Traços do Destino escrita por Miss Daydream, LadyNightmare


Capítulo 10
Receios


Notas iniciais do capítulo

Err... Olá?
Aqui quem vos fala é a @LadyNightmare. E não, isso não é uma miragem. É realmente uma atualização de Traços do Destino, depois de 2 anos. Nós realmente sentimos muito e devemos milhares de desculpas para vocês :(
Acredito que tanto para mim, quanto para a Miss, 2019 foi um ano bastante complicado. Eu comecei a ter aulas práticas no meu curso técnico, sendo assim, minha carga horário aumentou de tamanho. Eu ficava tanto de manhã, quanto de tarde estudando. E a Miss está nos últimos anos do curso dela também, então, ela tá naquela correria de formatura. Há também os problemas pessoais, que só vem para complicar ainda mais as nossas vidinhas.
Eu não posso prometer um prazo para vocês, ou de que voltaremos em breve, porque não vai ser uma promessa verdadeira. Gostaríamos de finalizar a fic, sim, mas não sabemos quando será possível. Perdão :c
Nós também gostaríamos de agradecer todo o apoio que recebemos durante esse tempo, vocês são maravilhosos ♥
E esperamos, de coração, que vocês não tenham desistido de TdD e que o rumo da história continue agradando vocês ♥
Bem,sem mais enrolações, uma boa leitura a todos sz
Beijão!



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A respiração de Nathaniel trancou na garganta durante alguns segundos. Castiel estava mesmo propondo que ele passasse alguns dias em seu apartamento? O loiro beliscou a própria coxa discretamente, apenas para ter certeza de que aquilo era real, de que estava mesmo acordado. 

Abriu a boca, sem saber direito o que responder e, por fim, acabou apenas soltando o ar preso em seus pulmões, coçando a nuca timidamente e pensando no que responder. 

— Você está sendo realmente muito solidário comigo, Castiel. Eu me sinto mal por estar tomando tanto o seu tempo... — suspirou — Oferecer sua casa para mim é demais. Eu não posso aceitar. 

Castiel revirou os olhos pelo que deveria ser a milésima vez naquele curto espaço de tempo. Estava ficando chato. 

— Para de fingir que não quer. — respondeu simplesmente, enquanto soltava os cabelos — Eu sei que você quer. Você sabe que você quer. Nós dois sabemos que você precisa. Agora aceite a oportunidade antes que eu mude de ideia. E isso pode acontecer em qualquer momento, assim que eu recuperar qualquer sanidade que ainda me resta. 

Nathaniel torceu o nariz por alguns segundos. Oras, ele estava sendo educado! De fato, não queria tornar-se um incômodo. 

No entanto, sua expressão emburrada logo se desfez quando ele viu as madeixas ruivas de Castiel caindo sobre seu rosto e o cobrindo um tanto, lhe fazendo perder o ar durante alguns instantes. Ah... Aquele falso ruivo era tão malditamente bonito. 

— Se você insiste, tudo bem, então... — e pigarreou antes de continuar, recompondo-se — Eu só preciso passar em casa e pegar algumas roupas. 

— Certo... — Castiel tentou não parecer sem jeito, mas era quase impossível. 

Assim que chegasse em casa ia se questionar milhares de vezes por ter feito aquela proposta ridícula, mas ele estava desesperado pela situação do outro garoto! Ah, mas só de pensar que Nathaniel iria querer organizar cada bagunça sua já lhe causava calafrios... Não queria ter que brigar com ele, mas teria que deixar claro o mais rápido possível o lance de "minha casa, minhas regras". O loirinho tomaria conta e botaria defeito em tudo o que conseguisse, disso ele tinha certeza. 

Mas ao invés de pensar sobre isso, ficou observando as bochechas coradas pelo frio de Nathaniel. As maçãs do rosto ficavam muito mais salientes quando elas estavam daquela cor, deixava seu rosto muito mais agradável.  

Depois de um tempo em silêncio, Castiel pigarreou pelo que deveria ser a quinta vez. Não queria, não queria, não queria que as coisas ficassem estranhas de novo. 

— Hm, então te vejo mais tarde? 

