Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 3
Sílvia – Essa festa




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Esperando a chegada da amiga, ainda em dúvida se deveria ou não ir, Sílvia se olhou no espelho, estava tão desanimada, não queria ir essa fatídica festa, preferia muito mais ficar em casa, ter uma noite tranquila, assistindo televisão e dormindo cedo, mas, Raquel insistiu muito para que fosse e, ainda, queria que comprasse uma roupa nova, mas isso ela não fez. Não estava disposta a sair para fazer compras e, nem tão pouco, gastar o seu tão suado dinheirinho com uma roupa que nunca mais iria usar. Desse modo, colocou um vestido bonitinho, que comprou para o aniversário de Pedro, último que comemoraram juntos, há alguns meses atrás e que ela usou só uma ou duas vezes. Era um vestido azul-marinho tipo tubinho, um pouco sério demais para a ocasião, mas serviria já que não queria impressionar ninguém ali, e, para completar, calçou seus sapatos pretos de sempre. A cor fechada do vestido e os cabelos castanhos escuros lisos, que emolduravam seu rosto de boneca de porcelana, acentuava mais ainda a sua pele pálida e translúcida, que não melhorou muito com maquiagem leve que usou. E antes da hora marcada, já estava pronta, visto que em pouco tempo, Raquel passaria de táxi para pegá-la, então, apanhou sua bolsa, beijou sua mãe, prometendo que não chegaria muito tarde, depois desceu para portaria, onde esperaria pela amiga.

Enquanto aguardava, pensou que aquela seria a primeira festa que iria sem Pedro desde... ela não se lembrava da sua vida antes dele, já que se conheciam desde criança. Pedro era amigo do seu irmão Rafael, todos estudavam na mesma escola, e ele sempre frequentou a casa da família. Rafael vivia implicando com os dois, dizendo eles eram namorados. E na adolescência, começaram mesmo a namorar, ela tinha treze e ele, quinze.

Daí para frente, estavam sempre estavam juntos, nas férias, nas festas, nas viagens, tornaram-se quase uma única pessoa, eram Sílvia-e-Pedro, nunca se pensava em um sem o outro. Então, Pedro terminou o ensino médio e cursou faculdade de engenharia, formou-se e conseguiu uma bolsa de pós-graduação, na França. Já Sílvia cursou a faculdade de Geografia e, agora, dava aulas em diferentes colégios pela cidade em uma rotina atribulada e corrida, pois tinha como meta pagar o financiamento do apartamento, que comprou em construção, assim que se formou, além de guardar dinheiro para a festa do seu casamento. Como Pedro estudava fora, mal tinha dinheiro para se sustentar com a bolsa que recebia, por isso Sílvia arcava com as despesas do apartamento e do casamento, sozinha. Seu plano era casar logo depois que Pedro voltasse da França.

Naquele momento, o táxi com Raquel chegou e parou na frente ao seu prédio.

— Raquel, você está deslumbrante! – Assim que entrou no carro, Sílvia elogiou a amiga, que como sempre estava linda e bem produzida.

— E você está como sempre, Sílvia - Raquel falou, decepcionada, pois a amiga nunca se importava com sua aparência, como sempre se deixando para o segundo plano em tudo.

— Você sabe que eu não ligo para isso. Além do mais, não quero impressionar ninguém nessa festa e nem tenho dinheiro para roupas novas – Silvia argumentou, entendendo olhar de desaprovação de Raquel, que revirou os olhos, cansada das lamúrias da amiga.

— Mas, você deveria pensar em gastar um pouco de tempo e dinheiro com você mesma, Silvia. Afinal, só se vive uma vez – replicou. - Você trabalha tanto, mas só pensa no seu sonhado casamento, vivendo essa fantasia do amor eterno e das almas gêmeas.

— Eu não sou como você que gosta de glamour e coisas refinadas, Raquel. Só uma pessoa simples e pacata. Além disso, não quero gastar dinheiro com roupas, que só posso usar uma única vez. Você sabe, que eu não tenho sua vida social intensa – rebateu.

— Quer dizer que você não tem vida social nenhuma. Mas, você é quem sabe – Raquel desistiu, dando de ombros - Vou mandar uma mensagem para Ana, para avisar, que estamos chegando - disse, mudando de assunto.

