Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 13
XIII - Earthling Father


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ;)



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Por uns segundos os cinco ficaram na mesma posição, encarando uns aos outros, talvez esperando pela atitude de algum dos lados.

Vendo que aquilo duraria o resto da tarde se não fosse feito, Satoshi se cansou e decidiu dar o primeiro passo. Ele chegou a abrir a boca para cumprimentar os dois sentados no tatame, mas fora interrompido antes.

― Ooh. ― A voz empolgada de Mayume ecoou. ― Dango-nee-san também treina? ― Sorriu com os olhinhos grandes e redondos brilhando, aproximando-se dos dois amigos.

― "Também?" ― Dango por pouco não fez a pergunta em voz alta, seus olhos ainda passando da pequena junto a eles para os mais velhos, os quais pareciam ainda meio hesitantes em entrar.

Então aqueles três também lutavam com espadas. Pelo jeito, aquilo era mesmo algo que estava no sangue.

― Sim ― enfim respondeu.

― E deve ser muito boa ― comentou Satoshi entrando também, largando a hesitação e então sendo acompanhado pela gêmea, que permanecia em silêncio. ― Porque o mestre de vocês com certeza deve ser um monstro ― julgou a possível força do professor, já se sentando por ali.

― Mas ele parece tão legal. ― A mais nova fez um biquinho, pensativa sobre a gentileza que enxergara no homem.

― Quantas vezes já dissemos pra não levar ao pé da letra o que esse idiota diz, Little Fairy? ― A voz de Sayuri finalmente fora ouvida, levemente repressiva. ― Ele quis dizer que o Shouyou-sensei deve ser muito forte ― explicou de forma mais literal para que a pequena compreendesse.

― Ooh. Entendi ― constatou levemente surpresa. Mas logo sorriu mais uma vez, fechando os olhos. ― Gomene.

― Little Fairy, heim? ― Dango repetiu, não resistindo em devolver um pequeno sorriso para a menina. ― Combina com você ― comentou, fazendo as bochechas da mini albina corarem levemente, aumentando o sorriso.

― E é, o Shouyou sensei é muito forte ― fora Souichiro quem falara dessa vez, um tanto sério, para Satoshi. Seu semblante apenas endurecendo mais antes de continuar. ― E aquele cara... Gin-san, Danna, seu pai ou seja lá quem for. É realmente tão forte como a gente ouviu falar?

Discretamente, Dango apertou a barra do kimono, reconhecendo a pergunta implícita no tom do amigo: pelo menos aquela informação acerca de seu pai era correta?

― Hoo... Está brincando? ― Satoshi sorriu de lado, levemente desdenhando a pergunta. ― Se eu supus que o mestre de vocês é um monstro, é porque sei que um monstro só pode ser criado por outro monstro, não acha?

Souichiro entortou o nariz, não gostando muito do tom usado, e menos ainda da resposta. Mesmo assim, respondeu em tom baixo.

― É, acho que você tem razão.

― Vocês treinam com ele? ― Dango perguntou após um segundo que passaram em silêncio.

― Quando dá sim. ― Deu de ombros, demonstrando indiferença, embora no fundo ele soubesse que com certeza queria dar outra resposta. ― Mas quem geralmente supervisiona nossos treinos é a mamãe.

― Sua mãe também luta? ― Souichiro não conseguiu esconder a surpresa. Mesmo Dango arregalara os olhos de leve com aquela informação.

Mayah parecia ser uma mulher tão tranquila, calma e refinada. Era meio difícil para eles, principalmente para o Okita, imagina-la brandindo uma katana.

Satoshi, porém, sorriu divertido.

― Acho que podemos dizer que a mamãe tem muitos talentos ― brincou. ― Mas sim, ela sabe usar muito bem armas brancas, mas prefere usar só quando precisa interferir no nosso treino. Ou em alguma situação que ela precisa se defender.

― E ela prefere aquelas coisas, ne, nii-san? ― Mayume se pronunciou gesticulando como se estivesse usando uma das armas que citava. ― Como é mesmo o nome?

― Kunai. E adagas. ― informou a de cabelos chocolates. ― Ela prefere usar armas brancas menores.

― O que não quer dizer que também não seja muito boa em esgrima. ― O prateado voltou a sorrir.

Dango e Souichiro só puderam encara-los, com os olhos arregalados e bocas encolhidas, impressionados (para dizer o mínimo) com o arsenal que a esposa de Gintoki era capaz de manejar.

