Ficamos em um silêncio terrivelmente arrasador, aquela noticia foi um soco no estômago, Cronos teve um filho com uma mortal, um filho que por sua vez é mortal também, mas muito poderoso por ser filho de um Titã.

     O que me lembra a parte que o Titã falou para Robert, no tal pesadelo, que ele deveria ser o melhor. Como ser o melhor? E como isso ajudaria a ele a resurgir?

     Ser o melhor... Ser o... Espera, ser o melhor pode significar... Não! Ah deuses se for o que eu estou pensando, o plano dele tem total chance de dar certo!

     -Sei o que ele quer! –Falei de súbito, acordando os outros para o mundo real, assim como a mim mesmo.

     -Cronos? –Perguntou Annabeth.

     -É! Pensem comigo, o que viemos fazer aqui?

     -Buscar Thalia para poder se realizar a profecia. –Anna falou como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

     -Certo, mas por acaso nós encontramos Robert, que por acaso é filho do nosso inimigo.

    -Até ai nós já sabemos Nico. –Comentou Percy impaciente.

     -Mas e se Cronos já sabe da profecia? –Eu disse.

     -É claro, como eu não pensei nisso antes?

     -Aposto que foi a noite de ontem, Annie. –Falou Anna, todos rimos, mas ela recebeu um empurrão de Annabeth por causa do comentário.

     -Isso é sério Anna! Se Cronos já sabe da profecia é claro que ele vai querer que Robert seja o mais poderoso e então vai poder livremente dominar o Olimpo!

     -Precisamos falar com Quiron agora! Por que até o momento os únicos que sabem da existência do Robert somos nós! –Falou Percy, ressaltando uma parte da qual eu não havia me dado conta.

     Se Robert fosse realmente o mais poderoso, o que eu não duvidava que fosse por ele ser filho de um Titã, e Cronos conseguisse escapar do Tártaro, ninguém entenderia o por que. Oh deuses, Robert é meio-irmão do meu pai, o que significa que ele é meu tio.

     -Como vamos falar com Quiron se não podemos usar telefones? –Perguntou Anna.

     -Mensagem de Íris. –Falou Thalia. –Você vai ver.

     Nós seis nos esprememos dentro de uma cabine para pessoas de cadeira de rodas no banheiro feminino, mesmo sendo uma cabine “grande” ficamos espremidos. Annabeth apontou o chuveirinho para cima e Thalia abriu a janela deixando a fraca luz do sol entrar e formar um pequeno arco-íris.

     Após revirarmos cada centímetro de cada mochila presente achamos alguns dracmas. Percy pegou um e jogou na água do chuveirinho pedindo para que a deusa Íris nos mostrasse Quiron.

     O centauro estava observando um jogo de vôlei muito violento no acampamento com uma expressão de cansaço. Apenas de pois que todos nós gritamos juntos ele percebeu a mensagem e se aproximou.

     -Olá a todos. Acharam Thalia?

     -Aqui estou eu Quiron! –Falou Thalia acenando para ele.

     -Excelente, quanto mais rápido chegarem ao Olimpo, mais rápido essa loucura acaba.

      -Ah não acaba mesmo. –Eu disse baixinho, mas todos escutaram.

      -Como não Nico?

      -Conheça o Robert, -eu puxei o moleque e coloquei o em frente a Quiron. –O nosso mais novo meio sangue, e adivinhe! Ele é filho de Cronos! –Eu falei com uma falsa animação.

     A expressão de Quiron mudou totalmente, não era pra menos não?

     -Tenho certeza de que não é preciso seis pessoas pra explicar essa história. Anna? –Ela fez que sim com a cabeça e me acompanhou para fora do banheiro

P.O.V. Anna

     -O que houve Nico? –Perguntei.

     Ele estava encostado na parede que havia socado há segundos atrás, seus olhos tão negros estavam fechados com força, ele estava chateado com alguma coisa.

     -Robert foi o que houve! Se não fosse por ele teríamos conseguido.

     Eu o abracei. Ele me abraçou. Ficamos por um pouco tempo assim.

     -A culpa não é dele. E sei que não é isso que te chateia, pode me contar a verdade.

     -Anna, você tem em seu bolso a arma de um deus, isso te coloca na profecia, porém sabemos que entre nós é a mais fraca, já que Annabeth não compete. –Continuávamos abraçados, eu não via seu rosto, mas sabia por sua voz que ele estava irritado. –Tenho medo de te perder Anna. Meu pesadelo foi assim.

     -Não se preocupe sem motivos, meu amor. Papai nunca me faria uma coisa que pudesse me machucar. Ele só queria me ajudar, me disse no carro dele antes de encontrarmos Robert e Thalia. Mas acho que ele realmente considera a ideia de que eu possa ser a mais forte.

     -Você precisa devolver o arco a ele. –Senti que ele tinha medo que eu não concordasse.

     -E eu vou. –Eu me afastei para poder olhar em seus olhos. Ele olhava para o céu escuro. –Olhe nos meus olhos Nico. –Ele me olhou. –Nada pode nos separar se não quisermos.

     -Você parece uma filha de Afrodite falando assim. –Ele brincou com uma mecha do meu cabelo.

     -Não preciso ter puxado todos os genes do meu pai sabia? Mas voltando ao assunto, só quero que saiba que vai ficar tudo bem. Contanto que vocês vençam do Robert e percam da Thalia.

     Eu falei com um sorriso sincero, não sabia como nem por que, mas a sensação de que tudo ficaria bem nunca esteve tão forte em mim. Ele me puxou para perto e mudou nossas posições, eu agora estava entre o amor da minha vida e uma parede azul, Nico me olhou nos olhos por uma ultima vez e começou um beijo. Parecia que fazia anos que não nos víamos, pois aquele era um beijo realmente intenso.

