Heaven escrita por Arya


Capítulo 1
The truth runs wild, like a tear down a cheek


Notas iniciais do capítulo

Tradução do título: A verdade corre solta, como uma lágrima que cai em uma bochecha.

AYO MOÇOS E MOÇAS! ♥
Lá vem mais uma OS minha nesse final de férias q, só de pensar nisso, dói o kokoro. Mas ok... ;-;
Bem, eu não sei muito bem o que falar, mas assim... Eu gostei muito de escrever essa fanfic, então espero mesmo que vocês gostem. ^^'
XOXO
OBS:. Para uma melhor experiência, leia escutando Heaven do Troye. E pra ficar feliz dps, veja o clipe q está mto pfto. No caso, tudo é pfto naquela caralha.



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“Sem perder uma parte de mim, como posso chegar ao céu?
Sem mudar uma parte de mim, como posso chegar ao céu?
Todo meu tempo desperdiçado, sentindo meu coração mal compreendido.
Então, se estou perdendo uma parte de mim, talvez eu não queira o céu."
HEAVEN (TROYE SIVAN)

***

Andando calmamente de volta para casa enquanto fingia prestar atenção em Miyasaka e suas histórias aleatórias, Kazemaru estava nada bem.  Sorria e concordava com as coisas que o loiro ao seu lado falava, torcendo para não ser algo que fosse para negar, enquanto sua mente vagava sem rumo em um labirinto que ele não conseguia sair apenas por uma simples cena que teria que aguentar até chegar à esquina daquela rua.

— Kazemaru! — Miyasaka se jogou na frente do mesmo, o fazendo encarar seus olhos verdes com certa raiva. — Pare de olhar, sério.

— Ok, desculpe.  — sussurrou o mesmo. — Mas...

— Eu sou seu amigo e não o quero ver para baixo por conta de homem. Não sei o que o Endou fez, mas... Não merece que você fique na merda por conta disso. — Miyasaka falou com um sorriso no rosto e Kazemaru abaixou a cabeça, mordendo os lábios. — E eu sempre achei que falaria isso para uma amiga minha, não para você. Enfim, você é mais feminino que a maioria das minhas amigas mesmo.

O azulado deu um breve riso, o socando levemente no ombro e erguendo o olhar, vendo Endou e Natsumi virarem na esquina, assim fez o garoto ficou mais aliviado por não precisar mais aguentar ver os dois daquele jeito. O loiro bateu de leve em suas costas e respirou fundo, dizendo:

— Vamos comer sorvete antes de voltarmos? — perguntou apontando para a sorveteria ao lado deles.

O azulado nem teve tempo de responder, já que o loiro foi o puxando enquanto se perguntava se tinha o de chocolate com menta da última vez que foram lá.

***

Endou abraçou Natsumi quando chegaram a casa dela e a morena colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, abaixando o rosto e o mesmo logo a soltou. O de cabelos castanhos olhou para a esquina, como se esperasse que certo azulado passasse por lá para o ver por um tempo, mas logo voltou a olhar a mesma quando a mesma o chamou.

— Err... Endou. — Natsumi parece levemente nervosa. — Você quer que eu prepare algo para você? Eu vejo que a Aki faz algumas coisas para o Ichinose, então imagino que casais assim façam esse tipo de coisa.

Endou a olhou por um tempo, pensando se aceitava ou não e olhou para o lado, fazendo bico enquanto pensava. Ele estava sem apetite, e ele nem existia quando se tratava da comida da mesma.  No entanto, lembrou-se das palavras de seu pai martelando a sua cabeça, então respirou fundo e sorriu a garota de cabelos castanhos.

Por favor, se não for por Ele, faça por mim.

Ele olhou Natsumi, que fingia desinteresse na resposta dele e, do mesmo modo que ela fingia desinteresse perfeitamente, ele deu o melhor sorriso, fingindo estar animado com a ideia.

— Adoraria! — disse sorrindo como sempre e a garota pegou na mão esquerda do mesmo, o puxando para entrar em casa.

***

Kazemaru sentou-se com Miyasaka em uma mesa da sorveteria, colocando a mochila na cadeira ao lado e, com uma colher, pegando um pouco do sorvete de morango que tinha pegado e comendo. O garoto em sua frente sorria alegremente com seu sorvete de chocolate com menta, manga e pistache. É isso que da quando a sorveteria é a quilo.

