Dance For Me escrita por Mrscaskett


Capítulo 5
Capítulo 05


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu demorei. Mas estou aqui para me redimir com esse cap um pouco grande hsuha

Bom, se eu pudesse resumir esse cap em uma palavra eu diria: Intenso.

A musica que eu usei para o cap é Love On The Brain da minha linda e maravilhosa Rihanna.

Espero que curtam e perdoem alguns erros que aparecer pelo cap, vou revisar assim que der ♥

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725264/chapter/5

“And you got me, let go. What you want from me? What you want from me? I tried to buy your pretty heart, but the price too high.

Baby you got me like oh

You love when I fall apart. So you can put me together and throw me against the wall...”

“E você me pegou, me deixou ir. O que você quer de mim? O que você quer de mim? Tentei comprar o seu lindo coração, mas o preço era alto.

Querido, você me deixou como oh

Você adora quando eu desmorono, assim você pode me juntar e me jogar contra a parede...”

 

Nova Iorque, 2010.

Já passa das duas da manhã quando Kate chega em sua casa. Era sua segunda semana de trabalho e ela podia apostar que não aguentaria mais do que um mês. Ir dormir tarde todos os dias era solitário. Ela não tinha mais sua colega de apartamento para conversar quando chegasse em casa. O apartamento que ela e Lanie dividiam era pequeno, mas servia bem as duas.

Ela trancou todas as fechaduras da porta de madeira velha que já foi arrombada algumas vezes. A vizinhança não era das melhores, mas esse era o lugar mais perto do trabalho, e mais barato também.

Assim que joga a chave no porta chaves na mesinha ao lado da porta, ela sente seu gato se alisar em suas pernas. Kate sorrir. Esse era o primeiro sinal de fome. Ela deixa sua mochila no balcão da cozinha e pega um pouco de leite para o felino, que acaba com tudo em dois minutos. Ele passou o dia sem comer, merecia até mais um pouco. Kate sorrir e se abaixa para colocar mais leite na tigela.

Ela se joga no sofá procurando o controle da TV. Assim que o acha ela liga o aparelho e passa os canais. Nada interessante. Kate coloca no mudo e, enquanto as imagens passavam, ela curtia o silencio do local. Esse era o único horário que ela conseguia ter paz. Na boate tudo era sempre barulhento, e pela amanhã no seu apartamento sempre tinha uma briga de vizinhos ou algo do tipo.

Ela olha pelo lugar e é inevitável não lembrar das vezes em que foram assaltadas. Kate e Lanie já ficaram sem comer por dias quando roubaram todo o dinheiro delas. Mas nem isso a fez perder o orgulho e voltar correndo para seu pai. Afinal, Kate já não era uma criança, podia e cuidar sozinha. Ela se apressa e pega o dinheiro dentro de sua bolsa, colocando no único lugar que considera seguro no momento. Dento do fundo falso do relógio de mesa.

Estava aliviada. Finalmente teria o dinheiro para pagar os dois alugueis atrasados. Se as coisas na boate permanecessem da maneira que estavam, ela teria dinheiro suficiente para voltar para casa e pagar o seu último semestre na faculdade. Satisfeita, Kate pega os sanduiches que comprou no meio do caminho e se senta assistindo à televisão.

Qualquer programa policial a distrairia até sentir sono.

Depois de comer e se certificar, de novo, que todas as portas e janelas estavam trancadas, ela vai para o quarto. O dia foi longo e, com certeza, a noite não foi diferente. Sentia seus olhos pesarem de cansaço. Depois de um banho rápido, tirando toda aquela sensação de sujeira em seu corpo que sentia sempre que chegava em casa depois do novo trabalho, ela se aconchegou em seu colchão no canto de seu quarto.

O colchão fino, jogado em um canto frio do quarto que a fazia sentir dores nas costas. Mas ela não via razão para comprar outro ou até mesmo uma cama. Iria embora assim que tivesse dinheiro suficiente para isso. Nunca gostou de luxos, então não se importava realmente em dormir praticamente no chão por mais alguns dias.

Afinal, ela já dormiu em lugares piores nessa sua jornada. Um colchão jogado não chão era um luxo para ela nesse momento.

Aninhou-se no monte particular de travesseiros e fechou os olhos. Foi impossível não lembrar na noite que teve hoje. Mais uma vez seu Moreno Misterioso se fez presente na boate. Ela não o conhecia, mas já estava começando a ficar curiosa do porquê dele sempre aparecer. Como sempre, ele tomou algumas doses, assistiu ao seu show, lhe deu uma boa gorjeta e foi embora sem dizer nada.