O loiro apenas assentiu, ao mesmo tempo em que retirava o avental que antes usava. 

Olhou para o relógio no alto da parede, constatando que tinha pouco tempo para passar na casa de seus pais antes que Francis chegasse do trabalho. 

Tornou a falar com Castiel, recebendo um olhar curioso deste: 

— Obrigado por hoje... As instruções, sabe. Serão de grande ajuda. — agradeceu, sorrindo fraco — Até daqui a pouco. 

Deu um tapinha discreto no ombro do ruivo e logo saiu porta à fora, temendo receber uma resposta nem um pouco simpática do outro por causa daquela ousadia. 

Castiel apenas observou as costas largas do loirinho enquanto ele andava para a direção oposta à sua. Colocou a mão em cima do local onde havia recebido um tapinha amigável do mesmo. 

Quem no mundo diria, há alguns anos atrás, que aquela situação em que estavam aconteceria?! Nem eles mesmos. 

O que um pouco de empatia não fazia... Castiel havia aprendido muito em poucos anos. Ele era uma pessoa melhor. Estava quase se tornando uma boa pessoa, e boas pessoas ajudam conhecidos em apuros, certo? 

Ele queria que as melhores coisas acontecessem a Nathaniel a partir de agora, quase que um acerto de contas por ter acabado com a amizade deles por causa de uma garota idiota e por ter feito dos anos de ensino médio um inferno considerável. 

Ele esperava de coração que o inferno de Nathaniel acabasse de uma vez por todas, e colocaria um sorriso no rosto dele nem que fosse no soco. 

  

*** 

  

Ao sair do Coffee Shop, Nathaniel sentiu um arrepio atravessar sua espinha. Devido ao frio e a situação que teria que enfrentar dali a algumas quadras. 

Caminhou de modo apressado e pensativo, com as mãos enterradas nos bolsos da jaqueta e o nariz afundado na mesma, inalando o aroma do perfume que Castiel costumava usar. Era bom, ele admitia. 

Passou em frente a alguns bares durante o caminho, que eram as únicas coisas que ainda se mantinham abertas àquela hora. Reparou nas motos estacionadas de modo desleixado em frente aos estabelecimentos e se perguntou, mentalmente, se Castiel já havia pensado em comprar uma moto. Fazia o estilo dele, certamente. 

Minutos depois, estava em frente à casa de seus pais. Trêmulo, procurou as chaves no bolso da calça jeans.  

Abriu a porta, o mais silencioso possível. As luzes estavam apagadas. O cabideiro estava vazio, o que indicava que seu pai ainda não havia chegado. 

Cautelosamente, subiu as escadas nas pontas dos pés, iluminando o caminho com a lanterna do celular. No corredor, podia-se ver a porta do quarto de Ambre aberta, juntamente com a luz ligada. Ela parecia ser a única em casa no momento. Seus pais provavelmente ainda estavam fora, Francis debruçado sobre uma pilha de papéis, calculando as dívidas da empresa, enquanto Adélaide gastava sem escrúpulos. 

O loiro adentrou o quarto que ainda era seu, pegando a mochila sobre a cadeira. Abriu o guarda-roupas, retirando algumas peças limpas de lá e dobrando diversas vezes para que coubessem mais na mochila. Pegou também o carregador de seu celular e a escova de dentes.  

Deu uma última olhada no cômodo, sentindo o peito apertar com toda aquela situação. Era mesmo necessário chegar a esse ponto? Por mais que amasse seus pais, sabia que seu lugar não era ali. 

Ao atravessar o corredor novamente, lançou um olhar pesaroso ao quarto da irmã. Ambre não era uma pessoa ruim, apenas parecia viver presa em sua bolha, onde tudo era perfeito. 

Desceu as escadas devagar, tomando cuidado para não tropeçar no caminho. Ao chegar na porta, foi surpreendido por uma voz feminina muito bem conhecida por si. 

— Nath? 

Quando se virou para trás, viu Ambre parada a poucos metros de si, segurando um copo vermelho nas mãos. De pijamas, ela parecia surpresa em ver o irmão ali. 

— Você voltou para casa? — a loira perguntou, parecendo esperançosa. 