— Bom, se quiser me contar o que aconteceu entre vocês dois. — disse. — Juro que não vou culpar o time de futebol. Talvez sim, você sabe que eu ainda tenho ciúme básico da amizade de vocês.

— Não vou negar, mas adoro pessoas com ciúmes. Sinto-me disputado. — brincou e Miyasaka riu, colocando um pouco de sorvete de manga na boca. — Bom, por onde posso começar?

— Antes de você começar, eu quero dizer que, se você estiver com raiva dele, lembre-se da amizade que vocês têm... — Kazemaru o interrompeu.

— Eu e ele éramos namorados, Miyasaka.

O loiro se engasgou com o sorvete de pistache. Kazemaru o deu o portador de guardanapo, onde o menino pegou para tampar a boca e, depois de se recuperar com os olhos lacrimejando de tanto tossir.

— O QUE? — exclamou alto e todos da sorveteria o olharam, mas depois voltaram a prestar atenção em suas vidas. — Você e Endou namoravam? Mas... Vocês conseguem fazer sexo? Tipo, eu acho que, como não temos uma vagina, o único lugar seria pela...

— Nós não fizemos sexo e sim, é esse buraco que usamos. — disse e Miyasaka piscou os olhos, logo voltando a comer.

— Mas o Endou não tinha a família católica? Digo... Por mim tudo de boas tal pessoa ser gay e ter uma religião, mas... O pai do Endou é muito rígido com esse assunto, não acho que ele iria... — o garoto parou no meio da frase e Kazemaru afirmou com a cabeça, pegando um pouco do sorvete que estava derretendo.

— Ele descobriu e surtou. — disse. — Então ameaçou expulsar o Endou de casa, dizendo que ele era nojento e que, se não terminasse comigo, ele não seria mais filho dele. Além disso, falou coisas horríveis sobre Jesus, inferno, pecado, querer se suicidar... E mandou Endou escolher entre eu ou ele.

Miyasaka encarou o sorvete, como se tivesse perdido o apetite e respirou fundo.

— E ele escolheu o pai, obviamente. — disse Miyasaka e Kazemaru concordou. — Por isso que, do nada, ele começou a namorar a Natsumi.

— Ela tinha se declarado para ele um dia antes, mas o mesmo estava planejando de recusar o pedido. Mas então o pai descobriu e, um dia, Endou estava terminando comigo contando essa história toda e começou a namorar a Natsumi, pois o pai soube dos sentimentos dela e o obrigou a aceitar. — contou Kazemaru. — Porque, assim, ele poderia ser curado e perdoado.

— Perdoado pelo o que? — resmungou Miyasaka. — Ninguém precisa ser perdoado por amar.

— Exato. — falou o mesmo, comendo o sorvete calmamente. O dia estava quente, e por isso e pela a falta de apetite de Kazemaru para sorvete de morango naquele momento, o dele estava virando líquido, enquanto o de Miyasaka já estava acabando.  — Mas, infelizmente, não são todos que tem esse pensamento que você tem.

— Eu sei. — Miyasaka falou e Kazemaru o estendeu o sorvete dele. — Obrigado.

Kazemaru passou a mão na cabeça, bagunçando os a franja levemente e logo a ajeitou.

— E a sua mãe? Já sabe?

***

Ao chegar a casa, o de cabelos azuis anunciou na entrada enquanto tirava com a ponta dos pés o sapato, os jogando de qualquer forma na entrada e sorrindo ao ver a mãe aparecendo com o avental e a roupa do trabalho. Mas o sorriso logo se desfez, vendo que a mesma estava meio séria.

Ele andou até a mesma, que fungou levemente e entrou na cozinha novamente, como se o pedisse para segui-la.

— Chegou cedo. — comentou o azulado.

— Qual é o endereço da casa do Mamoru? — perguntou a mesma, verificando a carne que estava fazendo na panela. — Quero falar umas poucas e boas para esse babaca do pai do Mamoru.

— Wow, pera aí, dona da feira! — disse estendendo as mãos fazendo sinal de “paz e amor”. — O que ele fez?

