Dance For Me escrita por Mrscaskett


Capítulo 7
Capítulo 07


Notas iniciais do capítulo

Oláaa, andei sumida de Dance For Me, eu sei... mas agora estou aqui com um cap um pouco grande (me desculpe quem não gosta de cap tão grande assim) mas foi uma forma de "recompensar" pelo tempo fora.

Então, esse cap vocês começar do passado. Lembram que no cap anterior Kate saiu com Collin? então.. vamos continuar dali, e logo depois vamos voltar para o presente, exatamente na cena em que o marido de Kate ligou para ela enquanto ela estava com Rick.

Bom, um aviso para os próximos cap, depois do cap de hoje (que eu tenho certeza que vocês ficarão curiosos para mais rs) nós vamos voltar definitivamente ao passado, entender de vez o que aconteceu na história dos dois. Eu sei que essa minha forma de escrever foi confusa para a maioria de vocês, então resolvi mudar.

Espero que estejam gostando da fic. Aproveitem e Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725264/chapter/7

“...We're going through the motions because we can't fix what's broken. And I know it's gonna hurt, but darling I'll go first

'Cause I won't keep on saying those three empty words...

We'll only make it worse. I'm tired, I can't take it anymore...” — Shawn Mendes

“...E nós estamos seguindo o fluxo, pois não podemos consertar o que se quebrou. E eu sei que vai machucar, mas querida, eu falo primeiro

Pois eu não vou ficar repetindo aquelas três palavras vazias...

Vamos fazer tudo ficar pior. Estou cansado, não consigo mais fazer isto...” — Shawn Mendes

Nova Iorque, 2010.

Kate permanecia deitada. Cada músculo do seu corpo tremia depois do sexo selvagem, quase violento, que acabara de ter. Sua respiração ainda estava descompensada. Em silencio, ela encarava o homem despido a sua frente. Collin falava ao telefone com alguém. Sem se importar com sua nudez, ou se seria visto, ele tratava de negócios. Ele não se parecia em nada com a dama deitada naquela cama de motel. Já tinha recuperado seu folego e estava pronto para outra.

De frente para a janela de vidro que ia do chão até o teto, ele segurava o telefone com uma mão enquanto a outra estava estrategicamente em sua cintura. Irresistível. Kate não fazia o mínimo de esforço para saber o que, ou com quem, ele estava conversando. Ela apenas contemplava a vista. O corpo atlético de Collin sempre a fazia arrancar suspiros, mas dessa vez foi diferente. Ela soltou um sorriso triste e fechou os olhos. Essa noite não tinha sido como ela havia planejado.

Apesar do sexo excelente, Collin não conseguiu fazê-la esquecer do seu moreno perigoso. Sempre que fechava os olhos Kate conseguia ver o azuis brilhantes cheios de desejo que seu moreno tinha. Não era preciso muito esforço para imaginar estar ali com ele. Os toques das mãos de Collin em seu corpo não chegavam aos pés dos toques dele. Até mesmo os beijos quase possessivos de Collin não a fez esquecer o beijo duro e vigoroso que seu moreno lhe deu.

Kate tentou durante toda a noite. Ela tentou sentir o que sentia antes, quando estavam juntos. Mas nem todo o desejo e atração que sentia por ele a fez se entregar totalmente. Sua mente a traia e imaginava coisas que não devia. Em seu subconsciente, ela estava com seu moreno perigoso, que se tornou ainda mais perigoso depois da noite que tiveram. Ele conseguiu afeta-la de um jeito que ela não conseguia decifrar. Era exatamente por isso que ele se transformava em perigoso. Mesmo sem se conhecerem, naquele primeiro dia na boate, ele conseguiu fazer com ela o que nenhum homem jamais conseguiu. Kate se apaixonou por ele.

Ela suspirou pesado. Já tinha ouvido falar em amores à primeira vista. Em paixões avassaladoras. Já havia vista isso acontecer em filmes e séries, mas nunca imaginou que isso pudesse acontecer com ela. Kate olhou para Collin. Ele ainda discutia ao telefone. Não tinha notado que ela o observava. Em outros tempos, Kate acharia sexy aquela cena. Os músculos definidos de suas costas se contraiam quando ele se movia. Seu bumbum redondo que Kate tanto gostava. Ele impunha sua autoridade sobre quem quer que estivesse no outro lado da linha. Sua voz firme. Mas agora ela não conseguia sentir nada.

Ela estava apaixonada por outro.

Não podia negar. Tudo o que ela conseguia pensar era em como seu moreno perigoso estava agora. Se tinha machucado ele. Se ele estava bem. Ela queria que ele estivesse bem. Que estivesse ali, naquele quarto, com ela. Mas não estava! Podia fingir que Collin era ele, mas não era. Podia ficar com outro pensando nele, mas isso seria errado. Errado com ela e errado com Collin. Isso tinha que acabar. Esse sexo casual já não fazia mais sentido para ela.

Collin desligou o telefone e o jogo no sofá. Notou, pela primeira vez, que Kate estava acordada. Sorriu e seguiu até ela.

— Pensei que estivesse dormindo. – disse beijando-a nos lábios. Kate sorriu.

— Não... – murmurou.

Collin se deitou ao seu lado novamente e a abraçou pela cintura. Kate achou aquilo estranho. Ele nunca foi de abraçar ou dar carinho para ela. Aquilo era casual. Sexo e apenas sexo. Não existia carinho ou sentimentos. Mas agora, os dedos dele deslizavam por sua pele levemente.

— Eu estive pensando... amanhã a gente pode jantar... – ele disse como quem não queria nada, mas por dentro, se sentia nervoso.

— Eu trabalho. – disse, sentindo seu corpo ficar tenso.

— Ah, claro. – ele sorriu sem graça. – e que tal um almoço? Tem um restaurante ótim...

Kate não deixou que ele terminasse. Afastou seu corpo do dele e cobriu seus seios com um lençol. Apoiou-se nos cotovelos e encarou ele.

