Contos Hiccstrid escrita por LauraClarimond


Capítulo 15
'' Roubo do Casaco ''




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Hoje decidi que tentaria falar com a aluna nova assim que a visse. Estou adiando isso por dias. O problema é que não fazia a mínima ideia de como faria isso. Talvez dar uma desculpa esfarrapada para tentar começar uma conversa, não consigo pensar direito em alguma coisa. Saio correndo pela porta de casa. Assustado, nervoso e bastante ansioso.

Cheguei muito cedo no colégio, apenas eu e outra pessoa desconhecida já estavam ali. Sentei em um dos degraus da escada principal e fiquei lendo, esperando por ela. O tempo foi passando, alguns amigos me cumprimentaram e chamaram para acompanhar eles mas não iria sair dali até a garota chegar. Era hoje ou provavelmente nunca.

O nome dela era Astrid, quando a vi pela primeira vez em frente aos armários conversando com outra garota, fiquei olhando por um pequeno tempo e depois que percebeu que a encarava, sorriu para mim, aquele sorriso me desmanchou completamente por dentro. No primeiro dia tive a sorte de sentar ao seu lado na sala de aula mas não conseguia falar absolutamente nada, nem mesmo sobre o assunto que a professora estava dando. Nos dias que se seguiram, tentei diversas vezes chegar perto, me aproximar de alguma forma, tentar um contato, mas sempre ficava aflito com a ideia de conversar com ela.

Fiquei triste quando o sinal tocou e nada dela aparecer. Não tive outra opção além de entrar ou ia acabar recebendo uma advertência por atraso ou falta. Durante a primeira aula, ainda estava com esperanças de que Astrid iria aparecer, mas infelizmente isso não aconteceu. Por uma semana ela sumiu e a pouca coragem de tentar algo que eu tinha acumulado desde que a vi pela primeira vez, já desapareceu do meu corpo.

Era uma segunda feira, meu fim de semana tinha se resumido a ficar no quarto, jogar, comer e pensar nela, o por que dela ter faltado e se a veria novamente. Estava no fundo da sala conversando com os gêmeos, quando percebi uma pessoa entrando rapidamente e se sentando na cadeira em que tinha ao meu lado. Ela era, podia ver uns fios de cabelo loiro por baixo do capuz que usava

Não conseguia desviar o olhar nem um segundo sequer, não parecia a mesma menina que eu tinha conhecido, não conseguia ver seu rosto parecia triste e com certeza transmitia a mensagem de que não queria que ninguém  incomodasse. 

Durante a aula ela continuou da mesma forma, não falava nada apenas encarava o quadro, eu a olhava algumas vezes, via que seu olhos estavam vermelhos, como os de uma pessoa quando chora, mesmo mal a conhecendo fiquei preocupada com o que possa ter acontecido. A professora também percebeu mas nada falou, apenas seguiu com o seu trabalho. 

Quando a hora do intervalo chegou, Astrid se levantou de onde tinha sentado e saiu cabisbaixa pela porta da sala em direção ao banheiro não a vi depois disso, quando retornamos para a classe suas coisas já não estavam mais lá.

Nas semanas seguintes seu comportamento continuou o mesmo, ninguém sabia ao certo o motivo para que ela estivesse agindo daquela forma, completamente diferente da garota que todos vimos na primeira semana de aula, Alegre e sorridente, agora só víamos sua tristeza e seu casaco preto que tinha agora como uma segunda pele. Tinha tanta vontade de falar mas minha timidez sempre tomava o controle do meu corpo. 

Em um dia ouvia música e caminhava de volta para casa, quando tropeço em uma mochila no chão. Os fones acabam caindo dos meus ouvidos com o solavanco que levo.  

— Foi mal.

Fiquei paralisado quando ouvi sua voz, olhei na direção da pessoa que falou e depois de tanto tempo, lá estava ela, a garota com que eu sonho, penso, anseio e desejo  a semanas, parada na minha frente me pedindo desculpas.

— Tudo bem, eu que sou meio estabanado mesmo. Só para saber o que faz aqui ? —Ela não pareceu entender a minha pergunta, então a expliquei — É que o ônibus não para mais aqui. A nova parada fica na outra rua. 

— Eu não sabia — Disse enquanto recolhia a mochila do chão e se levantou do banco, olhou para um lado e para o outro — Pode me falar onde é ?

— Posso te levar até lá — Sugeri. Aquilo saiu de mim sem eu pensar, provavelmente eu estava mais vermelho do que tinta de caneta ''Como consegui falar isso ''  Pensei. — Claro se você não se importar de andar comigo. 

— Ok. Tudo bem. 

Minhas mãos estava dentro dos bolsos do casaco que eu usava, conseguia sentir elas completamente suadas enquanto caminhava ao seu lado. Tentei pensar em algo para falar mas mais uma vez o nervosismo não deixava. Isso era tão frustrante. Ficamos em silêncio durante todo o trajeto e depois de deixar ela no local correto nos despedimos com um simples ''Até''

Durante a noite mais uma vez fiquei pensando nela. Não conseguia me controlar. Sonhei que estávamos nos dois sentados na escadaria principal do colégio, parecia tão real mas fiquei decepcionado por acordar. 