— O que ele fez? Ele deixou uma mensagem para você no correio de voz horrorosa que está me dando ódio! — disse e a mesma desligou o fogão. — Disse para você nunca falar mais com o filho dele, o chamou de vadi... ARG!

— Calma, ficar irritada não vai adiantar de nada. — falou.

— Como posso me acalmar? Olha para o seu rosto! — disse a mulher, passando a mão no rosto do filho. — Você estava sempre feliz, e por algum motivo, nesses dois últimos dias, você fica cada vez mais com cara de choro.  E não vem dizer que é paranoia, Ichirota Kazemaru, pois eu sempre tenho razão.

O azulado passou as mãos na cabeça e respirou fundo.

— Mãe, antes de tudo, eu vou contar algo que você vai se surpreender. — disse e a mulher o entregou a faca de cortar carne que a mesma tinha da cozinha, e o mesmo segurou atrás dele. — Eu sou gay.

A mulher piscou os olhos e cruzou os braços.

—Oh, essa é a surpresa... Era para eu achar que você é hetero? Meu amor, eu estava contando os dias para você sair de Nárnia.  — perguntou confusa. Kazemaru riu de leve. — E é por isso que você está triste?

— Não. — Kazemaru respirou fundo. — Eu namorava o Endou, mas o pai dele descobriu e você, a essa altura, já deve imaginar o que aconteceu.

A mulher o olhou e estendeu a mão, e o garoto a entregou a faca. Ela respirou fundo.

— Eu nunca fui com a cara dele. Chama o meu filho de vadia, o deixa triste, separam um casal tão lindo mesmo que eu preferisse o Endou com o Goenji. — disse e o azulado fechou o rosto. — Ok, desculpa... E como foi à reação da mãe?

— Ela começou a chorar.

— Oh... — a mulher engoliu em seco. A mesma virou para ele e respirou fundo. — Eu estou começando a odiar aquela família.

Kazemaru sentiu a casa ficar quieta, podendo sentir o barulho do ventilador que estava em cima da mesa apontado para a pia, assim refrescando um pouco. Sorriu de leve, pegando uma garrafa de água e bebendo.

E foi nesse momento que o primeiro beijo, todos os abraços, carinhos escondidos, bilhetes secretos na última folha do caderno, os “eu te amo” em leitura labial ou os que sussurrados no esconderijo secreto enquanto se beijavam, como se aquilo fosse salvar a vida um do outro... Parecia que aquilo nunca ia acabar, mas agora, quando a história já teve o seu fim, ainda não tinha caído a ficha.

E simplesmente não podia aceitar.

Ele entendia Endou, afinal era o pai dele ou o namorado secreto de seis meses, mas isso não significa que ele teria que aceitar aquilo. Todas as vezes que passa pelo o Endou, fica esperando um carinho na mão disfarçadamente como ele sempre fazia, mesmo que sabe que ele não vai a tocar.

Passou a mão no rosto, sentindo as lágrimas caírem e começou as secar, no entanto começaram a aumentar mais e mais e... Já era tarde demais para se controlar. Colocou a garrafa de água na pia e cobriu o rosto, deixando-as cair. Sentiu a sua mãe chegar por trás, fazendo carinho nas suas costas e o abraçando e leve, apoiando o rosto em seu ombro.

— Isso, meu querido, jogue tudo para fora.

***

Natsumi subiu em cima do colo de Endou, não parando o beijo enquanto retirava o casaco da escola do menino. Mesmo sabendo que não iam fazer nada, a garota queria ao menos que aquilo fosse marcante e o menino sabia disso.

Abriu os olhou para ajudá-la a retirar o casaco e a envolveu na cintura, beijando-a. Não sentia nada fazendo aquilo, mas tinha que fazer aquilo... Pelo o seu pai, por sua mãe...

Aquilo tinha acabado de se tornar vários motivos idiotas, queria falar tudo para a garota e pedir desculpas, aguentando a menina o mandando mil vezes tomar em um local que nunca vê a luz do dia por ter feito aquilo. Retribuía o beijo dela calmamente, mesmo que não estivesse com nenhuma vontade.

Ela parou por um tempo e Endou abriu os olhos levemente, se lembrando do seu primeiro beijo com certo azulado. Eles estavam no terraço da escola, faltando à aula de geografia pela a primeira vez e com certo cu na mão com medo de serem descobertos e ganharem uma linda advertência. O Mamoru nunca ganhou nenhuma, e dificilmente Kazemaru tenha ganhado uma também.

