Les Moments que Je Passais avec Vous escrita por Lubs


Capítulo 1
La Vie Constant, Personne Volage


Notas iniciais do capítulo

Oin :3

Então, Talita, tudo bem com você? Espero que sim! Essa fanfic eu dedico à sua pessoa, então realmente espero que goste! Tentei fazer um romance clichê, que nem você pediu e disse que gosta, mas tenho minhas dúvidas quanto ao clichê e sempre fui meio insegura com romance, então idk >///< Mas foi feita de coração, e torço do fundo dele para que você goste!

Boa leitura, Talita, porque essa one é sua, para você e com você!



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O vento gélido da meia noite bagunçava os cabelos louros de Talita, emaranhando os fios de modo que lhe daria muito trabalho para desembaraça-los mais tarde. Sentada no banco de madeira da estação de trem, era a única pessoa ali presente, mas agradecia por estar lá. Colocou uma mecha que teimava em cair por cima de seus olhos atrás da orelha e suspirou, a respiração condensando no ar. Impacientemente, tamborilava os dedos no assento vazio ao seu lado, perguntando-se quando o trem chegaria para levá-la de volta à Maincy.

Porque assim era a rotina de Talita: acordava cedo todos os dias, e com pesar vestia sua roupa entediante e pegava sua maleta entediante, para ir até Paris no trem cheio entediante, realizar seu trabalho entediante e ouvir gritos entediantes, vindos de seu rabugento chefe entediante. E quando saía, passava na mesma lanchonete entediante, onde pedia o mesmo bolo entediante, então lia um livro entediante sentada em uma pracinha entediante, com crianças entediantes brincado no gramado entediante. Tudo para matar tempo, para que pudesse pegar o trem da meia-noite, no qual apenas ela e mais algumas poucas pessoas idosas embarcavam.

Diferentemente de tudo na sua rotina, aquilo não era maçante e pesaroso. Os vagões vazios estavam sempre com pequenos detalhes únicos, deixados por passageiros anteriores, que na pressa acabaram por abandonar algum resquício de sua presença ali. Talita saía explorando o automóvel, criando pessoas imaginárias com nomes inventados em sua mente a partir dessas pequenas pistas, e aquela era a única coisa pela qual ela realmente ansiava quando acordava de manhã.

Jogou a cabeça para trás, os olhos fechados, respirando fundo. Contou até cinco antes de liberar o ar pela boca, abrindo os olhos... E dando de cara com duas íris verdes lhe encarando. Sufocou um grito, levantando do banco com um pulo. O garoto piscou um par de vezes, a sombra de um sorriso maroto brincando em seus lábios. Era uma figura alta e esguia, com cabelos lisos, curtos e castanhos, com dentes levemente separados e um nariz um tanto proeminente. Não deixava de ser bonito, no entanto.

O moço se encontrava agachado, e levantou-se para que estivesse no mesmo nível que ela. Talita apertou o casaco azul em volta do corpo, com a falsa ideia de que aquilo lhe protegeria do estranho. Ele poderia ser um assaltante, um estuprador, ou sabe-se lá mais o que. Erguendo as mãos, o de olhos verdes contornou o banco da estação, se aproximando da loira com passos lentos.

 —Q-Quem é você?

Indagou, receosa, com um fio de voz. O desconhecido riu de leve, balançando a cabeça em negativa enquanto fitava o chão.

 —Meu nome é Olivier. Prazer!

 Estendeu uma mão, que Talita fitou por alguns segundos. Franzindo o cenho e dando um passo vacilante para trás, se comprimindo ainda mais dentro do casaco, respondeu, baixinho:

 —Talita.

 Olivier recolheu as mãos atrás das costas, com um sorriso enigmático pintando o rosto. A loira odiava admitir, mas aquilo instigou sua curiosidade, que sempre fora grande.

 —Ah, eu sei. Talita Horta, correto?

