Amor é Um Clichê escrita por Tatti Rodriguez


Capítulo 3
D. Salvatore


Notas iniciais do capítulo

Pra compensar a demora, meus amores



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Eu não sabia dizer se ter Bonnie todos os dias ao meu lado era estar no céu ou se seria certo dizer que eu estava no inferno.

Ah, sim, eu poderia simplesmente confundir meus dias com o paraíso. Afinal, ela estava lá, linda de morrer com seus cabelos exalando jasmin, a voz de anjo soando perto de mim e sua risada melodiosa contagiando toda a atmosfera ao nosso redor.

Era o paraíso porque eu e ela havíamos nos aproximado muito - muito em relação ao que já éramos próximos, o que era quase nada, quase nada mesmo -. No colégio não é como se fôssemos de uma hora para outra ser inseparáveis e nos tornar os destemidos Batman e Robin. Para falar a verdade, nossa relação no colégio continuava a mesma. Eu a observando em silêncio e me arriscando para a ajudar em história. Ela ainda me defendia de Klaus e sua dupla Bob Esponja e Patrick, mas depois do que houvera na aula do professor Saltzman ele havia me deixado um pouco de escanteio. E isso eu agradeci aos céus! Agora eu poderia ser o que eu sempre fui, invisíveis a todos, e eu sempre fui muito bom nisso diga-se de passagem e sem querer parecer pretensioso.

Mas nossa distância acabava quando um pouco depois do colégio ela surgia na Pizzaria e começava a passar a tarde comigo fazendo pizzas e aprendendo como rechear e preparar o forno à lenha.

E era nessas horas que o paraíso era sentido por meus dedos. Era a hora em que eu poderia arriscar alguns esbarrões de leve. Sempre muito sutil, sempre "acidentalmente" meus dedos buscavam a mesma coisa que ela, ou eu ia na direção oposta e nossos ombros se chocavam. E qualquer mísero toque que minha pele havia com a dela, uma forte e poderosa corrente elétrica passava pelo meu corpo. Eu sentia os pêlos de meu braço e meu pescoço se eriçando e uma mini parada cardíaca se apossava de mim. Por dentro era tudo tão bagunçado e descompassado, ficava perdido e com medo de ser achado. Mas por fora a coisa era pior. Eu odiava o fato de ser tão branco a ponto de corar com tanta facilidade entregando-me assim o estado de constrangimento e de timidez extrema.

E odiava o fato de meu pai ser a discrição em pessoa.

E com ele que surge a sensação de estar no inferno em plena terra.

Meu pai nunca foi discreto, nunca foi de falar baixo e sério, ele nunca foi o tipo de pai que percebe quando está constrangendo o filho falando para a garota que ele ama os seus atributos físicos e o quão sensível ele pode ser.

— Ah, Bonnie, não entende o quão bom partido mio Damon é! - o sotaque forte e cantado sorria enquanto a menina apenas acentia sorrindo divertida - Io no quero me gabar, mas olha... Quando eu o fiz, ah! Mas eu caprichei que saiu essa belezura, anh! - e soltou um beijo estalado na ponta de seus dedos fechados. - Sensível, atencioso, muito inteligente, e olha, tem bom fôlego e disposição! Muito bem preparado para... sabe, né?

E a piscadela maliciosa foi a gota d'água. No minuto seguinte minha mãe - que eu chamei implorando como um tomate maduro para dar um jeito no marido - já puxava papai para longe de Bonnie que ria divertida. Ela só fazia isso quando meu pai estava perto e começava a falar de mim.

Ela não parecia se importar com as bobeiras que ele dizia, ela não ficava sem graça ou achava que ele era inconveniente, como eu achava. Ela só gostava desses momentos em que ele vendia o produto. E eu ficava aliviado por ela não ver com maus olhos.

Mas uma parte de mim não era apenas alívio, outra parte de mim ficava um pouco frustado. Poxa, meu pai se empenhando para mostrar minhas qualidades e ela apenas achava graça. Será que ela não conseguia ver que apesar de sem noção, o meu pai não era mentiroso.

Eu era sim, como ele falava: Uma belezura!

Mas, eu sabia que não era o bastante para ela. E sabia também que nunca seria.

Mas não era só por conta de meu pai que o inferno me abraçava. Era por algo muito pior.