Eles estavam conversando deitados no chão em sentidos opostos, com uma cabeça do lado da outra. Olhavam para o céu vendo tediosamente as nuvens passando e se perguntando se a aula de geografia estava mais legal do que ficar ali, conversando sobre assuntos que logo acabavam e olhando para o céu. E então Endou chamou Kazemaru virando a cabeça, que também fez isso e acabaram tendo um breve selinho.

E depois dos dois se levantarem assustados, eles trocaram palavras enquanto gaguejavam e, por fim, se encararam, acabando por se beijarem várias e várias vezes  até o sinal da aula de geografia tocar.

Ele tinha que admitir que sentisse uma puta falta do Kazemaru. As cenas de todos os beijos de ambos vinham em sua mente como se fosse uma retrospectiva, e quando Natsumi voltou a beijá-lo, Endou acabou por visualizar o azulado na mesma, o que o fez agir mais intensamente e com mais vontade. No entanto, não foi para sempre: Natsumi e o seu amado eram pessoas diferentes, e isso fazia diferença enorme naquilo.

No meio do beijo, ele sentiu uma leve lágrima caindo de seus olhos. E quando Natsumi reparou, ela parou de beijá-lo na hora, saindo de cima do mesmo e indo para o seu lado. O moreno mordeu os lábios, olhando para frente enquanto escutava a garota perguntar o que houve.

— Eu fiz algo errado? Mordi a sua língua sem querer?

 — Não é isso, não é você. — disse o mesmo, passando as mãos nos olhos tentando parar o choro. — Sou eu. Pode parecer clichê, mas... Sou eu. Eu, que não tiro a merda do Kazemaru da cabeça para os meus pais poderem ser orgulhar de mim.

Natsumi pensou um pouco e, depois de um tempo processando a fala do garoto e pensando em todas as possibilidades daquela frase ser interpretada, a garota sorriu ao mesmo e o entregou um lenço que tinha guardado no bolso. O mesmo não pegou e então a Raimon começou a secar as próprias lágrimas dele com cautela.

— O que tem o Kazemaru?

E Endou contou a história toda para a morena, do início ao fim. Natsumi até que poderia ficar com raiva dele por aquilo que o menino tinha feito, mas ela apenas ignorou aquilo, já que tinha uma história enorme atrás daquilo e que, se ela tivesse na mesma que o Mamoru, ela acabaria tendo o mesmo. Mesmo que fosse uma coisa estúpida que o capitão do time de futebol tinha feito, era compreensível.

— Endou, me escuta. — estalou os dedos querendo que o garoto a olhasse no rosto. Sentou-se em cima da mesa de centro e bateu palma, até o menino a olhar limpando o rosto. — Eu compreendo o que você fez, provavelmente teria surtado e feito o mesmo se o meu pai começasse a chorar dizendo que ele nem me reconhecia mais.

 Ela amarrou o cabelo por ele estar incomodando um pouco em um coque frouxo.

— Mas... Você está feliz em ter escolhido o seu pai? — perguntou.

— Não, mas é o certo. Afinal, ele é o meu pai e eu o amo.

— “Ele é meu pai” não é uma desculpa legal, Endou Mamoru. Darth Vader era pai do Luke e da Leia, e nenhum dos dois era do lado negro da força. — comentou e Endou acabou tendo por concordar. — E você pode amar seu pai. Mas você não está aqui, vivendo nesse mundo, para agradá-lo sendo quem você não é, e sim para ser feliz sendo o que você é. E você não está.

— Eu sinto falta do Kazemaru. — desabafou. — Eu o machuquei profundamente começando a namora-la e, provavelmente, machuquei a você também.

— Eu já disse que está tudo bem. Eu sou a rainha de fazer coisas estúpidas, então sei como é. — ela falou colocando uma mecha solta do coque atrás da orelha. — O fato é que não podemos ser felizes sendo quem não somos. Eu sei que você não é apenas gay, que você é mil e uma coisas além de gay, mas é uma parte de você. É como se você tivesse arrancando as mãos de um pianista.

— Mas é que... — Endou parou. — Meus pais...

