Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 22
Ana - como flutuar




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Mais uma vez, Ana despertou de madrugada com o suave barulho de movimentação no seu quarto, abriu os olhos pesados de sono com dificuldade e lá estava Marcelo se arrumando ao lado da cama, ainda no escuro, tentando ser o mais silencioso possível, ela se apoiou nos cotovelos.

—Você vai embora a esta hora, Marcelo? - questionou, surpresa.

— Desculpe-me, não queria acorda você, mas eu preciso ir -  respondeu, resignado, continuando a se arrumar.

— Marcelo, você não é casado? - Ana ficou preocupada, pois qual seria a razão de ele sempre sair no meio da noite, daquela maneira.

— Não! Não sou! Venha e feche a porta para mim, por favor.

— Eu não consigo entender porque você sempre faz isso, essa urgência de ir embora – Ana estava aborrecida, Marcelo segurou o rosto dela entre as mãos.

— Ana, você não imagina como eu queria ficar aqui contigo, para acordarmos e tomar café da manhã juntos, mas a minha vida está muito complicada, neste momento.

— Então deixe eu ajudar você, se abra comigo, Marcelo – Ana o instigou, olhando nos olhos deles, mas ele abaixou os olhos, encarando os pés descalços dela.

— Não quero arrastar você para isso, Ana.

— É algo ilegal? – quis saber, preocupada, pois o que poderia ser assim tão complicado para ele, Ana não tinha a menor ideia.

— Não, pelo contrário, tudo está sendo feito totalmente dentro da lei, apesar de não ser justo.

— Eu sei, pois ao contrário do que dizem, a justiça não é cega, ela só enxergar o que quer ver.

— Mas, não quero preocupá-la com meus problemas.

— No entanto, eu já estou preocupada, não sei o que pensar sobre tudo isso – ela deu um longo suspiro, certa que ele não contaria nada, por enquanto.

— Por favor, Ana, não se preocupe, você é o único lado bom da minha vida, nesse momento. Meu refúgio, por isso não quero envolvê-la nisso, mas tenho que ir agora – ele concluiu, sem dar espaço para discussão, Ana deu de ombros, conformada, e o seguiu até a porta.

— Já se decidiu sobre a viagem?  - perguntou, gentilmente, ainda a segurando nos seus braços – Eu gostaria muito que a resposta fosse sim.

— Sim, eu vou - Ana não sabia onde estava se metendo, entrando por um caminho desconhecido, porque estava se apaixonando. Ele sorriu vitorioso, antes de lhe beijar os lábios e partir.

Pela manhã, Ana chegou ao escritório onde trabalhava, meio distraída e excitada com a ideia de viajar com Marcelo, pensando que teria que arrumar uma mala, quando retornasse para casa, não sabia que tipo de roupa levar, já que, não tinha ideia para aonde iriam. Clara já estava em sua mesa, quando a viu entrar.

— Nossa, Ana! Você parece tão cansada. Eu já falei, que tem que dormir mais. Tome isso é para você – Clara recomendou, entregando-lhe uma pilha de pastas.

Assim, ela foi direto para sua mesa e começou a trabalhar, quando recebeu uma mensagem de texto no telefone celular:

“Tudo certo. Pego você às oito. Roupas para frio informais”.

Aquela mensagem a deixou ainda mais agitada, pensando onde iriam e no que levaria. Poderia comprar o que faltava na hora do almoço, também queria ligar para uma das amigas para contar a novidade, não poderia falar com a sua mãe que iria viajar com um homem que mal conhecia, ela teria um infarto. Contudo, no decorrer do dia, envolvida pelo trabalho, não conseguiu fazer nada do que planejara, nem teve tempo para falar com Silvia ou Raquel. Mas, conseguiu falar com sua mãe, dando uma desculpa por desaparecer durante todo o fim de semana, dizendo-lhe que iria a um curso em outra cidade.  Pelo menos, saiu um pouco mais cedo do trabalho e correu para casa, pensando, que desde que conheceu Marcelo, estava sempre correndo.

Em casa, pegou a bolsa de viagem e as roupas que escolhera, tomou um banho, colocou um jeans e uma camisa, pegou a jaqueta de couro marrom, uma das poucas coisas que comprara por impulso na sua vida e, exatamente, na hora marcada estava pronta, no entanto, Marcelo não chegou. Meia hora de atraso não era comum para ele. Uma hora de atraso, Ana começou a imaginar que ele não viria. Foi aí que seu telefone apitou, indicando a chegada de uma mensagem:

“Problemas no trabalho. Estou chegando”.