Ele tinha um mistério que ela queria descobrir, mas ao mesmo tempo tinha medo. Muito medo. Os olhos azuis que lhe seguia durante toda a noite, também eram capazes de mostrar o quão vazios eles eram. Sem emoção. Sem sentimentos.

Que tipo de pessoa não tem sentimentos?

Kate não sabia o que ele queria, mas iria descobrir. Ele tem sido o dono de seus pensamentos todas as noites antes de dormir.

***

Mesmo com dificuldade, Kate consegue abrir seus olhos. Não estava se sentindo nenhum pouco disposta a encarar mais um dia de dançarina, mas não tinha escolha. A manhã chuvosa e preguiçosa a fez pensar em dizer que estava doente e passar o dia inteiro deitada, escondida em seu próprio quarto com seu gato encostado em sua perna enquanto assistia um filme. Mas ela não podia se dar a esse luxo.

Com um fio de coragem que passou por seu corpo, ela se levantou e encarou a água gelada do chuveiro. Depois das dez da manhã a água quente acabava, e por mais que colocasse seu celular para despertar todos os dias as nove da manhã, ela nunca acordava.

Depois de pronta e se certificar que seu gato tinha comida suficiente para o dia inteiro, ela pega sua bolsa preta e segue para o trabalho. Ainda tinha um longo caminho. Assim que entra no metrô um sorriso infantil curva seus lábios, estava vazio, e essa era a melhor coisa que podia acontecer até agora. Kate anda até o fim do vagão e se senta na janela vendo a movimentação de pessoas entrando e saindo, brincando sozinha de tentar adivinhar quem elas são e para onde estão indo.

Kate coloca seus fones e uma música suave começa a tocar. Se recostou no banco e fechou os olhos, deixando-se levar pela batida da música. Não demorou muito para o seu minuto de descanso terminar. Seu celular toca insistentemente.

Kate pegou o aparelho e o observou até a chamada se encerrar.

Papai, piscava na tela.

Fazia um bom tempo que não se falavam, lhe faltou coragem para atender. Seu pai não sabia em que ela estava trabalhando, e nunca iria saber, mas sempre que ligava ele fazia um pequeno interrogatório sobre seu novo trabalho.

— Oi, pai. – disse quase sem coragem ao atender o celular.

— Kate! – ele praticamente grita no outro lado da linha. – sabe a quanto tempo você não me dá notícias?

— Eu estava ocupada. Ando trabalhando muito, desculpa. – ela tenta amenizar, mas seu pai parecia mais preocupado do que as últimas vezes.

— Isso não é desculpa. Você podia muito bem pegar a droga desse celular e me mandar uma mensagem – ele diz irritado, causando um certo medo a Kate. De novo? Pensou. – como é que eu vou saber que você está bem? Só me falta estar assistindo o jornal da noite e ver que encontraram minha filha morta por ai.

— Pai! – ela teve sua tão temida constatação.

Kate sabia, melhor que ninguém, o quão exagero seu pai fica quando está sob o efeito do álcool. Mais uma vez o álcool à estaca incomodando. Ela rezou para que ele parasse quando ela foi embora. Aliás, esse foi o real motivo para ela querer ir embora, não ia aguentar ver seu pai se afundar no álcool mais uma vez.

Os dois permaneceram em silencio por alguns segundos. A respiração pesada de Jim era cortada apenas quando ela parava para virar mais uma dose. Do outro lado da linha, Kate podia escutar enquanto ele engolia bebida. Sentiu vontade de vomitar.

— Eu prometo que não vai mais acontecer.

— Você já prometeu isso antes. – ele jogas as palavras.

Sua voz, mais arrastada que antes, fez Kate amassar seu rosto em uma careta. Ela podia sentir o bafo de cachaça em sua cara, igual à quando sua mãe morreu e ela tinha que aturar seu pai chegar bêbado em casa.

Ela queria fugir. Fugir de estar fugindo. Queria virar outra pessoa. Desaparecer da vida de Katherine Beckettt para sempre. E agora, ser uma dançarina de boate estava sendo seu refúgio. Por mais que não gostasse da ideia de ser desejada por outros homens, esse era o único momento dia em que ela se sentia bem consigo mesma. Ela era outra pessoa. Ela não tinha um pai bêbado. Não tinha uma mãe morta. Não tinha nada. Era apenas ela e o poste de metal.

Ignorar os homens na plateia era sua maior especialidade, exceto por um que ela não conseguia ignorar de forma alguma.

 — Quando você volta? Aqui está um caos. – Jim avisa tomando mais um gole.

— Logo. – ela avisa. Kate sabia que o caos na vida de seu pai era as dívidas e a bebida. – estou cobrindo uma amiga no trabalho e já vou ter o dinheiro para pagar minha faculdade.