— Foda-se seus pais, Endou! Eles não estão lhe fazendo felizes, não entende isso? — ela aumentou o tom de voz. — Sua mãe ficou chorando enquanto seu pai falava que iria te colocar na rua só porque você está apaixonado por alguém? Isso é loucura total, é insano. Olha o seu estado! Aposto que começou a me beijar com vontade porque pensou no Kazemaru, não é?

Endou parou de chorar e sorriu amarelo, e então Natsumi pensou um pouco.

— Eu não sei se fico ofendida com isso ou... Enfim, você é gay, vamos ignorar sua opinião sobre o meu beijo. — ela disse rindo brevemente. — Mas... Você está aqui, soluçando de tanto chorar. Endou, você quase nunca chora, e quando chora é por felicidade. Ver você assim é horrível, e eu não estou falando isso por gostar de você. Isso não é ser felizes, seus pais não estão o fazendo feliz, o que você tem o direito de ser.

— E Ele também não aceita. — Endou falou baixo, apontando para cima.

— Ele queria que nós fôssemos felizes acima de tudo. As pessoas ficam tão loucas querendo que sigam o que diz na Bíblia, e esquecem de que o carinha lá apenas queria que a gente, no final de tudo, fosse feliz. Pelo menos essa é a minha opinião. — falou. — Não tivesse guerra, racismo, desigualdade entre gêneros e ódio ao próximo. Então, mesmo que está escrito que não pode, se isso for o fazer feliz, faça. E se você tiver que perder uma parte de si mesmo por conta disso...

— Então eu talvez não queira o paraíso. — Endou disse. — É uma música.

— Troye Sivan lacra. — Natsumi disse brevemente, batendo no coração.

Endou parou e refletiu por um tempo e a garota deixou, sem fazer mais discursos. Por fim, ele sorriu de leve e pegou o celular, desbloqueando a tela.

— Você acha que ele iria me perdoar? — perguntou.

— Sim. É o KAZEMARU! — disse Natsumi. — Ok, ele é um pouquiiinho rancoroso, mas se ele te ama tanto quanto você o ama... Ele vai perdoar.

— Espero que esteja certa. — sorriu ao mesmo.

— Então... O que vai fazer agora?

Endou sorriu e abraçou a menina, agradecendo-a mil vezes e pedindo desculpas ao mesmo tempo.

— Eu vou ser feliz.

***

Kazemaru olhou Miyasaka com uma cara de desgosto quando ele e a sua mãe planejaram de ambos saírem para tentarem esquecer-se de Endou e dessa confusão toda. Eles olharam o filme em cartaz: “Sing – Quem canta, os males espanta” e se entreolharam, depois olhando o cartaz de Moana.

— Eu quero Moana. — disse Kazemaru.

— Mas você precisa de Sing para espantar os males. — disse Miyasaka puxando o Kazemaru para fila, que colocou as mãos no bolso e fez bico. — Vamos ver Sing.

— Okay... — o mesmo revirou os olhos.

Ele logo sentiu o telefone vibrar, e o garoto pegou o celular no bolso da calça e andou junto com a fila. Ao ver que era uma ligação de Endou, ele olhou Miyasaka, que retribuiu o olhar, e depois deslizou para ignorar a ligação e colocou no bolso novamente. O garoto pegou as duas mãos do mesmo.

— O que está fazendo? — perguntou o azulado.

— Segurando a sua mão para você não atender mais ou ligar para ele. Se Endou o amasse, já teria vindo correndo faz tempo. — disse. — Passou três dias e nada.

Kazemaru não quis defender seu ponto de vista sobre o garoto e apenas concordou, já que a última coisa que quer naquele momento é brigar logo com Miyasaka.

— Eu quero pipoca com manteiga. E não venha reclamar, você já escolheu o filme. — disse mudando de assunto. — E eu quero no pote do Darth Vader.

— Socorro, você vai me levar à falência.

***

— Puta que pariu Kazemaru! — Endou falou correndo na direção da casa do namorado. — Ele consegue ser rancoroso ao extremo.

Ao virar a esquina, freou ao dar de cara com a sua mãe e duas amigas. Olha... Teria sido melhor se ele não tivesse acordado hoje de manhã.

— Oh, filho, o que você está fazendo aqui? Para que tanta pressa? — perguntou a mãe. — A casa da Natsumi e a nossa é para lá.

