Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 24
Sílvia - Como despertasse de um pesadelo




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Foi como despertasse de um pesadelo, no momento, em que Sílvia ouviu uma voz falar algo em francês, ao seu lado.

— O quê? – perguntou, sem pensar, atordoada e assustada, virando-se na direção da voz, onde uma jovem de cabelos curtos e pretos, olhos azuis bem marcados com muita maquiagem escura e piercing no nariz estava parada, encarando-a.

— Eu perguntei, se você está pensando em pular no Sena — repetiu a moça, na mesma língua pátria de Sílvia, com um sorriso encantador.

— Não – mentiu Sílvia, com hesitação.

— Que bom! Muita gente acha que esta é uma solução para os seus problemas, mas não é – A jovem continuou, de maneira calma e segura, Silvia não conseguia desviar o olhar daquela moça de aparência estranhas com várias tatuagens expostas nos braços. — Está muito tempo em Paris?

— Não, cheguei hoje.

— E por quanto tempo vai ficar? – A voz da garota era gentil e meiga, não combinando com aparência rebelde.

— Só por dois dias – revelou, voltando a realidade, agora.

— Ah, que pena, que você vai ficar tão pouco tempo! Então, aproveite um pouco a cidade, ela é tão bonita. Olhe ali! – E a jovem apontou para uma bela igreja do outro lado do rio – Notre Dame, a essa hora, deve estar quase vazia, vale a pena conhecê-la.

Neste instante, elas ouviram vozes gritando, ao longe:

— Sofia! Sofia!

— São meus amigos, tenho que ir agora, eles estão me esperando. Adeus! – a garota disse, enquanto acenava para outros jovens, que estavam mais distantes, depois se afastou, quase correndo na direção deles.

Sílvia olhou para a construção. Por que não? Pensou. Assim, atravessou a ponte e andou até lá. Na praça em frente da catedral, havia alguns poucos turistas remanescentes do dia tumultuado, reis e santos esculpidos em pedra lhe deram boas-vindas, quando entrou por uma das suas imensas portas. O interior da catedral, quase vazio, era majestoso, com suas maciças colunas e maravilhosos vitrais coloriam a luz que refletia no chão. Ela passeou, lentamente, pelos corredores, observando tudo ao seu redor e sentou-se em um dos pesados bancos de madeira escuro, envolvida pelo silêncio, às vezes, quebrado pelos sussurros de algum dos turistas derradeiros, em busca de uma boa foto, uma lembrança do momento. Pensou na sua câmera fotográfica, que ficou no hotel, desejando muito tê-la, agora. Mesmo naquele lugar envolto em uma atmosfera de paz, seu coração estava vazio, totalmente oco, como se tivessem arrancando até a última fibra, mas, permaneceu ali, até que avisaram que era hora de fechar.

Quando, saiu da igreja, ainda perdida, Sílvia andou no sentido contrário do que veio, então, percebeu que estava com muita fome, já que, não havia comido nada, há quase dois dias. Parou em um pequeno café, bem típico de Paris, instalou-se em uma pequena mesa na calçada, pediu um sanduíche e café, enquanto comia, observava o movimento da rua em frente, nesse momento, sentiu como uma espectadora invisível de um filme sem enredo, olhando aquelas pessoas passando apressadas, querendo chegar em algum lugar, o mais rápido possível, ficou imaginando onde elas iriam, porque tinham tanta afobação, ao mesmo tempo, que ao seu lado, um velho senhor, não tinha nenhuma pressa ao saborear uma interminável xícara de café. Não percebeu por quanto tempo ficou ali sentada, até decidir caminhar mais um pouco pelas ruas repletas de turistas, ouvindo vários idiomas tal qual uma moderna torre de Babel, admirando as construções a sua volta, ciente que apesar do rompimento com Pedro e o fim dos seus planos, o mundo continuava girando e a vida seguia adiante, indiferentes à sua dor.

A noite já havia se espalhado e as luzes brilhantes das lâmpadas davam um outro ar a cidade, exausta, Sílvia se sentou em um banco qualquer, fitando o nada, não percebeu um homem se aproximar, só notou a sua presença quando sentou-se ao seu lado, ela o fitou pelo canto dos olhos, desconfiada. O homem baixo, de meia-idade, nada atraente a encarou por algum tempo, como se criasse coragem, até que falou algo. Sílvia não sabia muito bem francês, mas entende o que ele queria, perguntou pelo preço. Era isso mesmo? Ele a confundindo com uma prostituta. Seu primeiro impulso foi bancar a ofendida, erguer-se e sair dali correndo, no entanto, não o fez, olhou para o homem, com uma expressão falsamente maliciosa.

— Cem euros – ela respondeu, com voz suave.

Ele assentiu com a cabeça e levantou-se, fazendo um gesto para que o seguisse. Caminharam até um hotel de boa aparência, ninguém falou nada quando cruzaram a recepção e entraram no elevador, o homem a admirava com um olhar de cobiça, nunca alguém a olhou daquele jeito, nem mesmo o seu noivo, e por mais estranho que pareça, estava gostando disso, de não ser ela mesma, era com vivesse a vida de outra pessoa.

