Ways to salvation escrita por Kyra_Spring


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira vez escrevendo no fandom de Mystic Messenger. Yoosung é meu personagem favorito e eu nunca vou conseguir superar o Bad Ending do 10º dia dele. Como eu gosto de sofrer e torturar as pessoas ao meu redor, decidi escrever isso. Qualquer crítica é bem-vinda. Muito obrigada por lerem!



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Eu tinha 21 anos quando morri. Era meu aniversário. Estava um tempo agradável, e o dia estava claro e bonito. Havia chovido no dia anterior, e a grama sob meus pés descalços estava molhada e fria. Era muito bom e reconfortante.

Eu sei que era meu aniversário porque meu assassino me disse. Ele disse que era um presente de aniversário, e quando penso no assunto acho que ele estava dizendo a verdade. Me matar era o melhor que ele poderia fazer por mim naquele momento. Eu não tinha medo. Na verdade… queria aquilo. Queria que acabasse. Naquele ponto, não tinha nada mais a que me agarrar, nada pelo que esperar, nada em que acreditar. Tudo o que eu podia esperar era pelo abraço silencioso do fim.

Todo dia era igual. Estava sempre escuro, e eu estava sempre sentindo dor. Desde aquele dia, em que eu vim aqui procurando por respostas e terminei aprisionado, tudo o que eu podia ver era a luz tênue vinda do corredor. Uma vez por dia, às vezes duas, às vezes nenhuma, eu ouvia passos vindos do corredor em direção à minha cela. E eu sabia o que viria depois daqueles passos, toda vez.

Ele nunca me disse o seu nome. Algo nele era familiar, de uma forma distorcida que eu não conseguia entender. E muito rapidamente isso deixou de ter qualquer significado ou importância, à medida que aqueles passos se tornavam um sinal de medo e dor.

Ele me batia.

Ele me torturava.

Mais de uma vez, vi meu próprio sangue manchar o chão abaixo de mim.

Mais de uma vez, pensei que não sobreviveria mais uma noite.

Mais de uma vez, fui enviado de volta à minha cela, meu corpo coberto de novos ferimentos, cada célula implorando misericórdia, implorando por algo que pusesse fim àquele tormento. E eu me perguntava…

Por que ainda estou aqui?

Por que tenho que passar por isso?

Eu mereço isso?

Vale a pena toda essa dor?

E então, eu me lembrava de por que estou aqui.

Eu nunca soube seu nome verdadeiro. Conhecia o apelido que você usava no nosso chat, e depois de um tempo ele se tornou o seu nome de verdade para mim. Talvez eu devesse ter perguntado. Eu também assumi que a foto no seu perfil era de fato sua, e mesmo que ela fosse pequena e difícil de ver, muito rapidamente eu aprendi a amar tudo o que vi nela. Foi rápido, mas eu sabia que era real.

Eu sabia que te amava. E sabia que você me amava.

E você estava tão assustada, tão nervosa. Claro! Depois de toda aquela bagunça para a qual você foi arrastada, quem não ficaria nervoso? Quem não ficaria nervoso e ansioso e assustado com tudo aquilo acontecendo? As mentiras, os segredos, os perigos… claro que você estava sofrendo. E eu não podia simplesmente sentar e assistir. Não podia...

Me perdi em pensamentos de novo. Tudo parece tão nebuloso e borrado. Sinto que estou perdendo contato com a realidade, e não tenho certeza se isso é ruim.

Eu me lembro do dia em que morri, e me lembro que era meu aniversário. 12 de março. O inverno estava prestes a acabar, dando lugar à primavera, e a luz do sol já dava as boas-vindas às flores e pássaros que não se importavam com calendários e insistiram em vir mais cedo. Era bem cedo, e o ar ainda estava frio. Naquele momento, eu estava em paz. Ou melhor, não sentia nada em particular. Estranho…

Dizem que quando você está encarando a morte, sua vida passa diante dos seus olhos. Talvez porque eu tenha tido tempo demais para pensar e repensar minha vida de novo e de novo e de novo, mas isso não aconteceu. Nenhuma memória surgiu. Nenhum flash, nenhuma imagem, nada. Tudo o que eu tinha era a percepção do mundo ao meu redor, do sol na minha pele, da grama molhada sob meus pés, do vento frio no meu rosto. Fragmentos de realidade que me faziam me sentir muito… vivo.