— Ótimo. – o homem concorda, agora mais dócil. As oscilações de humor de seu pai quando estava embriagado era ainda mais torturante. – estou com saudades, filha.

Kate abre a boca para dizer algo, mas a voz a voz tão conhecida do metrô avisa que já está próximo de sua primeira parada.

— Eu tenho que desligar. Mandarei mensagens todos os dias, eu prometo. – ela sabia que essa era uma promessa que ela iria quebrar, mas, com sorte, seu pai está bêbado o suficiente para não lembrar de nada.

Sem esperar que ele responda, Kate retira o celular do ouvido e desliga a ligação, saindo correndo antes que o metrô volte a andar.

Nova Iorque, 2017.

Kate atravessava os corredores sem saber muito bem para onde ir. Era sua primeira vez naquele lugar. O ambiente hospitalar lhe causava arrepios. Não gostava de hospitais desde que sua mãe morreu. Mas, como tudo em sua vida, ela não tinha escolha a não ser seguir em frente.

Desde que seu pai descobriu uma doença grave, decorrência de anos bebendo todos os dias, ela teve que forçar sua internação. Uma clínica particular em Seattle, onde ele teria todo o conforto possível para o seu tratamento. Mas desde que seu pai piorou, ele foi transferido para Nova Iorque.

Kate sentiu medo em voltar. Era uma cidade grande, mas que podia parecer com um grão de feijão se precisasse. Kate não deixaria o pai na mão. Deixou sua filha doente para cuidar de seu pai, também doente, e tratar de alguns assuntos pessoais. Bom, agora não teria que tratar mais de nada, já que seu emprego em Nova Iorque não deu certo. Voltaria mais cedo para casa. Para sua filha.  

Seu coração se apertou ao pensar na pequena Sofia sozinha em Seattle. Bom, não sozinha, ela estava com o pai, mas ainda sozinha. Kate não estava lá para dar colo a sua filha doente. Nesse momento, ela não estava cumprindo seu papel de mãe. Pelo menos ela se sentia assim.

Kate respirou fundo quando parou de frente a porta do quarto 310. Seu pai estava atrás daquela porta. A muito tempo ela não o via. Jim se negou a receber visitas quando sua doença se agravou e ele ficou fisicamente irreconhecível, mas agora, incapaz de suas faculdades mentais, Kate teria que tomar todas as suas decisões por ele.

— Pai? – ela bateu duas vezes antes de entrar.

Uma jovem enfermeira estava no quarto, trocando o soro, medicamento, ou algo assim, Kate não se importou muito nesse momento. Sorriu para a jovem loira, que sem querer, cobria a imagem de Jim.

— Como ele está? – perguntou cuidadosa para não acordar o homem, já que pensava que ele estava dormindo.

— Não muito bem. – a mulher lhe deu um sorriso triste e se afastou, para que Kate visse o pai.

Ela nunca imaginou aquilo. Seu pai, seu herói quando era criança, o homem com quem ela conviveu a vida inteira, que amou apesar de tudo, estava ali, deitado naquela cama de hospital praticamente irreconhecível. Os aparelhos o cercando. O tubo entrando por sua boca e permitindo que ele respirasse.

Kate não imaginava aquilo.

Aquela imagem forte a pegou de surpresa.

Kate ficou estática por alguns minutos, tentando absorver a informação. A enfermeira lhe falava alguma coisa, mas ela não fazia o mínimo de esforço para ouvir. Jim estava deitado, de olhos fechados, parecia mesmo dormir tranquilamente, mas seu estado de magreza era doloroso de ser visto. Kate sentiu seu coração doer, de tão apertado.

As lagrimas, presas aos seus olhos, estavam prontas para cair. Tudo o que Kate tinha que fazer era aceitar. Seu pai já tinha ido embora a muito tempo, só o que restava ali era um corpo. Assim que a enfermeira saiu, Kate tomou o seu lugar ao lado da cama do pai. Ficou velando seu sono enquanto acariciava os fios brancos desajeitados.

Seu pai não estava mais ali.

Lembranças da sua infância correram por sua mente. Seu pai correndo com ela no parque enquanto sua mãe montava o piquenique. As histórias que ele lhe contava de quando era jovem, na maioria das vezes inventadas, mas ainda assim um herói aos olhos de Kate. O sorriso. A risada. Os carinhos. Até as brigas. Tudo veio à tona para Kate.

Se sentindo culpada por tê-lo abandonado anos atrás e o deixado se entregar de vez a bebida, ela deixou as lagrimas correrem por seu rosto. Os médicos foram claros quando ligaram para Kate lhe informando o estado de saúde de seu pai, Jim só teria mais algumas horas. Seu fígado não aguentaria mais de uma noite, e ele não estava em condições de passar por uma cirurgia. Então Kate veio, sem avisar a ninguém o real motivo da sua ida a Nova Iorque. Todos pensam que foi apenas para ver Jim e fazer uma entrevista de emprego.

