Paparazzi escrita por Kyra_Spring


Capítulo 9
Capítulo 8: Rise and Fall, Rage and Grace




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            Os dias passavam. E os pesadelos finalmente pareciam ter parado.

            Eu estava me tornando prximo de Axel, muito prximo. Alis, sem que nos dssemos conta, comeamos a andar todos juntos, ele, Namin, Xion e eu, alm do pessoal da Scherzo. Larxene era meio venenosa em relao a ns mas, nas palavras do prprio Zexion, ignore-a, geralmente ela cala a boca quando v que ningum est prestando ateno.

            Eu podia ver que a excitao deles crescia. O festival Stairway to Heaven se aproximava. Eles no me contavam nada, e sempre que eu perguntava algo, diziam em tom solene que tudo relacionado ao show era surpresa. Bem, para mim, parecia mais que eles no tinham nada planejado, ainda, mas eu apenas dava corda.

            E eu descobri outra coisa. Realmente, Sea Salt Ice Cream viciante.

            As crises de enxaqueca, os acessos de pnico, tudo isso havia parado. Eu estava tendo dias tranqilos e agradveis. E isso era to bom, to bom... Dormir em paz, sem medo, no ser assombrado por recordaes amaldioadas, poder enfim sonhar com uma vida normal... H quanto tempo eu no sentia isso? Minha vida, de repente, tornou-se simples. Ir para a escola, cuidar das tarefas do clube de fotografia (por sinal, minhas fotos para o concurso foram muito elogiadas pelo pessoal do clube... com isso eu tinha mais uma coisa para esperar ansioso, que era o resultado do concurso), sair de vez em quando... enfim, finalmente viver um pouco.

            E minhas fotos... Nossa, fazia muito tempo que eu no tirava tantas fotos. Se antes tudo era cinzento e aptico, de repente as coisas passaram a ser coloridas e interessantes. Eu tinha lbuns inteiros, de pessoas, lugares, objetos, situaes. Cada uma vista de uma forma, cada uma trabalhada sob um aspecto ou ngulo diferente. J me permitia voltar a pensar no futuro. Inclusive, consegui convencer a minha me a pagar um curso de fotografia e edio para mim, e j estava procurando escolas pela cidade.

            Parecia ser at bom demais para ser verdade. Eu pensava nisso, s vezes. E tinha medo.

            Mas o meu maior medo ainda era o de todos descobrirem sobre mim. Se as pessoas soubessem o motivo pelo qual eu estava l, ou por que me mudava uma vez por ano, ou porque me esforava tanto em fingir que tinha uma vida normal, mas que sempre tentava se manter o mais longe possvel de todo mundo, nunca mais me olhariam da mesma forma. Era a primeira vez em anos que eu podia dizer que estava gostando de como as coisas estavam. Eu tinha amigos, eu participava de um clube, enfim... estava tendo uma vida realmente normal pela primeira vez.

            Mas algo me dizia que, em breve, isso seria tirado de mim tambm.

            E havia mais uma coisa que estava me deixando preocupado. Ultimamente, a hostilidade entre Uehara e Axel estava crescendo muito, e eu tinha medo de como isso podia terminar. Uehara tinha uma espcie de gangue dentro da escola, que estava se tornando mais violenta com o passar do tempo. Namin me contou que desde que ela entrou na escola, as coisas j eram dessa forma, e que ela tambm tinha medo de algo terminar mal.

- No seja idiota, Axel, voc sabe a fama dele conversvamos justamente sobre isso num dia desses, enquanto almovamos no telhado. Zexion tentava colocar juzo na cabea dele A fama do Uehara j o precede. E voc sabe que aquele cretino no joga limpo. Ele pode mandar o grupo de gorilas dele te pegar, e a s Deus sabe o que pode acontecer.

- Eu sei disso, Zex ele deu de ombros Mas no vou aceitar que ele continue agindo como se fosse o dono da escola. Ele intimida pessoas, faz ameaas... isso no certo.