O homem abriu a porta de um quarto padrão de hotel, convidou-a para entrar. Sobre a cama, uma mala aberta ainda não desfeita de um viajante que procura companhia em uma noite solitária longe de casa. Naquele instante, sem identidade, não era mais a mulher simplória abandonada pelo homem que amava, mas outro desejada paga para dar prazer, que tirou a roupa, sem constrangimento, diante de um completo estranho. Ele pareceu se encantar com o simples conjunto de lingerie de algodão, tal qual uma virgem. Ele tirou o resto das suas roupas, a abraçou e beijou, sua boca passeou no corpo dela até entrar nela, sem nenhum pudor, sem pedir licença, mas porque faria isso, já que para ele, ela era apenas uma mera prostituta, paga para ser desfrutada?

E foi o que ele fez, conseguiu seu prazer, enquanto Silvia correspondeu o seu papel como nunca imaginou, como se tudo aquilo estivesse acontecendo com outra pessoa e ela era apenas uma espectadora. E para seu espanto, até sentiu prazer, como não aconteceu antes. Assim, uma hora depois saiu daquele quarto com um cliente satisfeito, cem euros a mais e nenhum sentimento de culpa ou vergonha, voltou para o seu hotel e para a sua velha existência. Para ela, aquele ato foi uma espécie de vingança silenciosa contra o único homem que a havia conhecido na sua vida.

Na manhã seguinte, Silvia se sentiu melhor, comeu um croissant e tomou café com leite no hotel, e saiu para andar novamente. Desta vez, já tinha decidido seu caminho, primeiro iria ao museu d’Orsay e, a seguir, ao Louvre, pois sempre sonhou em conhecê-los.  No primeiro museu, parou por algum tempo para admirar as esculturas cheias de paixão e desvario de Camille Claudel, a amante do escultor Rodin, que enlouqueceu por amor. Ao ver aquelas figuras esculpidas em matéria bruta, Silvia compreendia toda a dor, que aquela mulher sentiu ao ser desprezada pelo homem que amava. No Louvre, vagou pelas imensas galerias, fugindo das multidões, apreciou os detalhes de algumas das belas obras preteridas e, por fim, andou de volta para o seu hotel. No dia seguinte, iria para casa e decidida a começar uma nova vida.

Durante a viagem de avião, Sílvia organizou suas ideias, repensou sua vida e as mudanças que faria, sabia que teria que explicar para os pais, amigos, colegas de trabalho, ou seja, a todo mundo, que tudo estava acabado entre ela e Pedro. Olhou para mão direita, a aliança ainda estava lá, tirou-a e jogou dentro da bolsa, sem cuidado. Acabou! Repetiu para si mesma as palavras de Pedro, com a certeza que teria que se acostumar com o fato de ver seus sonhos tecidos, por tanto tempo, se desfazerem, perdidos para sempre. Em compensação, agora, ela era uma mulher solteira e livre, para fazer o que quiser da sua vida.

Ao chegar em casa, já no começo da noite, abriu a porta e entrou, determinada, sua mãe se assustou, pois, não esperava que ela retornasse tão cedo da viagem.

— Sílvia! O que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa com você ou com Pedro?

— Sim, mamãe, aconteceu. Acabou! – respondeu, sem rodeios ou emoção na voz.

— Acabou? Como assim? Acabou o quê?

— Pedro e eu terminamos o noivado.

— Não acredito! Você está brincando? E o casamento? – A mãe estava em choque.

— Não estou brincando, não vai ter casamento nenhum, não comigo.  Ele me deixou por outra mulher, uma francesa — ela explicou, secamente.

Sua mãe ficou pálida, caiu sentada no sofá de boca aberta, sem emitir nenhuma palavra, no momento que seu pai chegava em casa, carregando sacolas de compras de supermercado, também, assustando-se com o retorno prematuro da filha.

— Sílvia! O que você está fazendo aqui? Você não devia estar na França com o Pedro? – indagou, aflito.

— Pai, acho melhor você se sentar – Silvia quis amenizar o choque, que viria. Foi o que ele fez largando as sacolas de compras, no chão.

— Pai, eu e Pedro terminamos – Silvia repetiu e a cada vez que ela falava, aquele fato se tornava mais real e concreto na sua cabeça.

— O quê? – Seu pai deu um grito, levantando-se em um pulo.

— Calma, pai! – Silvia ficou preocupada por ele, querendo passar tranquilidade nessa hora — Ele se apaixonou por outra – explicou, friamente.

— Cachorro! Moleque! – Xingou o pai, ensandecido – Eu nunca esperaria isso dele! – Seu pai sentia-se tão traído quanto Silvia, pois sempre confiou em Pedro, achando um bom rapaz de família, um futuro marido perfeito para sua única filha.


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