— Liam, você realmente não mudou nada! – exclamei rindo de mais uma piada dele.

— Ah, Elena, que é isso? Estou, com certeza, mais bonito! – ele exclamou parecendo ofendido.

Ri mais uma vez.

— É claro – debochei.

Mas ele estava certo. Liam sempre fora bonito, porém agora, com seus músculos mais definidos, e com cabelo curto... Com certeza nenhuma mulher resistiria.

Ouvi um pigarro vindo da porta do meu quarto.

— Interrompo alguma coisa? – Damon perguntou de cara fechada.

— Então esse é o famoso Damon! – Liam exclamou, apontando para o meu marido como se fosse um deus.

— E você é? – Damon perguntou irritado.

— Esse é Liam. Meu amigo de infância – apresentei. – Ele veio morar em New York e não podia deixar de convidá-lo para uma visita.

Liam estendeu a mão para Damon cordialmente, mas este simplesmente olhou com nojo. Meu amigo, então, abaixou a mão, constrangido.

— Estou indo a um almoço de negócios agora, Elena – Damon falou para mim e logo se virou para Liam. – Você ainda estará aqui no jantar?

Meu amigo deu de ombros.

— Não sei. Provavelmente. Nenhum problema com isso, não é, cara?

— Claro que não! – respondi por Damon. – Você é meu amigo e mesmo que não fosse, não haveria nenhum problema. Estou completamente autorizada a trazer homens aqui. Foi o nosso acordo.

Damon olhou para mim em choque.

— Elena!

— Ah, Damon, eu contei para Liam – falei displicente.

Damon cruzou os braços, visivelmente mais irritado.

— Então você vai ficar simplesmente contando para todo mundo até chegar aos ouvidos da imprensa?

— Ei, cara! Calma. Não vou contar para ninguém – Liam tentou amenizar a situação. – E de qualquer forma, a Leninha não iria conseguir mentir para mim.

— Leninha? – Damon perguntou soltando fogo pelas ventas.

Liam e eu rimos.

— Era o meu apelido quando eu era pequena – expliquei. – Eu não gosto muito, e é exatamente por isso que Liam insiste em usá-lo.

— E agora você pode usá-lo também, Damon – Liam brincou, mas Damon permaneceu estático.

— Não. Prefiro chamá-la pelo nome – ele falou sem emoção nenhuma. – E se me dão licença, tenho uma reunião importante para ir. Até mais tarde.

Damon saiu do quarto e Liam não pôde deixar de comentar:

— Seu "marido" é muito simpático, Elena.

Eu ri.

— É porque ele não te conhece. Mas você vai ver. Damon é uma ótima pessoa – falei com segurança. Eu sabia disso.

Liam riu.

— Com certeza, Elena. Claro, vou acreditar em você.

— Liam! – joguei um travesseiro em sua cara.

Ele riu mais uma vez e logo voltamos à posição que estávamos antes de Damon chegar. Ele sentou na cama e eu deitei a cabeça em suas pernas.

— Então, esse acordo que vocês fizeram, de que você poderia se encontrar com outros homens, serve para ele também? – Liam perguntou.

Apenas assenti, triste por ele tocar nesse assunto.

— Damon saía toda noite de casa e voltava com uma mulher diferente – contei, triste.

Acho que Liam percebeu, porque ele acariciou o meu rosto com suavidade.

— Você dava o troco, não é? – perguntou brincalhão.

— Liam, você me conhece muito bem. Acha mesmo que eu seria capaz de sair com vários caras apenas por uma vingança boba? – perguntei levantando e encarando-o.

— Não. – ele respondeu com um sorriso. – E é justamente por isso que eu gosto tanto de você. E não só como amigo.

QUÊ?!

Não tive muito tempo de pensar sobre essa declaração, pois logo em seguida senti os lábios de Liam pressionando os meus.

Não consegui retribuir. Passei a mão por seus ombros e o afastei.

— Liam... Não, por favor. Eu sou casada. É errado! – sussurrei sem olhar para ele. Estava com vergonha.

