Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 40
Ana – Isso é algum tipo de brincadeira?




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E no meio da tarde o telefone tocou, Ana olhou displicente para tela. Sílvia. Por isso pensou alguns segundos antes de atender.

— Eu não consegui falar com você ou Raquel, há um tempão! – a amiga reclamou de maneira acusadora.

— Desculpe, Sílvia, mas eu não estava muito a fim de falar nesses últimos dias.

— Algo grave? – Silvia ficou preocupada.

— Sem querer, descobri toda a verdade sobre Marcelo – respondeu com a voz monótona.

— Ele é casado? – Sílvia perguntou, segurando a respiração.

— Ainda não, mas quase. Ele é noivo. Casará em breve.

— Mas, ainda não casou – Sílvia retrucou com uma praticidade pouco habitual a ela.

— É mais complicado ainda. Os dois são de famílias ricas e importante, será um casamento e tanto. O casamento do ano, segundo Raquel.

— Raquel já sabe? – Silvia indagou, sem disfarçar o ressentimento.

— Estava comigo quando eu descobri.

— E como você está?

— Sinto-me horrivelmente estúpida por ser tão idiota – Ana falou cheia de rancor.

— Vai melhorar... Eu acho.

— Você deve saber o que é isso, não é, Sílvia?

— Sim, eu sei muito bem como você se sente agora, Ana. E acho que escolhemos muito mal os homens que amamos.

No final do dia, ao sair do escritório, Ana achou que daria tempo de passar em casa para tomar um banho e mudar de roupa, para tal estranha reunião com o misterioso cliente na hora do jantar. Ficou imaginando qual seria esse assunto tão segredo, considerando um monte de possibilidade diferentes desde uma mera traição conjugal até uma trama internacional ou, quem sabe, algum tipo de maluco com mania de perseguição, achando que houvesse alguém atrás dele, mas em breve, saberia. Querendo passar um ar bem profissional, escolheu para usar no tal jantar, um conjunto de casaquinho e saia reta pretos e blusa branca, sapatos de salto médio pretos e prendeu o cabelo, pouca maquiagem, deu-lhe um jeito sério e competente. Saiu de casa com uma boa antecedência, não queria deixar o misterioso cliente esperando, deu o endereço ao motorista e, à medida que o carro avançava, ela achou aquele caminho bem familiar, até parar em frente a um restaurante italiano, que reconheceu imediatamente, pois já havia estado ali antes. Era o mesmo restaurante italiano que Marcelo a levou na primeira vez que saíram. Ela entrou, desconfiada, e olhou em volta, procurando alguém sozinho, quando o mesmo garçom veio ao seu encontro

— Boa noite. Eu estou procurando por uma pessoa... - Começou a falar, mas o homem a interrompeu com deu um sorriso afável.

— Sim, senhorita. O cavalheiro já chegou e está a aguardando.  Por aqui, por favor – respondeu, solicito, indicando o caminho e ela o seguiu, até o fundo do restaurante, em uma mesa meio escondida, onde um homem estava sentado de costa.

Ana o reconheceu no instante que o viu, então, teve vontade de dar meia volta e ir embora, mas, com a desculpa de manter o tom profissional do encontro, foi em frente, queria ver até onde isso iria.

— Boa noite, Marcelo -  cumprimentou com frieza e a expressão dura. Ele levantou-se para cumprimentá-la, que estendeu a mão para um aperto educado.

— Boa noite, Ana. Como vai? - Marcelo apertou a mão, que ela lhe oferecia, e falou em tom amável

Por que o coração dela disparava sempre que estava perto dele? Ana pensou, naquele momento, mesmo querendo passar indiferença.

— Bem, obrigada. Isso é algum tipo de brincadeira? -  perguntou, tentando manter a voz calma.

— Não, Ana. É um assunto bastante sério. Eu preciso dos seus serviços profissionais. Por favor, vamos nos sentar e me escute – pediu, já lhe oferecendo uma cadeira.

— Então, Marcelo, como podemos ajudá-lo? - Ana começou em tom formal.

— Ana, você se lembra, quando eu falava das reuniões para negociações de um grande empreendimento? - Marcelo prosseguiu no mesmo tom.

— Como eu poderia esquecer. – Ana se lembrou das infinitas desculpas dele, quando estavam juntos.

— Bem, eram para o planejamento da construção de um resort. Um grande empreendimento em uma praia quase selvagem - Marcelo explicou.

— Já ouvi falar - Ana lembrava-se da reportagem que assistira, há algum tempo atrás.

— Nosso grupo descobriu o lugar, queríamos abrir um novo hotel em uma localidade remota, aproveitando a natureza inexplorada. Fui até lá, algumas vezes, um lugar lindo, com praias de areias brancas, água quente e uma mata exuberante, perfeito para o que planejávamos.

Ana não conseguiu evitar de pensar, na vez, que ele apareceu bronzeado em sua casa, estava maravilhoso, mas, espantou esta imagem da cabeça.

— Sim. Parabéns pelo empreendimento! Mas como entramos nisso?

— Vou explicar. No começo, era para ser um hotel de médio porte, mas, confortável e integrado ao meio-ambiente, para poucos hóspedes exclusivos. Mas, o empreendimento começou a crescer, ganhar vulto. Os sócios perceberam o potencial da região, querem transformá-la, em um novo polo turístico. Agora, o empreendimento está gigantesco e todo o lugar será descaracterizado, até querem transformar o manguezal em um campo de golfe, que possa sediar competições internacionais. Isso seria terrível, para região e para as pessoas que vivem lá. Por isso, eu queria a sua ajuda.