Logo a seguir, interfone tocou, ela atendeu.

— Já estou aqui, quer que suba para ajudar com a mala? – Marcelo perguntou, gentilmente.

— Não precisa, já estou descendo -  Ana respondeu, pois estava ansiosa demais, pretendia sair logo de casa, não queria perder nem mais um minuto perto dele e, afinal, a mala não está tão pesada assim.

Marcelo a estava esperando na portaria, ele pegou a mala da sua mão e colocou no porta-malas, abriu a porta do carona para ela entrar.

— Pensei que você tivesse desistindo – ela disse em tom de brincadeira.

— Nunca faria isso! Eu fiquei preso no trabalho mais tempo que pretendia – respondeu com ar sério. – Mas, o importante é que eu estou aqui agora.

— Sei! Negociações difíceis... - ela falou reticente sobre esse misterioso e desconhecido negócio, que tanto o ocupava, imaginando até mesmo em algo ilegal.

— Sim. Então, animada? - Mudou novamente de assunto, rapidamente.

— Estou, também, bastante curiosa. Para onde vamos? - Estava empolgada, por passar o fim de semana inteiro ao lado dele.

— Surpresa! – respondeu, com um sorriso maroto, como um garotinho com um segredo.

Enquanto, já estava escuro, quando saiam da cidade por uma estrada tortuosa, Ana cogitou que estavam indo para região serrana, havia um pouco de neblina e começava a ficar mais frio, apesar de tentar parecer calma e manter a mente aberta, ela estava tensa. Ao contrário dela, Marcelo parecia relaxado, feliz como uma criança indo viajar.

— Espero que você goste do lugar – ele começou animado. - Uns amigos vieram aqui, há algum tempo atrás e eles me recomendaram. Eu sempre quis vir, mas nunca tive a oportunidade.  Disseram que tem um restaurante ótimo, uma boa adega e é muito confortável - tagarelava, alegremente, tentando passar sua empolgação para ela.

Quando, o GPS avisou para virar à direita, entraram por uma estrada de terra bem escura e esburacada, iluminada apenas pelos faróis do carro. Ana lutava contra a sua ansiedade, pensava na loucura que fizera, viajar com um homem que mal conhecia, sem saber para onde iriam e sem avisar a ninguém, e se ele fosse algum tipo de psicopata, depois, sacudiu a cabeça querendo afastar aquele pensamento insano.

— Chegamos! - anunciou, animado, no momento em que os faróis do carro iluminaram um portão de madeira, que eles passaram até parar em frente de uma grande construção em madeira de estilo alpina.

Saíram do carro para a noite frio, com cheiro de mato e trilar de grilos e coaxar dos sapos. Ana respirou fundo sentindo o cheiro da noite, contemplou o céu explodindo de estrelas, enquanto Marcelo pegava as malas no carro. Apesar de estar bem frio lá fora, do lado, na recepção do hotel, o calor era aconchegante, que combinava com as paredes forradas de madeira e decoração, que remetia às montanhas europeias. Uma senhora simpática e sorridente veio recebê-los e perguntou sobre a reserva.

— Está em nome de Marcelo Larsson – Foi aí que Ana percebeu que até aquele momento, não sabia o sobrenome dele, na verdade, não sabia muito sobre aquele homem com quem estava se envolvendo.

Depois que ele preencheu os papeis do check-in, a senhora os levou de novo para fora, por um estreito caminho de pedras, que cortava a grama bem aparada, até um pequeno chalé de madeira. Ela abriu a porta e os deixou entrar no ambiente lindo e confortável, cheirando a madeira e pinho, onde havia uma lareira de pedra e uma banheira com hidromassagem.

— Você está com fome? – Marcelo quis saber, assim que entraram – Porque eu estou como muita, só almocei hoje.

— Já sei, as reuniões – Ana completou, com ironia, e ele sorriu, divertido, pedindo algo para comer e vinho. Para completar, também, solicitou que o café da manhã fosse servido no quarto no dia seguinte.

Antes de sair, a senhora acendeu a lareira, e a madeira queimada começou a estalar e a espalhar seu calor aconchegante pelo lugar.  E quando, a porta fechou, ele a beijou, com calma, como tivesse todo o tempo do mundo.

— Eu falei que iria compensá-la por essa semana. – Marcelo disse, suavemente, afastando-se, para abrir a torneira da banheira, depois, caminhou de volta até ela e começou a abrir, calmamente, botão por botão da camisa dela, a tirou.