 Seus olhos se arregalaram levemente em surpresa. Ele rodou, olhando para o céu enquanto listava as coisas que sabia sobre ela, enumerando-as nos dedos.

 —Você mora em Maincy, vêm todos os dias no trem das sete e meia para Paris, trabalha em um escritório de advocacia das oito até as sete e então fica matando tempo apenas para pegar o trem da meia-noite, de segundas a sábados.

—Como sabe tudo isso de mim?

 Talita não sabia como reagir. O coração batia forte, parecia que iria saltar para fora de sua boca a qualquer momento. Sabia que deveria estar amedrontada, talvez a coisa mais sensata a se fazer fosse sair correndo, ou quem sabe chamar a polícia. Mas Olivier não lhe dava vontade de fazer nada disso. Não tinha certeza se era por causa do sorriso de criança que ele exibia, ou o modo como sua franja caía por cima dos dóceis olhos verdes, só sentia que podia confiar nele.

—Eu sou um stalker que te persegue há três anos. Eu tenho um mural com fotos suas em meu quarto.

Constatou, sério. O coração da Horta falhou uma batida, um receio surgindo pela primeira vez em si. Ele riu, fazendo um alívio começar a brotar no peito dela.

—Brincadeira! Você deixou isso aqui cair ontem. Eu achei hoje de manhã e resolvi te entregar.

Estendeu um livro de capa roxa e aveludada para ela, aguardando que ela pegasse. Talita piscou um par de vezes, identificando o objeto como seu diário, que logo pegou, se encolhendo com ele pressionado contra o peito. Vermelha de raiva não muito verdadeira, ralhou:

 —E você leu? Isso é cruel!

—Ei, não me culpe! Eu tinha que descobrir alguma coisa para poder devolver para você!

 Ela fez muxoxo, guardando o livro na bolsa, cruzando os braços enquanto mantinha uma cara amarrada.

—Eu adoro essa cerejeira. Ela passa uma calma, né? É diferente das outras árvores.

Comentou Olivier, apontando a árvore japonesa que fazia sombra no banco de espera. Um tanto estupefata, uma vez que pensava ser a única com aquela ideia, concordou com a cabeça. O homem revirou os olhos, se aproximando dela, que involuntariamente recuou.

—Vamos, não seja tão reclusa! Veja bem, eu tirei tempo precioso do meu sábado à noite para vir aqui te dar isso. Você poderia ser um pouquinho mais receptiva, não?

Ela suspirou, desviando o olhar. Estava vencida e curiosa, não poderia mais negar e continuar se esquivando, porque ela queria saber mais, vivenciar mais. Olivier era uma brecha, uma exceção, na rotina de Talita, e ao invés de aproveitar ao máximo aquela pequena aventura, ela se amuava e fugia, como uma gata assustada.  Encarou os olhos esmeraldinos do menino novamente, abrindo os braços e inflando as bochechas, enquanto olhava em volta do ambiente mal iluminado por alguns postes de luz amarelada.

 —Ok. O que quer que façamos?

 —Qualquer coisa! Cantar, pular, voar! Tanto faz!

Talita franziu o cenho, negando com a cabeça.

—Voar é impossível.

Olivier bufou impacientemente, olhando para o céu e sacudindo o corpo.

—Para uma mulher cansada da rotina, você é bem realista. Pense fora da caixa, Talita, e você vai ver que seu dia-a-dia vai se tornar muito mais interessante.

Aproximou-se com rápidos passos largos, segurando o rosto da moça entre suas mãos. A diferença de altura entre ambos era notória, quase uma cabeça separava os dois. Ela abriu a boca, involuntariamente corando, enquanto tentava arrumar algo para falar. A face do homem se encontrava absolutamente séria, sem nenhum vestígio que fosse do sorriso animado que viera dando desde que apareceu.

Viva.

Sussurrou. Seu hálito era algo entre o morango e a menta, e ele tinha um cheiro adocicado que Talita não soube identificar. Sentiu a pulsação aumentar, o sangue correr mais rápido por suas veias e uma sensação esquisita tomou conta de seu estõmago, que parecia se retorcer dentro da barriga. Olivier se afastou, novamente sorrindo para ela.