― Poxa, a minha mãe só sabe usar uma sombrinha ― Souichiro grunhiu baixo, mais para si do que para os outros, porém não por isso deixou de ser ouvido.

Novamente Satoshi riu.

― Mas ela é uma yato. Nem precisa dessas coisas ― ponderou levemente pensativo. ― Bom, de qualquer jeito, o clã da mamãe é o maior produtor de armas brancas de Seikigahara, então acho que ela acabou aprendendo a usar todas elas ― explicou simples, dando de ombros.

― Como seria... Digo, como vocês...

― Acho que o quê ela tá querendo perguntar é: vocês são mesmo ricos? ― Souichiro falou direto e reto, para logo ganhar um soco na cabeça (nada leve), da amiga. ― Ai! Pra quê isso, sua maluca?

 ― Não era isso que eu queria dizer! ― brigou. Voltou-se para os três um tanto envergonhada. ― O que eu quero saber é se vocês são mesmo de família nobre.

― Nobreza, dinheiro, tá tudo no mesmo barco, ainda não entendi porque apanhei ― resmungou o Okita, ainda esfregando o local do soco.

― Você fala como se também não fosse ― Satoshi disse descontraído. ― Tem sangue Sakata aí, maninha. ― Sorriu ainda da mesma forma, apontando para o braço da albina, referenciando-se às veias locais. ― Mas não ache que ser desses clãs é tudo pudim e festa. ― Ele virou os olhos, se jogando no chão e cruzando os braços sob a cabeça. ― Às vezes é bem merda, na verdade ― concluiu o comentário a olhando, ainda sorrindo.

― Maninha? ― Dango repetiu baixinho, sentindo um estranho conforto ao ser chamada assim. Uma sensação que a fez sorrir de leve.

― Caraca! Verdade! ― Souichiro exclamou, com quatro dedos erguidos na mão esquerda após fazer a contagem. ― Você agora tem quatro irmãos!

Com a gota de suor escorrendo na testa, os gêmeos olharam pro Okita quase com pena pela constatação tão tardia.

― Agora que você percebeu? ― Satoshi fora quem questionara, ainda com a mesma expressão de "você é idiota?".

― Idiota – Dango verbalizou o pensamento dos gêmeos, revirando os olhos.

A conversa seguiu-se animada por quase uma hora, quando foi interrompida somente pela entrada de Shouyou no amplo cômodo, chamando-os para almoçar.

Após muitas conversas (em diversos momentos acaloradas por emoções controversas) entre Gintoki e seus companheiros de Edo, o sensei achou melhor sair da cozinha ― na qual ele se enfiou assim que as crianças saíram, para concluir o preparo da refeição ― e anunciar o almoço, salvando assim ao samurai permanentado, ajudando-o a manter seu auto-controle, o qual estava às beiras de ser completamente abandonado para externar todas as respostas escandalosas que queria dar aos diferentes comentários dos presentes que ouviam.

Assim sendo, todos debandaram para a sala de jantar e se reuniram entorno da mesa comprida e baixa, sentando-se nas almofadas dispostas. Shinpachi e Otae dispunham os pratos e talheres sobre a madeira, enquanto o professor fora chamar as crianças.

Ao chegar à porta do dojo se deparara com uma cena que o deixara particularmente feliz e até, por que não, aliviado.

Shouyou tinha consciência de que Dango era extremamente sociável, mas receava que os medos e inseguranças gerados pela situação repentina pudessem fazê-la ter dificuldades maiores em se relacionar com os irmãos. Isso provavelmente prejudicaria muito a adaptação dela com a família. Por isso mesmo, ao assistir à pequena e a Souichiro rindo junto aos outros três por qualquer comentário que havia sido feito anteriormente, seu sorriso não poderia ser diferente.

Assim que ouviram o chamado do mestre, as crianças o seguiram, e o almoço fluiu sem maiores confusões.

Os adultos conversavam entre si, enquanto as crianças ora se animavam em um assunto particular delas, ora se metiam na conversa dos mais velhos. As coisas só começaram a se complicar na altura da sobremesa, onde Gintoki, enquanto observava Kagura ralhar com o filho por alguma travessura que acabara de descobrir ter sido ele o causador, voltou seus pensamentos para o fato que vinha tentando ignorar desde a manhã: o desejo ardente de assassinar o capitão da primeira divisão da Shinsegumi. Ele ainda não conseguia se conformar.

