Os meses seguintes passaram-se voando e quando menos esperei já estávamos nas férias. Gale, assim como previ, veio falar comigo inúmeras vezes tentando me fazer mudar de ideia, mas todas suas tentativas foram em vão e com o tempo ele acabou aceitando, e disse que estaria me esperando com todo seu amor. Confesso que chorei bastante naquele dia lembrando-me de tudo que já havíamos vivido juntos e comecei a me questionar se aquela decisão era mesmo a certa a se tomar. Mas então o sorriso e os olhos de Peeta vieram em minha mente e qualquer questionamento relacionado à minha decisão se dissipavam como poeira ao vento.

Depois de Peeta ter salvado a vida de minha patinha ele passou a ser praticamente da família. Meus pais o amavam como se fosse um filho e Prim o tratava como um irmão mais velho, ele estava sempre por perto cuidando dela, era incrível a conexão dos dois. E quanto a mim, cada dia que passava só aumentava mais a certeza de minha paixão por ele. Tudo o que ele fazia me encantava, e isso ia de pequenos a grandes gestos. Só precisei o observar um pouco para saber que ele odiava açúcar no chá, sempre dava dois nós nos cadarços e sua cor preferida era a do por do sol.

Nesses meses que se sucederam nos tornamos muito mais próximos. Ele cumpriu a promessa de me ensinar a andar de moto e aquelas aulas se tornaram a parte mais feliz de meus dias. Quase todas as noites nos reuníamos - ou na casa dele ou na minha - para assistir alguns filmes, ou então simplesmente ficávamos deitados no telhado conversando e observando as estrelas. Cada minuto, cada segundo que passava ao lado dele eu me sentia completa, feliz. Ao lado dele sentia como se todas as coisas estivessem em seus devidos lugares, a vida parecia uma constante mesclagem de coris, as músicas passaram a ser mais suaves e tranquilas. Estávamos vivendo muitos momentos juntos, e em alguns desses momentos me via sentindo uma vontade louca de sentir seus lábios nos meus, saber qual era o gosto de sua boca, saber se seus lábios eram realmente tão macios como pareciam, mas sempre me repreendia, mesmo tendo pedido um tempo a Gale, ainda éramos namorados. Seria errado beijar outro, mas aquela vontade estava me deixando completamente maluca, já tinha até perdido a conta de quantas músicas já havia composto pensando nele, em seus olhos azuis, em seu passado tão misterioso. Peeta estava ocupando cem por cento de meus pensamentos, ele estava mexendo comigo de uma maneira tão forte, tão intensa que chegava a me assustar.

— Você está linda filha. — diz minha mãe me tirando de meus pensamentos. Ela estava me encarando através do meu reflexo no espelho.

Estava terminando de me arrumar para um luau que meus amigos organizaram para comemorar nossa última semana de férias. Meu rosto continha uma maquiagem leve, meus cabelos estavam soltos caindo em ondas sobre meus ombros, quanto a minha roupa, estava vestindo um vestido longo e branco. Simples, porem bonito.

— Você acha mesmo? — pergunto virando-me de frente pra ela que se aproxima de mim.

— Não só acho como tenho certeza. Toma cuidado está bem? Nada de exagerar no álcool. Da última vez que você exagerou na bebida tive que subornar a empregada para lavar seu banheiro. — diz me fazendo gargalhar.

— Pode deixar mãe. A ressaca que fiquei naquele dia não quero sentir nunca mais. — aviso fazendo-a sorri. Escutamos uma buzina de moto e imediatamente sinto meu coração bater mais rápido no peito.

— Deve ser o Peeta. — diz. Dou uma última olhada no espelho e desço indo em direção à porta. Quando abro a mesma vejo Peeta apoiado em sua moto, ele está lindo todo de branco. Quando seus olhos se encontram com os meus ele sorri.

— Divirtam-se. E toma conta da minha filha hein Peeta.

— Pode deixar Clara. — diz sorrindo e nos abraçamos — Você está linda Niss.

— Você também não está nada mal. — falo divertida o fazendo rir, então ele sobe na moto e me ajuda a subir também. Acenamos para minha mãe e Peeta dá partida em direção à praia.

Quando chegamos à mesma já estava lotada, a escola praticamente inteira estava presente. Tinha adolescentes dançando, bebendo, se beijando, estava uma loucura só. Peeta estaciona a moto e descemos indo ao encontro de nossos amigos.