—Captou?

Perguntou, piscando um olho. Ainda atordoada, ela só conseguiu assentir com a cabeça. Parecendo satisfeito com a resposta que obteve, Olivier virou-se de costas e, curvando-se para o banco de madeira há muito abandonado por ambos, mexeu em algo. De início, Talita não entendeu muito, mas logo a melodia suave de uma música americana que ela nunca havia escutado preencheu o ambiente silencioso.

O parisiense (era apenas uma hipótese, na verdade, uma vez que ela não tinha realmente como saber a verdadeira origem dele) girou nos calcanhares e se aproximou, falando enquanto andava:

—Se entendeu mesmo, aqui está sua primeira tarefa como alguém que vive de verdade...

Parou e, com uma reverência cheia de floreios exagerados e desnecessários, lhe estendeu a mão.

—Dance comigo, Talita.

Encarou a figura por alguns segundos que pareceram horas. Os olhos dele passavam uma mensagem clara e, para alguém de vida tão mergulhada na mesmice, irrecusável. Aceitou e logo percebeu o quanto as mãos de Olivier eram quentes, contrastando com seus dedos gélidos. Ele sorriu, um sorriso diferente dos inúmeros outros que dera naquela noite, mais dócil e sereno, menos brincalhão.

—Vejo que aprendeu bem.

—Claro! O que esperava de mim?

Gabou-se, falsamente empinando o nariz. Eles riram enquanto rodopiavam pela estação vazia. Talita já perdera a noção do horário, mas tinha uma vaga noção de que o trem estava provavelmente atrasado para busca-la, e que chegaria em casa mais tarde que o normal. As piruetas perfeitas dadas por ela, resultadas de anos de ballet, eram o completo oposto dos movimentos desengonçados e atrapalhados dele, era óbvio que não tinha o menor talento para dança. Mesmo assim, ela se divertia ao dançar, como há muito tempo não se divertia com algo.

Olivier tinha algo que Talita nunca havia visto em ninguém. Ele era divertido, espontâneo e imprevisível, uma mistura de imperfeições que o tornava tão cativante quanto um ser humano poderia ser. Por um breve momento, enquanto finalizavam sua performance, assim como a música apresentava as notas finais, ela esqueceu de todo o resto. Esqueceu-se de que estavam em público, que seu dia havia sido tão ordinário quanto os outros; esqueceu-se da crise de falta de ar que tivera ao, acidentalmente, esbarrar com vários pombos que se alimentavam na pracinha mais cedo e que o trem que ela normalmente ficava tão ansiosa para pegar estava prestes a chegar.

Por um momento, eram apenas os dois e aquela melodia delicada que soava ao fundo, com as pétalas cor-de-rosa da cerejeira banhando-os à medida que o outono chegava, como se estivessem em um daqueles filmes de romance clichê que ela tanto amava assistir.

E então, o silêncio tomou a estação novamente quando deram o último passo e o som tocou pela última vez. Uma camada fina de suor banhava sua testa e a dele, que gargalhou alto, girando de braços abertos. E o riso de Olivier era tão alegre e contagiante que Talita não pôde evitar e riu junto, de olhos fechados, desejando que aquela noite durasse para sempre.

Uma brisa fraca balançou seus cabelos, mas daquela vez ela não se importou com o trabalho que teria para arrumá-los. Algo peludo roçou em seu tornozelo e, com um misto de curiosidade e receio (tinha medo de cachorro, afinal, e sempre havia a possibilidade de ser um), olhou para baixo, encontrando um gato preto de olhos azuis que ronronava aos seus pés.

O animal não passou despercebido aos olhos ágeis e atentos de Olivier, que logo se encontrava agachado de frente para os pés de Talita, encarando o felino com um sorriso que não mostrava seus dentes levemente separados.