— Eu não acho que isso seja uma boa ideia... – Kate não queria dizer nada que o magoasse. Mas não podia levar isso adiante.

— Porque não? Nós estamos saindo a um tempo e...

— Nós não estamos saindo. – enfatizou para que ele compreendesse o que ela queria dizer. – nós sempre combinamos que isso era apenas sexo. Sem compromissos. Sem segundas intenções.

— Mas eu não quero mais que seja assim. – ele rebateu. Sua voz calma, mas firme.

Kate sentiu um frio no estomago. Aquilo seria mais difícil do que imaginava. Porque ele estava fazendo isso? Kate rezava para que ele não estivesse gostando dela. Ela não queria magoa-lo, mas também não podia retribuir o sentimento. Suspirou e encarou ele.

— Collin, eu não sei onde você está querendo chegar, mas...

— Eu quero sair com você. – ele a interrompe. – quero te levar ao cinema, segurar sua mão... eu quero ficar com você, não apenas fazer sexo.

Kate não falou nada. Nem conseguia. Seu coração, que antes batia rápido, quase não tinha batimento agora. Seu peito se apertou aos poucos. Cada palavra dele parecia sincera, mas ela não podia. Se antes era errado, agora era ainda mais. Ela pôde ver a decepção nos olhos de Collin. Não queria magoa-lo, mas mesmo assim o fez.

— Você não quer, não é? – ele perguntou em um sorriso triste.

— Collin, eu não quero ter essa conversa. – ela disse em um suspiro triste e levantou-se da cama, procurando suas roupas. Kate vestiu sua lingerie e encarou o homem novamente. – eu acho melhor a gente parar antes que...

— Ok. – ele a interrompe.

Collin se levanta bruscamente. Kate o observa vestir sua cueca e catar suas roupas jogadas pelo chão. Ela desvia o olhar e termina de se vestir. Quando ela volta seu olhar para o loiro, desejou nunca ver essa cena. Collin segurava sua carteira nas mãos. Ele puxou algumas notas de dentro e jogou na cama.

— Acho que isso paga pela noite. – diz sem olha-la.

Kate encara as notas sem ação. Ele realmente tinha feito aquilo? três notas e cem estavam jogadas na cama. Uma raiva subiu pelo corpo de Kate em questão de segundos. Ele nunca tinha ousado dar dinheiro para ela. Kate nunca aceitou. Sempre deixou claro que, ao aceitar aquele emprego, não era um prostituta. Ela nunca se interessou pelo dinheiro que Collin aparentava ter. Nunca quis nada dele. E não seria agora que começaria a querer.

Como uma fera, ela pegou sua bolsa e atravessou o quarto. Collin observava os movimentos dela através do espelho. Ele não ousou dizer nada. Também sentia raiva por não conseguir fazê-la se interessar por ele. Raiva dele! Mas não pôde evitar fazer o que fez. Se tudo era questão de dinheiro, ela precisava saber que de onde tinha vindo aquele, viria muito mais.

Antes de sair do quarto, Kate voltou e o encarou. Pegou as três notas de cem e sorriu encarando-as em sua mão.

— Eu nunca precisei disso. – disse empurrando forte as notas contra o peito dele.

Collin sorriu, sarcástico.

— Não é o que parece. Você dança pelada para homens por dinheiro. – ele joga a verdade na cara dela. A raiva que Kate sentia só aumenta. Seus olhos fuzilavam o homem a sua frente.

— Eu nunca precisei do seu dinheiro. – ela diz entre os dentes. – e nunca vou precisar. Eu não sou uma prostituta que cobra por sexo. E não quero nada que venha de você.

Ela virou e saiu. Não aguentava mais ficar ali, olhando para ele. Respirando o mesmo ar que ele. Pôde escutar gritos e ofensas dele antes de fechar a porta, mas não ligou. Continuou andando até sair do motel. Cada musculo do seu corpo respondia ao pequeno estresse que acabara de ter. ela queria chorar. Nunca foi tão humilhada em sua vida.

Nova Iorque, 2017.

Kate olhou o celular em suas mãos. Já devia ser a décima ligação de seu marido. Ela fechou os olhos e suspirou. O que ela estava fazendo? Sua cabeça dava milhões de voltas. Em menos de vinte e quatro horas sua vida mudou completamente. Ela já deveria está acostumada com isso, mas não estava. Seu coração batia fraco, ela podia sentir. Era como se ele estivesse dividido em milhões de pedaços, mas ao mesmo tempo estivesse tentando se juntar.

Milhões de pedaços e milhões de reparos. Mas nenhum reparo seria o suficiente para ela se sentir bem.

Ela tinha acabado de perder o pai. Tinha deixado Rick ajudar e cuidar de tudo, e depois se entregou a ele. Esqueceu casamento, família e dor. Apenas deixou levar. Podia culpar a bebida, mas não faria. Kate sabia que, no fundo, estava sobrea o suficiente para seguir em frente em cada passo que eles deram juntos. Juntos. Os dois fizeram isso juntos! Os dois erraram e se deixaram levar por um sentimento de um passado distante. Que não pertencia mais eles. Foram fracos.

Quando Kate se viu diante daquele par de olhos azuis, que sempre foram sua maior fraqueza, ela sentiu coragem. Coragem que ela não sabia que podia ter, mas tinha. Estava guardada dentro dela, escondida, quase intocável, mas ainda assim, estava lá. Uma coragem que só aqueles olhos azuis podiam despertar. Ela quase tinha esquecido o poder que o simples olhar dele tinha sobre ela. Kate se sentiu carente naquele momento. Sentiu-se necessitada de carinho... atenção. E Rick estava ali.

Então ela foi fraca.