— Finalmente vocês chegaram, já estava pensando que não iam vir mais. — diz Johanna nos abraçando assim como os demais.

— Nossa! Vocês realmente sabem organizar uma festa. Isso aqui está incrível. — diz Peeta encantado com tudo a nossa volta. Tenho que admitir, eu também estava impressionada. Havia um pequeno palco a direita onde um DJ comandava algumas músicas, ao seu lado ficava as barracas com bebidas e comidas, e bem ao centro dá praia estavam todos os jovens dançando como se não houvesse amanhã.

— Vai se acostumando Peeta. Com a gente o nível é top. — declara Finnick nos fazendo rir.

Ficamos os nove ali, conversando, bebendo e dançando. Bom, eu e Peeta decidimos ficar só no suco, ele não podia beber por está pilotando e eu por não querer ficar de ressaca. O DJ começou a tocar umas músicas bem animadas e meus amigos foram para a roda de adolescentes dançando.

— Vamos Peeta. — o chamo enquanto pego em sua mão.

— Pra onde?

— Dançar uê. Como diz o ditado à noite é uma criança e hoje quero me divertir.

Ele me lança um sorriso e seguimos para o centro das pessoas. Começamos a dançar animadamente ao som de uma música eletrônica. Conforme Peeta faziam uns passos eu o acompanhava junto com o pessoal e em poucos minutos estávamos todos dançando em sincronia, estava sendo um momento mágico e muito divertido. Quando a música acabou seguimos em direção as barracas e pegamos nossas bebidas.

— Gente! Isso foi muito maneiro. — diz Madge animada, mas acho que ela estava um pouco bêbada também.

— Verdade. Estávamos todos em sincrônica. — diz Cato.

— Cara isso foi tão gay. — diz Finnick rindo e recebe um soco de Clove.

— Hey! Não fala assim do meu namorado topetudo. — adverte ela enquanto beija Cato e Fannick faz uma careta ao ouvir seu apelido de infância.

— Arg! Você sabe que odeio quando me chamam de topetudo! — fala emburrado.

— E é por isso que eu chamo. Adoro irritar as pessoas. — Clove diz com sorrisinho debochado e Finnick dá língua pra ela.

— Nossa. Como vocês são maduros. — fala Marvel na ironia.

— Falou o que fez birra porque escolhemos os copos vermelhos e não azuis. — rebate Johanna rindo e Marvel revira os olhos. Então eles começam uma pequena discutição sobre maturidade, eu mereço.

— Por que Finnick não gosta que o chamem de topetudo? — Peeta pergunta sussurrando em meu ouvido e sinto todos os pelos de meu corpo se arrepiarem, não sei se é por sua respiração está em meu pescoço ou se é pela brisa gelada que está vindo do mar.

— Porque quando ele tinha 13 anos resolveu deixar o cabelo crescer e fez um topete alegando que as meninas iam amar, mas quando ele chamou uma garota do 7° ano para sair ela rio do topete dele e disse que jamais sairia com um garoto com aquele cabelo. — explico também sussurrando ele da uma leve risadinha.

— Coitado. Agora entendo, ele deve ter ficado traumatizado. — diz e nós dois gargalhamos atraindo a atenção de nossos amigos.

— Do que vocês estão rindo? — pergunta Annie.

— Eu estava contando para o Peeta, porque o Finn não gosta que o chamem de topetudo. — explico e a galera cai na risada.

— VOCÊ O QUÊ?! — ele grita fazendo as gargalhadas de nossos amigos aumentarem, inclusive a de Annie — Até você amor está rindo de mim? — ele faz uma carinha fofa.

— Own desculpa amor, mas eu não resisti. — Annie diz beijando toda a extensão de seu rosto. Ficamos conversando mais um pouco e quando já estamos recuperados, voltamos para o centro das pessoas dançando.

— Vamos lá Peeta. Até minha avozinha faz melhor que isso. — lhe provoco enquanto dançamos.

— Ah é? Espera só um minuto e você vai ver se sua avozinha faz melhor que eu. — diz indo em direção ao DJ, ele fala alguma coisa com ele e volta com um sorriso debochado no rosto, o encaro confusa.

— O que você está aprontando? — pergunto com uma sobrancelha erguida.

— Isso. — ele vai até os meninos e a música para de tocar fazendo todos pararem também, as meninas se aproximam de mim.

— O que está acontecendo? — pergunta-me Madge.