— Errado?! Elena, você acabou de confessar que seu casamento é uma farsa, que seu marido tem toda noite uma mulher diferente na cama...

— Tinha— corrigi.

— Tinha? Então você quer dizer que agora ele está sendo fiel? – Liam perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Mais ou menos isso – respondi com um pequeno sorriso.

Duas semanas atrás, Damon até tinha trazido uma mulher para a casa, mas como eu cheguei bêbada, ele a dispensou para poder cuidar de mim. Pensar nisso me alegrava.

— Damon sabe disso? – Liam perguntou de repente.

— Sabe de quê?

— Ele sabe que você está apaixonada por ele?

Prendi minha respiração. Não era possível que estivesse tão cara! Só falamos sobre Damon em dois ou cinco minutos e Liam já tinha percebido o que veementemente venho tentado negar.

— Não estou apaixonada por ele – menti, olhando para baixo.

— É claro que você está! – ele afirmou com certeza. – Só não acho que Damon seja o merecedor disso.

— Liam...

— Eu realmente estou falando sério, Elena. Esse cara é um idiota! E você só não vê porque está apaixonada! – ele acusou.

— Isso não é verdade – contestei. – Eu sei muito bem que Damon pode ser um idiota quando quer. Mas ele não é assim o tempo todo.

— Ele corresponde os seus sentimentos, Elena? – Liam perguntou parecendo saber a resposta.

— Não. – respondi, triste.

Liam deu uma risada sem alegria.

— Liam, por favor, vamos parar de falar sobre Damon – pedi.

Não queria expor meus sentimentos dessa forma. Queria deixá-los como estavam. Só para mim.

— Certo, então vamos falar sobre nós – ele sugeriu com alguma animação.

— Não existe um "nós", Liam – cortei. – Somos só amigos e sempre seremos só amigos.

Ele suspirou e toda animação se desvaía.

— Tudo bem. Mas, a minha amiga prometeu me levar para conhecer New York, lembra-se? – ele sugeriu com um sorriso.

Sorri também.

Levantei-me e ele me acompanhou.

— Vamos lá!

*

Cheguei em casa no finalzinho da tarde, logo após de ter deixado Liam em casa.

Mas assim que abri a porta, levei um choque.

— O que é isso?! – exclamei totalmente chocada.

As duas mulheres que estavam em cima de Damon tiraram os lábios do pescoço dele para me olhar.

— Sua esposa chegou. Parece que a nossa diversão acabou – a mulher loira comentou.

Damon olhou para mim. Sua camisa branca estava parcialmente desabotoada, seu pescoço tinha várias marcas de beijo e sua boca estava suja de batom.

— Se divertiu muito essa tarde? – ele perguntou, sarcástico.

— Muito. Você não tem ideia! – respondi com raiva.

Virei-me para sair da sala, mas antes, dei um breve recado:

— Vão para o quarto, por favor.

Subi rápido e com raiva.

O que eu estava pensando?!

Fiel?

Não! Damon nunca seria fiel a mim.

Tirei meu casaco e o joguei com toda a força na cama. A foto que Liam e eu tiramos no parque apareceu no bolso.

Eu a peguei e fiquei observando. Ele me girava no ar, enquanto gargalhávamos. Parecíamos um casal apaixonado. E como seria bom se fosse isso. Seria perfeito se eu tivesse apaixonada por Liam.

— Pensei que só fosse voltar amanhã – Damon comentou friamente, observando-me da porta do quarto.

Virei-me para ele sem querer entender o que tinha insinuado.

— Acho que você está confundindo as identidades. Eu não sou você! – exclamei com raiva. – Liam é só o meu amigo!

— Amigos não se beijam, Elena – ele falou um pouco irritado.

Ele tinha visto.

Mas como? Ele tinha acabado de sair... Ou era mentira? Só para ficar espionando a gente? E, o quanto da conversa será que ele ouviu?

— Não tente negar, Elena. Eu vi – ele afirmou, cruzando os braços. – Estava quase saindo de casa quando recebi a mensagem de que a reunião tinha sido adiada. Então, subi para o seu quarto para que pudesse me inteirar da conversa de vocês. E você deve imaginar minha surpresa ao ver vocês se beijando.