Pensou poder esquecer a dor que sentia. Pensou que podia juntar mais alguns pedaços de seu coração para seguir em frente. Mas não deu certo. No primeiro momento, quando ela ainda estava deitada nos braços dele, ela se sentiu bem. Se sentiu com a sete anos atrás, quando se amavam e ficavam curtindo o silencio. Ela nos braços dele e ele acariciando sua pele com a ponta dos dedos. Mas eles não estavam mais vivendo aquele sonho de antes. Kate se sentiu confusa. Mais do que antes.

Foi ali que ela sentiu seu coração se partir em mais um milhão de pedaços.

Ela não podia ter feito nada daquilo! Mas agora era tarde. Estava feito.

Seu celular começou a tocar novamente. Dessa vez, Kate atendeu.

— Kate! – a voz quase histérica de seu marido soa no outro lado da linha. – eu já estava ficando preocupado. Onde você estava?

— Desculpe, eu estava dormindo. – mentiu. Não podia contar a verdade. – como está Sofia? Melhorou?

— Muito melhor. – Kate sorriu. Sentiu um alivio sair de seus ombros naquele momento. – a febre passou, agora ela está correndo aqui no parque... – ele disse com riso no fim da fala. – estava com saudade de você, então eu vim distrai-la.

Kate abriu ainda mais o sorriso. Sua Sofia tinha voltado a ser a mesma de antes. Ela amava ir ao parque aos domingos e correr. Collin sempre a deixava comer besteiras e brincava com ela como se fosse uma criança. Kate se sentia sortuda por tudo isso. Tinha uma família.

Mas então tudo mudou...

— Quando você volta?

Kate respirou fundo. Ela poderia simplesmente dizer que estava voltando, mas ela precisava dizer a verdade. Nada mais importava agora. Ela não tinha mais sua família.

— Consegui o emprego. – ela dispara. Collin permaneceu em silencio e ela esperou. Ele nunca concordou com essa entrevista. Nunca quis que ela voltasse a Nova Iorque. – antes que você comece a falar que eu não preciso desse emprego e todo aquele discurso que eu já sei decorado... – ela começa, quase atropelando as palavras. – eu preciso te contar uma coisa.

De repente sua voz mudou, e Collin notou isso.

— Eu não ia falar nada. – ele disse, tentando se defender.

Kate ignorou sua fala. Ela precisava contar de uma vez

— Collin... – ela respirou fundo antes de continuar. – meu pai morreu.

Assim que as palavras saíram de sua boca, ela sentiu uma pontada no peito. Kate tinha que falar, então foi direta. Não queria um discurso preparatório, ela só queria dizer. Não importava a dor que sentiria. Collin permaneceu em silencio por um bom tempo. Até ele precisava de tempo para absorver aquela informação.

— Quando foi isso, Kate? – ele perguntou baixo. Não queria que sua filha ouvisse.

— De madrugada. Ele...

Collin não a deixou terminar.

— Amor, eu vou pegar o próximo voo. Vou providenciar o velório e avisar aos familiares e... – Kate parou de prestar atenção no que seu marido falava ao escutar a palavra familiares. Eles não tinham familiares! Eram apenas Jim e Kate. Depois Jim, Kate e Sofia. Mais ninguém.

Ela limpou uma lagrima solitária que escorria pelo seu rosto.

— Collin, se acalma. – ela pede quando percebe que o homem não parava de falar. – Eu já enterrei meu pai.

— O quê? Como assim? – ele pergunta confuso. – você fez isso sozinha?

— Sim. – mentiu novamente.

— Porque? Eu poderia estar ao seu lado... eu poderia te consolar, te abraçar... – ele para um segundo e ela sente seu coração se apertar. – eu queria ter segurado sua mão... ter secado suas lagrimas...

A voz melosa de Collin fez mais lágrimas descerem pelo rosto de Kate. Ele era tudo o que ela mais sonhou em um marido. Pena que não tinha se dado chance de viver tudo o que queria viver com ele enquanto ainda eram uma família.

— Eu precisava fazer isso por mim... – ela começa, sua voz embargada. – eu não queria e nem precisava que isso durasse mais que o necessário. Já sofri demais com essa história, você sabe...

Collin ficou em silencio. Ele sabia bem o inferno que Kate tinha passado com seu pai entregue ao álcool e depois com sua doença. Mas ainda assim ele queria ter podido ficar com ela. Kate não precisava ter passado por isso sozinha. Sua mente repetia isso constante mente.

— Eu estou indo de qualquer maneira... – ele diz em meio a um fungado. Kate percebeu, e soube que ele estava chorando.

— Collin, não... – sua voz parecia carregada. – olha eu estou voltando hoje... a gente pode conversar direito sobre...

— Não acredito que você está pensando nisso agora! – ele muda seu tom. Collin sabia que ele e Kate não estavam em seus melhores momentos, mas insistir nesse assunto numa hora dessas era demais para ele.

— Claro que estou! – ela revida no mesmo tom que ele. – Collin eu não esqueci nada daquilo...

— Kate foi um erro. Um erro. Você não pode simplesmente perdoar?

— Não. – responde rápida. – essa foi a única coisa que eu te pedi e mesmo assim você ignorou.

Collin solta sua respiração pesada. Kate podia imaginar exatamente a cena dele passando as mãos nos cabelos loiros e olhando para baixo. Sorriu. Ela conhecia bem seu marido. Sempre que ele estava errado, ele se negava a olhar para frente, fixava seu olhar para baixo até que tivesse coragem para encarar as consequências.

— Eu posso falar com a Sofia? – Collin disse um sim quase inaudível e chamou pela filha, que quando soube que falaria com a mãe correu na direção do pai.

Sofia tinha apenas cinco anos, mas era a razão da vida de Kate. Todos os dias ela agradecia por ter sua filha consigo. Estava ansiosa para ouvir a voz doce da menina novamente. Quase três dias que estavam separadas, e esse com certeza era o máximo que conseguiam aguentar.

— Mamãe. – a menina fala ansiosa quando pega o celular das mãos do seu pai.

— Oi meu amor... – os olhos de Kate se encheram e lagrimas novamente. Não por tristeza, mas de alegria. Ela estava falando com sua princesinha e ela estava bem. – como você está? A mamãe está morrendo de saudade você.