Eu a tinha tão perto de mim todos os dias e mesmo assim tão longe.

Ela sempre estava a centímetros de mim, sempre a um toque de distância, mas mesmo assim, parecia que continuava inalcançável.

Bonnie era assim para mim e essa era minha sina. Ser inalcançável.

Mas não é somente céu e inferno que eu vivo ao lado de Bonnie. É purgatório também.

Em momentos em que estamos sozinhos na Pizzaria, eu e ela começamos a conversar sobre qualquer coisa que surge na cabeça dela. Ela sempre começava as conversas, ela era mais corajosa que eu. Ou talvez - e essa possibilidade seja a mais plausível - ela não se sentia tão nervosa perto de mim a ponto de perder a fala.

Nessas duas semanas de trabalho que ela conquistou na pizzaria, eu a conheci ainda mais do que antes. Descobri que ela queria muito um cachorrinho de estimação para chamar de Matt. Descobri que ela odeia panquecas e que ama chá de hortelã. Descobri que nenhuma das coisas nerd que eu gosto ela conhece, mas me surpreendi quando ela chegou um dia desses na pizzaria com a pose orgulhosa de que havia assistido os três primeiros episódios de Star Wars e concordou comigo quando falei sobre a voz de Darth Veider ser como a de seu pai.

Uma parte louco-apaixonado de meu cérebro quis acreditar que ela queria me impressionar e por isso ela assistiu os episódios I, II e III e era por isso também que ela havia me convidado para assistir os outros episódios restante em sua casa.

Oh, Deus, eu nunca, jamais vou poder esquecer daquele pedido.

Ela estava linda, como sempre aliás, sua bochecha suja de farinha e mesmo assim corada, as mãos pequenas estavam entrelaçadas uma na outra e seus olhos verdes não conseguiam olhar para mim.

— Sabe, eu vou entender se falar que não, mas eu gostaria muito que você fosse assistir os outros Star Wars comigo, em minha casa no fim de semana.- ela levantou os olhos para mim e eu tropecei para trás quando ela fez aquilo. Não estava preparado para tomar aquele tiro no coração. Como podia existir alguém tão anjo e tão linda como ela?! - Você aceita?

Oh, ela estava realmente me convidando! Bonnie "Anjo" Bennett, estava me convidando para assistir filme na casa dela! Só nós dois! Juntos! No sofá! Abraçados! Nos beijando! E depois... Espera aí, garotão. Vamos com calma. Era só um filme... MAS COM BONNIE BENNETT!

— Claro. Eu adoraria.

— Ah, que bom! Eu, eu fico tão feliz por isso! - ela me abraçou rapidamente e voltou ao seus afazeres.

Com a respiração ainda presa eu fui calmamente até o banheiro e só quando eu tranquei a porta eu me permiti bambear. E ali, sentado no chão do banheiro eu sorria e logo depois pulava de emoção. Eu não havia estragado tudo! Eu não falei besteira! E ela ainda me abraçou! Eu havia aceitado e ainda fiz tudo como se aquilo não abalasse minhas estruturas. Mas abalava e era por isso que eu ainda estava mole quando saí do banheiro recomposto.

Mas depois desse convite as coisas meio que desandaram um pouco entre nossa relação de início de amizade.

Bonnie antes alegre e toda sorrisos para mim, começou a me tratar como se fosse um ser asqueroso. Me olhava com os verdes olhos estreiros e ameaçadores. Me ignorava muitas vezes e na escola muitas vezes se mostrava presente e logo depois nem olhar na minha cara ela olhava.

E tudo isso depois da volta de Jo Parker, minha nerd e não mais única amiga.

Jo era a garota de óculos enorme e de aparelho nos dentes que usava sempre as roupas com estampas de símbolos químicos ou de alguma série que éramos fãs. Era a garota de olhos azuis escuros e de cabelos longos e lisos sempre soltos tentando assim não parecer tão estranha. Mas ela não era estranha. Ela era legal e divertida, inteligente e tinha muitas piadas boas envolvendo elétrons e átomos.