— Não vejo porque surpresa, Damon. Eu tenho todo direito de beijar Liam como você tem direito de beijar aquelas mulheres! – repliquei. – Mas você não deve ter visto que eu afastei Liam, porque somos só amigos! Eu não acho certo usar as pessoas só para me divertir.

A expressão de Damon pareceu relaxar depois disso.

— Então, não aconteceu nada entre vocês? – ele perguntou, parecendo esconder um sorriso.

— Não. Saímos como amigos – confirmei. – Mas com certeza está acontecendo alguma coisa entre você e as vadias lá embaixo! Só me faça um favor, Damon, vão para o quarto!

— Elena... – ele tentou aproximar-se.

— Vá dar atenção às suas vadias, Damon! – mandei irritada. – Quero ficar sozinha.

Damon pareceu triste por um momento e, desse jeito, saiu do quarto. E eu joguei-me na cama, desejando que Damon não seguisse o meu conselho.

*

Estava terminando de jantar no meu quarto. Não queria arriscar encontrar as mulheres que estavam Damon novamente. Fui surpreendida por uma aparição na porta do quarto.

E não era Damon.

— Liam? O que você faz aqui? – perguntei, levantando-me da cama.

Ele aproximou-se de mim e colocou seus lábios nos meus, imprensando-me na parede.

— Liam, o que você está fazendo? – perguntei, tentando afastá-lo, mas não tinha força suficiente.

— Você não pode amá-lo, Elena! Sou eu quem você ama, sou quem você tem que amar! – ele gritou colando nossos lábios novamente.

Podia perceber o que estava acontecendo. Ele estava bêbado.

— Liam... – tentei afastá-lo novamente. – Para.

Ele me tirou da parede e jogou-me na cama.

— O que está fazendo?! – exclamei quando ele posicionou-se em cima de mim e começou a beijar meu pescoço.

— Você é minha, Elena! Minha! – ele gritou unindo nossos lábios novamente.

— Liam... – tentei tirá-lo de cima de mim. Novamente, sem sucesso.

Percebi que as coisas estavam ficando realmente sérias quando ele começou a subir a minha blusa.

— Liam! – ele não parava. – LIAM!

— Você é minha! MINHA! – ele tornava a repetir, subindo mais a minha blusa.

Comecei a me debater em desespero. Parece que ele ficou ainda mais animado.

— SOCORRO! – gritei o mais alto que consegui. – Socorro! Damon! Damon!

Eu realmente esperava que ele não estivesse com as vadias. Eu queria muito que ele me escutasse. Era o único que podia me salvar.

Liam tocou em meus seios por cima do sutiã e eu tentei usar minhas mãos para afastá-los novamente.

— DAMON! – gritei mais forte. – Damon! Socorro!

— Ele não vai te ouvir – Liam sussurrou em meu ouvido. – Ele não se importa com você. Só eu me importo.

Suas mãos desceram até o meu short e ele quase o abriu, se não fosse tirado de cima de mim primeiro.

— Você não percebeu, idiota?! – Damon gritou, jogando Liam no chão. – Ela não quer!

Levantei-me imediatamente da cama abaixando minha blusa. Eu não tinha nem percebido que havia começado a chorar.

Liam levantou-se com raiva e gritou de volta:

— É claro que ela quer! Ela sempre me quis! Fui sempre eu na vida dela! Diz para esse babaca a verdade, Elena! Diz para ele!

— Liam, você está bêbado – falei com voz fraca.

Damon olhou para mim e viu como eu estava, frágil. Minhas mãos estavam cruzadas sobre o meu peito de forma protetora e lágrimas silenciosas caíam de meus olhos.

— Eu sempre te quis, Elena! Você tem que ser minha! – Liam tentou avançar novamente para cima de mim, mas foi impedido por Damon.

— Nunca mais ouse encostar suas mãos nela! – Damon exclamou, entredentes, segurando Liam pelo colarinho.