A coisa toda só piorou no decorrer dos diálogos, pois diferentes comentários aleatórios o faziam pensar mais e mais a fundo sobre o assunto. Falas como “Nossa, aqueles ovinhos já eclodiram, você viu, sensei?”, de Shinpachi ao observar momentamente o ninho de sabiás na árvore de frente para a porta da sala ou “Aqueles passarinhos não acabaram de nascer outro dia? Como já têm filhotes?” de Kagura ao complementar a pergunta do amigo, o faziam surtar interiormente com várias perguntas escandalosas como “Quem é você para falar isso, sua fedelha de boca suja?! Até ontem você era só isso: uma fedelha de boca suja!!”. Todavia, por um bom tempo essa atitude ele permaneceu guardando para si mesmo, sempre se obrigando a contar até 10 ― ou 50 ― para se acalmar e não externar nada daquilo. Um bule de chá em ebulição, porém, em algum momento deverá começar a assoviar agudamente e o momento dele fora exatamente aquele.

― Pensei que à essa altura você já soubesse como os bebês são feitos, China. Você mesma já fez um ― Sougo intrometeu-se na conversa, com acentuada ironia, concentrando-se apenas na parte em que a ruiva questionava como as aves já tinham filhotes.

A yato, por sua vez, iria responder à altura, mas o que se sucedeu em seguida a esse comentário silenciara qualquer conversa e voz ativa naquele instante dentro da sala.

Ele tentou, juro que ele tentou; mas suportar Sougo esfregando em sua cara (talvez não intencionalmente, mas dane-se) que Kagura fizera um filho “antes do tempo certo para isso”, com ele, era demais até para os 10 anos que passara treinando seu auto-controle. Num ímpeto furioso, Gintoki levantou-se apontando para o Okita, aos berros.

― OH, É MESMO, NÃO É? ELA SABE, NÃO É? QUEM SERÁ QUE ENSINOU A ELA? QUEM SERÁ QUE FOI CÚMPLICE? AHN?

― O suposto pai terráqueo é que não foi; inclusive ele não ensinou nada, já que resolveu sumir ― Sougo alfinetou mais um pouco, mas sua velocidade teve que ser usada com êxito porque não deu tempo dele pensar muito antes de ver a faca que estava sobre a mesa voando em direção à sua cabeça.

― E QUEM TE DEU O DIREITO DE PERVERTER ELA ENQUANTO EU ESTIVE FORA? ― Dirigiu então seus berros para todos os lados. ― E VOCÊS O QUE ESTAVAM FAZENDO? POR QUE NÃO DEFENDERAM ELA DAS GARRAS DESSE COBRADOR DE IMPOSTOS MALDITO? ANH??? E AONDE ESTAVA AQUELE DESGRAÇADO SEM CABELO? OE, SEU VELHO COTOCO GAGÁ, CADÊ VOCÊ? ― gritou para todo lado, como se estivesse tentando alcançar os ouvidos de Umibozu. — POR QUE NÃO EXPLODIU ESSE MISERÁVEL PELOS ARES?

― É apenas assim que acontece, Danna ― Sougo continuava calmamente irônico. ― O que os pais não ensinam, o mundo ensina.

Após esse último comentário, no entanto, ele teve que correr em pegar sua espada e se defender, porque Gintoki pegara as suas próprias e o atacara sem qualquer resquício de piedade ou hesitação.

Tudo o que ele queria era apenas matar aquele desgraçado, lentamente, com muita dor. E por isso mesmo ignorava todas as tentativas dos outros presentes de apartar a briga; nem os gritos ameaçadores de Mayah surtiam efeito — o que era muita coisa, diga-se de passagem.

Sougo, por sua vez, não satisfeito com o quê conseguira até ali, aproximou-se do mais velho, ainda com as espadas cruzadas, e soltou aquela que foi a última gota pra qualquer resquício de sanidade de Gintoki permanecer vivo.

― Sou eu quem ela chama de Daddy agora. ― Sorriu sacana.

E o ímpeto de fúria do comandante se transformou em algo gélido e friamente mortal.

― Nem o capeta irá te reconhecer quando eu te mandar pro inferno, seu espalhador de sementes miserável.

A partir daí ele foi prontamente acompanhado por uma Kagura desvairada, que também tentava assassinar o jovem. Passou-se quase um minuto naquela briga tripla, e quando o samurai iria atacar definitivamente para atingi-lo ao ponto de matá-lo, a única coisa que o impediu de fazê-lo foi a dor fulminante e a força que parecia sobre-humana com a qual sua cabeça foi deslocada para o lado, após a bainha de uma espada atacá-lo.