Ela vez o mesmo com a dele, beijando seu peito a cada botão aberto. Ele se sentou na cama e a puxou para si, beijou sua barriga e seus seios, seu sexo, abrindo o sutiã e seu jeans, os despiu devagar, esquecendo a mão em um toque suave, a deixando nua. Então, ela fez o mesmo, tirando a roupa dele, bem lentamente.

— Venha, a banheira já encheu - sussurrou no ouvido dela, enquanto mordiscava a ponta da sua orelha, Ana sentiu um arrepio percorrer seu corpo e estava pronta para pular em cima dele, mas se segurou. Ele a guiou pela mão para a banheira, cuja a água estava, agradavelmente, morna e as bolhas da hidromassagem faziam cócegas. Marcelo massageava suas costas, com um sabonete perfumado, dizendo como está tensa, beijando sua nuca, acariciando seus seios, ela já não podia mais resistir, e podia ver, que ele também, se virou e sentou-se sobre suas pernas, o deixando se encaixar lenta e completamente dentro dela, em um vai e vem, sentindo o contraste da água quente e o ar frio, as bocas perdidas em beijos loucos, peito contra peito, as peles se roçando, gemidos e sussurros,  até não dá mais para segurar a explosão nos seus ventres e a descarga de prazer, como flutuar.

Aconchegados, relaxados e entorpecidos pelo suave calor da água da banheira, Ana e Marcelo despertaram, como de um transe, por uma discreta batida na porta do quarto.

— Deve ser a nossa refeição – Marcelo observou, saindo da banheira, vestiu o roupão, indo até a porta, voltando com uma bandeja sortida com pães, queijos e frios e um garrafa de vinho nas mãos. Devido a ansiedade e a preparativos da viagem, Ana não havia comido nada desde o almoço, assim se deliciaram com os petiscos servidos e acabaram rapidamente com o vinho, riram e se beijaram, sobre o edredom macio da cama, enrolados em roupões brancos, felpudos e quentes, no quarto aquecido pelo fogo e cheirando a madeira queimada da lareira. Ana nunca se sentiu tão feliz e tão próximo de alguém, mas que mal conhecia. Depois da refeição, a bandeja foi posta de lado.

— Não me lembro de me sentir feliz e relaxado assim, há muito tempo – Marcelo confessou, como se lesse os pensamentos dela.

 - Mas, isso me assusta um pouco – Ana admitiu, Marcelo a interrogou com o olhar e ela teve coragem para continuar. – Está tudo tão perfeito, você e eu, nesse lugar maravilhoso, fico com medo que amanhã isso termine e você desapareça de vez da minha vida de vez - Marcelo a encarou por alguns instantes, com um olhar enigmático.

— Eu também tenho medo de perdê-la, Ana. Mas, não podemos prever o que vai acontecer amanhã, então, vamos aproveitar esse nosso momento, juntos, pois, pelo menos, teremos algo para guardar na memória – Aquelas palavras a deixaram ainda mais insegura, como se adivinhasse suas incertezas, ele estendeu a mão, puxando o cinto do roupão dela, e a trouxe para si, deslizando a mão quente por sua cintura, acariciando seus seios, sua barriga, com delicadeza, sem pressa – Quero decorar cada pedacinho do seu corpo, para poder me lembrar de você quando estiver longe de você – sussurrou junto a sua pele.

Pela manhã cedo, Ana acordou muito bem-disposta, sentindo a maciez do lençol de algodão envolvendo seu corpo nu. Ao seu lado, Marcelo ainda dormia, com uma expressão tranquila e a respiração leve, assim, levantou-se devagarzinho, enrolando-se no roupão esquecido ao lado da cama, olhou através da janela imaginando, que tudo aquilo parecia tão irreal como em um sonho. Lá fora, uma neblina tênue e baixa recobria os campos com extensos gramados verdes, orvalhados, onde algumas ovelhas pastavam, o céu azul prometia um dia de sol e, à distância, montanhas azuladas, cercavam o vale, dava um ar mágico ao lugar, naquele instante, sentiu se cheia de energia e vida.

Na pequena antessala do chalé, a bandeja do dia anterior fora retirada e havia outra em seu lugar, com um belo e sortido café da manhã, sentiu o cheiro dos pães frescos. As geleias caseiras, queijos, suco, café e leite davam água na boca. Levou-a para cama e acordou Marcelo com um suave beijo.

— Acorde, preguiçoso. Vamos aproveitar o dia! - Ana proclamou, em tom de brincadeira, não querendo perder um minuto sequer do tempo que teriam juntos.