— Você não manda em mim! – meu amigo revidou.

— Mas mando nessa casa. E só entra aqui quem eu quero. A partir de hoje, você nunca mais botará seus pés aqui! – Damon determinou, jogando-o no chão.

— Elena me quer aqui! Não é, Elena? – ele perguntou desesperado.

— Vá embora, Liam. Por favor – pedi cansada.

Liam olhou para mim e nesse instante pude ver o meu amigo. Não aquele cara bêbado que tinha entrado no meu quarto.

— Saia daqui agora! – Damon ordenou, com raiva.

Com dificuldade, Liam levantou-se e saiu do meu quarto, cambaleando. Eu esperava que ele não se lembrasse do que acontecera aqui hoje.

Damon voltou-se para mim.

— Você está bem? – perguntou, acariciando o meu rosto.

— Me desculpe ter interrompido a sua noite – falei, afastando-me.

— Elena – ele segurou o meu braço com suavidade. – Eu não estava com ninguém agora. E mesmo que estivesse, você acha mesmo que te deixaria gritando por socorro? Acha que eu não faria nada?

Não consegui responder. Queria acreditar que ele zelava por mim. Queria acreditar que eu era importante para ele.

Mas como? Cada vez que ele ficava com raiva, uma parte de mim era levada com ele.

— Você pensa que eu te deixaria gritar sem fazer nada – Damon concluiu e senti um pouco de tristeza em sua voz.

Novamente, fiquei calada.

— Só saiba que eu nunca tive intenção de te magoar. Não foi algo pensado com essa intenção – ele falou e percebi que estava sendo sincero.

— Damon, por favor, eu quero ficar sozinha – pedi, sem olhar para ele. – Hoje foi um dia muito cheio. Não tenho sequer forças para discutir.

Ele apenas soltou um suspiro e concordou, saindo do quarto.

Joguei-me na cama, sentindo-me fraca, impotente. De todos os homens que conhecia, Liam era o último que eu achava que pudesse fazer o que ele fez hoje.

Obviamente, ele não estava em sua perfeita consciência. Esperava que eu conseguisse esquecer isso. Liam era importante para mim. Não queria ter que expulsá-lo da minha vida.

Passei uns dez minutos divagando sobre isso. E então fui surpreendida novamente por Damon.

— Ainda bem que ainda tinha isso – ele falou sacudindo o pote de Häggen-Dasz em sua mão. Também trazia consigo duas colheres. – Escolha um filme. Vamos assisti-lo agora.

— Damon, acho que não estou no clima...

— E é justamente por isso que vamos fazer isso. Foi um dia muito cheio, como você mesma disse. Nada melhor do que um bom filme para relaxar – ele falou, parecendo determinado.

Suspirei. Não conseguiria ganhar uma discussão com ele.

— Ok.

Liguei a televisão e a Netflix, procurando pelo filme que já tinha em mente.

— Pronto! – exclamei assim que o encontrei.

— Elena, quando disse para você escolher um filme, quis dizer realmente um filme, não um clássico da Disney – Damon resmungou, deitando-se na cama e abrindo o pote de sorvete.

Dei de ombros.

— A Bela e a Fera é e sempre será o meu filme preferido. E ele sempre me faz relaxar. Ver a Fera significa que tudo que parece ruim, vai com certeza melhorar.

Damon olhou para mim sem conseguir entender, mas deu-se por vencido. Afinal, a ideia de relaxarmos foi dele.

Apertei o play e me aninhei mais próximo a Damon com intuito de pegar melhor o sorvete. Bem, não só com esse intuito.

— Só você para me fazer assistir clássicos da Disney – ele murmurou quando começou o filme.

Sorri. Eu era a causa de tantas coisas novas na vida dele.

Com o tempo, fui sendo vencida pelo sono e não consegui terminar de ver o filme.

A última coisa que me lembro de é de ter sido abraçada por Damon e ter fechado meus olhos justamente nessa posição. Minha cabeça sob seu peito. E seus braços ao redor das minhas costas.

Éramos quase como um verdadeiro casal.