— Eu também mamãe. Quando você volta?

— Hoje. – ela disse limpando as lagrimas. – a mamãe chega em casa ainda hoje e você vai poder me dizer tudo o que fez com seu pai.

— Nós só assistimos filmes. – a menina diz triste. – mas agora estamos no parque... eu queria você aqui mamãe...

— Eu sei meu amor... mas a mamãe teve que vir ver o vovô. Lembra?

Kate havia contado a filha o real motivo de sua viagem. Mesmo com pouca idade, Sofia era a única que sabia tudo sobre Kate. A morena arrumava um jeito de contar tudo o que acontecia em sua vida de uma maneira que Sofia entendesse. Ela era sua confidente.

— Sim. – a menina se limitou em dizer diante da presença de seu pai.

— Então... Mas eu prometo que quando eu chegar, a gente vai ao parque novamente, ok?

— Ok. Mãe, o papai quer falar com você. – a menina avisa.

— Filha... – Kate a chama rápido antes que a menina passe o telefone para o pai.

— Oi, mãe. – a menina falou de uma forma tão única, mas ao mesmo tempo tão comum. Parecida com os dias de domingo, quando ela chegava na cozinha e cumprimentava a mãe antes de ajudá-la a fazer o café da manhã.

Kate sentiu ainda mais saudade de sua pequena.

— Eu te amo. – declarou. – estou morrendo de saudade.

— Eu também te amo, mamãe. Muito tão assim... – Kate riu imaginando a menina abrindo os braços e mostrando o quanto a amava.

Sofia era a cópia fiel de Kate. Os mesmos olhos. O mesmo nariz. O mesmo sorriso. O mesmo cabelo, apenas um pouco mais claro que o dela. Kate se orgulhava tanto disso que não cansava de ficar admirando a filha enquanto dormia. Sofia era seu pequeno anjo da guarda, enviado na hora certa.

— Oi, meu amor. – Collin disse ao pegar seu telefone de volta.

Kate sentiu-se estranha diante as palavras do homem. Apesar do carinho enorme que ela sentia por Collin, ela não se sentia mais bem com o casamento. Collin era perfeito para ela e sua filha, e eles continuariam juntos não fosse a cena que Kate viu um dia antes de viajar para Nova Iorque.

Ela respirou fundo.

— Não me chama mais assim. – pediu baixinho.

— Eu vou preparar um jantar especial para você essa noite. – ele disse ignorando as palavras da mulher. – aliás, nós vamos. Não é Sofia?

Sim.— Kate pôde escutar a voz animada da menina ao fundo.

— Collin... – ela tenta, mas é interrompida por ele.

— Vou fazer aquele salmão que você tanto ama... – ela podia imaginar o sorriso nos lábios dele. – e quando a Sofia dormir, se você ainda quiser conversar... então a gente conversa.

Kate pensou por um minuto. Estava tudo muito fácil. Ela sabia que por trás daquele plano, existia um outro plano que era fazer com que eles não conversassem. Mas ela não tinha escolha a não ser aceitar.

— Tudo bem. – disse, cansada demais para discutir agora.

— Que hora é o seu voo?

— Meio dia.

— Ótimo. Estaremos te esperando. – ele hesitou antes de continuar. – eu te amo.

— Até logo. – disse antes de desligar.

Aquelas palavras não causaram o efeito que Collin esperava em Kate. Na verdade ela não sentiu nada. Desligou o telefone e o jogou sobre a cama. Como uma onda gigante, a pegando completamente de surpresa, o choro corta sua garganta e ela desaba. Os soluços incontroláveis rasgando-a de dentro para fora.

E ela estava sozinha. Tinha que começar a se acostumar com isso.

Tudo acabou.

Sua família

Seu casamento.

Ela só tinha sua filha. E isso bastava.

Seattle, 2017.

Kate abriu a porta de casa e estranhou a calmaria do lugar. Normalmente Sofia estava brincando na sala com todos os seus brinquedos espalhados pela sala, mas dessa vez não havia nenhuma sinal de sua filha ou dos brinquedos. Estou na cada certa? Ela se perguntou mentalmente. Não, nem de longe ali parecia a sua casa.

Ela deu mais um passo para dentro do apartamento e notou que a pouca luz que iluminava a sala, vinha da cozinha. Uma leve música ao fundo. Kate deixou sua mala no canto da porta e entrou de vez em sua casa. A imagem de Collin cozinhando algo surgiu assim que alcançou a cozinha. Kate sorriu. Ele não perdia a oportunidade de cozinhar para ela. Ficou encostada no batente da parede até que ele notasse sua chegada.

— Oi meu amor. – ele disse abrindo um sorriso depois de provar seu molho vermelho.

Aquelas palavras fez Kate mudar de expressão. Qualquer sentido de paz que ela tenha escolhido ter essa noite se foi ao lembrar da traição de seu marido. Collin se aproximou e tocou as cintura de Kate, que permaneceu com os braços cruzados.

— Pensei que você só ia chegar daqui a uma hora. – ele fala doce.

Collin se inclina e beija os lábios de Kate. Ela não retribui, mas seus olhos se fecham automaticamente com o contato do homem. O beijo, que foi apenas um encostar de lábios, durou um pouco mais do que o esperado, mas ela não ousou se mover.

— Peguei um voo mais cedo. – ela diz seca, sem mudar a expressão séria de seu rosto. – onde está Sofia? – Kate olha mais uma vez pelo lugar para ter certeza que sua menina não estaria em algum lugar escondido da casa.

— Mandei ela brincar na vizinha. – ele joga os ombros e Kate franze o cenho para o marido. – ela estava ansiosa pela sua chegada, então eu achei que ela se distrairia lá. Além de... – o homem começa, acariciando delicadamente os braços nus de sua esposa. – nós termos um tempo a sós... só para a gente.