Talvez aquela fosse a resposta. Depois de passar tanto tempo - quanto tempo foi? - trancado num lugar escuro, todo o resto parecia tão diferente. E eu estava grato por ser lembrado que, apesar de tudo, a vida continuava, o sol ainda se levantava, a chuva ainda caía. O mundo seguiria em frente, comigo nele ou não. E eles seguiriam com suas vidas.

Eles me esqueceriam?

Eles já me esqueceram?

Eu continuei lutando porque aquele homem ameaçou a todos que eu conheço. Ele disse que se eu desistisse, se eu morresse, ele iria atrás deles. E, pelo que pareceu uma eternidade, eu suportei tudo. Pensei que era minha missão, minha razão de existir, viver e morrer para proteger você. E à medida que os meses avançavam, ele foi se tornando mais e mais cruel, debochando de mim e do meu sofrimento, me torturando por mais tempo, despedaçando minha mente tanto quanto o meu corpo. Durante seus joguinhos, ele mencionava fragmentos de sua vida, soltos e desconectados da realidade. Ele falava muito a respeito do “salvador” que o abandonou, da mãe que o feriu, do irmão que o esqueceu. Às vezes, parecia que ele se esquecia de que eu estava lá por um momento, apenas para retornar mais sedento de sangue e violento que antes.

Mas eu resisti. O momento em que desisti da minha própria vida por você foi o meu melhor, e eu precisava me certificar de que você permaneceria segura. Eu suportei ser punido pelos pecados de outras pessoas, pessoas que eu não conhecia, pessoas que quebraram aquele homem de maneiras que eu nem podia imaginar. E, sendo honesto, comecei a simpatizar com ele. Ele era um homem ferido e desesperado. E ele estava tentando me destruir para poder punir os que o feriram no passado.

Tão ingênuo… tão ridiculamente ingênuo…

Acho que eu só não tinha forças o suficiente para ficar bravo ou para odiá-lo. Não. Simpatia e compaixão eram mais fáceis e muito menos danosas. Quando eu ainda tinha ilusões de de alguma forma sobreviver e fugir, pensei que era melhor se eu não o odiasse ou buscasse vingança, e em vez disso tentasse seguir com a minha vida da melhor forma possível. E quando parei de acreditar que um dia sairia vivo daquele lugar, ainda não o odiei. Em vez disso… sentia pena dele.

Mas ele nunca saberia disso. Eu mal falava. Até tentava não gritar enquanto ele perfurava e esmagava e queimava e torcia cada parte do meu corpo que ele quisesse. Depois de um tempo, a dor se tornou parte da minha vida, e eu não conseguia mais me lembrar como era viver sem ela.

...e eu pensei em vocês todo dia. Todo. Santo. Dia. E isso me manteve seguindo em frente por um longo tempo.

Mas eu não poderia suportar por muito mais tempo. Meu corpo, se deteriorando rápido e curando devagar, não aguentaria muito mais. Eu iria morrer, e todos os meus esforços seriam em vão. Ele viria atrás de você, e dos outros, e não havia nada que eu pudesse fazer para pará-lo dessa vez. Meu corpo inútil não deixaria. Minha mente inútil aceitava.

Um dia, aquele homem estava diferente. Ele parecia profundamente perturbado e confuso, e andava em círculos em frente à minha cela murmurando para si mesmo. Apenas o observei, em silêncio, e ele parecia quase não perceber minha presença ali. Depois do que pareceu uma eternidade, ele olhou dentro dos meus olhos e disse numa voz baixa.

“Alguém veio. Minha Salvadora… ela… ela não me abandonou…”

Salvadora? Ela? Eu me lembro de ele mencionar um salvador, mas nunca pensei que fosse uma pessoa real, ainda mais uma mulher. Acho que ele conseguiu ler a confusão no meu rosto e, com um tom enojado, continuou falando.

“Ela também quer te ver. Aparentemente ela quer te conhecer e ver se você é adequado ao nosso paraíso. Mas eu sei que você não é. Graças a você o traidor conseguiu escapar, e pessoas que ajudam traidores não tem lugar no paraíso!”