Horas se passaram e Kate continuou na mesma posição, sentada ao lado do pai velando seu sono. Ela não sairia dali. Não sairia do lado do homem a quem deve tudo. Já perdeu a mãe, perder o pai também, por mais certo que seja nessas condições, é doloroso da mesma forma.

Ela ficaria até o último momento.

***

“...Oh, and baby I'm fist fighting with fire just to get close to you. Can we burn something babe? ...”

“...Ah, e querido eu estou lutando de frente com o fogo só para chegar perto de você. Podemos queimar um pouco, amor? ...”

Kate acorda com o som insistente do seu celular. Ela ficou tanto tempo velando o sono do seu pai que não percebeu o quanto estava cansada. Adormeceu de mau jeito, sentada na cadeira com a cabeça apoiada na cama. Olhou para o aparelho que começou a tocar novamente. Ela não conhecia o número, mas podia ser algo importante. Atendeu.

— Só liguei para informar que o RH está esperando seus documentos na segunda. – a voz de Castle branda no outro lado da linha.

Kate fica em silencio alguns segundos, tentando absorver a informação. Ela só podia estar dormindo.

— Rick? – ela perguntou um pouco mais alerta. Depois de verificar que seu pai ainda estava bem, ela sai do quarto silenciosamente. – o que você quer dizer com isso?

— Você ganhou o emprego. – ela diz firme. – trabalhará comigo agora. Ou melhor, para mim... – ele provoca.

— Richard eu não estou em um bom momento. – ela avisa com sua voz dura.

Richard. Ela tinha o chamado de Richard. Exatamente como fazia quando estava chateada. No mesmo momento ele soube que tinha algo errado. Kate não tinha motivos o suficiente para ainda estar chateada com ele.

Antes de ligar para ela, ele se convenceu de que seria profissional no telefonema. Que não falaria deles dois ou provocaria ela, mas ele a conhecia o bastante para saber que ela não estava bem. Baixou sua guarda e sentou em sua cadeira. Apesar de ser tarde, ele ainda estava em seu trabalho.

— Você está bem? – perguntou duvidoso, pensando se ela responderia a verdade ou não.

— Vou ficar. – Kate falou ainda com firmeza. Ela verificou as horas em seu relógio de pulso que um dia fora de seu pai, e que agora era dela. – Já está tarde Richard, porque você está me ligando? – perguntou novamente. A história de que teria o emprego não a pegou de jeito.

— Para dizer que você tem um emprego! – ele repete, convencendo-a por meio segundo de que aquilo era verdade.

— Ótimo. – ela faz pouco caso da notícia. – agora eu preciso desligar. – ela fala ao ver uma movimentação estranha no corredor do quarto de seu pai.

— Você está mesmo bem? – ele força.

— O quê? Agora você está preocupado comigo? – Kate joga as palavras cheias de mágoas pelo o que aconteceu no passado. Ela solta uma risada irônica diante ao silencio do seu moreno. – isso não faz seu estilo, Richard.

Ele não fala nada por um tempo, apenas se permite analisar a voz de Kate. Ela realmente não estava bem, pensou. Escutou ela soltar uma respiração pesada, como um desabafo e dispara “Se precisar de alguma coisa me liga, e eu estarei ai para você”.

Sem esperar uma resposta, ele desliga a ligação.

Kate segura o telefone nas mãos. “Eu estarei ai para você”. As palavras de Richard ecoavam sem sua mente. Ele não esteve ali para ela quando precisou, porque estaria agora? um sorriso irônico escapou de seus lábios enquanto caminhava de volta para o quarto de seu pai.

A porta aberta e o médicos e enfermeiros entrando e saindo com pressa. Kate observou a movimentação sem ação para ver o que imaginava. Seus olhos encheram de lágrimas novamente.

— Hora da morte, 23:45. – ela escutou a voz do médico quando se aproximou na porta.

— Não... – escapou de seus lábios em um sussurro.

Todos olharam para ela parada na porta. Com um pesar nos olhos o médico se aproximou e começou a explicar que seu pai sofreu uma parada cardíaca, e não reagiu aos estímulos. Kate escutava tudo, mas seu olhar estava distante.

Ela parecia firme diante os médicos, mas por dentro estava se quebrando aos poucos. Os cacos da Kate que ela se lembrava estavam espalhados. Agora era somente ela. Enxugou uma lágrima solitária que escorreu em seu rosto quando todos deram licença para que ela tivesse um momento a sós com seu pai pela última vez.

