Chá Quente E Gelo escrita por Kr


Capítulo 8
Sala cinza




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   O chão triste e frio parecia rir da minha cara, eu estava sozinha naquela sala cinza, Woods me deixou aqui e disse que logo voltaria. Olhei ao redor pela vigésima vez, como se o tempo fosse passar mais rápido, ou a sala mudasse de forma. Mas o grande espelho que na verdade era uma janela para o lado de dentro, ainda estava lá intacta. Apoiei meus cotovelos na mesa de metal duro, e coloquei meu queixo entre meus polegares. "Onde será que Jacob está?"  Quando nos arrastaram pra cá, para essa delegacia imunda, me separaram de Jack, ele foi puxado por um segurança, que o guiava para algum lugar que eu não sabia qual era.
    Senti como se estivesse sendo observada, é aquela mesma sensação de quando se assiste sozinho um filme de terror, e começa a sentir como se não estivesse realmente só, e sente o frio na barriga. Encarei com seriedade o espelho, alguém provavelmente está me olhando de volta, pelo outro lado do vidro, essa sala de interrogatório estava me dando nos nervos.
    Finalmente a porta se abriu de novo, e a "detetive" Woods reapareceu, ela tinha nas mãos uma pasta amarela cheia com papéis brancos. Jogou sobre a mesa e começou a espalha-los, eu fixei meus olhos no seu rosto, os olhos estavam neutros, sua expressão era indecifrável.
   - Reconhece essa flor?
   Eu pisquei várias vezes confusa, então encarei os papéis da mesa, eram no mínimo cinco fotos, e todas tinham uma flor de origami vermelha no centro, eu ja havia visto em algum lugar, mas não foi importante, então não conseguia me lembrar de onde ou quando.
   - Não - respondi voltando a encarar seus olhos.
   Ela balançou a cabeça como se concordasse, arrastou a outra cadeira livre e se sentou, mas não recolheu as fotos, nem fez menção de que o faria.
   - Conhecia Troy Ogletree?
   - Sim - limpei a garganta seca antes de continuar - Ele era o capitão do time de hóquei da escola.
   - Que tipo de relacionamento você tinha com ele?
   - Oque?
   - Vocês eram próximos... tinham rixas?
   - Nós não conversavamos muito.
   Ela continuava com os olhos fixos em mim, analisando cada palavra.
   - Você sabe se Troy ja se envolveu com algum traficante local?
   - Não sei.
   - E a namorada dele... Ally, a conhece também?
   - Só de vista, ela não fala com ninguém.
   - Então ela não tem amigos?
   - O Troy era a única pessoa que eu ja vi com ela.
   - Ja a viu em algum lugar quem não fosse o colégio?
   - Não.
    Ela anotou algo atrás de uma das folhas da mesa.
   - Onde está o Jacob?
   Deu de ombros como se não fosse relevante.
   - Provavelmente em algum lugar da sala de espera.
   - Meus pais sabem que eu estou aqui?
   Ela ignorou minha pergunta
  - Onde estava na noite de 22 de Julho?
  - Em uma festa de aniversário.
  - Que horas foi embora?
  Revirei as memórias da festa da Dinah, mas não me lembro nem de ter saído, Jacob saberia.
  - Não me lembro. - Admiti. - Meus pais estão vindo?
  Ela levantou uma sobrancelha parecendo cada vez mais interessada.
  - Você costuma consumir álcool ou drogas em festas? - novamente me ignorou.
   Eu não lembro do que me fez perder a consciência naquela noite, é raro eu beber, álcool me da enjoos só de sentir o cheiro, ainda não sei oque me deixou embriagada. Woods esperava paciente minha resposta.
  - Preciso de um advogado? - Ela voltou a ficar evasiva - estou sendo acusada de algo?
  - É só um depoimento, para deixar tudo as claras.
  - Eu ja posso ir?
  - Claro - Fiquei de pé - mas antes, tenho mais uma pergunta.
   Esperei enquanto ela também se levantava.