Paraíso…

Rika falava bastante sobre o paraíso. Ela disse que, na sua religião, eles acreditavam que o paraíso era um lindo lugar, cheio de paz e alegria, onde as almas das boas pessoas podiam encontrar descanso depois da morte. Por um momento, aquele pensamento me reconfortou. Eu seria aceito no paraíso depois que morresse? Talvez… talvez eu pudesse fechar meus olhos de vez, apenas para abri-los num lindo campo de flores e sol…

Rika… você está orgulhosa de mim, aí em cima no céu?

Você iria vir me encontrar lá?

Perdido nesses pensamentos, não percebi quando o homem olhou para a porta e se afastou, como se estivesse sendo ordenado a se retirar. Só percebi uma pessoa baixa, vestida num manto luxuoso com um capuz escondendo seu rosto, e permanecendo em silêncio por muito tempo.

“Você é…”, minha voz estava tão fraca… minha garganta estava seca e ferida, e mesmo com os meus melhores esforços todo o som que eu conseguia produzir não passava de um sussurro baixo. “Você é… a Salvadora?”

Sem resposta. Algo parecia fora do lugar. Senti que aquela pessoa me analisava, de alguma forma.

“O homem que estava aqui antes… ele disse que você é a Salvadora dele”, insisti. “Você é?”

“Eu posso ser muitas coisas.” E então, uma voz familiar. Uma voz que pensei vir da minha própria mente. “Saeran me vê como a Salvadora dele, mas sou um mero instrumento. E posso trazer salvação a você também… Yoosung.”

E então, ela tirou o capuz.

Não podia ser. Era… Rika…? Uma Rika diferente, com olhos severos e uma expressão neutra e sem emoções. Mas meus olhos não mentiriam para mim. Era ela. Tinha que ser.

“R-rika…”, foi tudo o que consegui dizer, enquanto tentava sorrir (quando foi a última vez que fiz isso?)

“Serei direta”, ela não me deixou continuar. “Você é um bom rapaz, Yoosung. Posso perdoar seus pecados, e trazê-lo conosco, para o eterno Paraíso. Você pode deixar tudo para trás… sua dor, seu medo… todas as mentiras que lhe contaram a meu respeito, sobre a RFA… sobre V… essas memórias serão destruídas para dar lugar a novas e incríveis memórias.”

Aqueles nomes… parecia uma eternidade desde a última vez que os ouvi. E pensar na RFA me levou a pensar em você outra vez. A pessoa que eu amava. E agora, me ofereciam uma chance de deixar tudo para trás. Era tentador, de fato. Uma chance de deixar a dor para trás, uma chance de acabar com o sofrimento.

“Não.” Era tentador, mas não tentador o suficiente. Deixar tudo para trás significava deixar você para trás. E a sua lembrança era tudo o que me restava. Te deixar para trás significaria deixar a mim mesmo, a melhor parte de mim, e eu não podia deixar isso acontecer. “Desculpe, não posso aceitar sua oferta.”

A expressão dela permaneceu a mesma, mas ela me encarou mais intensamente que antes, como se escolhesse suas próximas palavras. Mas ela permaneceu em silêncio por muito tempo. Eu disse algo errado? Provavelmente…

“É essa a sua escolha, Yoosung? Tem certeza?”

“Sim.” Tentei sorrir de novo. “Não posso ir para o seu Paraíso se isso significar esquecer tudo o que tenho aqui. Simplesmente não posso.”

“Eu estou oferecendo uma chance de salvar sua vida, e sua alma. Você ainda recusa?”

“Sim. Nesse ponto…” tive que parar para tossir, e notei minha mão coberta de sangue. “Nesse ponto acho que não há nada que você possa fazer para me salvar. Mas…”

“Mas…?”

“Posso te pedir um favor?”

Ela não respondeu, e eu decidi pedir de qualquer forma.

“Você poderia por favor… poupar os outros? Sabe… eles são meus amigos, e não tem culpa das mentiras que ouviram. Quero que eles tenham uma chance… Zen… Jaehee… Seven… Jumin… e… e…”

Seu nome. Não consegui dizê-lo. Mas sabia que ela sabia de quem eu estava falando.

