Para nós, todo o amor do mundo... escrita por Deby88writer
O dia seguinte amanheceu ensolarado e como prometido, na hora do almoço, Fátima foi até o foodtruck de Victor. O chef a esperava com ingredientes de uma receita, separados numa bancada.
— Chef Victor! Bom dia! Já estou aqui! - anunciou a moça, contente.
— Bom dia Fátima! Que bom que veio! Já preparei tudo para nossa "conversa"! - sorriu Victor, mostrando os ingredientes.
— Uau! Essas coisas são lindas e frescas! - disse a cozinheira, empolgada, como se falasse de flores.
— Gosto da sua animação! Resolvi reservar esses ingredientes para que prepare um de meus pratos...acredito que é uma maneira mais prática para buscar meu ajudante...
— Claro! E o que faremos? - perguntou Fátima, colocando um avental e lavando as mãos.
— Parmentier de canard...É tipo um escondidinho aqui do Brasil...- explicou - Animada?
— Muito! - exclamou - Hoje parece que o dia será maravilhoso! Voltarei a cozinhar, minha irmã estará comigo novamente!
— Que bom! A alegria se reflete no sabor da comida...
Fátima começou a cozinhar passo a passo, seguindo a receita. Às vezes acrescentava algo diferente para imprimir sua personalidade ao prato. Victor ficou impressionado com a habilidade da moça, que nunca estudara gastronomia, mas sabia naturalmente combinar os temperos. Quando tudo estava pronto, sentou-se para experimentar...
— Chegamos na nora da verdade! - brincou.
— Espero que esteja bom!
O chef pegou uma primeira garfada e colocou na boca. Demorou alguns segundos mastigando e sorriu.
— Poxa! Muito bom! Tem certeza que nunca estou gastronomia?
— Tenho! - riu Fátima - Não na teoria, um pouco na prática! Quando sai do orfanato, trabalhei muito tempo em um restaurante. Casei cedo e me mudei. Acabei estudando psicologia, mas sempre gostei de cozinhar...a idéia era também abrir um negócio. Mas me separei e resolvi vir para Doce Horizonte ficar perto da Cecilia... - explicou - Mandei alguns currículos para restaurantes, mas está difícil...
— Considere-se contratada! - anunciou Victor de surpresa.
— Mesmo?! - exclamou a cozinheira, feliz - Prometo que não vou decepciona-lo! Obrigada! Eu começo quando?!
— Quando quiser...mas vamos aproveitar esse feriado que vem aí e você começa na segunda, tudo bem?
— Tudo! - concordou, olhando o relógio - Uou! Preciso buscar minha irmã na rodoviária! Desculpe!
— Vá correndo! Não quero que minha sobrinha continue triste por minha causa! - riu o chef - Quero vocês duas lá em casa amanhã hein... - lembrou, vendo a cara de surpresa de Fátima - A Estefânia me contou sobre a surpresa de vocês...Pode deixar que não contarei nada!
Quando chegou à rodoviária, Fátima correu direto para o desembarque das plataformas. Olhou para os lados, mas não encontrou a irmã. Havia apenas um ônibus estacionado e todos os passageiros já tinham desembarcado. Aproximou-se do motorista...
— Com licença senhor...Sabe se o ônibus das três já chegou? - perguntou.
— Faz tempo senhorita...Acabaram chegando cedo...
— Ok obrigada...- agradeceu Fátima, confusa. Resolveu procurar Cecilia na lanchonete do lugar. Quando chegou, viu a irmã em uma das mesinhas, pedindo um café ao garçom que lhe sorria galante, sem que a, agora ex-noviça, reparasse.
Emocionou-se ao ver Cecilia. Fazia tanto tempo desde que a irmã resolvera seguir a vida religiosa que não se recordava das bonitas madeixas escuras que emolduravam-lhe o rosto e destacavam seus brilhantes olhos azuis. Sempre achara a caçula linda, e particularmente, achava uma pena ela esconder tudo isso. Cecilia sempre fora tímida e reservada, apesar de alegre e doce. Fátima se aproximou e colocou uma de suas mãos na cadeira que ela sentava...
— Achei que nunca mais a veria vestida assim! - exclamou, assustando Cecilia.
— Fátima! - sorriu Cecilia, abraçando a irmã.
— Desculpe meu atraso! Tenho tantas coisas para te contar!
— O que são todas essas coisas? - riu Cecilia - Nem fiquei fora tanto tempo assim...
— Ah maninha! Um dia aqui em Doce Horizonte é como se fosse um mês! Mas primeiro vamos falar de você! - pediu a cozinheira, puxando uma cadeira e pedindo um café - Você está linda! Conte-me tudo! Quando resolveu largar o hábito? Quer dizer! É real isso né?!
— Calma Fátima...- sorriu Cecilia - É sim...Resolvi largar a vida religiosa...Claro que não foi de uma hora para outra e nem uma decisão muito fácil...Mas eu percebi que...que tem outras coisas que quero viver, que como freira eu não conseguiria...são coisas fortes que me desviam desse caminho...Minhas convicções mudaram e eu não podia mais seguir fingindo que tinha feito a escolha certa...Não era justo...nem comigo e nem com o Noviciado...
— Cecilia...- sorriu Fátima, segurando a mão da irmã.
— Mas estou com medo...- declarou a ex-noviça.
— De que?! da Madre Superiora?
— Não...não da Madre...Ela já sabe, foi a primeira a saber...e concordou que essa era a melhor escolha para mim...É medo de...sei lá! Eu nunca vivi outra coisa que não fosse a minha vocação! É tudo novo para mim...
— Fique tranquila que você não está sozinha! Primeira novidade, acabei de arrumar um emprego! - anunciou feliz.
— Jura?! Minha irmã, que notícia boa! Aonde?! - perguntou Cecilia, feliz.
— No foodtruck do Victor. Namorado da Estefânia! Legal né?! Começo na segunda! - declarou. Franziu a testa preocupada quando viu o sorriso da irmã se apagar - O que foi? Não ficou feliz por mim?
— Claro que fiquei! Eu só não sei se é uma boa idéia essa proximidade com a família da Dulce...
— Do Gustavo você quer dizer? Achei que tivesse largado tudo para lutar por isso Cecilia!
— Fátima...eu acho melhor esquecer tudo sabe...o fato de não ser mais uma religiosa não tem nada a ver...eu posso encontrar minha felicidade com outra pessoa e...
— E a Dulce?!
— A Dulce continuará sendo a filha do meu coração, e vou continuar amando essa menina até meu último dia. Quero ficar perto dela para sempre se ela quiser...mas não dessa maneira!
— Acho que está falando isso da boca para fora, mas tudo bem...você já é adulta e sabe o que faz...mas olha só que legal, podemos ver a Dulce amanhã mesmo!
— Eu quero muito ver minha pequena! - alegrou-se Cecilia - Sinto tanta falta dela!
— Ótimo, porque fomos convidadas para o almoço de Páscoa, lá na casa do Victor! - declarou.
— Que? Almoço de Páscoa na casa do Victor? Aah Fátima! Não sei se é uma boa idéia! Não queria me encontrar com o Gustavo e...
— Vai ficar fugindo desse homem para sempre?! Cecilia relaxa...Se você está tão segura assim que pode ser feliz com outra pessoa, não tem porque se preocupar com a presença dele nesse almoço...- provocou Fátima - Além disso, poderá ver a Dulce. Tenho certeza que ficará muito feliz em te ver! Está tão deprimida, tadinha...
— Tudo bem...tudo bem...- rendeu-se a ex-noviça - Se for para ver a alegria no rosto da minha menina...
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