Kate ficou de pé olhando para ele. Não tinha mais aparelhos ligados. Não tinha mais tubos em sua boca. Não tinha mais sofrimento. Ela escorreu seus dedos pelo rosto de seu pai, tentando capturar pela última vez a imagem dele. Sua pele macia se bateu contra a barba por fazer do pai. Ela sorriu se lembrando o quanto ele odiava deixar a barba crescer, mas que se tornou comum depois que ele deixou de se cuidar por causa da bebida.

Kate foi interrompida por um interno, dizendo que já estavam prontos para levarem seu pai. Ela sentiu um desespero lhe consumir por dentro. Segurou firme o corpo de seu pai e o abraçou o mais forte que pôde. Ele podia não estar mais ali, mas aquela era última vez que ela poderia sentir ele em seus braços.

Sentiu um vazio quando os enfermeiros a forçaram a se separar de seu pai. Um choro incontrolável ecoou pelo lugar. Os gritos de desespero foram cortados pelos soluços que estavam presos em sua garganta. Os braços fortes lhe acolheram quando o enfermeiro lhe soltou. Ele a segurava forte enquanto Kate se debatia contra ele vendo seu pai ser levado daquele quarto.

 

“...And I run for miles just to get a taste

Must be love on the brain...”

“...E eu corro por milhas só para pra te sentir um pouco

Deve ser amor na cabeça...”

 

Richard a abraçou forte. Mais forte do que os empurrões e socos que Kate dava contra seu peito. Ela queria se soltar, mas ele não a soltaria. Deixou que ela gritasse e batesse nele o quanto quisesse. Quando suas forças não eram mais presentes, ele a apertou contra seu peito e deixou que os gritos desesperados dela de dissipassem.

Kate se viu vencida pela força do homem. Encostou sua cabeça contra seu peito e se permitiu chorar sem reservas. Richard a penas afagou seus cabelos e sussurrou palavras de conforto. Seus braços já foram refúgio para Kate um dia, e hoje não seria diferente.

***

— Beba isso, Kate. – Richard lhe entrega um copo de água.

Kate estava sentada em uma das poltronas do quarto que seu pais estava instalado. Seu rosto escondido entre suas mãos. Richard afastou seus cabelos para ver seu perfil lavado de lagrimas. Ela aceitou a água e deu um pequeno gole.

— Como você chegou aqui? – ela pergunta com a voz rouca e baixa, sem dirigir seu olhar para ele.

— Carro. – ele fala simplesmente, tentando arrancar um misero sorriso da morena, mas foi em vão.

Kate o olhou com seu olhar mais mortal e Richard se recompôs.

— Eu sabia que seu pai estava aqui... – ele começa. Kate franze o cenho para ele. – eu vim visita-lo algumas vezes. – confessa e olha para baixo, envergonhado por deixar que ela soubesse que ele ainda se interessa pela vida dela mesmo depois de anos sem apenas um contato.

— Como... – ele falou baixinho.

— Eu soube pela sua voz que algo estava errado. Então eu vim. – ele joga os ombros e encontra o olhar da morena.

Como ele sentia falta desse olhar de cachorro sem dono que só ela lhe transmitia.

Kate se perdeu em algum momento no olhar azul a sua frente. Rick estava preocupado com ela como a anos atrás. Ele estava ali para ela como lhe tinha prometido antes. Pena que foi tarde demais.

Kate suspirou e jogou suas mãos sobre seu colo, fazendo um pequeno estalo cortar o ambiente silencioso.

— Bom, eu já vou. – ela se senta ereta.

Seus olhos inchados de chorar, mas sua postura firme como uma rocha.

— Para onde você vai? – ele a olha confuso.

— Eu preciso cuidar do velório do meu pai. – ela fala firme, mas sente um nó cortar sua garganta.

— Não se preocupe com isso. Meu pessoal está cuidando de tudo.

— Como assim seu pessoal está cuidando de tudo? – ela o encara sem entender mais um vez.

— Você não quer velório, apenas se despedir de seu pai. Então mandei que reservassem uma sala para você e mais quem você quiser. O enterro será logo pela manhã. – ele informa.

Richard se lembrou das várias vezes que Kate falou sobre como detesta velórios. Ele cuidou de tudo para ser exatamente do jeito que a Kate que ele conhecia queria. Ela o olhou por um longo tempo, tentando arrumar um motivo para se impor contra a decisão dele de cuidar de tudo sem ao menos lhe perguntar. Mas no fundo, ela estava agradecida por isso.

Kate balançou a cabeça e olhou para frente, suspirando pesadamente.

— Vamos, vou te levar para casa. – Kate o encara pronta para falar algo. – ou para o seu hotel... – ele completa.

