Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 28
XXV - Mischievous Night (Parte I)




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— Então os planos não mudaram muita coisa. — A voz friamente calma cortou o breve silêncio que se deu após o pequeno monólogo de Inori.

A voz pertencia ao homem que alcançava os 60 anos, bem conservado. Os cabelos negros, porém grisalhos, eram bem penteados para trás; o ar culto que suas feições traziam era expresso também por seus olhos negros e seu kimono rigorosamente bem vestido. Seus traços quadriculados eram marcados por poucas rugas, o que ajudava a manter a boa aparência.

A pouca luz trazia certa frieza ao ambiente, embora esse parecesse apropriado para um jantar entre os três. A mesa longa estava posta sob o imenso lustre que bruxuleava suas lâmpadas, as quais não tinham todo o seu potencial luminoso aproveitado.

O mais velho presente, sentado à ponta da mesa e dono da imensa casa, encarou o homem sentado ao seu lado esquerdo e repousou o talher à beira do prato de porcelana. Sua expressão enrugada era séria.

— O que não significa que não devamos ser cautelosos, Ichiro — alertou no mesmo tom de sua expressão.

— Ora, Otsuka. Em nenhum momento disse o contrário — respondeu ainda com muita tranquilidade, levando a taça de vinho à boca após limpar os cantos dela com o guardanapo. — Apenas fiquei surpreso, e relativamente satisfeito, por não termos sido obrigados a mudar drasticamente os planos por conta do pequeno rebuliço de uma bastarda ter aparecido.

— A maior parte do que precisou ser reformulado ficou por conta do Exército Revolucionário. Por sorte não tivemos que modificar muita coisa do que já planejávamos — Inori concordou, dando uma última garfada em sua refeição.

— Eles pretendem tomar quais atitudes com esse novo cenário? — Ichiro questionou de maneira distraída.

— Pelo que sei não será mais apenas os dois. — Inori levou a própria taça à boca.

— Então se interessaram pela outra também? — O dono da mansão, por sua vez, questionou, também interessado.

— Sim, de acordo com Iwasaki “torna tudo melhor”. — Não conseguiu evitar o tom irônico.

— De fato, para os objetivos dele parece adequado — concordou o de meia-idade, tomando mais um gole de sua bebida.

— Os dois jovens realmente não desconfiam de nada? — O idoso voltou-se para seu subordinado.

— Não é como se tudo dito por aquele velho e sua trupe fosse mentira — ironizou mais uma vez. — Pelo contrário, inclusive — concluiu ao dar de ombros.

— De fato — o líder concordou. Sua expressão, no entanto, voltara a se tornar mais séria. — Ainda assim, o que Kaoru relatou é preocupante, não devemos baixar a aguarda. Principalmente com aquele homem.

— Você o conhece, Otsuka? — Ichiro levantou as sobrancelhas, tornando a repousar a taça de cristal sobre o tampo de madeira, encarando-o.

— Não pessoalmente, mas já ouvi muitos rumores. — Ingeriu um gole de sua própria bebida. — Ex-líder da Naraku, mestre do Comandante e aquele que quase destruiu o mundo. Não é alguém que devamos enfrentar. — Sorriu sarcástico. — Precisamos fazer todo o possível para manter-nos longe.

— Não acho que devamos nos preocupar tanto assim — opinou o mais jovem entre os três, recostando-se melhor à sua cadeira.

— Não subestime um monstro como esse, Inori — repreendeu com firmeza.

— Não estou, Otsuka-sama. — Sorriu de lado, afiando o olhar. — Ele pode, inclusive, ser um grande aliado, de certa forma.

Os outros dois franziram as sobrancelhas, duvidosos.

— O que está planejando, Inori? — Ichiro encarou-o sem mudar sua expressão.

O outro, por seu turno, aumentou o sorriso, mantendo o mesmo olhar ardiloso.