— E a casa do Kazemaru é daqui a dois quarteirões.  — disse. As duas mulheres ao lado da mãe de Endou se encararam, como se dissesse “ferrou”, e o moreno já imaginava que ela tinha contado para as melhores amigas sobre o filho.

— Endou, seu pai não...

— Mãe, por favor, me coloca para fora de casa, me odeie, chore e tudo mais... Mas eu imploro, não tente mudar uma parte de mim. — disse querendo a tocar no ombro, mas ela se afastou com um olhar de nojo.

— Desculpa. Durma na casa de um dos seus amigos e passe amanhã para pegar suas coisas. — ela falou friamente ao mesmo.

— As coisas não precisam...

— Precisam sim! — ela exclamou. — Você está trocando a sua família por... Por... Por esse ser que você acha que está apaixonado.

— Esse ser se chama Kazemaru, e mesmo que ele seja uma parte do motivo, a outra é o direito de eu poder amar quem eu bem quiser. — Endou disse sorrindo. — Eu não me sinto atraído por mulheres, mãe. Natsumi estava de saia e em cima de mim hoje e eu não senti NADA! Mãe, Natsumi, a garota mais bonita da escola.

— Isso é... Horrível. — ela falou, começando a chorar. — Imagina como ela deve estar se sentindo agora.

— Ela que me convenceu a vir atrás do Kazemaru, e deu até uns pulinhos depois quando eu estava saindo por ter ficado com um gay. — disse.

— “Gay”... — e foi quando a mulher abriu o berreiro. Endou sussurrou um “mãe” passando a mão na cabeça, mas antes que pudesse falar algo, as suas amigas começaram:

— Vamos embora, querida. — disse uma das amigas da mãe, pegando o carrinho de compras dela.

— É. Ele não merece ver você chorar.

E foi nesse momento que a sua mãe deu as costas ao mesmo. Por mais que fosse extremamente doloroso, ele não se arrependia e gostaria que seus pais, futuramente, pudessem o entender.

Voltou a sua corrida, mas logo parou ao olhar para frente do cinema e ver Kazemaru e Miyasaka com as duas mãos dadas na fila, rindo juntos. Uma raiva que não era dele passou por cima do mesmo junto a uma tristeza que, ao mesmo tempo, não era dele, e o garoto ficaram horas e horas vendo o azulado e o loiro de mãos dadas se divertindo, até mesmo quando o loiro abraçou Kazemaru, que retribuiu rindo. E foi quando o loiro o beijou.

Endou virou de costas e decidiu sair dali naquele momento, pegando um rumo qualquer e segurando o choro enquanto mordia o lábio com uma força que não, adivinhem? Não era dele.

Várias ideias passaram em sua mente naquele momento, como a de ir até lá cantando “50 reais”, rastejando implorando por perdão, fazendo o Carnaval antes de Fevereiro ou indo diretamente pedindo para conversar com ele apenas por quinze minutos... E se matar foi, de longe, a mais convincente para ele, digamos assim.

Endou não estava mais nos seus dias alegres de “Vamos jogar futebol, povo!” e de animar qualquer um que passasse na rua. Tinha acabado de ser expulso de casa, o garoto que jurava o amar já estava com outro no cinema e, como a maioria de seus amigos faziam comentários maldosos sobre aquilo que lembra até de Kazemaru ficar irritado, ele tinha medo de perdê-los. Ele não queria voltar na casa da Natsumi, que provavelmente iria tentar ser positiva. No momento, ele queria ficar sozinho e talvez... Fosse uma boa ideia, não?

Esperou o sinal abrir e os carros começarem a passar, olhando para a estrada na espera do momento certo. Ao ver um que estava em alta velocidade e que, provavelmente não ia conseguir parar, o mesmo fez o ato de entrar no meio da pista... Só que foi puxado para a calçada no último momento.

O motorista buzinou e gritou:

— SE QUER MORRER, MORRE SOZINHO, INFELIZ!

Endou olhou para trás, vendo a pessoa mais incomum aparecer: Nagumo Haruya. Ele não o via há muito tempo mesmo, provavelmente a última vez foi na festa do ano passado de aniversário do Hiroto. Ao seu lado estava uma menina alta de cabelos negros, com os olhos castanhos escuros levemente assustados.