— Eu agradeceria isso. – ela fala cansada demais para discutir com ele. Richard sorrir. – preciso apenas assinar alguns papeis...

— Eu já cuidei de tudo. – ele avisa. – tudo o que você tem que fazer é ir para o seu hotel, tomar um banho e se preparar.

Kate concorda com um balançar de cabeça e se levanta, sendo acompanhada por Castle.

— Você precisa que eu informe a alguém? Ou você mesmo pode fazer isso? – ele fala vacilante enquanto caminham pelos corredores do hospital.

— Não. Ninguém precisa ser avisado. – ela diz quando entram no elevador.

***

Kate tinha os pensamentos longe. Sentada na beira da cama, ela se permitia em não pensar em nada. Seus pensamentos longe e ao mesmo tempo em lugar nenhum. Ela segurava um terço em suas mãos e pulava cada bolinha após sua reza terminar. Nunca foi religiosa, mas nesse momento rezava apenas para que seu pai encontrasse sua mãe seja lá onde eles estivessem.

Juntos. Era assim que eles deveriam estar até a eternidade.

Jim se matou aos poucos e Kate sabia porquê. Ele nunca superou a partida de Johanna, e tudo o que queria era encontrar ela em um outro plano. Kate não acreditava muito nisso, mas estava disposta a acreditar que eles se encontrariam e ficariam juntos.

Uma batina fraca na porta a tirou de seus pensamentos. Kate encarou a porta de madeira de seu quarto de hotel, mas não conseguiu se mover de imediato. Ela não sabia quem podia ser, e não fazia o mínimo de esforço para descobrir.

Ela continuou a rezar enquanto encarava a porta. As batidas se faziam insistentes. A voz de Richard se fez presente quando ela demorou para atender. Kate apenas ignorou tudo. Ela estava ali, naquele quarto, mas ao mesmo tempo ela estava longe.

Sem cerimonias, e preocupado com o bem estar dela, Castle força a maçaneta da porta, que estava aberta. Ele entra no quarto quase totalmente escuro, exceto pela luz do abajur ao lado da cama. Ele notou o corpo imóvel de Kate. Vestida de preto, assim como ele, ela mexia no terço em suas mãos.

— Kate... – Richard se aproximou devagar, com medo de assusta-la.

Kate moveu seu rosto devagar para o lado, encarando Richard com seu olhar vazio.

— Já está tudo pronto. – ele fala com cuidado. Ela assente.

Kate limpa suas lagrimas e se levanta, parando de frente a Richard e o encarando.

— Não quero despedidas. Podemos só enterra-lo? – sua voz era triste. Richard balançou a cabeça concordando com o pedido dela.

Ele faria tudo por ela nesse momento.

Juntos, eles andaram em direção ao elevador. Richard fez questão de apoiar sua mão na base da coluna de Kate. Assim que entraram no carro preto pertencente a Richard, Kate prende seu olhar na janela. A paisagem já não era tão bonita quanto antes.

Richard ficou ao seu lado enquanto os homens desciam o caixão luxuoso que ele tinha escolhido. Kate cobriu seus olhos com os óculos escuros, mas ele podia ver as lagrimas descendo por ele. Esse não era o seu melhor disfarce.

Ainda era cedo quando voltaram para o hotel dela. Richard fez questão de deixa-la até a porta de seu quarto, mas quando chegou a hora de se despedir, ele simplesmente não conseguia. Parados um de frente ao outro, sem saber o que dizer.

— Não vai. – ela segurou seu braço quando ele, silenciosamente, ameaçou ir embora. – eu não quero ficar sozinha. – ela confessa com um pesar em sua voz.

Richard a olha por um momento, mas acaba aceitando.

— Você não quer dormir um pouco? Eu posso ficar aqui enquanto isso. – ele diz ao entrarem no quarto.

Kate joga seu casaco preto em qualquer lugar e balança a cabeça, rejeitando a ideia dele.

— E o que você quer fazer? – ele se aproximou. – eu faço qualquer coisa para você se sentir melhor. – ele diz preocupado.

Kate solta um sorriso triste. – Nada vai fazer eu me sentir melhor. – Richard a olha com pesar. – mas eu quero beber.

Kate segue até um mini bar em seu quarto. Um bandeja com uma garrafa de whisky. Ela odeia whisky, Richard fez um nota mental, mas nesse momento, pouco importava qual bebida seria. Ela só queria beber.

Ela serve Richard com um copo quase transbordando do liquido dourado e depois se senta no chão. Richard faz o mesmo movimento, sem tirar os olhos dela. Kate encara o copo um bom tempo e depois sorrir.

— Eu fugi. – ela começa. Richard não fala nada, apenas deixa que ela desabafe. – meu pai se entregou a bebida e eu fugi.