- Isso no quer dizer que voc deva bancar o defensor da justia, cara observou Demyx Essas coisas nunca terminam bem. Srio, melhor voc tomar cuidado.

- Defensor da justia? Eu? ento ele deu uma risada alta Nah, no tenho essa pretenso. S odeio gente idiota e arrogante como ele. Ele pode se sentir o todo-poderoso s porque tem um bando de retardados puxando o saco dele, mas aqui dentro ele s mais um estudantezinho de merda que tem que aprender o seu lugar, got it memorized?

- Voc est falando quase igual a ele... sibilou Larxene Enfim, tome cuidado mesmo assim.

- Quem diria, a Dama de Ferro se preocupando comigo? o tom de voz dele era cido. Larxene no disse nada, e apenas respondeu com um soco no brao dele.

- Vamos dar um jeito de ir embora juntos sugeriu Marluxia Pelo menos na sada da escola, eles no tero tanta coragem de tentar te fazer alguma coisa se estivermos em grupo.

- Alm do mais, eles no se arriscaro a bater em garotas concordou Zexion Desculpem se isso soar rude, meninas, mas vocs so o nosso melhor escudo. Uehara pode ser um babaca de primeira linha, mas nem ele vai correr o risco de acertar uma garota.

- OK, OK, eu entendi disse Axel, por fim Podem parar de tentar bancar os guardies para cima de mim. Eu no vou fazer nada estpido, prometo. Mas conheo aquele cachorro o suficiente para saber que, se ele realmente quiser acertar as contas comigo, ele vai arrumar uma forma.

            Eu no dizia nada. Uehara me deixava suficientemente apavorado por mim mesmo.

            Mesmo assim, seguamos nossas vidas. Naqueles dias, a escola estava mobilizada porque o pessoal do time de futebol havia conseguido uma vaga no campeonato estadual. Nenhum de ns fazia parte de nenhum clube de esportes, mas isso meio que desviava a ateno de ns, o que era bom. Alm do mais, era excelente ter uma desculpa para faltar s aulas.

            Foi num dia desses que Axel me convidou para assistir um ensaio da Scherzo. O estdio era a garagem da casa dele. Quando eu cheguei l, todos j estavam l. Xion e Namin tambm haviam sido convidadas. Acho que eles finalmente haviam se acostumado a ter trs fs chatos pegando no p deles o tempo todo... Resolvi levar minha cmera, e tirei vrias fotos do ensaio.

            Era engraado. Quando eles ensaiavam, pareciam outras pessoas. Havia tanta seriedade, tanta concentrao no trabalho deles... claro, havia os momentos de risadas, os erros de acordes de Demyx que costumavam ser seguidos por uma baquetada na cabea dele, as sesses de improviso que, depois de alguns segundos, se tornavam apenas uma seqncia disforme e sem sentido de notas aleatrias... Mas dava para sentir o quanto eles se dedicavam quilo, e o quanto se esforavam para fazer um bom trabalho.

            E ali estava eu, assistindo aquilo. E, de certa forma, sendo parte daquilo tambm.

- Gente, eu tenho um comunicado a fazer disse Axel, num tom solene Depois de enrolar vocs por semanas e semanas, agora posso dizer que finalmente... a letra de Slip Out est pronta.

- Srio? os outros praticamente berraram. Demyx foi o porta-voz Onde ela est?

- Aqui ele puxou um papel do bolso, e estendeu a eles. Fiquei muito curioso. Eu sabia a histria de Slip Out, e sabia que ele estava tentando trabalhar naquela letra h muito tempo. O que ser que o inspirou assim to repentinamente a termin-la?

            O papel passou entre todos os membros da banda, e eles ficaram estudando-na por um bom tempo, at que por fim Xion protestou:

- Ah, qual ? A gente tambm quer ver!

- De jeito nenhum! replicou Axel uma surpresa.