Nathaniel desviou o olhar, engolindo em seco. Estava em maus lençóis. 

— Não, Ambre... Ao menos, não por enquanto. — mentiu. Sabia que a partir do momento em que saísse por aquela porta, Francis jamais o aceitaria de volta. 

— E para onde vai? Você não pode ir embora assim! Aqui é sua casa, somos a sua família! — ralhou a mais nova, batendo os pés no chão. 

O ex representante de turma suspirou profundamente, formulando uma resposta em sua mente. Droga. Ambre estava dificultando seus planos de entrar e sair sem ser notado. Precisava sair ali antes que seus pais voltassem. 

— Ambre... Agora não é um bom momento. Eu prometo que te explico melhor depois. — caminhou até ela, abraçando-a brevemente — Por agora, apenas saiba que estou bem e em um lugar seguro. Até outra hora. — sorriu sem mostrar os dentes, apenas para dar ênfase na parte em que dizia "estou bem". Mesmo que não fosse completamente verdade. 

Ambre não pareceu contente com a resposta, mas aceitou. 

— Vou cobrar depois. — resmungou antes que Nathaniel saísse pela porta. 

O mais velho apenas assentiu, trancando a fechadura. Respirou fundo, guardando as chaves no bolso novamente. Se sentia parcialmente culpado e com medo, como se estivesse fazendo algo muito errado.  

Caminhou para longe da residência, pegando o celular e verificando o horário. Onze horas da noite. Tarde o suficiente para ser assaltado.  

Agora, eram mais algumas quadras até a casa de Castiel. 

  

*** 

  

Castiel corria para lá e para cá num emaranhado tão bagunçado que chegou a tropeçar em Dragon sete vezes. Também, pudera! O cachorro não saia de seu encalço, quase como se soubesse que algo estava prestes a mudar para sempre ali naquele apartamento singelo. 

As coisas estavam bastante... Fora de ordem. Isso. Fora de ordem era uma boa classificação para o caos que estava ocorrendo ali. O ruivo fez uma limpeza básica na sala, na cozinha, no banheiro e no próprio quarto ao fim do corredor, mas nada parecia o suficiente. Não sabia quantas coisas Nathaniel traria, mas deixara reservada uma cômoda com várias gavetas vazias para que ele se sentisse à vontade. Castiel esperava que o loiro trouxesse algumas roupas, pois já estava cansado de emprestar as suas melhores ao outro. 

Pediu comida para comer ao fim da faxina, e também para deixar as sobras para Nathaniel, que deveria chegar ali faminto.  

Agora que havia finalmente parado por alguns instantes, Castiel não podia evitar pensar em como Nathaniel estava se saindo perante a família. O pai terrível e agressivo, a mãe omissa e a folgada da Ambre, que não fazia nada para ajudar o irmão. 

Como é que Nathaniel havia acabado numa situação tão miserável? Era patético para dizer o mínimo... E muito triste. Quanto tempo ele aguentara aquilo? Tantos amigos, colegas e conhecidos. Tanta gente que parecia gostar dele, que parecia conhecer ele. E absolutamente ninguém tinha destrinchado aquela parte vital de uma história complicada. 

Nathaniel era um mistério muito paradoxal. Ele vivia de aparências, mas não de aparências fúteis. Ele vivia de algo falso e quase maquinal. Era deprimente, Castiel não conseguia nem imaginar... Talvez fosse por isso que tinha pego tanto apego pelo loiro em tão pouco tempo. 

Err... Apego também era uma palavra muito forte. Digamos... Empatia. Tinha considerável empatia pela situação do outro, isso era verdade. Estava fazendo de tudo para ajudá-lo, e continuaria ajudando como podia, o quanto fosse necessário. 

  

*** 

  

Quando Nathaniel abandonou o ônibus, em frente ao prédio de Castiel, não perdeu tempo em adentrá-lo. O porteiro lhe olhou de forma suspeita, mas deixou que subisse. 

Pegou o elevador, indo até o andar do ruivo. Um corredor longo se estendia na saída da caixa metálica. Nathaniel mentiria se dissesse que se lembrava com clareza de qual daquelas portas era a de Castiel. Ele só sabia que era uma das últimas. 