Ele oferece um sorriso gentil para Kate, que soube que apesar das iniciativas dele, ele não tinha segundas intenções. Ela assentiu e andou até a sala. Collin desligou o fogo e serviu duas taças de vinho, indo logo atrás dela. Ele fez questão de sentar próximo a esposa, onde pudesse vê-la melhor e matar um pouco da saudade que sentia dela.

— Me conte sobre o seu pai... – ele começou. – eu não sabia que ele estava tão mal.

Kate encara o marido e bebe um gole de seu vinho, ganhando tempo e coragem para falar tudo o que lhe aconteceu nas últimas horas. Ou quase tudo.

— Ele já vinha mal a muito tempo... – ela começa, sem olhar para Collin. – ligaram do hospital, dizendo que eu me preparasse para o pior e que se eu quisesse ficar com ele, podia ir. Então eu fui. – ela dá um sorriso triste, olhando momentaneamente para o marido.

— Kate porque você não me contou? Porque você me deixou ajudar você? – a voz dele era baixa, mas ao mesmo tempo magoada. – você saiu daqui dizendo que ia a uma entrevista de emprego, me fez pensar que estava fugindo de mim... dos nossos problemas.

— De certa forma eu estava. – ela confessa. – mas eu fugi de um problema para encarar outro.

Collin se permite analisar a esposa. Ele a conhecia o suficiente para saber o quanto a morte do seu pai a abalou, mas que ela tinha montado sua armadura para permanecer firme. E só tinha uma pessoa que conseguia fazer ela desmontar. Sofia.

— Kate você não podia ter escondido isso de mim. – ele fala olhando nos olhos verdes dela. Mas Kate não diz nada. – porque quando se trata do seu pai, da sua família, você simplesmente me exclui? Estamos casado a quase sete anos e sabe quantas vezes eu vi seu pai? Duas. – ele joga as palavras carregadas de raiva. – Eu sei do inferno que você passou por ele porque eu via você triste pela casa. Eu vi você sofrer esse tempo todo e sempre que eu tocava no assunto, você desconversava. Sabe quantas vezes você falou de seus sentimentos ou dos problemas que você tinha com seu pai? Uma. Uma única vez antes de nos casarmos.

— E o que você fez com isso? – ela diz com uma raiva visível nos olhos. Todas aquelas acusações fizeram o monstro adormecido dentro dela despertar. – Collin você se lembra da única coisa que eu te pedi? Você se lembra da única vez que eu falei sobre meus sentimentos?

Ele abaixou os olhos. Novamente Kate soube que ele se sentia culpado, mas não aguentava mais guardar aquilo tudo dentro de si. Precisava falar.

— Eu te pedi para nunca me trair. Nunca mentir. Nunca me enganar. – ela secou as lagrimas. – eu pedi para você ser honesto comigo, e você não foi capaz de cumprir isso. Eu me entreguei a você com a promessa de estar comprometida apenas com você, e eu consegui cumprir, mas você não.

— Kate foi uma única vez! – ele grita, olhando-a ferozmente.

— Uma vez naquela semana. – Kate rebate entre os dentes. Ela sabia de tudo. Depois de um forte suspiro, ela o encara novamente. – Pode ter sido um único erro. Pode ter sido apenas uma vez... mas para mim acabou.

— Por favor... – ele começa calmo. – Kate não vamos nos precipitar. Se você precisar de um tempo, tudo bem. Eu posso dar esse tempo. Mas não vamos tomar nenhuma decisão agora. – Collin se aproximou e segurou o rosto dela, a obrigando a olhar para ele. – eu amo você. Amo nossa família. Não vamos deixar isso acabar.

Novamente aquelas três palavras foram interpretada da maneira errada por Kate. Ela fechou os olhos lentamente e disse um “por favor” baixo, quase um sussurro. Mas Collin ouviu. Ele acariciou o rosto dela com seus dedos e depois o soltou. Kate se encostou no sofá e jogou a cabeça para trás. Os olhos ainda fechados. Aquelas palavras pesando sobre ela.

— Eu vou ver a Sofia. – ela se levantou de uma vez. Deixou sua taça sobre a mesa de centro e saio do apartamento. Fugiu.

♦♦♦

— Mamãaaae. – Sofia correu até a mãe assim que a viu. Seus passos pareciam tão curtos que a distância se tornou grande demais.

Kate sorriu ao ver sua menina e foi ao seu encontro, adentrando no apartamento de sua amiga e abrindo os braços para acolher a pequena. Assim que os dois corpos se chocaram no encontro, Kate envolveu o corpo minúsculo a sua frente com força. Saudade.

— Meu Deus como você eu estava com saudade de você. – Kate diz enchendo o rosto da menina de beijos. Sofia sorriu. Ela amava quando a mãe fazia isso. A menina envolveu o pescoço da mãe com os braços e a apertou com força, tentando matar um pouco da saudade que também sentia.

— Eu também estava morrendo de saudade mamãezinha. – a menina murmurou no ouvido da mãe. Kate se afastou o suficiente para segurar o rosto da menina em suas mãos. Seus olhos corriam por cada pedacinho dela, conferindo se ela tinha mudado alguma coisa desde que se viram na última vez.

Seus olhos se encheram de lágrimas. A lembrança de ter que deixar sua filha doente ainda a torturava. Lembrou-se do último abraço que recebeu da filha, tão fraco que a fez até repensar se deveria mesmo viajar e deixa-la assim. A Sofia que ela deixou em sua casa, deitada sobre a cama, fraca demais para se levantar, não parecia em nada com a Sofia que ela encontrou. A menina estava sorridente e forte o bastante para retribuir o abraço da mãe.

— Não chora, mamãe. – a menina disse secando as lagrima de Kate. – você está triste. – os olhos preocupados de Sofia fez Kate se sentir culpada.

— Não. – sorriu. – eu estou é feliz de te ver. Muito feliz.

Kate puxou a filha novamente para seus braços e a apertou com força.