Sílvia observou Raquel, de soslaio, como era linda, alta e elegante, sempre se sentia como uma criança perto dela, não só pela diferença de altura, já que ela era quase 20 cm mais baixa do que a amiga, mas, também, pelo modo que se vestia, sempre com roupa bonitas e de marcas caras. Seria uma pontinha de inveja? Considerou, mas sacudiu a cabeça para afastar essa ideia.

Por fim, as três amigas chegaram diante de um prédio de luxo, em um bairro elegante e subiram para a cobertura, um magnífico apartamento com enormes janelas envidraçadas, que mostravam as luzes da cidade lá embaixo. Sílvia nunca estivera em um lugar como esse antes, sentiu-se deslocada, fora do seu mundinho habitual onde estava segura, não só pelo ambiente refinado, mas também pelas pessoas a sua volta. Eram modelos muito altas e magérrimas, homens bonitos e presunçosos com ar de senhores do mundo. Reconheceu algumas dessas pessoas como um político conhecido, um ator famoso, uma modelo internacional, já os viram antes, em fotos de revistas ou na televisão.

Enquanto, observavam o lugar, como se esperassem alguma espécie de sinal, o dono da festa se aproximou, cumprimentou Raquel com entusiasmo exagerado, em seguida, falou algo sobre um bar, que Sílvia não prestou muita atenção, e se afastou. Logo em seguida, um homem bonito e elegante arrastou Raquel para longe delas. Assim, ela e Ana ficaram no meio da sala, meio perdidas, sem conhecerem ninguém nem sabiam o que fazer. Sílvia já estava arrependida de ter ido àquela festa, ainda não entendia, porque Raquel tinha insistido tanto para elas lhe fizessem companhia. Contudo, Raquel podia ser muito persistente quando queria alguma coisa, insistia até conseguir.

— Vamos sentar ali? – Felizmente, Ana propôs, apontando para um sofá escondido em um canto, Sílvia ficou feliz de sair do meio da sala e do campo de visão. As duas ficaram observando a festa acontecer, cercadas por uma fauna estranha, tal qual estivessem em um safari em que não eram notadas, como fossem invisíveis. Muitas vezes, era assim que Sílvia se sentia na sua vida, como se não existisse, só Pedro a fazia se sentir viva e importante.

— Como está Pedro? Ele está se dando bem por lá? - Ana quis saber, puxando assunto, depois que perdeu o interesse, no que ocorria a sua volta, então, começaram a conversar.

Nesse momento, ao recordar o noivo distante, Silvia sentiu um vazio imenso no peito, o coração apertado e as lágrimas encheram os seus olhos, experimentando uma intensa tristeza.

— Vou pegar uma bebida para a gente se animar! – Ana anunciou, levantando-se, rapidamente, e foi até o bar.

Silvia pressentiu que a amiga não sabia como agir diante de toda aquela sua emoção à flor da pele, que deixava as pessoas desconcertadas, querendo fugir para longe dela.

Portanto, Sílvia ficou sentada, sozinha, pensando no seu tão sonhado futuro. Que em menos de um ano, Pedro regressaria, o apartamento estaria pronto e eles poderiam casar e seriam felizes. Mesmo que para ela estar sendo muito duro, pois trabalhava tanto, para pagar o apartamento, e, ainda, guardar dinheiro para o casamento. Ela sabia, que seus pais, também, estavam guardando algum dinheiro para a festa do casamento, afinal, era a única filha. Eles começaram a economizar, no momento, em que perceberam que o namoro estava ficando sério. Após um certo tempo, solitária e perdida nos seus pensamentos, Ana voltou com as bebidas, parecendo meio atordoada.

— É forte! – Sílvia disse ao primeiro gole do conteúdo rosado, pois, não estava acostumada a beber.

Elas permaneceram um pouco mais a espera que Raquel retornasse, o que não aconteceu, até que ficar naquele lugar se tornou um verdadeiro tormento para Sílvia, visto que estava cansada e com sono, mal se aguentava de olhos abertos.

— Vou embora! – decretou, decidida a sair dali, de qualquer maneira – Estou cansada, com muito sono, acordei muito cedo para dar aulas.

— Vou com você. Vamos falar com Raquel - Ana concordou, também, entediada e cansada de ficar esquecida em um canto.

Procuraram por algum tempo, encontrarem Raquel, que conservava com um grupo, bastante animada, não querendo ir embora, tentando convencê-las a ficar mais um pouco. Porém, naquele momento, como por um milagre, aquela voz soou atrás dela, oferecendo-lhes uma carona.


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