— Será algo muito natural, não acham? — Encarou ambos. — Os dois yorozuya estão se enfiando em uma invasão à um dos pilares do clã Sakata, que é o Instituto de Pesquisa, com os maiores inimigos declarados do mesmo clã. Além disso, estão traindo de maneira brutal a confiança do próprio Comandante da Shinikayou. No momento em que eles forem pegos nisso serão considerados como criminosos, e daqueles que a Shinikayou mais gosta de ceifar vidas. — Pausou para consumir o último gole de sua taça. — Pelo que Kaoru vem me informando, os dois jovens são próximos de todos os hóspedes da mansão, inclusive e principalmente daquele homem. Quando eles forem sentenciados, o que acham que vai acontecer? — Sorriu mais uma vez, o que levou os ouvintes a fazerem o mesmo, compreendendo o ponto no qual ele queria chegar.

— Devo admitir que quase sinto pena do Comandante — Otsuka comentou, também finalizando seu vinho, rindo brevemente sem humor. — Um fim apropriado para o Demônio de Aokigahara, eu diria.

(...)

Quando ouviram a porta se abrir Satoshi e Misha correram para abaixar o colchão da cama, escondendo lá todos os pacotes de doces e DVDs de filmes proibidos que haviam conseguido contrabandear para o quarto, mas por sorte era apenas Kari, que vestia um casaco estranhamente fechado para uma noite de verão como aquela.

— Consegui mais um — declarou baixo assim que fechou a porta, abrindo seu casaco para mostrar o pacote de ursinhos Fini que pegara na  cozinha.

— Beleza — Satoshi sorriu, pegando a guloseima da amiga e levantando um pouco seu colchão para atira-lo lá embaixo. — Agora é só esperar todo mundo ir dormir e-

Os três deram um pulo quando a porta foi aberta de supetão. Souichiro invadiu o quarto, batendo os pés e resmungando consigo mesmo, sentando-se na primeira cama que vira, que nesse caso era a de Sayuri.

— Sua irmã é uma idiota — bradou para Satoshi.

O albino, entretanto, não fez mais do que dar um sorriso ladino, sabendo exatamente a qual irmã ele se referia.

— Me conta uma novidade.

— Eu não acredito que ela me expulsou mesmo! Elas não me deixam entrar no quarto! Acreditam? — Sua expressão era totalmente indignada.

Mayume tivera a ideia de fazerem uma “noite das garotas”. Era por isso que naquele momento, num dos quartos de hóspedes vazios, ela, suas duas irmãs mais velhas e outras duas meninas, Nana e Ayume — a melhor amiga dela mesma e a de Sayuri, respectivamente — se encontravam preparando tudo para o resto da noite que teriam. Souichiro tentara se infiltrar na festa, até porque, sua melhor amiga não podia abandoná-lo assim, mas ele fora expulso na mesma hora por uma Dango impaciente.

— Cara... — Misha começou. — Sério que você queria tanto assim participar de uma festa do pijama com cinco garotas?

Souichiro abriu a boca pra responder, mas parou pra pensar no que o garoto falara e uma vermelhidão começou a nascer em suas bochechas. Bufando, ele apertou o espaço entre os olhos.

— Eu preciso urgente de amigos homens.

Satoshi olhou para o Okita, pensando por um instante antes de olhar para os dois amigos, que também o encararam, e concordarem com a cabeça.

— Pois tem três homens aqui além de você, meu caro — declarou.

— Três? — Souichiro repetiu, com uma sobrancelha arqueada, olhando na direção de Kari, que assentiu com a cabeça.

— Inclusive, eu sou mais do que o resto de vocês juntos — falou debochada, cruzando os braços sobre o peito.

— Pega aí. ― Satoshi atirou um pacote de batatinhas para as mãos de Souichiro; seu sorriso arteiro abrindo mais e mais. ― E se prepara, porque essa noite você vai descobrir o que é se divertir de verdade.

Souichiro engoliu em seco com aquela sentença, por mais que sentisse uma curiosidade e empolgação começando a crescer dentro de si.

Não muito depois, Mayah chegou para conferir se eles haviam escovado bem os dentes e para desejar boa noite, e ficou contente de ver que Souichiro ficaria entre o trio de amigos de seu filho. Assim que a mulher saiu, foi o sinal para os quatro se juntarem com as besteiras e uma manta no chão em frente à TV, colocando “Outlast – O Filme” para rodar e, de luzes apagadas mesmo, começarem uma sessão que provavelmente os deixaria com dificuldades para dormir pela próxima semana.