— Ai, mamãe. Esta me apertando. – Sofia fez uma careta que fez Lauren rir.

Kate e Lauren se tornaram amigas assim que ela se casou com Collin e se tornaram vizinhas. Lauren não sabia de tudo sobre Kate, mas sabia o suficiente para entender que a amiga nunca foi completamente feliz no casamento. Ela sabia que Kate ainda amava outra pessoa, só não sabia quem.

— Ok, porque Sofia não vai brincar mais um pouco a Grace enquanto eu converso um pouco com você. – Lauren disse numa tentativa de salvar a afilhada do abraço de urso da mãe.

— Ah, não. Eu quero ficar mais com minha menininha. – Kate disse com um voz manhosa enquanto se recusava a soltar a filha.

— Só um pouquinho mamãe. – Sofia disse paciente. – Eu vou brincar um pouco e já já eu volto. – a menina se separou da mãe e fez um sinal com as mãos, pedido para ela esperar.

Kate sorriu com a doçura da filha, que esperava por uma resposta. Kate balançou a cabeça e a menina correu na direção da amiga, que ainda brincava com seus vários brinquedos espalhados pela sala.

— Você viu isso? – ela olha para amiga enquanto se levanta. – ela não quer saber de mim!

Lauren rir e guia a amiga até o sofá.

— Não seja exagerada Kate. Ela estava ansiosa para sua chegada, não falava em outra coisa.

— E não passou dois minutos comigo, já quer ir brincar com a Grace. – disse emburrada.

— Achei que você já tinha se acostumado. – Lauren dá os ombros. – ela sempre vão escolher uma a outra ao invés da gente.

Kate deu um sorriso triste e concordou. As duas ficaram em silencio por um tempo, observando as duas meninas brincarem no meio da sala. Lauren não sabia se podia tocar no assunto, já que quando tentou das outras vezes, Kate sempre desconversou. Mas ela precisava. Sabia o que a amiga tinha passado, e se tinha uma pessoa com que Kate poderia conversar, seria ela.

— Collin me contou o que aconteceu... – a loira começa devagar. – eu sinto muito.

— Obrigada. – Kate olha para amiga e sorrir.

— Como você está? – Kate joga os ombros, cansada. Um suspiro lhe escapa.

— Bem. – Kate diz desanimada. – mas confesso que essa situação toda... – ela hesitou, sua amiga não sabia sobre a traição de Collin. – é complicada.

 — Então não tinha emprego nenhum em Nova Iorque. Você foi apenas ver seu pai?

— Não. Tinha emprego. – Kate sorrir, pensando na oportunidade que teria. – tem emprego. – corrigiu. – eu consegui, e estou pensando em aceitar.

— E Collin está de acordo? – Kate joga os ombros com desinteresse. Não importava.

— Não faz diferença. – ela encara a loira. – eu vou de qualquer maneira.

— Você está mesmo decidida. – Lauren diz surpresa. Nunca viu a amiga tão decidida como agora. – o que há em Nova Iorque para você, Kate?

— Um emprego. – Kate diz com ironia, tentando disfarçar o nervosismo que se instalou em seu corpo.

Lauren revirou os olhos e bufou.

— Você tem um ótimo emprego aqui, Kate. Você está prestes a virar sócia na empresa onde trabalha. É a melhor advogada da cidade. Todos sabem disso. – Lauren suspira e segura as mãos de Kate. Estava na hora dela ter respostas para as perguntas que a muito tempo se fazia. – o que há em Nova Iorque para você? – repetiu, tendo certeza que, dessa vez, a amiga sabia exatamente o que ela queria dizer com aquela pergunta.

Kate suspirou. Estava cansada demais de guardar tudo para si.

— Eu preciso voltar e mostrar que eu sou mais. – começou. Seu peito doendo enquanto ela reabria a feriada que nunca foi cicatrizada. – Eu preciso mostrar que eu não sou apenas uma prostituta. – usou as palavras que tanto lhe magoaram. – eu não quero ser bem sucedida aqui se eu não puder esfregar isso na cara das pessoas que me humilharam. – em seus olhos tinham rancor e raiva. Lauren podia ver isso. – eu preciso ir...

As palavras de Kate mais pareciam aleatórias para Lauren. Se ela já tinha muitas perguntas, agora ela tinha muito mais. Ela ainda não sabia de nada.

— Prostituta? – perguntou confusa. – porque te chamariam de prostituta?

Kate suspirou ao olhar para a amiga. Um súbito momento de coragem lhe atingiu e ela decidiu que não esconderia mais nada. Kate começou a contar tudo. Kate abriu seu coração para a única pessoa que ela confiava no momento. A pessoa com quem ela podia conversar sem medir as palavras ou esconder o que realmente aconteceu. Com cuidado para suas palavras não alcançarem os ouvidos de sua filha. Kate contou dos seu passado até a sua última viagem a Nova Iorque.

— Então você e esse tal de Richard... – ela não continuou. Deixou as palavras no ar. Kate não precisava de mais para entender o que a amiga queria dizer.

— Sim. – confessou envergonhada. – e eu me sinto péssima com isso. – passou as mãos no cabelo. – eu acusei o Collin de traição e eu fiz o mesmo com ele.

— Oh, querida. – Lauren puxou a amiga para um abraço apertado. Kate deixou algumas lagrimas descerem ali. Esse, provavelmente, seria o único momento que ela teria para chorar daqui em diante. – Você ainda o ama? – Lauren perguntou com calma. Kate saltou de seu abraço.

— Não! – respondeu rápido, como se aquilo fosse a coisa mais ridícula de se dizer. – claro que não! – ela se levantou exaltada e começou a andar de um lado para o outro. – como eu posso amar uma pessoa que eu não conheço? – começou a perguntar, mais para si do que para sua amiga. – como posso continuar amando ele depois de tudo o que ele fez? Depois de todos esses anos? – ela sorriu irônica. – não, eu não o amo. – respondeu firme, mas seu coração sentiu uma pontada ao dizer aquelas palavras. – eu não o conheço! O Rick que eu amei nunca existiu. Ele só me usou. – era isso que ela se respondia todas as vezes que pensava nele.