Já no colégio na manhã seguinte, depois de ter assistido a algumas aulas, estava me preparando para a tortura da educação física, algo que eu particularmente odiava fazer mas desde que eu soube que Astrid faria passei a frequentar. Ela passou ao meu lado no mesmo momento em que entrava na quadra do colégio, olhava sem animação para a tela do celular e se sentou na arquibancada jogando sua mochila no chão, da mesma forma que ele a encontrou no dia anterior.

Vê-la parecendo estar triste daquela forma, tive a repentina coragem de ir falar com ela, pelo menos para dizer um'' oi'', ''Bom dia'' ou até ''iae ''  mas quando me aproximava dela o professor chamou todos os alunos para começar aula. Quando Astrid saiu pensei  na ideia  de deixar minhas coisas perto da sua mochila no chão, quem sabe poderia ter a sorte de uma conversa de verdade dessa vez.

No decorrer da aula não consegui prestar muita atenção, nunca conseguia e nem tinha a intenção, estava ali apenas por ela, odiava me exercitar. Astrid completamente diferente de mim demonstrava gostar bastante, já que não parava nem um minuto, nem para respirar. Querendo me mostrar um pouco menos inútil decidi correr também, já estava quase sem folego quando cai de cara no chão. Claro que as pessoas começaram a rir de mim inclusive ela, ''pelo menos isso a fez rir '' Pensei. Antes de encerrar, o professor parabenizou Astrid pelo desempenho dela e dispensou todos os alunos. 

Quando fui em direção a arquibancada juntar minhas coisas, vi Astrid falando ao telefone, pela feição que fez em seu rosto, parecia que não estava recebendo uma boa notícia, até que ela simplesmente saiu correndo com a mochila do ombro em direção a saída, mas antes de ir embora um casaco preto que percebi ser o mesmo que ela estava usando a dias, acabou caindo no chão enquanto corria, eu o peguei e fiquei pensando o que será que tinha acontecido. 

Procurei pelo colégio para ver se a encontrava em algum lugar para devolver o casaco mas não achei. Perguntei a algumas pessoas e uma delas me falou que a viu saindo apressada e entrando dentro de um carro. Ela não era minha amiga, mal a conhecia, mas o que eu já sentia desde o primeiro dia que a vi era tão forte que naquele instante fiquei muito preocupado.

No dia seguinte esperei por Astrid chegar ao colégio, mas ela não apareceu a tempo da primeira aula, já pensava que não a veria hoje quando a vi entrar na sala no segundo tempo. Como sempre estava com a feição triste e não prestava muita atenção no que a professora ensinava. Pensei em como iria devolver o seu casaco, fui adiando o momento por vergonha, mas depois que saí mais tarde do colégio por ter perdido tempo resolvendo umas atividades extras a encontrei sentada na escadaria principal sozinha, parecia que esperava por alguém.

— Oi ? — Falei me aproximando — Posso me sentar ?

— Pode — Disse se levantando — Eu já estou indo mesmo.

— Espera ! — Pedi segurando seu braço. Acho que não devia ter feito isso, pois no momento em que eu fiz, ela pegou minha mão e tentou quebra-la.

— Não encoste em mim ! — Ameaçou soltando minha mãe em seguida.

— Desculpe é que eu queria devolver isso —  Tirei o casaco da mochila e estendi ele em sua direção.

— O que faz com ele ?! — Gritou enfurecida —  Você o roubou ? — Perguntou em seguida furiosa.

— N..não ! não ! — Falei tentando me defender mas ela veio para cima de mim com tudo e pelo que parecia para tentar me matar. Para minha má sorte só estávamos eu ela ali, não tinha mais ninguém na entrada, todos já foram embora. Nenhuma pessoa para me ajudar. — Eu não roubei seu casaco eu achei — Me defendi

— Estou procurando ele desde ontem, estava na minha mochila e você pegou !

— Não ! —  Falei mais alto do que ela dessa vez, Astrid parou e me olhou — Ontem quando você saiu correndo deixou sua mochila um pouco aberta e o casaco acabou caindo no chão eu o peguei e agora estou devolvendo. — Falei rápido e sem parar para respirar.

Ela ficou me olhando com aqueles olhos azuis, estávamos encarando um ao outro, naquele momento não conseguia sentir nenhuma raiva por ter sido praticamente espancado, só conseguia ouvir as batidas rápidas do meu coração por estar tão próximo dela. Aos poucos Astrid foi se levantando e estendeu a mão para me ajudar a levantar do chão. 

— Você é forte —  Afirmei sentido meu corpo agora dolorido. Ouvi uma pequena risada sua então ela disse. 

— Eu sei, olha, me desculpa tá. É que eu ... eu pensei que — Tentou falar mas depois me olhou, respirou fundo e disse — Me desculpa. 

— Tudo bem —  Disse enquanto tirava arei do chão que ficou na minha blusa. — Você achou que eu roubei ele, sua ação é justificável, eu acho, quer dizer não a parte em que você me bateu mas... —  Ela acabou rindo do que falei e disse

— Não é justificável, foi um impulso idiota, agi como uma maluca — Começou a falar enquanto se sentava novamente na escada — Esse casaco é importante para mim, me enfureci vendo você segurando ele. 