  - Dois anos atrás... no dia 22 de Março. - Ela fez uma pausa rápida. - Era domingo a noite, que foi quando você encontrou o corpo da sua irmã, Taylor Jauregui num terreno em construção certo?
   Dei um passo para trás, o aperto no peito dificultou minha respiração, e eu sentia as batidas do meu coração vibrando pelo corpo todo, concordei com a cabeça sabia que essa não era a pergunta.
  - No relatório oficial, você afirmou não ter visto ninguém no prédio ou no andar onde supostamente ela pode ter caído - ela se aproximou um passo - Mas se estava escuro como pode ter certeza de que não havia nenhuma outra pessoa no local? 
  - Eu usei a lanterna do celular, para ver onde pisava, eu olhei para cima e iluminei, e não tinha mais ninguém.
  - A capacidade de iluminação da maioria dos celulares é de seis a sete metros, o prédio ficava a dois metros do corpo, mas... a sacada do segundo andar fica a nove.
  - E a capacidade que os olhos humanos tem de ver, ultrapassa dez metros.
   Seu rosto se fechou em irritação, percebi que deveria ter ficado quieta, antes que ela pudesse me acusar de desrespeito.
   - Sim eu ja tive aulas de biologia senhorita Jauregui - engoli em seco - oque eu estou querendo dizer, é que tem inúmeras chances de que a olho nu e sem claridade, alguém possa ter se escondido facilmente e ficado por horas sem ser notado. Não concorda?
  - Eu consegui associar as formas escuras com a sombra das janelas e vigas, mas era só isso, e também não ouvi nenhum barulho.
  - Então concorda que não viu o suficiente para ter certeza que estavam sozinhas?
   - Estava ocupada demais em choque por ter encontrado a minha irmã sem vida no chão - cuspi as últimas palavras.
   Encarei o chão de novo, de cabeça baixa, não vi seu rosto, esperava acabar com isso o mais rápido possível.
  - Certo.
  Seus pés foram até a porta, e vi a luz amarela do corredor quando ela a abriu.
  - Acabamos por hoje senhorita Jauregui - passei rapidamente por ela. - E não saia da cidade por enquanto, pode ter mais perguntas que eu queira lhe fazer.
   Concordei rápido com a cabeça, ainda sem olhar para seu rosto, não levantei a cabeça em nenhum momento até que chegamos no saguão. O primeiro que eu reconheci naquele amontoado de policiais fardados e pessoas comuns, foi o doutor Culent, do seu lado a esposa tinha os braços em volta dos ombros de Jacob que parecia tenso, assim que me viu sua boca abriu como se dissesse alguma coisa, ele se afastou da mãe que me deu um sorriso fraco, e passou os braços pela minha cintura. 
  - Vamos, meu pai ja conversou com os advogados, foi só um mal entendido.
   Eu concordei sem dizer nada, e deixei que ele praticamente me carregasse de lá.

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  - Tem certeza de que foi ela?
   Marcus perguntou enquanto observava os garotos saírem da delegacia.
  - Tenho.
  - Lexa... se você estiver errada, pode perder o seu emprego, e manchar sua carreira.
   A detetive trincou a mandíbula, com os olhos fixos na porta de vidro branco transparente, tentava controlar a raiva que sentia por dentro.
  - Por favor confia em mim, eu sei que foi ela, eu ja tenho um caso montado, só preciso de tempo para conseguir provas.
   Ele a observou por longos segundos, ela era jovem, acabara de começar e teria muitos anos de carreira pela frente, ainda não tinha certeza se a fixação dela por esse caso era pessoal, mas sabia que ela era inteligente e provavelmente sabia oque estava fazendo, era sua parceira não teria escolha a não ser confiar. Suspirou passando a mão pelo cabelo.
   - Oque tipo de prova está procurando?
   - Um motivo.



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