— Então você só quer vingança? – Lauren a tirou de seus pensamentos conturbados. Kate a olhou, sem saber o que responder. – você vai mesmo arriscar seu casamento por um vingança, Kate?

Kate mordeu o lábio e respirou fundo, sentando-se ao lado da amiga novamente. Calmamente, com os olhos avermelhados, ela encarou a bela loira.

— Não existe mais casamento. – assumiu. – nunca existiu, na verdade. – balançou a cabeça. – mas eu também não posso privar minha filha de ter uma família, de continuar tendo uma família a qual ela está acostumada. Collin é ótimo com ela.

— Você nunca o amou, não é?

— Eu achei que sim... – ela deixou um sorriso fraco escapar. – quando começamos eu me convenci de que estava apaixonada por ele e aceitei casar, apesar de nunca termos casado realmente. – ela riu ao lembrar do dia. – eu não posso mais... – lamentou. – não posso mais continuar e ouvi-lo dizer que me ama quando eu não vou poder retribuir.

Lauren assentiu. Estava triste por saber que a amiga iria embora, mas apoiaria Kate em sua decisão. E caso ela precisasse voltar, sabia onde encontra-la.

— Quando? – Lauren perguntou com a voz entristecida, se referindo a decisão da amiga.

— Logo. – limitou-se a dizer. Kate abraçou mais uma vez a loira e depois levantou-se. – mas agora eu tenho que ir. Sofia... – chamou a menina, que veio a passos contrariados até a mãe.

— Já? – ela perguntou com sua voz triste e seus olhos brilhosos, parecendo uma gatinha sem dono.

Kate sentiu pena, mas não podia demorar mais ali.

— Já, meu amor. – se abaixou na frente da filha. – diga tchau a Grace, amanhã você pode vir.

A menina assentiu e foi até Grace. As duas se abraçaram e disseram até a amanhã. Kate segurou a mão de sua menina e saiu do apartamento.

♦♦♦

Kate cantarolava uma música suave enquanto acariciava os cabelos da filha. Coloca-la para dormir era uma das coisas que mais amava. Ter sua filha junto a si, sentir os bracinhos dela envolvendo sua cintura e a respiração calma da menina contra sua pele. Não precisava de mais nada para ser feliz. Estar assim com Sofia a fazia pensar que poderia proteger a menina de qualquer coisa. Era como ter a menina dentro de si novamente. Ninguém poderia faze-la mal. Fazia Kate se sentir segura, e a menina também.

Assim que a música acaba, Kate olha para a menina, certificando-se de ela já havia dormido. Mas Sofia estava apenas deitada. Seus olhos ainda estavam abertos e distantes. Kate sorriu. Parecia uma pequena adulta com os pensamentos distantes. Não falou nada, apenas continuou acariciando os cabelos claros da menina.

— Mãe? – a menina chamou depois de um breve instante de silencio.

— Sim. – Kate passou a mão pelo cabelo da menina, tirando-o do rosto dela. Observar o quanto Sofia se parecia com ela era outra coisa que Kate amava fazer. Aquele corpo minúsculo era tudo para ela. Seu começo e fim. Sua fortaleza e sua fraqueza.

— O meu avô melhorou?

A pergunta veio de forma natural, com a ingenuidade de uma criança. As lembranças do dia anterior invadiram a mente de Kate. Perder o pai foi a coisa mais difícil que teve que enfrentar depois da perda de sua mãe. Agora sua única família era apernas sua filha. Mas, apesar de difícil, ela tinha quer ser forte.

Mas não foi. Se deixou abrigar nos braços de Rick.

Kate se arrependia profundamente daquilo. Ela foi fraca.

— Não... – murmurou Kate, segurando o nó na garganta. – seu avô se foi meu amor...

A menina ergueu o rosto, encarando a mãe.

— Então agora ele está com a vovó? – mais uma vez Sofia perguntou naturalmente. Aquilo, de alguma forma, fazia mais sentido para ela. Kate sorriu e assentiu. Sofia abriu um grande sorriso. – ainda bem. – ela voltou a encostar a cabeça no peito da mãe. Kate mantinha uma expressão estranha no rosto. Ainda bem? Como aquilo poderia ser bem?

— Porque ainda bem? – Kate perguntou confusa.

— Porque era isso que ele queria. – a menina respondeu com simplicidade. – ele queria estar com a vovó.

— E você está bem com isso? – a menina ficou quieta por um momento, mas logo balançou a cabeça em afirmação.

— Mas vou sentir falta dele. – Kate sentiu uma pontada no peito ao perceber a voz chorosa da menina.

Sofia era uma das maiores alegrias de Jim. Apesar de não se verem muito, quando estavam juntos os dois se davam bem. Jim podia ser facilmente confundido com uma criança no parque. Kate tentou fazê-lo entender que, se ele quisesse passar mais tempo com a neta, ele precisava se cuidar, mas nem isso foi capaz de fazer Jim lutar pele vida. Sofia estava certa. Ele sempre quis ficar ao lado de Johanna.

— Vem comigo. – Kate afastou o corpo da menina e se levantou, pegando-a no colo em seguida. Ela abriu a janela do quarto de Sofia e mostrou o céu incrivelmente cheio de estrelas, procurou a mais brilhante e apontou. – sempre que você estiver com saudade, basta olhar para a estrela mais brilhante do céu. É ele. – Kate olhou para a menina, que tinha um sorriso magico no rosto.

— Boa noite vovô. – ela murmurou e soltou um beijo no ar.

Sofia agarrou o pescoço da mãe e escondeu seu rosto ali. Ela chorou. Kate a levou até a cama e se enrostou debaixo das cobertas com a filha novamente. Dessa vez não teve música. Apenas Kate fazendo carinho nos cabelos da filha. O calor que vinha do abraço de Kate acalmou a menina aos poucos. Em meio a soluços entrecortados, Sofia adormeceu.

