Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 14
Raquel – A história inesperada




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Assim Raquel passou o resto do fim de semana, envolvida com a rotina de alimentar o gato de manhã e à noite. Por fim, ele se tornou seu confidente, ela desabafava, contando-lhe os seus segredos e como foi seu dia, que a ouvia com todo a atenção, por algum tempo, enquanto ela acariciava o seu pelo macio. No domingo, um tanto preguiçosa, Raquel passou quase o dia inteiro no seu sofá, assistindo filmes românticos, usando apenas short e camiseta, sem maquiagem, descalça e com os cabelos displicentemente presos em um rabo de cavalo, sem vontade de se arrumar nem de sair de casa. Já no começo da noite, pensou em burlar sua rígida dieta e pedir uma pizza, mas, antes, levantou e se espreguiçou.

— Hora de alimentar o gato — falou em voz alta consigo mesma, pegou as chaves e entrou no apartamento vizinho, contudo levou um susto ao ver Otávio agachado, colocando um CD no seu equipamento de som e Sting começou a cantar.

— Opa! Desculpe! Eu não sabia que você já tinha voltado – Raquel estancou, sem jeito e sem saber o que fazer.

— Acabei de chegar — ele respondeu, levantando e voltando-se para ela, parecendo um tanto inibido na sua presença.

Naquele momento de impasse, o gato roçou nas pernas de Raquel, ela o pegou e começou a acariciá-lo.

— Espero que ele não tenha lhe dado muito trabalho. Ele é um pouco arrisco, por não conviver com estranhos, mas parece que gostou de você.

— Não, ele é um amor! Nós nos damos muito bem – Raquel respondeu, sorrindo, e colocou o gato no chão, com cuidado – Agora, que você está aqui, eu vou embora – falou, já ameaçando sair pela porta ainda aberta, atrás dela — Vou sentir falta de você, Jujuba! Tchau! – Dirigiu-se ao gato, que miou como respondesse.

— Não! Espere! – Otávio exclamou, de modo abrupto, depois mudou para um tom suave — Eu estou fazendo um talharim à bolonhesa, gostaria de jantar comigo?

Macarrão? Massa! Raquel nunca comia carboidratos, principalmente à noite, mas, hoje, estava a fim de quebrar suas regras e tinha fome, além disso, pensou que se voltasse para o seu apartamento agora, pediria uma pizza e comeria mais uma vez, sozinha.

— Está bem, obrigada – apesar de ter concordado com o convite, ela se sentia um pouco estranha na presença de Otávio, um tanto constrangida, mesmo ele estar sendo simpático.

— Ótimo! Sente-se, eu volto logo! – Ele pareceu animado, indo em direção da cozinha, algum tempo depois, voltou com dois pratos nas mãos e entregou um deles a ela, sem nenhuma cerimônia. Para a sua surpresa, o cheiro estava bom e a aparência ótima.

— A mesa está ocupada – Otávio se desculpou pela mesa de jantar lotada de papéis e com o computador – Eu a uso para trabalhar.

— Não tem nenhum problema para mim – afirmou, com franqueza, assim eles comeram, sentados no chão usando a mesa de centro como apoio.

— Muito bom! – Raquel elogiou, enquanto enrolava a massa no garfo mais uma vez, antes de levar a boca – Você cozinha bem!

— Obrigado, mas tive de aprender desde muito jovem.

— Bom para você, eu mal sei fazer um ovo frito. Mas, por que você precisou aprender a cozinhar assim tão jovem? – ela indagou, intrigada, depois, arrependeu-se por ser tão curiosa. — Desculpe! Estou sendo indiscreta — Então, ele sorriu, compreensivo.

— Isso não é nenhum segredo – Ele deu de ombros. — Aprendi cedo para ajudar minha mãe.

— Você ajudava sua mãe na cozinha? – Raquel ficou espantada, esperando pela história que viria.

— Minha mãe trabalhava muito no serviço de limpeza de um hospital, nas folgas fazia faxina em algumas casas, para complementar o orçamento. Quando, eu era menor, ela chegava em casa tarde e muito cansada, mas, ainda, ia fazer minha refeição para o dia seguinte. Eu ficava sozinho, em casa a maior parte do tempo, depois da escola, ou, às vezes, na casa de algum vizinho. Ela saía de madrugada, todos os dias para ir trabalhar. Por isso, depois que eu cresci um pouco, aprendi a cozinhar e, quando ela chegava em casa, o jantar já estava pronto – Otávio revelou sua história, sem nenhum sinal de auto piedade, e Raquel ficou surpresa, por ele está se abrindo assim com ela, então, quis saber mais:

— Devia ter sido difícil? Eram só vocês dois?