- Cara, eu no sei nem o que dizer disse Demyx, por fim Ficou simples, mas ainda assim to sincera e cheia de sentimento... Srio, adorei.

- Ficou boa mesmo, nem parece que foi voc quem escreveu disse Zexion, debochando.

- S que no acho que essa msica combine com a voz da Larx disse Axel Acho que o Zex quem deve cant-la. Mas, enfim, isso depende de vocs.

- Tanto faz... respondeu Larxene, azeda Enfim, vou tomar um ar l fora. Volto logo.

            , pelo visto ela no gostou muito da sugesto.

- Isso no justo! tentei insistir Vocs vo mesmo nos deixar curiosos?

- Mas claro que sim! disse Marluxia, com um sorriso maldoso Se quiserem conhecer a msica, tero que esperar pelo Festival.

- Isso maldade... replicou Namin Acho que a Larxene no gostou muito de voc ter pedido para o Zexion cantar, Axel.

- Eu chamo isso de complexo de rockstar explicou o prprio Pessoalmente, acho que os dois deveriam dividir os vocais igualmente, mas ela se acha a lder e a estrela... e eu no tenho mais pacincia para brigar com ela por isso.

- Bem, eu preciso ir embora eu disse, me desculpando Acabei deixando de fazer a lio de casa... pelo visto vai ser uma noite longa.

- Grande Roxas, est aprendendo rpido! Axel riu Procrastinao a santa padroeira dos estudantes!

- Pelo amor de Deus, Roxas, aceite o meu conselho Zexion ps a mo no rosto Adote qualquer modelo de comportamento escolar que voc quiser, menos o Axel. srio.

- Voc parte meu corao dizendo isso! o outro se fingiu de ofendido.

            Essa foi a deixa para eu sair. Havia sido um dia divertido, mas agora eu realmente precisava chegar em casa. A perspectiva de passar a noite respondendo um questionrio de trs pginas sobre formas de relevo e clima realmente no era muito agradvel... Enfim, eu havia deixado para a ltima hora, ento a culpa era minha mesmo.

            Foi nessa hora que eu percebi que estava sendo seguido.

            De repente, o pnico ameaou tomar conta de mim e me paralisar. De repente, tive um vislumbre do passado, em cores terrivelmente vivas. Todas aquelas lembranas que eu havia conseguido reprimir por aqueles dias agora voltavam numa torrente. Eu quase podia ouvir aquela voz outra vez...

            No. No dessa vez.

            No parei de andar. Em vez disso, comecei a acelerar o passo aos poucos. E, quando dei por mim, estava correndo. Naquela hora, eu s conseguia pensar em correr para casa e tentar manter a clareza de pensamento. Mas aquela onda de pnico continuava ali, prxima, ameaando me prender, e isso era uma coisa que eu no podia permitir. Porque foi isso que... foi isso que aconteceu da ltima vez...

- Ora, ora, ora, se no Roxy-chan aqui! ento, senti algum me segurando pelo brao, fazendo com que eu me virasse. Reconheci aquele cara. Uehara, claro. Aquela voz era inconfundvel.

            Saber quem era no diminuiu meu medo. Pelo contrrio, s o tornou mais forte.

- O-o que v-voc quer? eu quase no ouvia a minha prpria voz. Ento, ele deu uma risada. S ento percebi que havia outros com ele.

- Pra que tanto medo, Roxy-chan? Eu s quero conversar, s isso.

- Acho que no temos nada para conversar recuei um passo. Eu s conseguia pensar em correr, em fugir. E o pior que eu sabia que a ltima coisa que ele queria era realmente conversar.

- Indo to cedo? um dos gorilas que o acompanhava me barrou No... voc vai ficar e deixar um recadinho para aquele seu amiguinho, o Axel. Voc vai dizer a ele para no se meter comigo outra vez, se no quiser se arrepender amargamente.