—E o que temos aqui? Qual seu nome, garota? Hmm?

Falou, como quem fala com um bebê, acariciando a parte de trás das orelhas da gata. Após constatar que ela não tinha coleira ou dono, olhou para cima, as íris verdes brilhando.

—O que acha de darmos um nome para ela?

Erguendo as sobrancelhas, a loira indagou:

—Um nome? Mas que toli...

A frase morreu em seus lábios ao perceber a aura perigosa que emanava dele. Ela estava sendo racional novamente, pensando dentro de sua zona de conforto: “para que dar um nome a um gato que eu jamais irei ver novamente?”. Abaixou até estar em um nível equivalente ao de Olivier, deixando a gata prestes a ser nomeada entre os dois.

—Por que não? Ela é fofa. Alguma ideia?

Encararam o animal por alguns instantes de silêncio, até que a grave e melodiosa voz do moreno soou.

—Que tal Bebeca?

Com uma careta, Talita negou.

—Bebeca? Que nome horrível!

—Eu acho fofo. Tem alguma ideia melhor, sabichona?

Alfinetou o parisiense. Fingindo abanar uma sujeira inexistente de ambos os ombros, a advogada replicou:

—Genevieve.

—Muito sério! Ela é fofa demais para isso. Babalu.

—Pietra.

—Juju.

—Felicia.

—Amy.

—Misty.

Olivier se calou, olhando-a com uma cara esquisita, como se a analisasse. Talita sentiu um arrepio estranhamente bom percorrer sua espinha com o olhar ininterrupto que lhe era lançado.

—Sim... Sim, Misty é bom! Ponto para você!

Falou, pegando a gata do colo e brincando com ela, que miou em resposta.

—Você gosta de Misty? Gosta, é? 

Fez caras e bocas para a felina, que apenas estendia as patas para cima em uma tentativa falha de agarrar uma folha que ele balançava em cima dela. Parecia uma criança, pensou. E sorriu involuntariamente olhando a cena.

Uma luz ofuscante seguida de um apito ensurdecedor, pelo menos para os dois, já acostumados com a iluminação paca e o silêncio absoluto do local rasgou o clima atemporal que havia se estabelecido ali entre os dois. Era um trem prata que vinha a toda velocidade pelos trilhos, as palavras “ÚLTIMA PARADA: MAINCY” piscando em amarelo no topo do primeiro vagão. Suspirando, a Horta levantou-se e encarou o desconhecido com o qual passara pelos momentos mais incríveis daquele mês.

—Então... Acho que é isso. Até mais...

Pronunciou, sem jeito. E com um sorriso torto que lhe dava visão para os dentes levemente separados dele, Olivier respondeu:

—Adeus, Talita.

Entrou no vagão iluminado e pontilhado de idosos ocasionais, absortos demais em sua própria vida repetitiva para notar que a moça se encontrava chorosa enquanto fitava a janela, até que a silhueta do homem e de Misty não mais fossem visíveis.

Naquela noite, Talita não explorou os vagões. Não procurou detalhes ou pistas de vidas alheias e não criou pessoas imaginárias que passavam por situações fantásticas. Apenas sentou e pensou nas últimas palavras daquele garoto cativante que conhecera:

“Adeus, Talita”

Adeus era utilizado em despedidas definitivas. Expressava um ‘tchau’ permanente, no qual ambas as pessoas jamais se veriam novamente. E aquilo, por alguma razão, quebrava o coração dela. Porque, por um breve momento, ela desejou que ele se tornasse algo fixo de sua rotina.

Mas Olivier era brilhante, alegre e fervoroso, como uma chama acesa em seu ápice. Olivier era uma pessoa inconstante.

E era exatamente por isso que Talita não podia deixar que ele fizesse parte sua vida constante.


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Notas finais do capítulo

Realmente espero que tenha gostado!

Título do capítulo traduzido como "Vida Constante, Pessoa Inconstante".

Não posso enrolar muito aqui porque meu tempo está acabando :P



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