— Ele é seu a muito tempo ?

—  Não, pertencia ao meu irmão, ele morreu alguns dias atrás. — Falou em um tom melancólico. Então era isso, esse é o motivo dela der mudado depois da primeira semana de aula. ''Ela está de luto pelo irmão '' Pensei

— Sinto muito por ele e por você também, sei como é, minha mãe morreu quando eu tinha onze anos, hoje apenas sou eu e meu pai. 

— Como conseguiu superar ?

— Isso leva tempo, muito tempo na verdade, mas um dia a dor se ameniza ela não some, mas melhora.

— Ele me deu esse casaco na noite do acidente que ele sofreu. Fiquei louca em não saber onde estava. Obrigada por me devolver.

— De nada. Posso perguntar por que saiu apressada daquele jeito depois da aula de educação física — Tentei me controlar mas minha curiosidade foi maior.

— Minha mãe passou mal e meu pai levou ela para o hospital, todos nós ainda estamos abalados com o que aconteceu.

— Sabe, se quiser falar comigo sobre esse assunto, estou completamente disponível  — Sugeri 

— Sério ? — Perguntou dando um sorriso tímido, que conseguia ser mais lindo do que aquele que ela me deu no primeiro dia de aula. 

— Sempre que quiser, sobre qualquer coisa —  Afirmei feliz por Astrid estar querendo falar mais comigo.

— Obrigada —  Disse com sinceridade.

Continuamos conversando mais um pouco. Estava impressionado com o fato de não tem nem gaguejado enquanto falava com Astrid, me senti bem conversando com ela, mesmo o assunto não sendo um dos mais animadores. Descobri que seu irmão morreu quando sofreu uma acidente de carro causado por um motorista idiota que tinha bebido o que não devia e que fugiu sem prestar um misero socorro. 

Falamos sobre outras coisas, como lugares que ela gostaria de conhecer na cidade, falei que poderia mostrar alguns caso quisesse, me falou da cadela que tinha e eu falei do meu gato preguiçoso que vivia deitado na minha cama, ela riu quando contei das traquinagens que ele aprontava comigo. Quanto mais conversávamos mais eu me apaixonava.  

Até que Astrid me perguntou sobre a minha mãe, falei da saudade que eu e meu pai sentíamos dela. Ela me contou o quanto era ligada a ele e de como sentia sua falta, dessa vez quando tocou nesse assunto vi algumas lágrimas caindo do seu rosto, a tristeza dela de alguma forma passava a ser minha. Vê-la assim me machucava. Tentando confortá-la segurei suas mãos, estavam um pouco geladas graças a chegada do fim do dia e as acariciei em seguida a abracei. 

Não queria soltar ela dos meus braços mas quando seu pai chegou para lhe buscar tive que me separar. Astrid se inclinou e dei um beijo na minha bochecha.

— Obrigada, é bom ter finalmente um amigo para conversar. — Falou se despedindo e indo para o carro.

''Espera, amigo ?''  Pensei ''Se eu não fizer nada vou continuar sendo só amigo para sempre''.

Ignorando cada resquício de vergonha que eu poderia sentir em toda a minha vida, decidi em milésimos de segundos convidar ela para sair. Como ainda estava sentado na escada me levantei e corri em sua direção. Quando Astrid quase ia entrando no carro a puxei pelo braço e sem planejar absolutamente nada perguntei.

—Você quer sair comigo em um encontro ? — Ela me olhou surpresa e quando fez menção em responder continuei —Claro se você quiser e não precisa ser hoje, pode ser amanhã ou depois de amanhã ou quando bem entender, não importa o dia, podemos ir ao cinema ou só conversar mas tem o parque também se você... — Astrid colocou a mão na minha boca fazendo eu parar de falar.

— Amanhã no parque depois do colégio. Tudo Bem ? — Sugeriu com o mesmo sorriso daquele dia. Balancei a cabeça em afirmação e não consegui evitar sorrir também.  — Até amanhã —se despediu

—Até ! 

Fiquei parado alguns minutos ainda processando o fato dela ter aceitado sair comigo. Olhei para o relógio em meu pulso e vi os segundos se passando, faltavam literalmente menos de 24 horas para meu encontro com ela '' Meu deus ! O que eu fiz ? ''  Pensei. Sabia que eu não iria conseguir pregar olho essa noite de tão ansioso que já estava. Caminhei de volta pra casa com um enorme sorriso no rosto, tentei pensar em outra coisa mas era impossível.

Quando cheguei em casa, meu pai me olhou e pelo visto me achou estranho ''Está tudo bem?'' ele me perguntou, respondi que sim ''Parece que está drogado '' disse, falei que não apenas estava feliz e subi imediatamente para o meu quarto, me olhei no espelho vi o que era provavelmente o maior sorriso que já tive em toda minha vida. Me sentei na cama e comecei a imaginar como seria amanhã ''Amanhã Amanhã Amanhã...'' pensava repetidamente.


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