- Axel j disse que no vai mais provoc-lo pronto, agora minhas pernas no obedeciam mais. Eu percorria o lugar com os olhos, procurando uma rota de fuga, uma brecha, um milagre qualquer.

- Mas muito burro mesmo! um outro deu uma risada spera Todo medrosinho, todo cheio de dedos... at parece que vai quebrar se algum chegar mais perto.

            Ento eu entendi o que ele quis dizer.

            Eu iria passar o recado de qualquer jeito. Na verdade, eu [i]seria[/i] o recado.

            E ento, o primeiro soco veio.

            No sei qual deles me acertou. S me lembro do impacto no meu rosto, e um segundo depois eu estava no cho, vendo estrelas. Tentei me levantar, mas ento algum deles me chutou no estmago. Fiquei sem ar, sem ver mais nada. E ento outro chute, e outro, e outro... eu me lembro de ter me encolhido, e tentado proteger a cmera com os braos. Que ridculo, um bando de valentes me espancando e eu tentando proteger uma droga de cmera...

            E nem isso eu consegui proteger. Porque um deles a tomou de mim e jogou no cho com fora, depois comeou a pisar nela at transform-la em cacos.

            Eu sabia por que eles estavam me batendo. De alguma forma, eles deviam pensar que atingiriam Axel assim. Mas eu no diria nada a ele. Eu s precisava ficar em silncio e esperar aquilo terminar. Como da outra vez. Quem sabe, com um pouco de sorte, eu desmaiasse e parasse de sentir dor. E, quando acordasse, tudo fosse apenas outro sonho ruim, como os tantos outros que eu tive. Era apenas mais uma lio. Mais uma... lio...

- UEHARA, SEU MALDITO!!! eu reconheci aquela voz. Mas, naquele momento, queria que ele fosse embora. Ele no precisava passar pelo mesmo que eu. No precisava...

            Mas eu ouvi passos. Passos rpidos, ele estava correndo. E, um instante depois, um deles caa ao meu lado, com um esgar de dor.

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- Ei, esse no o celular do Roxas? Xion apontou para um celular que estava em cima de uma das mesinhas. Depois que Roxas saiu, eu e os outros comeamos a guardar os cabos e equipamentos, e foi ento que percebemos o aparelho esquecido ali.

- Ele s no esquece a cabea porque est grudada no pescoo Namin deu uma risada Eu posso levar para ele amanh, na aula.

- No, acho que vou levar para ele agora mesmo eu disse Ele no mora longe daqui...

            Eu no quis dizer para eles que, de repente, um pressentimento estranho me oprimiu. E tambm no sei explicar de onde veio aquele sentimento. S sabia que podia haver algo errado com ele, embora ficasse repetindo para mim mesmo que era apenas parania minha. Peguei o celular dele e me dirigi casa dele fazendo o caminho de sempre, com passos rpidos.

            Foi ento que esbarrei num carinha de cabelo castanho espetado. Eu no me lembrava do nome dele, mas sabia que ele estava na sala do Roxas. Ele parecia aflito, e me chamou:

- Voc amigo do Roxas, no ? ele disse Axel, no ?

- Sim, mas... o que houve? o pressentimento cresceu.

- O Uehara e o grupo dele acabaram de passar por aqui ele respondeu Eles pareciam estar seguindo o Roxas, eu no sei por que. Mas...

            Essa foi a ltima coisa que eu ouvi dele. Porque no segundo seguinte, estava correndo.

            O dio e o medo me cegaram completamente. Uehara no seria louco de fazer qualquer coisa contra Roxas porque, se fosse, iria pagar muito caro. A briga dele era comigo, no era? Ento, ele que fosse homem e resolvesse os problemas dele comigo. Se ele tivesse feito qualquer coisa a Roxas, qualquer coisa... eu mesmo o mataria.

            E ento, eu os vi. Quatro, contando com Uehara. E, cado no cho entre eles... Roxas.