Ela era uma das renegadas, excluídas e invisíveis assim como eu. E foi causa disso que nossa amizade começou há dois anos atrás, quando o colegial ainda era alguma coisa nova e tentadoramente excitante. Mas não é a realidade das séries e filmes que contam. A vida real era difícil e isso pode ser arrasador para dois alunos que estavam ansiosos para o ano de festas e jogos, ainda mais para nós, dois estranhos de óculos enormes, aparelho nos dentes - o meu graças ao bom Deus tirei no segundo ano - e espinhas em toda cara, molengas de corpo e muito vívidos no intelecto.

— O mundo do colegial não é para os inteligentes como nós, mas de superficiais como eles. - e Jo apontou para o grupo de jogadores de futebol e de líderes de torcidas conversavam e riam.

Bonnie estava naquele grupo, mas ela sempre foi diferente. Sempre foi especial e carinhosa, nunca julgou ninguém pela aparência e nem pelas atitudes. Sempre viu todos com bons olhos e com todo o coração.

Mas parecia que havia uma exceção e essa exceção era Jo.

— Ah, fala sério. - Jo pegou o livro de química e soltou uma risadinha - Olha só essas questões, Damon. Está fácil demais, posso fazer de olhos fechados.

— Sim, tem razão. - concordei com ela quando percebi que aquilo realmente era fácil demais. Mas até o mais fácil dos problemas estava se tornando difícil de resolver, principalmente o porquê de Bonnie estar me olhando com aquela cara assassina e linda para mim.

Ela estava corada de raiva e um brilho ameaçador tomava conta de seus olhos. Seus pés não paravam de tremer e eu senti um frio na espinha quando ela estreitou os olhos.

Engoli em seco e decidi que resolver as questões do livro me distrairia em relação àquelas fuziladas.

Mas minha amável e doce Jo estava do meu lado e não me deixaria esquecer.

— Damon, aconteceu alguma coisa entre você e a sua Bonbon enquanto eu estiver fora? - perguntou baixinho, ao menos ela não berrou como meu pai certamente faria.

— Não, só o que você já sabe. - dei de ombros e pulei para a terceira questão, já que as duas primeiras eram tão fáceis que eu fiz em tempo mínimo.

— Okay, e em uma dessas tardes na pizzaria vocês se agarraram e começaram a namorar?

— Não. Mas olha, eu queria muito. - confessei.

— Okay, e vocês...

— Fala logo, Jo!

— Não é que... Ela está me olhando de um jeito tão estranho, chego a ficar com medo... Se você fez alguma coisa com ela e me colocou no meio pode me tirar.

— Eu não fiz nada!

— Então, o que está acontecendo. Ah, já sei. - ela estalou os dedos e riu baixo.

— Sabe o quê?

— O que está acontecendo. - ela viu meu olhar curioso e continuou - Ela está com muita raiva porque você é muito frouxo e não toma uma atitude!

— Eu não sou frouxo e não tem atitude nenhuma para tomar.

— Ah, mas é claro que tem! Vocês estão miguxinhos agora, acho que ela merece saber que você tá afim dela. Na verdade muito mais que afim, na verdade está de quatro por ela, na verdade na verdade...

— Eu já entendi!

— Acho que devia ficar esperto e ver nesse cinema caseiro, uma oportunidade para começar a jogar verde. Mostrar para ela que você está interessado nela. - Jo piscou e sorriu quando ouvimos o sinal bater - Vai agora falar com ela e confirma o cinema, aproveita e tenta descobrir se é por sua covardia que ela está toda bravinha. Mas com certeza é, eu sou muito inteligente, não tem como errar.

Será que Jo poderia estar certa? Ah, não. Não confiaria. Ela sempre dizia estar certa mas sempre estava errada. E eu sempre pagava o pato. Ela era um gênio em relação acadêmicas. Mas em outras coisas ela era uma negação. Se enganava com tudo!

Mas quem sabe deveria dar um crédito à minha amiga dessa vez, afinal, ela era uma garota e garotas sabem e entendem umas às outras. Certo?

E lá estava eu, no inferno outra vez.

Respirei fundo e esperei Bonnie passar por mim para a chamar e assim podermos conversar. Mas quando a moça passou e eu a chamei, ela não se virou e nem mesmo parou. Continuou a andar a passos firmes e duros.