— Kate você era uma menina... não suportaria ficar e ver seu pai se entregar cada vez mais a bebida.

— Mas eu deveria. – ela o encarou. – ele era o meu pai. E eu era sua filha! – ela fala como se apenas aquelas palavras bastassem. Mas não bastavam. – eu tinha que ter tentado. Eu tinha que ter ficado e o convencido a não desistir da vida. Mas eu não fiz isso! Eu fugi! – ela sente o nó se formar em sua garganta novamente. – eu fugi e fui virar uma dançarina de boate.

O desprezo em sua voz fez Richard se sentir mal. Ele a conheceu quando ela era dançarina, e esse nunca foi um problema para ele, pelo menos não como era um problema ela. Richard de aproximou e, vacilante, tocou seu rosto, limpando suas lagrimas.

Kate observou seus movimentos. Em certo momento até fechou os olhos e se permitiu sentir aquele toque. Suave. Delicado. Amoroso. Era como estar de volta ao tempo, na primeira vez deles.

— Não se culpe... – ele começou baixo. Kate abriu os olhos e o viu perto demais. – você fez o que tinha que fazer. Você ao ficou e se afundou junto com ele. Você saiu e lutou pela sua vida. Lutou por você.

Kate sorrir fraco e se senta de frente para ele, mas sem se afastar nenhum centímetro dele. Ela toca seu rosto, acariciando-o. Seu olhar varre todo o rosto do homem.

— Falando assim até parece que eu fiz o certo. – ela sussurra.

— Você fez. – ele afirma novamente. – e eu nunca vou ser capaz de lhe agradecer por ter feito isso...

Kate franze o cenho para Richard, pedindo mais do que apenas palavras vagas.

— Eu te conheci... – ele fala com um sorriso nos lábios. – e eu nunca vou me arrepender por isso. Você também não deveria.

Kate o encara séria, mas acaba deixando um sorriso escapar.

— Eu deixei meu pai sozinho... – ela lamenta. – eu me arrependo disso.— seu olhar alternando o par azul próximo e os lábios finos intrigantes.

As mãos um do outro acariciando seus rostos. Os toques tão conhecidos e cheios de lembranças. Eles se controlaram uma vez, mas dessa vez não conseguiriam. Não havia barreira entre eles. Não havia passado, mágoa ou tristeza. Apenas eles.

— Eu nunca me arrependi de nós... – ela declara.

Richard cola suas testas, tentando controlar o desejo de beija-la. Era um momento difícil para Kate, e ele a ajudou, não queria que ela confundisse nada disso com os sentimentos que estavam, claramente, crescendo dentro dele novamente.

Pegando-o de surpresa, Kate aproximou seus lábios, apenas roçando-os. Os olhares próximos se encontraram. Os azuis não eram mais azuis. Os verdes não eram mais verdes. Era um mistura única das duas cores, coisa que só acontecia com eles.

Era único. Como eles.

Era intenso. Como eles.

 

"...That's got me feeling this way. It beats me black and blue but it fucks me so good and I can't get enough

Must be love on the brain yeah...”

“...Isso que me faz sentir assim. Me deixa cheia de hematomas, mas transa tão bem e eu não me canso

 Deve ser amor na cabeça, sim...”

 

Richard deu o primeiro passo, beijando-a ternamente. Não demorou muito para Kate se erguer em sua posição e aprofundar o beijo na direção de Richard. Ele sabia que ela estava carente, que não deveriam estar fazendo isso, mas ele simplesmente não conseguia resistir. Seus braços envolveram o corpo de Kate e a prenderam contra si.

As mãos dela se afundaram nos cabeços sedosos dele quando suas línguas se encontraram. O gosto do whisky se misturava ao gosto dos dois. Não havia batalhas, apenas toques. Intensos e desejosos toques.

Richard cravou seus dedos sobre o tecido fino da blusa preta que Kate vestia. Ela deixou um gemido escapar por entre seus lábios quando o folego lhe faltou e foram obrigados a se separar. Os olhares se cruzaram.

Ele só precisava de uma confirmação para continuar, pois se continuasse, não pararia mais. Kate prendeu seu rosto entre suas mãos. Seu nariz quase tocando o dele. Os olhares novamente se misturando.

Kate mordeu o lábio dele. Enquanto observava a carne entre seus dentes ser puxada, ela sentiu o desejo crescer dentro dela. Tudo o que ela queria era estar com ele mais uma noite.

— Me leva para a cama. – ela sussurrou, e não teve tempo de administrar a sensação de ser corpo ser erguido por Rick enquanto ele avançava em seus lábios.