            No sei colocar em palavras o que senti vendo aquela cena. Era uma raiva to grande, um dio to custico e cegante... eu sa de mim. Ningum tocaria num amigo meu e sairia ileso. E Roxas nunca havia dado motivo nenhum para aquilo. Isso tudo s me deixava mais louco.

            Dizem que, quando as pessoas esto em situaes de perigo, liberam uma quantidade de adrenalina que aumenta expressivamente sua fora fsica. por isso que, quando ocorrem tragdias, a gente ouve falar de histrias de pessoas que empurram escombros e carros para se salvar ou salvar outros que lhes sejam queridos. Naquela hora, eu queria que isso acontecesse comigo, assim seria mais fcil quebrar os ossos de todos eles.

- UEHARA, SEU MALDITO!!! aquela no era a minha voz, era um urro. Nem mesmo vi quando minha mo se fechou e voou na direo da cara do primeiro patife que apareceu na minha frente. S o vi cair depois. O outro caiu logo depois, tambm. Outro soco, dessa vez no estmago. Ento, deixei de dar ateno a eles. Roxas estava ali, cado, o rosto contorcido de dor.

- Droga... sussurrei Consegue se levantar?

- Acho que sim... a voz dele estava baixa Axel... No... no faa...

- T tudo bem, esse cara vai aprender uma lio aqui e agora respondi V para casa. Eu cuido das coisas agora, est bem?

- Ah, veio defender o namorado, Shimomura? ento, percebi que os dois tinham se levantado, e que agora me cercavam. Eu no os encarava. Na verdade, meus olhos estavam estticos, presos na imagem minha frente. Roxas estava um trapo, as roupas rasgadas, o rosto cheio de hematomas, a boca sangrando... e a cmera, ao lado dele, completamente destruda.

- Roxas, voc vai embora daqui eu disse No olhe para trs. Eles no vo segui-lo.

            Ele me encarou. Havia medo e censura no olhar dele. Mas, mesmo assim, ele acenou com a cabea, e saiu correndo na direo da casa dele. Eu me levantei tambm, os quatro me cercaram. Eu sabia o que vinha agora. Eu no era preo para eles, no sozinho pelo menos. Mas no iria fugir dessa vez. Que aquela fosse a maior surra da minha vida... eu faria questo de arrancar pelo menos uns dois dentes do Uehara, tambm.

            E comeou.

            Consegui acertar um, mas o outro defendeu meu golpe e revidou. Eu consegui esquivar, mas antes que pudesse me defender outra vez, um soco me atingiu com fora. Olhei de relance. Roxas estava um pouco nossa frente, observando, esttico e apavorado. E tudo o que eu consegui fazer foi gritar:

- SE MANDA DAQUI, ROXAS, SEU IDIOTA! AGORA!

            Ele me encarou por um segundo, antes de voltar a correr. timo. Ele no precisava ver isso.

            Porque, no instante seguinte, oito braos e oito pernas comeavam a me acertar. Eu focava meus golpes apenas em Uehara, porque queria faz-lo sentir tanta dor quanto ele provocou no meu amigo. Mas, em pouco tempo, no consegui enxergar mais nada. Meus olhos ardiam, eu sentia cheiro de ferrugem, estava ficando difcil enxergar. Pelo visto, estava com um corte na cabea, e o sangue escorria nos meus olhos.

            E doa tanto... tanto...

            Foi ento que senti um golpe muito forte nas minhas costas, que me jogou no cho. O que era aquilo...? Provavelmente, uma corrente. Eu sabia que eles no jogavam limpo. E, de certa forma, estava preparado para isso quando me atirei naquela luta. Consegui dar uma rasteira e derrubar dois deles. Eu s precisava de cinco segundos com Uehara. S cinco segundos.

            E eu consegui esses cinco segundos.