— Éramos, nunca conheci meu pai, ele desapareceu antes de eu nascer – Sua voz tinha um leve tom de tristeza.

— Às vezes, é melhor não conhecer — Raquel retrucou, recordando no seu próprio pai tirânico, mas não completou o seu pensamento, queria continuar a ouvir a história dele – Mas, continue, por favor.

— Você tem certeza que quer ouvir a minha história, na hora do jantar? – Otávio questionou, em dúvida se devia prosseguir, Raquel assentiu com a cabeça. – Bem, minha mãe era solteira, me criou praticamente sozinha, é uma mulher muito forte. Por isso, eu queria dar uma vida melhor para ela, então estudei muito, consegui entrar em uma universidade pública. Eram tempos bem difíceis, não tinha dinheiro para os livros, estudava na biblioteca, pegava emprestado ou doados. Muitas vezes, nem mesmo tinha dinheiro para comer, só o certo da passagem, trabalhava meio período em lanchonetes, sorveterias, no que aparecesse. Mas, hoje, eu consegui dar uma vida confortável para minha mãe.

— Ela não mora com você? – Raquel sabia que ele morava sozinho.

— Não, ela mora em uma casa, com uma das irmãs, em um bairro mais tranquilo – Ele suspirou, dando um tapa na perna, disse de um jeito mais animado. – Chega de histórias maçantes do meu passado! Estou falando demais! Quer um pouco de vinho?

— Não, sua história é bem interessante. E, sim, eu aceito o vinho – Raquel respondeu a verdade, realmente fascinada, com aquela vida que nunca imaginaria. Assim, Otávio deixou o prato sobre a mesinha de centro e foi para a cozinha, logo, voltando com uma garrafa de vinho e dois copos.

— Não tenho taças, nunca me lembro de comprar essas coisas — Otávio se justificou, enquanto, servia o vinho e entregava-lhe um copo.

— Por mim, tudo bem — Raquel não estava se importando com isso, porque estava gostando da companhia e da conversa. 

— Você se separou há muito tempo? — Raquel perguntou e se arrependeu outra vez de ser tão curiosa – Desculpe-me! Eu estou sendo inconveniente de novo, mas eu sou um pouco intrometida, às vezes, falo demais.

— Não faz mal – ele retrucou, dando de ombros – Eu me separei, há uns dois anos. Mas, você é uma boa observadora, como soube que eu sou divorciado? — Agora era Otávio que estava curioso.

— O seu apartamento tem um ar de improviso, como uma mudança que nunca foi desfeita – explicou, olhando em volta.

— Preciso dar a este lugar uma cara de lar — Otávio concordou, acompanhando o olhar dela.

— Dá para ver que você gosta muito de música, tem de tudo aqui — ela apontou para a estante cheia de livros, discos e CDs

— É. Eu gosto de caçar discos em vinil e CDs raros em lojas e brechós. É uma mania — Otávio confessou, sorrindo, depois perguntou — E você? O que gosta de fazer?

— Gosto de filmes, principalmente os clássicos, aqueles bem romântico, que você sabe na primeira cena, que tudo vai acabar bem. Também, tenho mania de sapatos e roupas – Raquel respondeu, com certa insegurança – Você deve me achar muito fútil?

— Não acho, todo mundo tem uma mania, às vezes, não revelada. No entanto, você não precisa de muita coisa para ficar bonita. Você fica muito bem assim — ele a elogiou, nesse momento, Raquel lembrou as que estava usando shorts e uma camiseta antiga, sentiu-se envergonhada, por estar tão desarrumada, pois gostava de manter sempre uma imagem de perfeição.

— Estava ótimo, mas preciso ir agora. Obrigada, Otávio – Raquel ficou sem jeito; pôs o prato sobre a mesa de centro, se levantando.

— Você já vai? Não foi por nada do que eu disse?

 — Não, eu preciso ir mesmo. Amanhã, tenho que acordar cedo – mentiu, indo para a porta – Obrigada pelo jantar. Até mais, Otávio.

— Por nada. Obrigado por cuidar do meu gato. Até mais, Raquel — Otávio retribui, com um sorriso sincero.


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