— Não faço a mínima ideia. — digo. Peeta se aproxima junto com os meninos, então as batitas de uma música começa a tocar e eles começam a cantar e dançar.

Esta es una historia sin final
Empezó como un cuento y no acabará
Habla de pasión, en mi profesión
Es donde voy y quien soy

— Se é um desafio que você quer. Um desafio você terá. — digo e me junto com as meninas para cantar a segunda estrofe da música.

Es más fuerte que yo
Si una nota suena en mi interior
Me vuelvo el cantante y la canción
Me vuelvo luna y también sol

Então Peeta me puxa pela mão e começamos a cantar e dançar todos juntos.

Yo solo quiero cantar
Tocar tu alma con mi voz
Yo solo quiero bailar
Dar alas al corazón

Porque la música es vocación, es mi pasión
No es obsesión, es lo que soy

Aahh
La música es mi verdad
Y no voy a engañar

Quando terminamos de cantar e dançar o último trecho da música, Peeta e eu paramos a centímetros um do outro, meus olhos se prendem em seus lábios entre abertos buscando fôlego assim como os meus, sinto sua respiração quente e inebriante tocar minha face. Ergo meus olhos e encontro os seus me encarando, seus olhos ficam ainda mais lindos assim tão de perto. Levo minha mão até sua bochecha e a acaricio, tudo o que está em minha volta some, a música, as pessoas dançando. É como se só existíssemos eu e ele ali naquela praia. Aproximo-me mais dele e quando estamos a um passo de nos beijar, ouço palmas bem ao nosso lado. Afasto-me de Peeta um pouco assustada e dou de cara com Gale.

— Já foi correndo para os braços de outro né Katniss? — diz com um sorriso irônico e então volta seus olhos para Peeta — Eu vou acabar com você!

— Gale relaxa. Eu e a Katniss só estávamos dançando. — Peeta tenta explicar.

— Ah Claro! A Katniss prefere muito mais dançar com um merdinha como você do que ação!

— Hey! — protesto. Ele está bêbado, completamente bêbado.

— Só que eu prefiro muito mais ação! — dito isso ele parte para cima de Peeta.

— Para Gale! Para com isso! — digo ficando na frente de Peeta enquanto Cato e Finnick tentam segurá-lo.

— Calma cara. Eu não quero briga. — Peeta fala de forma calma.

— Não quer briga? Que peninha, por que eu quero briga! — fala enquanto tenta se soltar dos meninos que o seguram com mais força.

— Para Gale! — praticamente grito.

— Gale tá maluco moleque?! Calma! — diz Finnick tentando acalma-lo.

— Vocês vão defender o cara agora?! — pergunta revoltado. Sinto meus olhos lacrimejarem, por que ele tem que ser tão babaca assim?

— Katniss, acho melhor a gente sair daqui. — Peeta fala ao ver que não estou bem. Apenas assinto e ele segura minha mão.

— Isso! Foge! Vai como sempre sua covarde! Foge! — fala transtornado.

— Para Gale! Chega! — exclama Cato exasperado.

— Vem Katniss. Vamos. — Peeta sai me puxando pela mão.

— ISSO! VAI, VAI MESMO! ME DEIXA NA MÃO COMO TODO MUNDO FAZ! — mesmo já estando um pouco distante ainda ouço ele gritar. Peeta me entrega uma garrafa d’água enquanto tenta me acalmar.

Mas que merda foi que Gale bebeu?! Ele está praticamente louco! Mais uma vez ele me mostra o quanto imaturo e irresponsável é. Começo a me odiar per ter pensado na hipótese de que, esse tempo que pedi pra ele, pudesse não ter sito a decisão correta. Acabou de vez, não importa o que um dia nós fomos já não dá mais para seguir com ele. O amor que eu sentia por ele, foi morrendo aos poucos com suas burradas. Esse é o fim do nosso namoro, eu até pensei que esse tempo pudesse fazer bem a ele, mas me enganei completamente. Ele nunca vai mudar.

Peeta me leva para um lado mais afastado da praia, onde não da para se ouvir a música do luau ou qualquer outra coisa. Sento-me na areia ao seu lado e fico encarando o mar, ficamos em silencio por alguns minutos.

— Desculpa pelo que Gale acabou de fazer. — peço sem olha-lo nos olhos.

— Katniss você tem que parar de pedir desculpa pelos outros. Gale só fez isso porque está bêbado, magoado e com medo de te perder, ele te ama. — diz enquanto segura meu queixo me fazendo olhar pra ele.