Eles estavam na metade do segundo filme da saga quando ouviram passos no corredor e por muito pouco não acabaram gritando. Ao invés disso, Satoshi cochichou um rápido “pra cama” e pegou o controle para desligar a TV. Os sacos plásticos foram empurrados para baixo da cama de Mayume e Souichiro puxou a manta com ele antes de se deitar nela, enquanto Kari ia para a de Sayuri e Misha corria para deitar no beliche, na parte de baixo.

O ponto é que, quando Gintoki abriu a porta para verifica-los, todos já estavam em suas devidas posições para atuar o estado de sétimo sono. O Comandante demorou-se um pouco à porta, olhando bem para cada uma das crianças e para todo o quarto; conhecia bem demais o filho e seus amigos para apenas abrir e fechar a porta. Parecia estar tudo limpo, porém. Exceto pelo aparelho de DVD ainda aceso. Com um suspiro e lembrando-se de dar uma bronca em Satoshi amanhã pelo consumo extra de energia, ele pisou para dentro do quarto, disposto a retirar o CD que com certeza ainda estava lá dentro e desligar o dispositivo.

Pfff

O cheirão veio logo em seguida, atingindo suas narinas com tudo, e ele teve de se conter para não gritar ou vomitar ali mesmo. Cobrindo o nariz o melhor que podia, ele apenas correu pra longe dali, deixando a porta aberta para que as crianças não morressem sufocadas e até esquecendo-se do DVD.

Que a conta viesse um pouco mais alta naquele mês, eles podiam pagar mesmo!

— Ai, que nojo!

— Quem foi que soltou a bomba?

As exclamações vieram assim que eles acharam ser seguro. Satoshi, Misha e Kari sentaram nas camas e cobriram os narizes enquanto olhavam um para o outro, procurando o culpado de tal gás venenoso. Foi quando viram que Souichiro era o único respirando normalmente e ainda mantinha um sorrisinho de trabalho bem feito no rosto.

— Quê? — questionou para os três. — Ele foi embora, não foi?

— Tenta salvar sua alma, porque seu corpo já tá podre — Kari foi quem comentou, enquanto levantava da cama para fechar a porta do quarto, e Misha abria a da sacada, pela qual um ventinho fresco entrava.

Souichiro, por sua vez, apenas deu de ombros, também se levantando, prestes a ligar a TV mais uma vez, para poderem terminar o filme. Ele fora interrompido por Satoshi, porém, que caminhava no quarto, sorrindo matreiro, enquanto olhava em direção à pequena sacada.

— O que foi? — Misha questionou o amigo, já prevendo que coisa boa não viria.

— Olha só quanta neblina... — comentou como quem não queria nada, logo olhando pra Kari, que imediatamente sorriu da mesma forma.

— O que tem a neblina? — o Okita questionou também, ainda não entendendo no que eles estavam pensando.

— Satoshi, ainda existe aquele projetor da sua mãe? — a pequena perguntou empolgada, recebendo um aceno positivo do companheiro. — Escuta só o que vamos fazer — anunciou, chamando-os para mais perto e cochichando os novos planos.

(...)

Saindo do banheiro ainda enxugando os cabelos, encontrou sua esposa terminando de ajeitar os travesseiros e as cobertas na cama. Encarou o colchão bem arrumado com certa devoção, cada célula sua desejava se jogar sobre ele e morrer até o dia seguinte, que finalmente seria domingo.

Ele não se lembrava de ter uma semana tão desgastante há anos. Sua vida dera uma volta de 180 graus somente nos últimos dias. Além de toda a confusão por descobrir uma filha e ter de lidar com as pessoas que não encontrava há 11 anos, seu trabalho não lhe dera trégua nem mesmo quando ainda estava na outra cidade.

Suspirou ruidosamente, abandonando a toalha úmida no cabideiro.

— Você está exausto — comentou a morena observando o esposo, que agora já caminhava em direção à cama que dividiam.

Gintoki contornou o móvel, não demorando a sentar-se recostado à cabeceira. Sua vontade era de apenas se enfiar embaixo da coberta e apagar, mas o fato de ter saído antes mesmo de sua esposa acordar e ter chegado em casa há não mais que uns 20 minutos lhe impedia de fazer isso. Por mais exausto que realmente estivesse, sua obrigação como marido não deixava de existir, e ele a devia, no mínimo, uma conversa decente — coisa que não tinham desde à tarde do dia anterior, já que após o almoço com os Kouzuki ele fora para a sede e só voltara pra casa quando ela já estava adormecida.