Cruzou os dedos e bateu na porta 502. Latidos foram ouvidos, juntamente com o som de passos rápidos. E assim o loiro soube que era ali. Foi recebido pela imagem de um Castiel com os cabelos bagunçados e vestindo uma roupa muito mais confortável do que anteriormente. Na sua camisa, havia Katchup With Me escrito e Nathaniel quis rir do trocadilho, contudo, apesar de toda a aproximação que tinham adquirido em tão pouco tempo, ele ainda não se sentia íntimo o bastante para testar os limites de Castiel e fazer piadinhas da mesma forma que o ruivo fazia consigo. 

— Ficar me encarando desse jeito durante muito tempo não vai te teletransportar para dentro do apartamento, senhor representante. — Castiel provocou, tentando tornar o clima mais leve. 

Nathaniel mordeu a língua, mas não se segurou ao olhar de forma igualmente zombeteira para o outro. Afinal, os dois poderiam jogar aquele jogo.  

Castiel sinalizou para que ele adentrasse o apartamento e assim foi feito. O loiro reparou que o ambiente parecia muito mais limpo e organizado do que no outro dia em que estiveram ali. É claro que Nathaniel possuía hábitos de limpeza, mas ele jamais opinaria em como Castiel deveria limpar o próprio lugar onde morava. No entanto, ele admirava o ato do ruivo. E estava profundamente grato. Não só pela organização, na verdade. 

Dragon latiu para o convidado e então se sentou na frente dele, esperando ser notado. O aquariano acariciou as orelhas e cabeça do animal, recebendo uma bela lambida na palma da mão. Castiel riu. 

— Ele acaba de garantir o seu banho do dia. — o ruivo também acariciou o pelo de Dragon e, em seguida, se virou para Nathaniel novamente. — Beleza. Eu preciso deixar algumas claras antes de você se ajeitar. 

O loiro assentiu para o outro, prestando atenção no que ele diria a seguir. 

— Só há uma regra aqui, na verdade. E é a mais importante. —  pigarreou, empurrando algumas mechas de cabelo para trás. — Não mexa nas minhas coisas. Sob hipótese alguma. Se você precisar de algo, qualquer coisa, é só falar comigo. Mas não saia por ai futricando naquilo que me pertence. 

Nathaniel assentiu outra vez. Ele compreendia Castiel perfeitamente. Havia passado todos aqueles anos dividindo a casa com sua irmã e, sinceramente, já tinha perdido a conta de quantas vezes usará o mesmo discurso com ela. Não dava muito certo, é claro. Além do mais, o intruso ali era Nathaniel. Nada naquele apartamento lhe pertencia. Então, tendo bom senso, é claro que ele não se atreveria a mexer em algo. 

— Não irei, não se preocupe. — garantiu. 

— Ótimo. — Castiel suspirou. Ele parecia cansado. — Tem pizza na geladeira. E eu já deixei uma toalha para você no banheiro. Você vai ficar com a cama no quarto, eu fico no sofá. 

O loiro estava prestes a retrucar, recusando-se a deixar o outro dormir num móvel desconfortável, e Castiel pareceu prever isso, pois ergueu o dedo indicador, impedindo-o de falar. 

— E eu não estou disposto a mudar de ideia. — o ruivo deixou claro. 

Pelo visto, só restava a Nathaniel ir tomar banho. Sabia que não conseguiria fazer aquele cabeça-dura trocar de lugar consigo, então era melhor que não se desgastasse tentando. Castiel apontou para ele qual era a porta do banheiro e minutos depois, Nathaniel desfrutava de um banho quente, relaxando todos os seus músculos e trazendo uma sensação de conforto para si.  

Ele reparou nas tinturas de cabelo postas em cima do armário de pia, assim como descolorantes e shampoos especiais para as madeixas ruivas. Definitivamente, algumas coisas não mudam. 

Quando deixou o banheiro, as luzes já estavam apagadas e apenas o barulho da televisão se fazia presente. Ele foi até a sala, apenas para dar de cara com Castiel encolhido no sofá que, nitidamente, era pequeno demais para um cara de 1,82cm como ele. Não parecia nenhum pouco confortável. O controle remoto estava fracamente preso entre os dedos do ruivo. Ele parecia ter caído no sono enquanto assistia a algum programa de tv. 