— Eu sei, mas mesmo assim, mais uma vez ele escolheu a pior forma de demonstrar que tem medo de me perder.

— É. Eu sei. — ele suspira enquanto coloca uma mexa de um cabelo atrás da orelha.

— Eu já estou cansada disso Peeta. Eu o amava, mas ele foi matando esse sentimento aos poucos com os ciúmes, desconfianças, com todas essas confusões. Acabou. O Gale que eu conheci há dois anos não existe mais. Eu só quero um pouco de paz, Peeta. — digo não conseguindo mais segurar as lágrimas. Ele prontamente me envolve com seus braços tão acolhedores, tão reconfortantes.

Dói ver que nosso relacionamento acabou dessa maneira. Cheio de conflitos e confusões. Choro por um tempo nos braços de Peeta enquanto ele sussurra palavras de conforto para tentar me acalmar, o que funciona, pois aos poucos meu choro cessa. Mesmo tendo parado de chorar continuo em seus braços, ele faz um carinho tão bom em meus cabelos que simplesmente não consigo sair dali. Mas aos poucos Peeta vai se afastando e sorri para mim, retribuo seu gesto e ele seca os últimos vestígios de lágrimas que se encontram em meu rosto. Ele desvia seus olhos dos meus e começa a encarar o oceano.

— Fazia tanto tempo que eu não vinha a uma praia a noite. — declara — É tão lindo não é? A forma como a lua se reflete no mar, a forma como as estrelas parecem tão mais brilhantes daqui.

— Sim é lindo. Quando eu era pequena eu amava ficar olhando as estrelas. De alguma forma elas me faziam acreditar que todos os meus sonhos se tornariam realidade.

— Essa é uma linda forma de pensar Niss. Sabia que muitas das estrelas que vemos aqui da terra já morreram?

— Serio?— pergunto o encarando surpresa.

— Muito serio. A luz das estrelas distantes demora milhares de anos para chegar a terra. Então mesmo depois de uma estrela ter morrido, ainda é possível ver seu brilho aqui da terra, já que sua luz viajou anos e anos até chegar aqui.  — explica-me.

— Uau! Isso é incrível! — exclamo encantada — É como se elas fossem imortais.

— Verdade. É como se fossem imortais. — ele concorda sorrindo para mim, mesmo não estando abraçados ainda estávamos bem próximos um do outro. E é então que meus olhos se prendem nos seus.

Quando olho em seus olhos é como observar o céu à noite, ou um belo amanhecer. Eles carregam tanta coisa, é como as estrelas antigas. Vejo que ele já evoluiu muito para chegar onde está. Então meus olhos caem sobre seus lábios rosados e aquele louca vontade de beija-lo me consome mais uma vez.

— Peeta... eu estou com muita vontade de fazer uma coisa. — digo quase em um sussurro sem conseguir tirar os olhos de sua boca.

— O quê? — pergunta e me aproximo mais dele.

— Isso. — então o beijo.

De inicio ele pareceu um pouco assustado, mas foi questão de segundos para que retribuísse o beijo. Seus lábios eram muito mais macios do que eu imaginei. Passai minha língua sobre seu lábio inferior e ele prontamente os abriu me dando passagem. Quando minha língua encontrou com a sua, foi como se todo o meu corpo entrasse em chamas, senti cada pelo de meu corpo se arrepiar. Nosso beijo era calmo e delicioso, mas sua boca tinha um gosto tão maravilhoso de uva que me fez intensificar o beijo, e antes o que era calmo passou a ser desesperado e voraz. Se dependesse de mim ficaríamos nos beijando para sempre, mas o maldito ar começou a se fazer necessário e então nos separamos vagarosamente. Colamos nossas testas enquanto buscávamos freneticamente por ar.

— Katniss...

— Shiii. — o interrompo com um selinho — Não precisa falar nada. Eu... eu só precisava muito fazer isso. Precisava saber como era sentir seus lábios nos meus. — digo olhando em seus olhos, percebo que ele está levemente corado o que me faz sorri, ele sorri também e me abraça. Ficamos algum tempo assim, era tão boa a sensação de ter seus braços a minha volta.

— Err... — pigarreia — Acabei de ter uma ideia. — diz enquanto desfaz nosso abraço.

— Qual? — pergunto curiosa enquanto analiso seu rosto.