“Se você quer alguém para punir… alguém para pagar por qualquer crime deles, não importa quais sejam… use a mim. Mas deixe-os em paz. Todos eles.”

Mais silêncio. Ela estava pensando no assunto?

“Saeran”, ela chamou em voz alta. “Venha aqui.”

Ele voltou. Então o nome dele era Saeran. Ele parecia magoado, mas permaneceu em silêncio. Era óbvio que ele não concordava em me deixar falar com ela.

“Acabe com ele.” A voz dela estava despida de emoção. “Seu joguinho já não tem mais sentido. Volte para nós, Saeran. Podemos recomeçar.”

Meu coração parou por um instante. Então ia acabar daquele jeito? Ela nem sequer me daria uma resposta?

“E mais uma coisa”, ela adicionou. “Deixa a RFA em paz. Eles estão neutralizados e não podem nos causar nenhum mal. Quando você voltar, começaremos de novo, e continuaremos em direção ao Paraíso. Entendeu?”

“S-sim, minha Salvadora”, a voz dele oscilou. “Farei como diz.”

“E Yoosung… feliz aniversário. E adeus.” E foi embora, sem me dar um segundo olhar. Então era meu aniversário, e ela se lembrou. Por alguma razão, aquilo me deixou feliz por um segundo. Ainda era Rika, mesmo que estivesse diferente. Ainda era ela.

E então, finalmente consegui organizar meus pensamentos.

Eu iria morrer, afinal. Não lenta e dolorosamente, mas rapidamente. Eu iria morrer.

Mas eles estariam seguros, no fim das contas. Você estaria segura. E sabendo disso, eu podia partir sem arrependimentos.

“Seu aniversário, eh?” Saeran recuperou sua compostura e debochou de mim. “Parece que nossa Salvadora decidiu te dar um presente. Não se preocupe, manterei minha promessa. Eu sou leal, afinal, não um cretino traidor como alguns dos seus amigos tão preciosos da RFA. Venha. Vamos dar uma volta.”

Ele abriu minha cela e me puxou escada acima. Era difícil andar, difícil ficar de pé. Sentia que minhas pernas iriam parar de me obedecer a qualquer momento. Mas, para aqueles últimos passos, eu precisava permanecer tão forte quanto possível. Se eu estava prestes a encarar meu próprio fim, eu o faria nas minhas próprias pernas. Mesmo que elas já não tivessem nenhuma força, teriam que me carregar mais um pouquinho.

...

Eu tinha 21 anos quando morri.

Era meu aniversário.

A luz do sol machucou meus olhos. A grama molhada acariciou meus pés. O vento frio envolveu meu corpo.

E, nestes 21 anos de vida, nada me fez mais feliz e mais orgulhoso que aquele momento. Sempre quis amar tanto alguém que a vida dela seria mais importante que a minha. Sempre quis viver e morrer por alguém, atar meu próprio destino ao de alguém. E aqueles 10 dias que passei com você me proporcionaram isso. Eu estava feliz que pude experimentar o que era o amor antes do fim, e feliz que pude fazer algo, no fim, que a deixasse segura.

Meu único arrependimento é não ter perguntado seu nome, ou te visto em pessoa pelo menos uma vez. Mas a sua imagem que vive em meus sonhos é linda, e eu sei que o seu eu de verdade é tão lindo quanto, ou ainda mais.

Por favor, minha querida. Seja feliz, e fique segura. Não vou ficar bravo se você amar outra pessoa. Mas você sempre terá a melhor parte do meu coração com você, então por favor, trate-a bem. Esta é a parte de mim que vai continuar vivendo, então faça o melhor dela sendo feliz.

Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.

E eu não senti a bala rasgando minha carne e perfurando diretamente o meu coração. Não senti a dor, ou o cansaço, ou o medo, ou nada mais. Eu estava repleto de amor, e amor foi o último pensamento que levei deste mundo.

Vou esperar por você, minha querida. E vou continuar cuidando de você. Onde quer que eu vá, vou continuar olhando por você.

Adeus. Não me esqueça. Eu não vou te esquecer. Jamais.


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