— O que você pensa que está fazendo, Endou Mamoru?

***

Sentado em um banco que tinha na outra calçada e na frente de uma floricultura, Nagumo o escutou com a maior calma do mundo, o que é anormal, e a garota ao seu lado ele insistia em dar a mão quando passava algum garoto a olhando era uma ótima ouvinte. Ao terminar, o ruivo respirou fundo e olhou a menina, apontando para Endou.

— Abraça-o, Lori. É um rolinho triste. — disse.

 Lorelai se levantou, indo para o lado de Endou e o abraçando por um tempo, logo o soltando por não ter tanta intimidade. Nagumo pigarreou, passou a mão no cabelo e respirou fundo.

— Acho que da para você dormir em um sofá-cama na minha casa, se quiser. O quarto de hóspedes está em construção, então você iria ficar no sofá-cama até ele ficar pronto. — disse o ruivo. — Endou, eu já tentei me matar. Quis me jogar da torre de Inazuma.

— Vocês são bem positivos. — disse Lori e Nagumo teve que rir de leve.

— Não pelo o mesmo motivo que você, e sim pela a falta de amigos que eu estava no momento. Ninguém falava comigo direito. — disse. — Mas eles me salvaram de fazer uma coisa estúpida. E o motivo deles não falarem comigo era fofo.  Eu ia fazer uma coisa horrível para, no final, aquele ser o motivo deles não estarem nem respondendo as minhas mensagens no whatssap.

Endou respirou fundo, encarando o tênis.

— E olha, se isso servir de consolo... — a garota começou. — Esse tal de Miyasaka Ryo disse que ia se declarar hoje para um garoto, talvez o Kazemaru. Eu faço curso de inglês com ele. Então ele deve ter beijado o garoto de surpresa, como o Nagumo sempre faz comigo.

— É engraçado vê-la confusa. — disse.

— Não é! — exclamou e olhou Endou, que riu de leve de ambos. — Talvez o Kazemaru não tenha gostado do beijo e, quando você virou, ele se separou e começou a dizer que não gostava dele, que ainda o amava e... Esse tipo de coisa digno de novela mexicana.

— De qualquer forma, você não deve tirar a sua vida por isso. Você tem vários amigos e eles vão te apoiar, aposto que vão oferecer tantas casas para você ficar que vai poder fazer sorteio para ver aonde você vai ficar. — disse. — O povo da Raimon te ama, e se eles pararem de falar com você por isso... Então eles nunca foram seus amigos.

— Você não precisa acabar com a sua vida, Endou. Kazemaru não o odeia, seus pais vão o entender e seus amigos vão o ajudar. É só você manter o controle de suas emoções, ok? — perguntou a garota no final, sorrindo.

— Ok. —disse sorrindo.

— Qual é o seu problema? — uma voz masculina falou e os três a olharam na direção que vinha. Como se não bastasse a sua mãe, lá estava o seu pai com a veia da testa pulsando. — Natsumi é uma garota incrível, você tem sorte dela gostar de você.

— Troque o Natsumi por Lorelai e fica o aviso. — disse Lori a Nagumo, que se segurou para não rir, enquanto Endou olhou a mesma.

— Vou aderir essa. — falou e olhou o pai, se levantando. — Eu realmente não quero brigar com você, pai. Eu apenas digo que eu vou o amar para sempre, e que quando você estiver capaz de compreender, ou respeitar, eu sempre estarei disposto a perdoa-lo.

— Que perdoar... O que eu fiz de errado? — perguntou. — Sua mãe disse para passar amanhã e pegar suas coisas, certo?

Endou afirmou.

— Ok, faça isso. E só iremos pagar a você esse último ano no colégio, pois não preciso pagar faculdade nenhuma para um estranho. Então é melhor pegar a bolsa de cem por cento. — disse o homem a Endou, que resmungou baixinho sobre já ter ganhado bolsa de cem por cento, só não o contou porque ele deu uns surtos ao vê-lo beijando Kazemaru.

— Eu vou da na cara dele. — sussurrou Nagumo.

— O que você disse?

— EU DISSE QUE VOU DA NA SUA CARA! — gritou o mesmo se levantando e os outros dois seguraram Nagumo com força.