— Sabe? A noite está tão linda. O mar está tão calmo que pensei...

— Não! — exclamo enquanto me afasto dele já sabendo o que ele queria fazer.

— Ah qual é Niss? É só um mergulhinho. — diz divertido enquanto se aproxima de mim e me levando rapidamente.

— Mergulhinho? Essa água deve estar gelada pra caramba! Sem chances.

— Sinto muito mais você não tem escolha. — diz sorrindo enquanto se põe de pé a minha frente. Preparo-me para correr pra bem longe dele, mas o mesmo é mais rápido e me coloca sobre seus ombros enquanto segue em direção ao mar.

— PEETA! Por favor não! — protesto enquanto me debato em seus ombros e ele ri.

— Deixa de ser molenga Niss.

— Peeta, por favor, por favor, por favor, não. — choramingo mais já é tarde demais, pois ele se joga comigo em seus braços na água nos fazendo mergulhar.

— PEETA A ÁGUA ESTÁ CONGELANDO! — grito quando volto à superfície e ele ri descontroladamente — Para de rir seu idiota! — dou-lhe um tapa no braço.

— Ah Niss. Você tinha que ver sua cara quando entrou em contato com a água. — continua rindo.

— Não estou vendo graça nisso. Agora eu estou com frio e a culpa é sua. — acuso de cara fechada, ele nada até mim e rodeia minha cintura com seus braços.

— Desculpa Niss. Mas não consegui resistir, eu precisava fazer isso. — me abraça e repouso minha cabeça em seu peito, mas o frio estava tanto que comecei a tremer — Vem. Vamos sair daqui antes que você pegue um resfriado.

Saímos do mar gelado e nos sentamos na areia, mas eu continuava tremendo, então Peeta foi até onde a festa estava rolando e voltou com duas toalhas para nos secarmos.

 — Desculpa Katniss, não devia ter feito isso, agora você vai ficar doente por minha culpa. — se lamenta me fazendo sorri por sua preocupação.

— Hey. Não precisa se desculpar, ok? Até que foi divertido. — falo fazendo-o sorri.

Enrolo-me na toalha e fico o observando. Ele tira sua camisa e a torce para tirar o excesso de água, depois começa e se secar e meus olhos se prendem em seu corpo, cada músculo que se contrai conforme ele move os braços. Tenho quase certeza de que estou babando. Mas só então, quando a luz da lua reflete em sua costela direita, que percebo uma outra tatuagem. Começa com um pequeno coração de onde sai ondas de batimentos cardíacos e no final se forma o nome Hope. É uma linda tatuagem, assim como a que ele tem no ombro.

— Você tem belas tatuagens Peeta. — comento atraindo sua atenção.

— Obrigada. — sorri de lado.

— E o que elas significam? — pergunto. Ele termina de se secar e senta-se ao meu lado ainda sem camisa.

— A do meu ombro representa a árvore da vida. — diz e franzo o cenho — Você já ouviu falar sobre ela, não já?

— Humm... Acho que sim... Não sei. Será que você pode me explicar o que ela significa? — pergunto meio envergonhada fazendo-o rir.

— Bom, a árvore da vida é um símbolo sagrado da criação, fecundidade e imortalidade. Ela representa a ligação entre céu, terra e submundo. Suas folhas crescem em direção ao céu, enquanto o seu tronco relaciona-se com a terra. Suas raízes, por fim, encontram-se no submundo. — explica-me calmamente.

— Uau, é muito legal isso. E quanto à tatuagem da costela, o que ela significa?

— Essa vamos deixar para outro dia. — diz enquanto coloca a toalha sobre os ombros. Aproximo-me aos poucos até estar sentada a sua frente.

— Ela tem algo haver com o que te aconteceu nas férias? — pergunto olhando em seus olhos, eles voltaram a ficar tristes novamente.

— Sim.

— Foi algo tão ruim assim?

— Ruim? Quem dera que tivesse sido só ruim. Foi algo terrível Katniss. Algo que me trás pesadelos todas as noites, algo que me deixou completamente destruído por dentro. — fala com angustia.

Aproximo-me dele e o abraço bem apertado, ele retribui ao abraço na mesma intensidade. Como eu ainda estava com frio, seu corpo quentinho me fez trazê-lo mais para perto de mim. Minha vontade era de tirar todos aqueles sentimentos ruins de dentro dele, queria vê-lo sorri, queria ver seus olhos brilharem assim como brilharam naquele dia no Parque, mas enquanto eu não soubesse o que havia acontecido em seu passado não teria como ajudá-lo, a única coisa que podia lhe oferecer eram meus abraços e algumas palavras de conforto. Mas eu queria fazer mais por ele, muito mais.