— Acho que me define bem no momento — concordou fechando os olhos ao encostar sua cabeça na madeira, com certa ironia na voz. — Como foi seu dia?

Ainda de olhos fechados, percebeu o colchão remexendo pelo peso da morena.

— Depois de voltarmos do parque acabamos passando o dia em casa mesmo. Tirando o fato de eu ter tido um quase infarto toda vez que seu filho aprontava alguma com Misha, foi tranquilo — brincou.

— O dia em que o moleque passar sem aprontar uma dúzia de vezes, vamos saber que ele está morto — comentou com sarcasmo, fazendo-a rir brevemente enquanto concordava.

— O seu não me parece ter sido muito melhor do que o resto da semana — comentou referindo-se ao dia do marido, que resmungou algo que lhe pareceu uma afirmação.

Ela levou as mãos macias a tomarem o rosto masculino. A aproximação o fez abrir os olhos, imediatamente encontrando as esmeraldas que tanto lhe hipnotizavam.

— Se ainda está preocupado com Dango, já lhe disse que não há necessidade — disse gentil, acariciando de leve as faces sem barba. — Eu já conversei com ela e está tudo bem. — Sorriu trazendo o mesmo tom de sua voz.

— Sei que sim — respondeu tranquilo, pousando sua mão esquerda sobre a direita dela.

E, de fato, ele sabia. Tinha plena confiança não só na palavra de sua esposa, como em sua habilidade de tranquilizar qualquer um de seus filhos, não importasse as circunstâncias.

— Então por que ainda vejo tanta preocupação? — questionou olhando-o nos olhos.

— Apenas coisas demais para pensar — desconversou, suspirando mais uma vez. — Mas nada que um dia de folga não vá resolver. — Sorriu cansado.

— Um dia de folga não me parece o suficiente — discordou um tanto contrariada, também recostando-se à cabeceira. — Você precisa de férias, Gintoki. Ou será que precisa ficar doente novamente pra isso? — Lembrou-o da última vez que ficara afastado do trabalho por mais que um dia; o que na verdade foram férias forçadas pela caxumba que pegara no ano anterior, quando precisara se afastar por três semanas.

Ele riu sem humor.

— Você fala como se fosse simples eu conseguir isso — respondeu carregado de sarcasmo, o que a fez suspirar mais uma vez.

— Sei que não é. — Seu tom tornara a ser gentil, embora quase pesaroso. — Mas isso não muda o fato de que precisa. — Voltou a aproximar-se do albino, agora levando apenas a mão direita ao seu rosto. — Você vai além do seu limite para suprir a tudo e todos, como está fazendo nesse exato momento comigo. Quer cuidar de tudo e todos, mas esquece de cuidar de si mesmo. — Encaro-o seriamente. — Não quero que adoeça por ser tão cabeça-dura — concluiu no mesmo tom.

Ele inspirou profundamente.

— Assim que eu conseguir dar um fim a esse caso prometo que não ponho os pés na Shinikayou e largo tudo nas costas do pobre coitado do Kornors por, no mínimo, uma semana. Tudo bem? — propôs, fazendo-a rir de forma breve novamente.

— Vou cobrar isso — avisou sorrindo com doçura, logo depositando um beijo suave sobre seus lábios.

Beijo esse que não demorou muito a se tornar mais profundo e intenso. O comandante encaixou sua mão direita na nuca da morena, logo utilizando a outra para puxá-la para mais perto, enquanto a conduzia com maestria. Separaram-se somente quando lhes faltou o ar.

— Enquanto não consigo arrastá-lo pra essas férias — sussurrou Mayah ainda muito próxima do samurai —, talvez possa fazê-lo relaxar o suficiente para não surtar ainda. — Sorriu num misto de diversão e malícia, passeando com a mão esquerda por seu abdômen definido, perigosamente perto de sua virilha.

Ele devolveu o sorriso, carregando a mesma malícia.

— Divirta-se.


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