah sei lá, mexeu comigo.

Eu sou um romancista poxa, já era esperado não é? Ao ver seu sorriso e senti-la tão perto de mim, tudo que pude fazer foi correr. Me arrependi de ter optado pelas escadas, mas não poderia esperar o elevador voltar. Se não corresse provável que a beijasse ali, e estragasse toda a amizade e parceria que temos. Não sei por quanto tempo vou conseguir manter isso, cada dia fica mais difícil ser o parceiro amigo.

Chegando no loft Alexis tinha planos com um namoradinho da escola, que por falar nisso não gostei nada dessa história do ‘namoradinho mas estava triste e seria realmente bom ficar sozinho. Conheceria o tal rapaz depois. Mamãe quase não parava em casa, e quando estava saindo, ela voltou e suas palavras estão martelando em minha cabeça até agora, mesmo depois de um longo banho e algumas doses de whisky.

"Richard querido, você pode ficar sentindo pena de si mesmo, ou lutar pelo que deseja. Nunca vi um Rogers desistir fácil assim, e esse sentado frustrado no sofá, definitivamente não é o Castle que eu conheço".

Será que ela sabe que o motivo disso tudo é algo que não posso lutar? Ou fez de propósito para me deixar ainda mais confuso?! Eu não duvidaria mesmo de ambas as hipóteses.
Já havia bebido um tanto considerável essa noite, e sem pensar peguei as chaves do meu carro, precisava de ar.

Eu dirigi pela cidade, e quando percebi estava aqui, parado em frente a porta do apartamento dela. Onde estava com a cabeça? Primeiro que ela nem deve estar aqui, e se estiver, não seria sozinha. Eu encostei as minhas costas na porta e deixei o corpo cair, precisava pensar, colocar as ideias no lugar, mas, acho que acabei fazendo barulho, pois logo senti a porta se abrindo. ‘Ótimo, espero que não seja o doutor’, eu pensei sem olhar com a cabeça entre meus joelhos.

— Castle! - Ah , era essa voz, a voz que fazia meu coração saltar.

— Sim?! - Eu realmente não sabia o que fazer.

— O que faz aqui? Por que está no chão? - Ela parecia brava, e tinha razão não é?! Eu provavelmente atrapalhei algo. Me levantei apoiando na parede, por que senti uma leve falha nas pernas. Acho que bebi mais do que deveria.

— Me desculpe Kate, eu .. Eu não sei o que vim fazer aqui. Me desculpe atrapalhar, já estou indo . - Incrível como não consegui formar uma única frase coerente.

— Rick você bebeu? - Espera, ouvi direito? Rick ela disse?
— Vem! - Ela segurou um de meus braços. - Entre!

— Não Kate, estou bem. E não quero ver o Doutor. - Droga! Essa escapou.

— Entre Castle! Onde você pensa que vai? Não sei nem como chegou aqui sem sofrer um acidente. E quanto ao doutor só poderá vê-lo se viajar para o Haiti.

Eu não sei explicar o que senti ao ouvir que ele não estava. Um misto de alegria e tristeza, afinal ela devia estar triste e eu aqui quase bêbado bancando o idiota.
Ao entrar me deparei com um de meus livros e uma taça de vinho sobre a pequena mesa em frente do sofá, que foi para onde ela me conduziu. Pediu (para não dizer mandou) que eu me sentasse e foi em direção da cozinha.

POV Kate

Eu quase infarto com o barulho que veio da minha porta e para aumentar a surpresa, era Richard Castle, sentado com a cabeça entre as pernas e quase bêbado. Meu coração gelou ao vê-lo assim.

Castle apesar de não ser policial, e não estar acostumado com tudo que lidamos no dia a dia, não era uma pessoa que deixava se abater fácil. Ele era mais sentimental sim, porém não me lembro de ter visto ele dessa maneira muitas vezes. Mesmo quando passávamos por dias difíceis, era sempre ele que dava um jeito de nos animar. Não posso imaginar o que tenha acontecido para deixa-lo dessa forma. De repente sinto uma enorme preocupação geral dentro de mim.

— Castle, está tudo bem com Alexis? - Se tem alguém que pode deixar ele assim seria ela, e espero que esteja tudo bem.

— Está com o namorado. - Ele disse do sofá, preparando um café o mais forte possível para ele, ainda mais confusa. -Martha?

— Está em algum lugar com alguém que não faço ideia.
Ok, sua família está bem. Menos mal, Mas, faltava apenas uma da lista e eu realmente não queria ouvir, porém queria entender por que ele estava assim.