            Segurei-o pela gola, e comecei a soc-lo, uma, duas, trs vezes. Com toda a fora que eu tinha, e esperando deliberadamente que aquilo destrusse o rosto dele. Mas, logo depois, senti a corrente outra vez. E, dessa vez, no consegui me levantar. E depois, um chute direto nas minhas costelas. Cus, a dor estava me cegando.

            Mas eu no gritaria. O dio me impedia disso.

            Os chutes continuavam, e eu me encolhia, tentando proteger o rosto. Em pouco tempo, j no conseguia me mover. Estava completamente paralisado, e podia ouvir as risadas deles. Ento, ouvi a voz do desgraado do Uehara, dizendo:

- Se voc pedir com jeitinho, podemos parar de te bater, Axel-chan.

            Eu mostrei o meu jeitinho a eles. Erguendo o brao e mostrando o dedo do meio a eles.

            Com isso, ganhei mais um chute nas costelas e outro na cara. Minha conscincia j estava falhando. Acho que eles acertaram a minha cabea tantas vezes que parecia ser um milagre eu ainda no ter desmaiado. E, de qualquer forma, aquela no parecia mais apenas uma punio educativa, como ele gostava de dizer. No, ele queria me arrebentar completamente, mesmo.

            O estranho que, por causa de Roxas, eu estava disposto a jogar pelas mesmas regras.

            Mas agora havia quatro contra um. E eu sabia que no conseguiria me levantar.

            Eles iriam mesmo to longe assim por causa de uma escaramua de colgio?

- Por que voc envolveu o Roxas nisso? perguntei, minha voz saindo mais fraca do que eu gostaria Ele no tem nada a ver com essa histria. Seu problema comigo, no com ele.

- Aquele viadinho com cara de doente? Voc ridculo mesmo! uma risada, e outro chute Eu sabia que atingir qualquer um daqueles babacas que andam com voc iria te fazer correr direto at mim. E ele o mais fraco deles. Sem falar que aquele olhar de pnico foi muito divertido...

            Palavras erradas, idiota. melhor voc ter preparado o seu testamento.

            Tentei me levantar e ensinar a ele uma lio, mas no consegui. Meu corpo inteiro gritava de dor, como se cada msculo tivesse sido transformado em pasta. Nessa hora, me senti a criatura mais miservel da face da terra. Ento era isso? Eu iria deix-lo dizer aquelas coisas sem fazer nada? Tentei outra vez, e outra vez no consegui. E as risadas deles, as risadas... elas me tiravam do srio.

            Por favor, me acertem mais uma vez. S mais uma. Quem sabe assim eu desmaie e pare de ouvir essas risadas. Era o que eu pensava, nessa hora. Estava me sentindo to miservel, to intil... E isso, de certa forma, doa mais do que os hematomas e machucados.

            Ento, eu ouvi passos na nossa direo. E, quando olhei para o lado, vi quatro pares de pernas vindo na nossa direo. No segundo seguinte, ouvi o barulho de uma pessoa caindo, e de outra recuando cambaleante. A essa hora, minha conscincia j estava meio oscilante, mas eu sei que ouvi uma voz que dizia:

- A conversa agora conosco, imbecil. E voc vai ver uma coisa.

            E a ltima coisa que me lembro foi de saber que aquela era a voz de Zexion, antes de desmaiar.

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            Nunca pensei que poderia ficar to apavorado quanto naquele momento.

            Quando vi Axel sendo acertado, quase entrei em choque. Mas a voz dele me dizendo para correr me fez retomar o controle. E eu comecei a correr sem destino, apenas querendo ficar o mais longe possvel dali. Mas, ento, no meio do caminho, percebi o quanto aquilo era covarde. Droga, Axel estava l, no estava? E estava brigando, por mim.

            No. Eu precisava fazer alguma coisa. Mesmo que fosse apenas pedir ajuda.