― EU DISSE PARA VOCÊ PARAR ― a voz firme e furiosa de Mayah o alcançara, já quando ele havia se afastado do policial por conta do golpe surpresa.

Kagura havia sido contida por Shinpachi e Kondou, os quais a agarraram por trás.

― NEM VOCÊ VAI ME IMPEDIR DE MATAR ESSE PERVERTIDO HOJE.

― NÃO SE ATREVA A ME OBRIGAR A DEIXAR VOCÊ INCONSCIENTE, SEU MISERÁVEL IMPRESTÁVEL DE PERMANENTE NATURAL. ― Parou. Respirou fundo, e então, voltando a apontar a bainha para ele, com um brilho perigoso no olhar, continuou suas ameaças. ― Você vai. Parar. Com isso. Agora. ― Cada pausa era um passo dela à frente e um passo dele para trás. ― Ou eu juro que quem vai visitar Enma Dayou hoje é você. ― Cutucou com força o peito do marido com a ponta da madeira. ― Controle-se!

Finalmente dando ouvidos à esposa, Gintoki respirou fundo várias vezes seguidas, tomando seu auto-controle de volta, enquanto Shouyou dava seguimento a recente retomada da serenidade não tão serena do ambiente.

― Agora que estamos todos mais calmos, melhor servirmos o soverte para finalizarmos nossa refeição, certo? ― pronunciou-se, sorrindo e já seguindo para a cozinha para poder trazer a guloseima prometida.

Mayah, por sua vez, embainhou as duas espadas do marido, logo puxando-o ainda irritada para baixo, fazendo com que o prateado ocupasse seu lugar ao lado dela. Mas para a surpresa da morena, quando ela se virou para os outros para se desculpar pelo comportamento do homem, Kagura apenas continuava a olhar brava para Sougo, como se nem tivesse lhe importado o ataque de Gintoki, e Dango estava... sorrindo? Não, mais que isso, a risadinha da albina logo aumentou até reverberar pela sala, contagiando a todos os outros e fazendo-os rir de toda aquela bagunça. Mayah piscou, meio confusa, mas logo abriu um singelo sorriso, agradecida que ao menos nem uma das duas acabara se magoando com os comentários de Gintoki; Dango parecia aliviada, até.

— Você não presta mesmo, seu sádico – Kagura resmungou para o Okita que voltava tranquilamente para a mesa como se não tivesse quase sido assassinado um minuto atrás. – Eu nunca te chamei assim e preferia queimar no inferno do que manchar minha boca desse jeito!

— Como se eu quisesse isso, China – refutou sem olhar para ela, seus olhos pausados em Gintoki que ainda se recompunha do ataque, agora tomando um longo gole do chá que restara em seu copo. – Pelo que vejo, você continua tendo duas pessoas para chamar de pai.

Kagura apenas abaixou a cabeça, tentando ainda parecer brava, mas o sorrisinho entregava a felicidade e alívio que sentia: Gintoki ainda se importava com ela.

(...)

Após um dia bastante conturbado, aquela parecia transcorrer como uma tarde tranquila e amena. Embora o calor fosse muito, todos conseguiam se distrair, fosse dentro do dojo, fosse na parte rasa do pequeno lago no terreno dos Shimura. Esse último era o caso de Soujirou, Mayume e Sayuri que, vigiados atentamente pela mãe (na varanda próxima), brincavam na parte rasinha das águas. Mayume naquele momento pegava um punhado de água com algumas algas e um único peixinho colorido nas mãos, mostrando ao caçula, enquanto a gêmea ajudava a vigiar os pequenos de perto.

Todos os outros se encontravam na sala de estar, conversando amenidades, enquanto as outras crianças locais jogavam shogi². Naquele momento em especial, Satoshi enfrentava Souichiro, enquanto Dango aguardava qual dos dois iria ganhar a partida para jogar com ela.

Ao mesmo tempo em que esperava pelos garotos, porém, passou a observar de longe a morena sozinha na varanda, vigiando de longe os filhos.

Mayah, observara, era visivelmente uma mãe zelosa e doce (mesmo que rígida quando também devia) e direcionava aquele mesmo olhar e ternura para ela, desde o momento em que a conhecera. E assim voltaram à sua mente as mesmas perguntas que se fizera ao conhecê-la: como podia sorrir daquele modo para uma filha bastarda de seu marido? Porque mesmo não gostando da definição, provavelmente era assim que toda aquela gente nobre que fazia parte do círculo deles pensava, certo? Então como aquela mulher era capaz de ser tão doce com uma garota da classe dela, que acabara de descobrir ser filha de seu esposo com outra mulher qualquer?