— Ei, não fica assim. Eu não sei o que aconteceu, mas, eu prometo que vou fazer o possível e o impossível para te ver feliz. — digo olhando em seus olhos, que estavam em um azul escuro refletindo lindamente a noite estrelada.

— Acho uma tarefa meio impossível me ver feliz. — sorri triste — Mas, desde que te conheci, o impossível passou a ser possível. — completa enquanto faz uma leve caricia em minha bochecha, sorrio.

— Desde pequena a música sempre foi uma forma de me fazer feliz. — digo pegando em sua mão que está em meu rosto e entrelaço nossos dedos — Por que você não tenta?

— E que tipo de música você cantava para se sentir feliz? — pergunta em um suspiro.

— Bom, eu sempre buscava uma música que pudesse representar o que eu estava sentindo, o que eu queria que mudasse. Algo que me fazia sentir livre. — explico a ele que inclina a cabeça um pouco para a esquerda enquanto pensa. Ele fica tão fofinho assim que é quase impossível não sorri.

Imagine there's no heaven  (Imagine que não há paraíso)
It's easy if you try  (É fácil se você tentar)
No hell below us  (Nenhum inferno abaixo de nós)
Above us only Sky  (Acima de nós apenas o céu)
Imagine all the people  (Imagine todas as pessoas)
Living for today  (Vivendo para o hoje)

Meu sorriso se alarga mais ao escutar a música que ele escolheu. Uma de minhas preferidas do John Lennon, lhe acompanho na segunda estrofe.

Imagine there's no countries  (Imagine não haver países)

It isn't hard to do  (Não é difícil de imaginar)

Nothing to kill or die for  (Nada pelo que matar ou morrer)

And no religion tôo  (E nenhuma religião também)

Imagine all the people  (Imagine todas as pessoas)

Living life in peace  (Vivendo a vida em paz)

     You may say, I'm a dreamer  (Você pode dizer que sou um sonhador)

But I'm not the only one  (Mas não sou o único)

I hope someday you'll join us  (Tenho a esperança de que um dia você se junte a nós)

And the world will be as one  (E o mundo será como um só)

— Foi uma ótima escolha de música — digo a ele que sorri de lado — E então? Como você está se sentindo?

— Sinceramente? — pergunta e assinto — Livre. Parece que tirei um peso de meus ombros. Obrigada Niss. — sorri para mim.

— Disponha Sr.Merllark. — faço uma reverência e nós dois rimos. Ficamos conversando por mais um tempo e quando já passava das duas da manhã resolvemos ir embora.

Nos despedimos de nossos amigos, que só pra constar estavam todos muito bêbados, até a Annie, que era a mais certinha do grupo, estava mais bêbada do que a Johanna e aquilo rendeu a mim e a Peeta boas gargalhadas. Vendo todos eles naquele estado, foi inevitável não lembrar-me de Gale e mesmo não querendo, acabei perguntando por ele e Marvel me disse que ele havia ido embora depois da confusão.

E em menos de meia hora Peeta já estava estacionando em frente a minha casa. Despedimos-nos com um beijo na bochecha e cada um seguiu sua direção. Momentos depois já deitada em minha cama o nosso beijo não saia de minha cabeça, seus lábios tão macios sobre os meus me causando todas aquelas sensações. Foi tão maravilhoso que por mim eu o beijaria todos os dias, todos os momentos para sempre.

Mas no que eu estava pensando? Peeta poderia muito bem não sentir o mesmo que eu, afinal de contas, ele não falou nada sobre o beijo, simplesmente agimos como se nada tivesse acontecido. Aquilo fez meu coração se contrair em meu peito, eu estava completamente apaixonada por ele, e não havia nada pior do que gostar de alguém e não ser correspondido. Ai senhor, por que a vida de adolescente tem que ser tão complicada, hein? Rio silenciosamente e fecho meus olhos. Bom, ele pode não estar apaixonado por mim, mas ele sente algo a mais que eu sei, porque ele correspondeu ao beijo com a mesma intensidade que eu o beijei.

Sinto o sono me levando aos poucos e a última imagem que vem em minha mente são olhos perfeitamente azuis.