Ah, vai ver não me ouviu. Então não havia mal algum eu a chamar no corredor. Mas ela parecia determinada a me ignorar. Somente quando eu corri atrás dela e a toquei no ombro ela parou.

— Hey, Bonnie. O que tá acontecendo? - perguntei preocupado e eu vi sua expressão relaxar e amolecer por um segundo, mas no seguinte ela já estava com aquela carranca linda.

— Não está acontecendo nada. Você tem que me dizer se está acontecendo alguma coisa. - ela falou cruzando os braços.

— O que poderia estar acontecendo? - perguntei confuso.

— Ah, não sei. Me diga você. Você e Jo, hein... - ela falou sorrindo sarcástica.

— O que tem eu e ela?

— Ah, nada. Estão bem próximos, não é?

— Bonnie, sempre fomos próximos. Ela sempre foi minha amiga.

— Ah... Amiga? Tem certeza?

— Ora, mas é claro que eu tenho. - falei confuso. Onde ela queria chegar?

— Ah, mas não parece muito, mas sabe como é, não é da minha conta. - ela bufou e se virou para andar para longe de mim, mas eu segurei seu braço gentilmente. E caramba! A pele dela é tão macia e quente!

— Hey, espera. O que está acontecendo? Eu fiz alguma coisa que te deixou irritada? - perguntei temeroso. Aquilo seria imperdoável! Onde, raios eu iria querer fazer a garota que eu amo sofrer? Fazê-la ficar irritada comigo era inviável! Eu sempre faria de tudo para a ver feliz e bem, nunca brava ou irritada - Se eu fiz, me desculpe. De verdade, Bonnie. Só não me trate assim...

Ela se virou e eu vi que havia lágrimas em seus olhos e aquilo só me deixou mais alarmado.

— Oh, droga. Você está chorando! Me perdoe pelo o que quer que eu tenha feito, eu...

— Você não fez nada, bobinho. - Elena dizia comovida, quando ela e Caroline haviam chego?

— É, isso é ciúmes de você e de Jo, seu lerdo! - Caroline falou e meu coração falhou ao ouvir aquilo.

Ciúmes?

Bonnie Bennett? Com ciúmes de mim? De mim, Damon Salvatore?

Ciúmes?

Sério isso?!

Não, não pode ser... Mas, ah! Seria tão bom se fosse!

— Bonnie isso... É verdade? - eu precisava saber e eu me agarrei à Deus para que fosse verdade!

Bonnie demorou uma eternidade para responder, mas eu era paciente e saberia aguardar a hora certa para ouvir o que meu coração tanto ansiava escutar.

— É que... Ah, Damon! - ela me abraçou forte e afundou o rosto em meu peito.

Minha respiração trancou e eu quis muito que meu coração não estivesse acelerado demais, não queria que ela ouvisse o quão louco ele fica quando ela está por perto. Mas aquilo seria pedir demais.

Ela agarrou as costas de minha camisa e continuou murmurando:

— É que antes éramos só nós dois. E agora Jo voltou e você vai me esquecer e eu sou sua amiga também, não quero que você me esqueça!

Ela dizia tudo rápido demais. Mas eu consegui ouvir e consegui me sentir parcialmente feliz pelo que ela dizia.

Parcialmente.

Porque uma grande parte minha pedia que ela sentisse um outro tipo de ciúmes em relação a mim. Não de apenas amigos...

Mas me senti tão feliz por saber que ela não gostava da ideia de que eu pudesse a trocar - o que claro, jamais aconteceria -, ela não gostava da ideia de que eu pudesse preferir Jo à ela.

— Ah, mas não se preocupe, Bonnie. Eu jamais trocaria você.

Ela se afastou um pouco de mim ainda chorosa. Ela era simplesmente adorável, até chorando!

— Você jura? - a voz era insegura.

— Não é preciso. - ela me olhou incerta e eu sabia que ela merecia mais - Entre qualquer coisa e você, sempre será você.

Ela me abraçou forte e eu me permiti afundar o rosto em seus cachos perfeitos.

E sentindo tudo aquilo que ela me causava eu só podia ter certeza de minhas palavras.

Entre tudo, qualquer coisa e ela, sempre será ela.

Para sempre, Bonbon.

Pelo resto de meus dias.

E de repente, do inferno, eu sou tragado para o paraíso que são os braços de Bonnie.


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