Sorrateiramente, Nathaniel se aproximou do outro, retirando, devagar, o objeto das mãos dele. Castiel resmungou e se virou no sofá, ficando de costas para o loiro. Um riso soprado e baixinho escapou pelos lábios do aquariano. Aquele garoto era mal-humorado até mesmo dormindo. 

Os cabelos ruivos que estavam espalhados pela almofada que Castiel utilizava como travesseiro prenderam a atenção de Nathaniel. Perguntou-se se os fios vermelhos seriam tão macios e sedosos quanto pareciam ser. Automaticamente, sua mão formigou ao lado do corpo, querendo embrenhar os dedos pelas madeixas longas do outro.  

Mordendo os lábios, o loiro considerou a ideia durante alguns segundos. Castiel estava adormecido, ele nem sequer perceberia se Nathaniel não se demorasse. Que mal faria, não? 

Lentamente, o ex representante de turma levou a mão destra em direção à cabeça de Castiel. Quando alcançou os cabelos do mesmo, acariciou suavemente, sentindo os fios escaparem por entre seus dedos, exalando um cheiro gostoso. Exatamente como tinha imaginado. Ele afastou algumas mechas do rosto de Castiel, gostando da sensação que aquele carinho causava. 

Carinho

Nathaniel estava brincando com o cabelo de Castiel. No meio da sala da casa dele. 

A ficha do quão estranho aquilo era finalmente caiu para o loiro. E antes que o leonino pudesse acordar, ou qualquer outro desastre pudesse acontecer, ele se afastou, voltando a ocupar sua mão com o controle remoto que havia pego.  

Nathaniel desligou a televisão e tratou de dirigir-se para o quarto do ruivo, que era para onde ele deveria ter ido desde que saíra do banheiro. 

O cômodo era repleto de posters de bandas grunge e de algumas bandas de heavy metal também. Incontáveis CD's estavam dispostos organizadamente sobre uma prateleira no alto da parede. A guitarra vermelha repousava majestosamente em sua base no canto do quarto. A mochila de Nathaniel estava ao pé da cama. Haviam apenas alguns cadernos dentro dela agora. 

Por mais confortável que a cama de Castiel fosse, o loiro levou um bom tempo para conseguir pregar os olhos naquela noite. Não sabia se era por causa de tudo o que estava acontecendo, ou se era porque estava em um ambiente ao qual ainda não estava acostumado. Ou talvez uma mistura dos dois. De qualquer forma, a noite não havia sido muito confortável para ele.  

  

*** 

  

Nem de longe Nathaniel queria parecer ingrato para Castiel. E era exatamente por isso que o loiro encarava o próprio reflexo de forma descontente no espelho do banheiro. O dia já tinha amanhecido. Eram aproximadamente sete horas da manhã e ele tinha faculdade dali a uma hora, assim como o ruivo precisava ir para o Coffee Shop. 

As olheiras debaixo de seus olhos dourados entregavam a má noite de sono que ele havia tido. Assim como sua expressão cansada. Não queria que Castiel pensasse que sua cama não havia sido boa o suficiente para abrigar um burguês como Nathaniel. Por isso, o último deu tapinhas nas próprias bochechas, tentando deixá-las coradas para parecer pelo menos um pouco melhor. 

Quando atravessou a pequena sala, foi recebido por um cheiro agradável de torradas sendo preparadas. No fundo, ficou um tanto quanto decepcionado consigo mesmo, pois ele pretendia fazer o café da manhã como agradecimento ao ruivo. 

Na cozinha, Castiel se encontrava parado em frente à pia, parecendo preparar uma quantidade generosa de café enquanto a torradeira trabalhava de maneira rápida. Mesmo sob a camisa de tecido preto, Nathaniel não pôde deixar de reparar nos músculos das costas de Castiel, que ficavam mais aparentes de acordo com os movimentos que ele fazia. 

Agora ele estava corado de verdade. 

Sem fazer muito barulho, o loiro se aproximou da bancada, sentando-se em um dos bancos em frente à mesma.  