Kate ainda permaneceu ali por um longo tempo. Contrariada entre deixar a filha dormir confortavelmente na cama ou ficar ali, sentindo-a por mais um tempo. Mesmo contrariada, ela se levanta com cuidado e beija a testa da menina. Sofia imediatamente resmunga, sentindo falta do corpo ao seu lado. Kate coloca o urso que dera quando ela tinha dois anos ao lado da menina e ela o agarra, voltando ao seu sono profundo.

♦♦♦

O lugar estava escuro. Apenas um fio de luz vindo do andar de baixo direcionava Kate naquele corredor. Ela se aproximou das escadas e viu Collin sentado na sala. Bebendo seu habitual whisky, ele parecia distante em seus pensamentos. Kate poderia voltar, ele não notara sua presença ali. Ela poderia fugir de mais uma conversa sobre eles dois, não fosse ela querer conversar sobre eles dois. Ela tomou a decisão de aceitar o trabalho, tinha planos, e não deixaria isso para trás. Mas seu casamento não se mantinha firme por causa de amor. Eles tinham construído uma família, e Kate não podia ignorar isso.

Ela só tinha a eles agora.

Kate desceu as escadas e andou até perto do sofá. Collin finalmente notou sua presença e a encarou. Os dois permaneceram em silencio. Ele sentado e ela em pé. Kate se sentia nervosa, queria voltar no tempo e decidir ir para o quarto. Estava cansada. Já era tarde. Mas ao invés disso, ela estava ali, de frente a seu marido. Collin por outro lado estava se controlando para não levantar e ir até ela e beija-la. Kate é o amor da vida dele, disso ele não tinha dúvidas. Seja lá o que for que ela peça para ele fazer, ele faria, desde que isso incluísse ele na vida dela.

Collin estava totalmente a mercê de sua mulher. Ela só não sabia disso.

— Eu quero que você saiba que eu vou aceitar o emprego em Nova Iorque. – ela dispara. Collin fica sem ação, apenas encarando a mulher, como se ela tivesse mais alguma coisa a dizer. E tinha.

— Todos nós erramos. – ela começou. – eu nunca achei que fosse melhor que você, ou que você fosse melhor que todos os homens. Eu só queria ter uma vida longe de mentiras e traições...

— Kate...

— Não... – ela levanta a mão e fecha os olhos. – deixa eu terminar antes que eu perca a coragem. – Kate encara o homem sentado, segurando o copo, mas com a atenção totalmente voltada para ela. – Eu errei e você também errou. Não interessa o erro, apenas sabia que nós dois erramos. Então... se você estiver mesmo disposto a passar por cima de tudo isso e vir comigo para Nova Iorque, eu também sou capaz de fazer o mesmo.

Mais um vez, Collin se mantém imóvel. Calado.

— Não estou falando que será fácil. Não será. – ela sorriu nervosa. – mas talvez a gente possa se dar uma chance. Sem pressão. Sem pressa. Apenas nós... como sempre foi.

Collin a encarava. Estudado cada um dos movimentos da mulher.

— Se você não quiser responder agora...

— Você o encontrou não foi? – ele cortou a mulher.

Kate o encarou tensa. Falar sobre seus erros, principalmente depois da sua viagem, era o mesmo que assinar o atestado de culpa. Collin não era bobo. Ela balançou a cabeça, afirmando a sua pergunta. Com um certo desespero, e raiva, Collin levanta. Kate podia ver o quanto ele estava se esforçando para não explodir. Suas veias do pescoço estavam a mostra e sua mão segurava o copo com tanta força, que ela se admirou por ainda não ter quebrado.

— É por isso que você quer voltar? – ele pergunta direto.

— Ele vai ser meu chefe. – Kate solta. Não iria esconder nada do marido.

— Você quer voltar por ele? – Collin reformula a pergunta, encarando ela com seus olhos raivosos.

Ele não deixou Kate responder. Virou-se bruscamente e, juntamente com um rugido entre os dentes, jogou o copo que segurava na parede. Kate deu um leve pulo de susto pela atitude do marido. Collin se preparava para pegar mais um objeto para tacar na parede, mas Kate o impediu. Ela segurou firme os braços fortes do homem e gritou para ele parar.

Os dois pares de olhos raivosos se encararam. Cada um seu motivo. Collin achando que tudo o que Kate queria era ficar mais perto de Richard. Kate temendo que toda aquela cena dele acordasse sua filha e ela presenciasse aquilo entre os pais. Sofia nunca os viu brigando, não seria agora.

— Controla sua raiva antes que a Sofia acorde. – avisou entre os dentes para o marido.

Falar da filha era como uma arma para Collin desarmar de vez. Ele baixou os braços e respirou fundo. Kate ficou encarando-o. Quando finalmente Collin parecia em si novamente, ela retornou sua fala.

— Eu não estou indo por causa dele. Eu estou indo pela oportunidade. – afirmou. – e se você não percebeu ainda, eu quero que você vá comigo.

— E assistir de camarote vocês dois? Não obrigado. – Kate revira os olhos.

— Você acha mesmo que eu sou desse tipo? – ela puxou o rosto do homem entre suas mãos, fazendo-o encara-la. – eu sou casada com você. Você.

Apesar de saber do que fez, Kate queria esquecer aquilo. E ela só poderia esquecer aquilo, e seguir com seu plano, se lutasse por seu casamento. Se se convencesse novamente de que era feliz com Collin. De que o amava. De que eram a família perfeita.

— Eu quero que você venha comigo. Que me apoie. – pediu gentil. – e então vamos colocar um pedra no passado. Nada mais importa.

Kate olhou dentro dos olhos claros. Collin podia ver o quanto o par ver a sua frente estava sendo sincero. Ele podia confiar em Kate.

— Você vem?

— Vou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dance For Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.