Paradoxos e metáforas escrita por Moonpierre


Capítulo 1
Paradoxos e metáforas


Notas iniciais do capítulo

Olá, uma coisa curta aqui.
Beijos ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723796/chapter/1

Estar sem Júlia, é uma dor a ser suportada. Fico deitado na cama, pensando na personalidade da minha namorada. Lamento a morte dela. Fico soluçando e chorando. Quase entrei numa depressão. 

Por que só passamos a apreciar as coisas, quando as perdemos? Essa estupidez deve ser da natureza humana. É isso que ela teria me dito. 

 Essa semana reflito sobre a personalidade de minha amada, relembrando cada detalhe da garota baixa, com cabelos de coloração azul... consegui, então, reunir alguns paradoxos e alguns traços de sua personalidade.

Estou tentando decorar essa lista.  

Tenho uma crença muito forte. Essa crença é de que, a medida que nos lembramos das coisas ruins que aconteceram... vamos aceitando, e lidando melhor com elas. Por isso não posso ignorar o que sinto. 

Quando ela estiver bem aqui - coloco a mão em meu peito - vou estar pronto para seguir em frente. 

Repito a lista mentalmente de novo: 

1) Ela pensava muito na morte. Essa era uma das suas características mais marcantes. Estar triste ou feliz? Isso não importava, sua personalidade era mórbida de natureza. Irei dar um exemplo que me recordo: num certo dia azul bem claro, ela me confidenciou que aquele era um dia bonito para se morrer. Morreria-se com paz. Acho que isso explica porque gostava tanto daquele quadro horroroso da Ophelia, pintado por John Everett Millais, ou talvez, sua obsessão com o diretor de cinema Tim Burton.

2) Contradizendo o primeiro tópico, era uma garota que gostava de se deitar no sol, e sentir os raios atravessando sua pele. Degustava seu vinho, e suas comidas prediletas, devagar. Sentindo todo o sabor. Apreciava a vida, contudo, possuía uma batalha interna com ela... costumava dizer: "não tenho medo da morte, tenho medo da vida. Só não me suicido porque acredito que tenho uma missão". Que missão era essa? Não sei. Nunca cheguei a perguntar. Só para vocês saberem, não foi desse jeito que ela faleceu. Foi por conta de um motorista bêbado. Sua mente era muito estranha.... percebo agora que relembro esses fatos.  

3) Queria muito ser entendida. Uma de suas frases mais repetidas para mim (seu namorado), é que preferia ser entendida, do que amada. Que o amor, era algo muito belo. Só que preferia ter alguém que a conhecesse de verdade, pois esse era seu tipo de amor preferido. 

4) O paradoxo da terceira é o fato dela não se conseguir se envolver emocionalmente com os outros. Saudades devia ser um vocabulário desconhecido em sua língua. Sempre quando saia de um lugar, dificilmente continuava a conversar com as pessoas que chegou a conhecer. Só pelos seus escritos consegui conhecê-la mais a fundo. Ironicamente, já que eram só metáforas (só que tenho a impressão que ela escrevia justamente para ser conhecida). 

5) Júlia gostava de ser chamada por pessoa. É, desse jeito meio anônimo, sem um descritivo de "garota, mulher, moça, etc". Odiava vestidos com todo seu ser, e se sentia horrível neles. 

6) Muitas vezes ela achava que não devia odiar uma peça de roupa, ou se sentir tão estúpida com uma. Como um trapo de pano podia fazê-la se sentir tão mal? Bem, eu respondia: "Se você se sente mal, não use um!". Suas amigas, entretanto, enchiam a paciência dela falando: "Você deve se vestir melhor!". 

7) Talvez ela se sentisse mais um garoto quando se olhava no espelho, mas não conseguisse se identificar com nada. Nenhum gênero. O que a deixava mais e mais afastada dos outros. Isso é especulação minha, pois sei que minha namorada nunca conta nada para ninguém (nada que possa deixá-los tristes ou sem reação). O "não contar nada" sempre me fascinou. Mistérios, para quem quer ser um detetive... são maravilhosos, apesar do fato de que mesmo depois de seis anos, não sentia que a conhecesse de verdade (isso, admito, era um pouco frustrante).  

8) Ela era bissexual. Sempre admirou o fato de eu não ver a palavra: "ménage" tatuada na testa dela. Outros garotos são por deveras hipócritas, querem transar com duas, mas não deixariam suas namoradas fazerem o mesmo com o sexo oposto. 

9) Sempre tinha alguma crítica a fazer a raça humana. Só que, de alguma forma, não sabia se impor em trabalhos em grupo, nem costumava criticar as pessoas abertamente, mesmo que merecessem. 

10) Gostava de assumir o controle, empurrar as pessoas na parede, beijá-las, e sair andando. Quando homens davam em cima, sua reação era odiá-los extremamente! "Se eu os quisesse, eu mesma iria até lá". Mesmo assim, em certos contextos, ser submissa era até uma boa ideia para ela... em certos contextos (quando desejava, mais do que tudo, sexo com alguém). 

Por conta de todas essas coisas.... 

sinto falta. 

Uma falta visceral que corrói. 

Sei que isso vai passar... uma hora, a dor vai diminuir, (re)leio a frase de Júlia: 

"Morre-se muitas vezes para renascer uma única vez no final". - acho que ela escreveu isso depois que passou por alguns problemas psicológicos. Me lembro bem daqueles tempos nefastos.

A vida é feita de transformações e precisamos ser fortes. 

Coloco minha cabeça no travesseiro e fecho os olhos, tentando adormecer. 

Daqui a pouco... 

vou melhorar. 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!