Foi pensando nesses questionamentos que ela se pegara desprevenida ao ouvir a mesma voz doce sobre quem pensava a chamar. Aproximou-se da morena, que agora voltava-se para a pequena, dando o mesmo sorriso que lhe dera no início do dia.

― Sinto que quer me perguntar alguma coisa ― comentou tranquila, tornando a observar os filhos no lago (Soujirou agora fazia bagunça com a água, junto de Mayume). Batendo com a mão no chão, ao lado dela, pediu que ela se sentasse. ― Fique a vontade para perguntar o que quiser.

― E-Eu? Ah... Não, não é nada! ― A menina agitou os braços, evidentemente nervosa, para não dizer aflita. ― Eu só estava... só estava pensando.

― Então, por favor, compartilhe seus pensamentos comigo ― pediu utilizando-se do mesmo tom anterior.

Dango abriu a boca, mas a fechou de novo sem dizer nada; forçava-se a manter os olhos na morena, embora sua cabeça estivesse baixa. Mayah pensou em pronunciar-se de novo, mas o olhar da menina agora parecia mais pensativo do que aflito, então resolveu esperar.

Demorou quase um minuto até que Dango falasse.

― Por favor, não pense mal de mim por causa disso, você parece muito boazinha e eu não quero te irritar, mas... eu preciso saber o porquê.

― O porquê de quê? ― devolveu um pouco confusa e também curiosa com a afirmação da pequena.

― O porquê de você parecer não se importar de eu existir ― admitiu. ― Quero dizer, eu sou filha do seu marido, mas não sua. Isso seria motivo para qualquer mulher ficar chateada e não querer nunca mais ouvir falar de uma criança como eu. Imagino então que alguém como você não iria querer nem estar aqui hoje, mas... você continua sorrindo pra mim. ― Dango mais uma vez encarou-a, os olhinhos brilhando em curiosidade e medo da resposta. ― Por quê?

Inicialmente, fora a surpresa que tomara conta dos olhos esmeraldas. Poucos segundos depois, porém, seu olhar tornara a ser tão doce quanto podia ser, bem como o sorriso que o acompanhava. Aproximando-se um pouco mais de Dango, Mayah respondeu sem qualquer hesitação àquilo que afligia a menina.

― Dango, não me importa o fato de você ter vindo do meu ventre ou não. O meu sentimento com relação a você não mudaria independente desse fator. Se você é filha de Gintoki, então também será minha. Desde que você me permita, claro ― completou levemente divertida. E então passou a olhar ao longe; parecia admirar o céu brilhoso, com os pensamentos longe dali. ― Você sabia que Soujirou é gêmeo?

Aquela declaração a pegou de surpresa e os olhos castanhos rapidamente se voltaram para o menininho de um ano, perto do laguinho, antes de voltar para Mayah e simplesmente negar com a cabeça. Ela não entendeu o porquê daquele comentário repentino, mas agora ficara curiosa; e por algum motivo, ela sentiu que perguntar "onde estava seu irmão gêmeo então" não seria uma boa ideia.

― Pois é, mas ele é. ― Voltando seu olhar para o lago continuou a contar a história, mas agora seus lábios e seus olhos pareciam mais tristes do que a albina já vira antes. ― Um ano atrás uma série de incidentes ocorreram e eu fiquei entre a vida e a morte. Estava grávida de sete meses. Conseguiram salvar Soujirou, mas seu irmão gêmeo infelizmente morrera antes de ter a oportunidade de vir ao mundo. ― Pausou um momento. Por mais que mais de um ano houvesse passado, lembrar daquilo não deixava de doer. ― Claro que isso nos deixou completamente arrasados, mas conseguimos superar. E uma das coisas que me ajudavam a manter a força era a possibilidade de ainda ter outro filho. Porque o meu sonho, desde moça, sempre fora ter 5 crianças correndo pela casa. ― Olhou de volta para Dango, sorrindo um sorriso menos triste que o anterior. ― Mas infelizmente o destino não queria que fosse dessa maneira ― continuou. ― Gintoki ficara doente poucos meses depois de Soujirou nascer. Pegara caxumba, e isso o tornou estéril. E até ontem eu já havia me conformado que esse sonho teria que ser guardado na gaveta. Então o destino resolvera nos surpreender novamente, mas dessa vez da forma mais maravilhosa que poderíamos imaginar. Ele nos trouxe você, Dango. — Seu sorriso tornara a ser doce. ― E agora eu finalmente pude realizar meu sonho. Por que eu deveria estar de outro modo, se não imensamente feliz e agradecida?