Em segundos suas roupas estavam no chão e seus corpos nus estavam colados um no outro sobre a cama. O sexo mais intenso que fizeram em muito tempo. Beijos, chupões, mordidas e arranhões. Nada parecia suficiente para matar o desejo que sentiam um do outro. Richard prendia os cabelos de Kate com força enquanto explorava a pele alvo de seu pescoço. Kate passava as pontas finas de suas unhas pela pele dele, tentando em vão arrancar um pedaço para si, para que nunca mais pudesse se separar dele.

A saudade era tão grande que ele não conseguiam parar de se tocar. Beijos apaixonados sem nenhuma promessa. Os sentimentos dos dois exposto de uma maneira que ninguém conseguia explicar. Kate gemia ao pé do ouvido dele, assim como anos atrás, e isso o deixava louco. Ela pedia por mais, tirando dele tudo o que conseguia.

A batalha aconteceu somente quando eles chegaram ao seu limite. Ninguém comandava, mas o ritmo era perfeito. Como se nunca tivessem se separado. Os corpos tremiam um contra o outro. Os suor dos dois se misturavam e formavam um aroma perfeito. O aroma do sexo deles. O sexo único que os dois sempre tinham.

Ainda eram tão bons quanto a sete anos atrás.

Ainda eram Kate e Rick.

“...And it keeps cursing my name, no matter what I do I'm no good without you and I can't get enough

Must be love on the brain...”

“...E continua me xingando, não importa o que eu faço eu não sou boa sem você e eu não me canso.

Deve ser amor na cabeça...”

Richard acariciava os cabelos úmidos da mulher. Kate descansava seu rosto no peito dele. A respiração lenta dos dois os tranquilizava. O cheiro dele pós sexo ainda era o mesmo, Kate fez questão de lembrar. Seus dedos desenhavam algo sem forma definida no peito úmido dele. Sorriu ao lembrar do que acabara de acontecer.

Richard se sentia bem. Ele estava com ela em seus braços e, depois de anos, ele se sentia ele mesmo com ela ali. Kate era a única com quem ele podia, e conseguia, ser ele mesmo. Juntos, eles não precisavam de marcas ou qualquer outro artificio.

Nenhum dos dois se arriscava a dizer alguma palavra. Não queriam estragar o clima. Estava tudo tão bem nesse momento, que qualquer coisa que fosse dita estragaria tudo. Kate se permitiu fechar os olhos e curtir o momento.

Era como se a primeira parte do dia de hoje não tivesse acontecido. Ela não tinha perdido o pai. Ela tinha apenas se entregado a Rick, como nos velhos tempos. Kate fechou os olhos e suspirou, inalando mais uma vez o cheiro dele. O cheiro que tanto a acalmava.

***

Kate resmunga baixinho ao escutar o telefone tocar pela terceira vez seguida. Não queria sair dos braços dele, e Richard sabia disso. Ele riu e se moveu o bastante para olha-la.

— Vá atender, pode ser importante. – ele falou calmo. – quando você voltar eu vou estar aqui.

Kate sorriu e levantou, puxando o lençol branco para cobrir seu corpo. Procurou seu celular pelo quarto até que o encontrou no chão. Mais um vez ele começava a tocar. Seu rosto ficou sem expressão quando viu a foto na tela. Ignorou a chamada.

Richard a observava atentamente. A mandíbula rígida de quando ela voltou para a cama deixava claro que sua Kate, não estava mais ali. Ele se sentou na cama e a viu se sentar na beirada, de costa para ele.

— O que houve? – ele pergunta sem ter certeza de que queria saber mesmo a resposta.

Kate sentiu o telefone começar a vibrar novamente em suas mãos. Sem dizer uma palavra, ela ergue o aparelho e mostra a imagem na tela de seu celular. Richard fica sério no mesmo instante. Seus olhos queimavam de raiva e Kate podia sentir isso.

— Está na minha hora. – ele se levanta e procura por suas roupas jogadas no chão, as vestindo de qualquer maneira.

— Não, Rick, espera... – ela tenta tocar seu braço, mas ele não permite o gesto.

— Seu marido está ligando Kate. Atenda. – é a última coisa que ele diz antes de sair do quarto e deixa-la sozinha com o aparelho tocando sobre a cama.

“...Then you keep loving me. Just love me.

Just love me.

All you need to do is love me. Got me like ah-ah-ah

I'm tired of being played like a violin

What do I gotta do to get in your motherfuckin' heart? ...”

 

“...Então você continua me amando. Apenas me ame.

Apenas me ame.

Tudo que você precisa fazer é me amar. Me deixou como ah-ah-ah

Estou cansada de ser enganada

O que tenho que fazer para entrar em seu maldito coração? ...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Não gostaram?

Me contem tudo... e até o próximo ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dance For Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.