     Nós estávamos ficando como se ninguém pudesse nos ver, e volta e outra fazíamos coisas que seriam melhores de se fazer em um quarto vazio. Estávamos num desses momentos quando ouvimos alguém tossir atrás de Nico. Não sei como, porém ele percebeu que era Thalia e não interrompeu o beijo.

     -Vamos embora Romeu! Estamos atrasados! –Trovejou Thalia e puxou Nico pela gola da blusa, os outros riam das caras da caçadora e do meu namorado. –Você também Julieta!

     Comecei a segui-los para fora do hotel.

     -O que é tão importante que vocês tem que interromper meu beijo? –Eu reclamei fingindo.

     -Quiron vai contar aos outros sobre Robert. Sabe o que isso significa?

     -Significa que os outros vão saber sobre Robert, não? –Ironizou Nico, eu deixei uma risada me escapar.

     -Estão achando que é brincadeira?! Significa que milhões de monstros a mais vão vir atrás da gente e significa que Robert esta sobre ameaça de vida! –Percy gritou, ele estava muito tenso.

     -Então precisamos chegar a Nova York o mais rápido que conseguirmos. –Falou Annabeth tentando se manter em seu estado normal.

     -Não podemos voar e não posso ir tão longe pelas sombras, o que sugere? –Perguntou Nico.

     -Tive uma idéia. –Vindo dele, não poderia ser boa coisa.

No Olimpo...

     -Zeus, você tem que me escutar. –Dizia Atena de seu trono. –Precisamos contar a Posseidon e Hades sobre o menino. Se o que Quiron diz é verdade mais do que sua posição no poder esta em jogo, imagine o que aconteceria se Cronos conseguisse sair do Tártaro!

     Zeus tinha convocado todos os olimpianos que ainda podiam entrar no Olimpo para ouvirem o que Quiron tinha para dizer.

     -E como aqueles heróis sabem que o garoto é realmente filho de Cronos? –Perguntou novamente Zeus.

     -Já lhe disse, o próprio Cronos falou com ele, e Robert, o tal filho de Cronos, tem armas de ouro titã. –Todos ficaram espantados. –Eu mesmo chequei as armas, e obviamente não contei a ele o que era.

     -Ouro titã? Como ele conseguiu isso, achei que tivéssemos acabado com todo o estoque deles. –Falou Ares.

     -É a única coisa que pode realmente matar um deus. –Hermes pensou alto. –E o único que usa é Cronos.

     -E o que vamos fazer com o garoto? –Perguntou Dionísio.

     Silêncio. A resposta obvia para Zeus era acabar com o problema, ou seja, acabar com o garoto, mas havia outros nove deuses para convencer. Nem todos pensavam do mesmo modo.

     -Não podemos deixar que esse garoto continue vivo, é uma ameaça a todos nós!

     -Pense bem, Zeus. Você deseja a mesma coisa aos filhos de Posseidon e de Hades. –Falou Hera.

     -Não podemos sair matando todas as crianças que vemos pela frente com potencial para ser a mais poderosa!

     -Você esta certa Afrodite, se fizer isso dará o poder para seus irmãos fazerem o mesmo a Thalia. –Falou Atena, fazendo Zeus ficar bastante inquieto (mais do que já estava).

     -Não estamos falando de semi-deuses! Estamos falando do filho de um titã, que representa real ameaça sobre todo o modo como os deuses, como eu governo o Olimpo.

     -Espero que não estejam planejando nada sem nós. –Uma voz muito conhecida correu a sala de tronos.

     Hades e Posseidon acabavam de adentrar a grande sala os dois estavam vestindo ternos pretos, Posseidon segurava seu tridente e Hades usava seu elmo das trevas. Nenhum dos dois parecia feliz por não ter sido convidado.

     Eles avançaram para ficarem exatamente a frente de Zeus, que estava muito enfurecido.

     -Que lhes deu permissão para entrarem?

     -Não precisamos de permissão, irmão, também somos deuses. –Falou Posseidon calmo.

     -Estavam banidos!

     -Excelente, se não quiser escutar tudo bem, não será o meu reino ou de Posseidon que irá a ruínas. –Falou Hades em seu tom persuasivo. Zeus se calou.

     -Faz exatamente três semanas que Cronos começou a tentar sair do Tártaro, e o garoto que nossos filhos encontraram pela missão é realmente o primeiro filho mortal de Cronos.

     -Como ouvimos vocês estavam discutindo sobre o que fazer com ele, não? –Comentou Posseidon. –Acho que sabemos que só existe uma solução para ele.

     Ninguém discordou daquelas palavras sombrias, não em voz alta.

     -Então, assim será feito. No dia em que os semi-deuses chegarem ao Olimpo. –A voz grave de Zeus pôs um fim na discussão.

     -Mais ainda tem mais. –Continuou Hades sentando-se em um trono improvisado que acabara de surgir. –O que faremos com o Titã até o dia que meu filho e os outros chegarem aqui? Todos os deuses menores ctónicos* estão fazendo o que podem para impedirem que ele escape, mas isso não vai segurá-lo por muito tempo.

     -Quanto tempo mais acha que vão agüentar.

     -Cinco dias.

     -Então esse é o tempo que resta aos pequenos heróis para chegarem aqui. –Falou Posseidon de seu trono.

     -Hermes, vá avisá-los. –Comandou Zeus.

     -É pra já senhor. –E o deus mensageiro saiu as pressas mexendo em seu telefone.

     -E vocês, -continuou o senhor dos raios, referindo-se aos outros olimpianos. –Continuem suas tarefas até segunda ordem.

*deuses ctónicos – referente aos deuses do mundo subterrâneo, como exemplo Perséfone e Hécate.