            Procurei meu celular para tentar ligar para algum, mas no o encontrei. Droga, ou eu o havia perdido ou eles o haviam quebrado. Ento, resolvi voltar correndo para a casa do Axel, por outro caminho. No fao idia de quanto tempo levei, pareceu uma eternidade. Mas, quando cheguei, Demyx, que estava em frente ao porto da casa dele, me encarou surpreso e perguntou:

- Roxas? O Axel foi atrs de voc pra levar seu celular, e... o que diabos aconteceu com voc?

- Axel t com problemas eu consegui dizer, quase sem flego O Uehara e outros trs caras me encontraram, e comearam a me bater. Ele foi at l e... e...

- Filhos da puta sibilou ele, irado Acalme-se, Roxas. Os outros esto l na garagem. Vamos falar com eles agora mesmo.

            Fomos at a garagem. Zexion e Marluxia perguntaram o que havia acontecido comigo, e eu expliquei rapidamente. Os dois se levantaram, olhos estreitos, uma expresso raivosa. Eu no conseguia imaginar nenhum dos trs numa briga, principalmente contra aqueles brutamontes, mas eles no pareciam se importar muito com isso.

- A gente vai at l disse Marluxia E vai ensinar uma coisa pra esses canalhas. Meninas, vocs ficam aqui e cuidam do Roxas.

- De jeito nenhum! protestou Xion Eu vou com vocs!

- E vai fazer o qu? Brigar com eles tambm? cortou Zexion Vamos apenas tirar o Axel daquela confuso e voltar, e tentar no comprar briga nenhuma no meio do caminho. No queremos mais ningum se machucando hoje.

- No quero nem saber! ela sibilou, irada Eu vou, e est decidido.

            Encarei-a, surpreso. Nunca soube desse lado dela.

- Eu vou tambm eu disse, por fim. Os outros at ensaiaram um protesto, mas eu os cortei rpido, dizendo No vou ficar no caminho de vocs, s quero mostrar onde .

            Isso no era verdade. Eu precisava ir. Precisava ter a certeza de que Axel estaria bem.

            Ento, ns cinco fomos. E, quando chegamos de volta ao lugar, vi Axel no cho, e ouvi as risadas deles. No sei ao certo o que senti nessa hora, se era raiva, se era medo, se era dor... Ouvi Xion sussurrando para mim:

- Roxas, voc j t machucado demais. Fique aqui e proteja-se, a gente cuida deles.

            E, no segundo seguinte, ela, Zexion, Demyx e Marluxia partiam para cima deles. Fiquei surpreso em v-la brigar. Ela no se parecia nem um pouco com a garota delicada e risonha de sempre: pelo contrrio, distribua socos e pontaps quase como um dos rapazes. Ento, percebi que Marluxia voltava, trazendo Axel nos braos e colocando-o no cho, na minha frente.

            No tenho certeza, mas acho que comecei a chorar nessa hora.

            Ele estava desacordado, o rosto coberto de sangue e hematomas. As roupas estavam rasgadas e tambm sujas de sangue. Eu estava com tanto medo, com tanto medo... e tudo o que eu conseguia fazer era ficar ali, esttico, observando-o e implorando para que ele ficasse bem. Pessoas morriam nesse tipo de briga, disso eu sabia. E estava completamente apavorado por isso.

            Percebi, ento, que uma viatura passava por ns. Olhei ao longe. Parecia que Uehara e sua gangue tentaram fugir, mas os outros os seguraram. Pelo visto, todos teriam que ir para a delegacia dar explicaes. Ento, vi que um policial se aproximou de mim e perguntou:

- Voc est bem, garoto? E o seu amigo?

- Eu no sei quase no podia ouvir a minha prpria voz No sei...

            Ento, ele falou algo no rdio, e minutos depois uma ambulncia chegava. Axel foi imobilizado e colocado dentro dela, e eu fui junto. O trajeto at o hospital parecia to terrivelmente longo... e eu me sentia to cansado... to cansado...

            ...to cansado que, sem querer, acabei adormecendo sentado na ambulncia.


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