— Já trocou de... “Macho”?  — ele perguntou olhando de cima para baixo o ruivo e se afastando

— Olha, creio que de todos os shipps que existe nesse universo, Endou e Nagumo não é um dos possíveis! — disse Lori e a menina afagou a cabeça do de olhos amarelos, como se aquilo o acalmasse. — Vamos no acalmar? Vamos? — o mesmo respirou fundo, como se tivesse se controlando. E olha que funcionou? Logo, por fim, Haruya parecia mais calmo.  — Isso...

— Pai... — Endou foi andando atrás dele, e logo o homem virou e bateu em sua cara.

— MAMORU! — gritou alguém do outro lado da rua. Todo mundo se virou, vendo Kazemaru com uma cara de pânico enquanto tentava atravessar.

— Acho que ele não entendeu o recado que eu dei. — disse cruzando os braços. — Tem o mau gênio da mãe.

Endou olhou o garoto atravessando a rua e, assim que ele chegou à altura do mesmo, deu um enorme abraço apertando fechando os olhos, inalando o cheiro do garoto por um bom tempo. Sentiu o menino retribuir o abraço de leve, tocando-o nas costas com delicadeza e depois o abraçando. Pelo os resmungos do pai e da Lori dizendo para alguém que já vai tarde, ele acredita que o pai acabou de ir.

— Me diga que não tem nada com Miyasaka. Que não aceitou o pedido de namoro.

— Como você sabe disso? — perguntou. — Enfim, não importa. É... Não aceitei. Eu acabei de deixá-lo no cinema após uma briga.

— Ótimo. — falou ainda de olhos fechados. Ele se separou por um momento do garoto e encostou a sua testa na dele, abrindo os olhos e o olhando. — Eu não vou mais embora. Nunca mais vou o deixar.

— Mas e a sua família?

— Eu vou torcer para que, no futuro, eles entendam. — disse Endou. — Eu vim para esse mundo para ser feliz sendo o que eu sou, e se eu tiver que perder uma parte de mim... Não vale a pena continuar daquele jeito. E mesmo que seja difícil, eu vou conseguir.

—Eu vi em um seriado que se a vida parecer que não ter esperança de ficar melhor, se preocupe apenas com um dia de cada vez. — Kazemaru engoliu em seco. — Se um dia for muito, então uma hora de cada vez. E se uma hora for muita coisa, um minuto de cada vez.

Endou sorriu abertamente e o azulado fez o mesmo, logo fechando os olhos e apoiando as duas mãos nos ombros do moreno, assim o beijando suavemente. O de cabelos castanhos o abraçou pela a cintura e retribuiu o beijo levemente animado por aquilo.

— Então... Quer um beijo também? Normalmente não somos o que ficam de vela. — escutou Nagumo perguntando a Lori.

— Não estraga o momento deles.

Os dois pararam o beijo para rirem levemente dos dois, ainda abraçados. A partir daquele momento, Endou Mamoru decidiu uma coisa: Não importa se o que ele sente pelo o azulado é errado ou não, ele iria viver cada minuto daquele romance como se fosse o último, o amando cada vez mais.


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Notas finais do capítulo

OBS:. Sabe a coisa do Nagumo tentar suicídio? Então, isso faz com que essa história seja no mesmo universo de uma outra OS minha, Tower. Não sei porque eu fiz isso, essa cena era para ser originalmente o Kidou ao invés do Nagumo, mas aí eu e disse: "Foda-se, vamos colocar o Nagumo". Mas assim... Você não precisa ler essa pra entender Tower ou vice-versa pq são histórias diferentes com pessoas que nem se falam tanto, como visto que o Endou disse: "Na última vez que eu o vi, foi na festa de aniversário do Hiroto do ano passado."
Anyway, apenas pra quem leu ter a confirmação que foi uma referência e... Pra quem não leu, apenas achar que foi algo aleatório mesmo.
E gente, suicídio é sério, ok? Se algum dia você já se sentiu horrível a ponto de pensar nisso, lembre-se que mesmo que a vida de vocês esteja uma merda, a morte não é resposta. E procure conversar com os pais e afins.
E... LOVE WINS NESSA PORRA SIM! u.u

Espero que tenham gostado e até a próxima, preciso continuar fazendo caps de outras fics e atualizar tumblr de algumas.
XOXO



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