— Por que você mesmo não ajuda? Denuncie o fato para a mídia – ela o instigou.

— Eu não posso. O grupo da minha família é tem uma grande participação acionária nesse empreendimento, pode haver grandes problemas, você sabe, contratos.

— Seu pai concorda com o que você está fazendo, Marcelo? Isso não prejudicará a empresa da sua família?

— Ele não sabe e não poderá saber, se o nome da minha família ou, mesmo, o meu nome for envolvido, em qualquer tipo de denúncia, nossos sócios poderão considerar quebra de contrato, isso poderia levar a vários processos e multas altíssimas. E se conseguirmos impedir, antes das obras começarem, as perdas financeiras serão mínimas - explicou.

— E como eu poderia ajudar? Somos um escritório pequeno, sem experiência nesse tipo de caso.  Estes grupos estão cercados de advogados bem pagos e cheios de recursos.

— Eu sei, mas confio em você. Você é a única pessoa, que eu poderia contar isso, evitando que meu nome e da minha família aparecessem nessa história.

— Não fica preocupado? Eu poderia querer me vingar de você? - Ana falou de um jeito sarcástico

— Não, isso não é da sua natureza. Você não faria este tipo de coisa - Marcelo replicou, tinha certeza que Ana nunca faria um jogo tão sujo.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Infelizmente, ficamos pouco tempo juntos, menos que eu queria, mas a conheci bem - Ele falou de um jeito triste.

— Marcelo, não faça esse joguinho! – Ana se irritou, depois de todas aquelas mentiras e como ela havia sofrido por causa dele.

— Não é joguinho, é verdade, Ana – Marcelo afirmou, encarando-a.

— E como vão os preparativos do seu casamento? – rebateu com um ar cínico, ele a encarou por um breve instante de silêncio e não respondeu.

 - Uma vez, você me falou que queria fazer algo importante, que fizesse a diferença para alguém, talvez, seja essa a sua oportunidade. Então você vai pegar o caso?

Não sei no que eu poderia ajudar, mas posso dar uma olhada na papelada. Você poderia consegui-las para mim? - Ana sustentou o olhar, mas estava com medo, parecia um desafio grande demais para ela e para o escritório em que trabalhava, nem saberia por onde começar.

—  Claro. Podemos nos encontrar no meu apartamento. Seria mais discreto - Marcelo sugeriu de forma casual.

— No seu apartamento? Não há risco de encontrar sua noiva por lá? – quis saber, em um tom sarcástico.

— Não há nenhum risco, só eu uso aquele apartamento, poderemos ficar mais à vontade. Prometo que será estritamente profissional, só me dê alguns dias para reunir os documentos necessários. Veja-os e analise, antes de recusar a minha proposta.

 Ana refletiu por algum tempo, apesar de estar preocupada com a proximidade com Marcelo, considerou que, talvez, aquela fosse chance que precisava para mudar o rumo da sua vida, fazer algo que ajudasse alguém. Pelo que ele contou, poderia ajudar a salvar todo um ecossistema e a comunidade que vivia ali. Então, pelo menos, poderia dar uma olhada nos papéis.

— Está bem. Mande-me uma mensagem quando estiver pronto, com o seu endereço e eu encontrarei você lá, na hora marcada – respondeu, decidida.

— Ótimo! Agora, nós podemos jantar - Marcelo mudou de tom, parecendo mais relaxado.

— Jantar?

— Sim, estou com fome.

—Você não mudou muito, sempre com fome.

Depois da tensão do primeiro momento do encontro, Ana sentia-se um pouco mais relaxada na presença dele, que como sempre, foi encantador, por isso, deve que juntar todas as suas forças, para não se deixar levar pelo todo seu charme e não sofrer nenhuma recaída. Pretendia sair de perto dele, o mais rápido possível. Assim, logo após o jantar, ela pretendia pegar um táxi, mas ele insistiu em levá-la para casa.

— É só uma relação de trabalho, eu juro! - Marcelo tentou convencê-la, Ana sabia que, racionalmente, seria melhor não aceitar a carona nem aquela proposta de trabalho, porque estar do lado dele só a faria sofrer mais.

— Está bem, eu aceito a carona - Ana acabou cedendo, dando a desculpa para si mesma que já era muito tarde, mas, no fundo, estava sendo masoquista, porque, apesar de ser bem doloroso para ela, queria aproveitar um pouquinho mais da companhia dele.

Eles quase não se falaram muito durante o trajeto, a não ser, sobre o trabalho que ele queria que ela fizesse, informando-a como era lugar e as pessoas que moravam lá e as mudanças que ocorreriam na região. Ana queria parecer o mais impessoal possível, apesar de sentir o cheiro dele que impregnava o carro. Pegava-se olhando furtivamente para suas mãos segurando o volante, os seus punhos que surgia das mangas da camisa mostrando seus tendões tensos, com rápido flashes delas passeando pelo seu corpo. Felizmente para Ana, despediram se na frente do prédio dela, com um formal aperto de mãos. Droga! Logo agora que a vida parecia entrar no eixo, ele reaparece! Ana pensou, sentindo a mão fria e a boca seca, aquilo não era justo com ela, mas estava disposta a encarar a situação, somente pelo lado profissional.


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