— Sabe, quando se é dono de um cachorro, adquirimos uma audição apurada. — Castiel comentou, com a voz rouca. Não parecia estar de mal humor. — Bom dia, Bela Adormecida. 

Nathaniel deixou um suspiro escapar, frustrado por suas habilidades sorrateiras não terem funcionado dessa vez. Ele respondeu ao bom dia do leonino, perguntando como havia sido a noite deste. 

Castiel pensou um pouco antes de responder. Tinha sido pego de surpresa pela pergunta. Não queria que o outro se sentisse culpado, mas também não iria mentir e fazê-lo achar que estava completamente satisfeito em dormir no sofá. Porque não estava. 

— Minha coluna dói um pouco, mas eu dormi a noite inteira. — deu de ombros, com o jeito displicente de sempre. — E você? 

Nathaniel engoliu em seco, tamborilando os dedos. 

— Foi boa. — mentiu — Muito obrigado por ter me deixado ficar na sua cama. 

— Não se acostume. Pretendo arrumar uma cama de cachorro para você em breve. — Castiel zombou, arrancando um sorriso do mais baixo. 

O ruivo colocou uma caneca com café até a borda na frente de Nathaniel, juntamente com uma torrada que tinha acabado de ficar pronta. Devido às suas idas frequentes ao Coffee Shop nos últimos dias, o ex representante de turma estava começando a se sentir mimado pelos dotes culinários de Castiel. Seria um desastre quando ele tivesse que voltar a beber o próprio café. 

O dono do apartamento se sentou na frente de Nathaniel, segurando a própria caneca com as duas mãos e usando o calor provindo da bebida quente para aquecer-se. Observou o antigo colega de classe. Os cabelos loiros estavam penteados, mas ainda assim, de um jeito um pouco mais desleixado do que ele se lembrava. O cachecol azul estava de volta ao pescoço pálido dele, caindo sobre o sobretudo preto que ele usava. Engomadinho. Em outros tempos, Castiel teria sentido vontade de desarrumá-lo na base do murro.  

No entanto, agora, ele só conseguia continuar observando. Era como se o olhar dele estivesse preso em Nathaniel, reparando minunciosamente em cada detalhe que compunha suas feições, na forma como se portava à mesa. Tsc. Aquele garoto exalava boa educação. 

Os olhos acinzentados do ruivo subiram de volta para o rosto do loiro bem no momento em que o mesmo umedecia os lábios com a língua. O aperto de Castiel na caneca se tornou mais firme. No fundo, bem no fundo, ele sabia que desejava cobrir a boca de Nathaniel com a sua própria e descobrir o gosto dos lábios dele. Desde àquela aula no curso de Letras, tais pensamentos vinham lhe atormentando. Se fosse outra pessoa, qualquer outra pessoa no lugar de Nathaniel, Castiel já teria tomado as rédeas da situação e saciado todas as suas dúvidas quanto ao beijo dele. Mas era exatamente esse o problema. Era o ex representante de turma ali. Aquele com o qual passara três anos de sua vida brigando pelos cantos da Sweet Amoris. Havia receio, havia hesitação. Havia também, é claro, o medo da rejeição. Nem sequer sabia se o loiro gostava de garotos. Era claro como o azul do céu que Nathaniel tinha sido criado em um ambiente rígido e muito provavelmente, a heterossexualidade era a única sexualidade possível para ele. Não fazia a mínima ideia de qual seria a reação dele. 

Quando Castiel voltou para o mundo real, deixando seus pensamentos de lado, Nathaniel também o olhava fixamente, devolvendo o olhar. Os lábios do mesmo estavam entreabertos e ele parecia um tanto ansioso. Um silêncio se instalou entre eles. Assim como um muro de sentimentos conflitantes que os impediam de fazer aquilo que tanto queriam. As borboletas no estômago de cada um pareceram agitar-se com aquela troca de olhares. 

Castiel não sabia mais se queria beijar Nathaniel, ou socá-lo. Pois ele, definitivamente, não era uma pessoa medrosa. Mas o loiro estava fazendo-o se sentir assim. Aquele filho da puta estava fazendo Castiel temer a reação dele.  


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