— Não, eu quero continuar a dormir! - Ele protestou e cobriu a cabeça, mas ela puxou a coberta. – Você acabou comigo, ontem à noite.

— Eu acabei com você?! – Ela fingisse indignada. - Nada disso! Vamos tomar café, quero aproveitar cada minuto do dia. - insistiu e ele se deu por vencido e tomaram café na cama, que estava muito convidativa.

— Vamos dar um passeio -  Ana propôs, animada, porém Marcelo se jogou na cama, outra vez.

— Não! Vamos ficar aqui, na cama.

—Vamos tomar um pouco de sol e conhecer o lugar! - Ana replicou, empolgada, puxando-o para fora, queria conhecer aquele lindo lugar e, principalmente, conversar com Marcelo, pois ela sabia que se ficassem os dois sozinhos no quarto, com certeza, não conseguiriam fazer isso, sem que ele tentasse desviar sua atenção.

E, finalmente, Ana venceu, então colocaram roupas confortáveis e tênis e saíram para andar por uma bucólica estradinha de terra batida, ladeada de ambos os lados por uma cerca de arame, separando o campo, onde haviam algumas ovelhas pastando e dois belos cavalos, de vez em quando, escutavam aqui e ali, um canto dos pássaros silvestres. Um grupo de patos e gansos engraçados e desengonçados passou por eles, fazendo muito barulho. Riram da cena, os dois estavam felizes e leves, o resto do mundo e seus problemas estavam distante, atrás das montanhas e não podiam os alcançar, ali só existiam somente eles. O sol começou a subir e o céu estava muito azul, o ar frio e limpo, caminhavam sem pressa, conversaram sobre amenidades, falaram do lugar, mas, ele sempre desviava de qualquer assunto pessoal. Quando, uma carroça, puxada por um velho cavalo, cruzou o seu caminho, o carroceiro os cumprimentou e eles retribuíram.

— Como será este tipo de vida? Mais simples e calma, sem tantas necessidades? - Marcelo comentou, pensativo, enquanto a carroça de afastava.

— Com certeza, uma vida dura, com muito trabalho e um futuro incerto - Ana ponderou.

— Você é um tanto pragmática, mas deve ser bom, se contentar com pouco

— Não se tem escolha, é preciso se contentar com pouco, quando se tem pouco - Ana continuou. – E agora, vamos nos conhecer melhor –instigou-o, Marcelo a espreitou, sabendo que não tinha mais saída.

— Conhecer melhor? Nós nos conhecemos muito bem, eu conheço cada pedacinho desse seu lindo corpo - brincou, com um sorriso malicioso, querendo fugir da conversa.

— Você sabe do que eu estou falando, Marcelo. Eu não sei nada sobre você. Vamos lá! - Ana insistiu, sorrindo, e propôs - Eu começo se você quiser.

— Então, comece -  aceitou, achando aquilo divertido.

— Assim que se faz. Meu nome é Ana, tenho vinte e poucos anos...

— Isso não vale!

—Tudo bem. Tenho vinte e cinco anos e sou uma garota de classe média, filha única. Meus pais são professores e ainda lecionam. Nasci, cresci e, ainda, vivo no mesmo bairro. Nunca viajei para o exterior, embora quisesse muito, porque não tinha dinheiro, tento economizar, mas não dá. Estudei em um tradicional colégio de classe média, onde meus pais ainda dão aulas, era uma boa aluna, não brilhante, mas consegui entrar em boa faculdade, me formei em direito, agora trabalho em um pequeno escritório, há cerca de dois anos. Não ganho muito, mas dá para sobreviver. Ah! E quero poder fazer algo que faça a diferença para alguém. Bem, este é o resumo da minha vida nada interessante. Agora é a sua vez.

— Ah! Então este é seu desejo secreto! Fazer algo que faça a diferença para alguém? Mas você já faz a diferença para mim – ele falou em tom de brincadeira, ela o espreitou com os olhos em fenda.

— Sei – sorriu, sarcástica. – Mas o que eu quero, poder ajudar as pessoas, que não tem direitos, fazer algo que seja importante para elas, não sei se vou conseguir realizar esse desejo algum dia, mas, pelo menos, eu posso sonhar. Você entende? Eu não quero ser uma santa ou uma heroína, só ajudar alguém – confessou. - Agora, chega de falar de mim, é a sua vez. Comece! - ordenou, não o deixando fugir do assunto outra vez.


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