— É a Gina, Castle? O que aconteceu?

— Ah, ela não faço a menor ideia de onde esteja- Então foi isso. Eles devem ter brigado.

— O que você pensa que está fazendo? Pode por isso no lugar. - Eu disse um pouco mais alto do que pretendia ao vê-lo segurar a taça com o vinho que estava bebendo minutos antes. Quase cedi ao ver a carinha que ele fez é o bico que surgiu em seus lábios, não sei como Martha resistia quando ele era criança.

— Aqui, beba isso! Vai se sentir melhor. - Eu segurei a gargalhada após a careta que ele fez ao dar um grande gole. Estava forte e quente, ele parecia uma criança. Me sentei ao seu lado no sofá e esperei ele beber sob protestos o café, para que pudéssemos conversar.

— Você não está mais com o Josh? - Ótimo direto ao assunto.

— Não Castle! - Decidi dizer de uma vez. Ele sorriu para mim pela primeira vez desde que chegou.

— Eu te amo Kate!

— Espera! O que? - Quase engasguei ao ouvi-lo dizer.

— Eu amo você Kate, sempre amei. Meu dia foi horrível, porque só de imaginar você e o Doutor… Eu…

— Castle do que você está falando? Você não está com a Gina?

— Gina? - Ele sorriu - Nunca estive... Apenas fingi para que você não me tirasse de perto de você.

Droga! Não acredito, esse tempo todo e ele estava sozinho. Eu queria mandar ele embora, se não fosse a alegria idiota que crescia dentro de mim. Com certeza vamos falar sobre isso, mas amanhã. Hoje vou fazer o que imaginei há meses. Eu seria sua parceira hoje, eu cuidaria dele.

Antes que ele formulasse outra frase, fechei seus lábios com os meus. Ele parecia surpreso, levou algum tempo para entender, mas assim que entendeu me trouxe para perto e intensificou o beijo. Não era exatamente como imaginei, ele estava um pouco alterado devido ao álcool, mas não deixou de ser perfeito.

Seu cheiro, seus cabelos que eu não conseguia tirar minha mão e seu toque sutil e delicado em minhas costas me fizeram entender que ele não estava na verdade tão alterado, ele apenas precisou de algo que lhe desse coragem, essa que talvez não conseguiria mesmo que estivesse completamente bêbada.

Nos beijamos mais algumas vezes, e então assim como ele me disse o que sentia, disse a ele também. O puxei para que deitasse a cabeça em meu colo, e assim, passando a mão sobre seus cabelos pude ouvir novamente as três palavras que encheram meu coração de alegria.

Estávamos conversando a horas, rindo de algumas lembranças e de toda aflição que facilmente poderia ter sido evitada no dia de hoje se não fossemos tão cabeças duras. Nosso relacionamento começava de forma diferente, não fomos à um jantar, não fomos ver um filme, ainda... Mas quem disse que tudo precisa seguir uma regra?

Nos conhecemos de maneira inusitada e por anos brincamos de estar indiferentes um ao outro, sentindo ciúmes, perdendo noites de sono com pensamentos repletos de desejos, tudo culpa do nosso pequeno jogo sedutor e hoje, o dia em que demos um passo maior para nossa relação, estamos aqui, no meu sofá. Ele se ajeitou do meu lado me puxando para que deitasse quase que sobre ele, e foi a vez dele de acariciar meus cabelos. Nossa! Eu sonhei com isso algumas vezes.

Conversamos mais um pouco, apenas sobre nos, apenas sobre a vida. Nos conhecíamos tão bem, que de fato a única diferença era que agora eu podia beija-lo. Agora era meu. Hoje não faríamos amor, apesar de que acho impossível todas essas horas com a troca de palavras e sentimentos não ser considerado como fazer amor. Reformulando minha frase, hoje não faríamos sexo, teremos ainda muito tempo para isso é claro que o desejo. Mas, hoje estaríamos no amor. Não é mais dia dos namorados, então hoje o dia é nosso, apenas nosso. Graças a Deus pela folga, hoje já era sábado e teríamos um dia inteiro pela frente, meu escritor e eu.
Assim adormecemos no sofá mesmo, e toda aquela angústia foi levada embora pelos sonhos que ao acordamos será mais do que real.

“O tempo é muito lento para os que esperam. Muito rápido para os que têm medo. Muito longo para os que lamentam. Muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o tempo é eterno.”
Shakespeare