Dango apenas encarou-a, com a boca levemente aberta e sem conseguir piscar. Mayah parecia tão bem e forte, ela jamais imaginaria que ela teria passado pela dor de perder um filho e de ver um sonho se tornar impossível.

Seus olhos começaram a ficar embaçados e ela sabia que eram das lágrimas se formando daquele calor que começava a crescer em seu peito. Mayah estava mais do que sendo apenas gentil com ela, ela estava incluindo-a entre seus filhos, estava adotando-a como uma filha dela própria.

Mas de repente, uma pitada de dúvida entrou em sua felicidade.

Fungando, ela apertou a manga do kimono.

― V-você está feliz mesmo q-que eu acabe n-não indo com vocês?

― Bem, confesso que torço pra você mudar de ideia quanto a isso. Mas laços familiares como esse não podem ser quebrados pela simples distância, não é mesmo? Então, independente do que você escolher, sim, estou plenamente feliz ― concluiu ainda sorrindo.

Apesar de um pequeno receio ainda presente, Dango respondeu ao gesto com um meio sorriso.

― Hai.

(...)

A tarde já chegava ao fim, trazendo o que prometia ser mais uma noite fresca, embora estivessem no verão. Os moradores do dojô já se juntavam na sala de jantar, para poderem fazer a refeição vespertina juntos. As únicas pessoas ausentes eram Shouyou e Mayah, que se encontravam na cozinha, terminando de preparar a comida.

A família Sakata passara o resto do dia ali, e pretendiam ficar até mais tarde. Ninguém foi contra a decisão, já que realmente tinham muito pra colocar em dia e todos queriam conhecer e interagir melhor com Dango.

O jantar fluiu tranquilamente (ou o mais tranquilo possível para os parâmetros locais). Após saborearem a sobremesa, voltaram para a sala de estar, aonde os adultos conversavam entre si enquanto observavam as crianças brincando no jardim iluminado pelas luzes artificiais da cidade e da própria lua. Gintoki juntara-se à Katsura para juntos perturbarem Takasugi, enquanto Shouyou divertia-se com a situação. Foram horas passadas daquele modo, até que na altura em que as crianças já estavam cansadas o suficiente para recolherem-se à sala junto dos outros, o toque agudo do celular de Gintoki interrompera a implicância que ele direcionava ao antigo companheiro.

Pegando o aparelho em mãos para ver quem ligava àquela hora da noite, levantou-se, portando uma feição muito mais séria do que tivera durante o dia inteiro.

— Pronto — atendeu no mesmo tom, o que chamou a atenção dos presentes no cômodo e silenciou-os.

— Comandante, — A voz de seu vice-comandante ecoara do outro da linha. — peço desculpas por perturbá-lo à essa hora, mas precisava transmitir a informação urgentemente.

— O que houve? — questionou sentindo os ombros tensionarem mais quase instantaneamente, já imaginando qual seria a emergência que teria de lidar de tão longe.

— Na verdade, é uma notícia relativamente boa, eu acho — ponderou. — Descobrimos onde Okumura está. E ele está em Edo.

— Aqui? — surpreendeu-se.

— Sim, conseguimos a informação agora há pouco — confirmou enquanto caminhava pelos corredores da sede. — Parece que ele está escondendo-se sob a saia de aliados em Edo. Temos alguns lugares que suspeitamos ser o esconderijo. Suas ordens?

— Quero que você e Miyuki estejam aqui no máximo amanhã de manhã. Traga 5 dos capitães com você, mais cinco soldados cada. Traga minha farda, por favor. — Virou-se para encarar os três superiores da Shinsegumi, que se encontravam sentados à parede oposta, concluindo em tom triunfante. — Vou passar o endereço da Shinsegumi. Venham da forma mais sigilosa possível, iremos capturá-lo de uma vez por todas, amanhã.

Tendo as ordens acatadas com um “Sim, senhor.”, Gintoki desligou o aparelho, encarando à Kondou, que o olhava curioso. Tentando ignorar o suspiro derrotado de sua esposa, à alguns metros de distância — mas guardando aquela conversa para mais tarde em sua mente —, anunciou ao comandante da Shinsegumi:

— Temos que conversar.


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