Segundo ato escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 6
Intermissão IV




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POV Ginny

 

Assim que as festas acabaram e a rotina voltou ao normal, ou tão normal quanto podia ser ultimamente, decidi parar de adiar a conclusão inevitável da minha situação com meu ex marido.

Por mais que eu soubesse que esse essa hora iria chegar, o momento decisivo não se torna nem um pouco mais fácil apenas por ser iminente. Para agravar, diferente de quando ele virou as costas e saiu, esse primeiro passo seria meu. E era um primeiro passo que eu nunca imaginei dar.

Os planejamentos para o semestre já haviam começado e com isso eu acabava ficando presa na faculdade algumas horas por dia. Adiei as duas primeiras semanas, mas decidi agir de uma vez numa tarde em que entrei no meu carro ao mesmo tempo em que Hermione me ligou.

—Oi, Mione. - Atendi sem dar a partida no motor, como era minha intenção.

—Tudo bem, Gin?

—Tudo, e você?

—Também.

—Você está em casa? - Perguntei antes que ela dissesse o motivo da ligação.

—Estou, liguei para perguntar se você queria companhia para jantar.

—Quero sim, mas eu vou até aí se você não estiver com visitas.

Ela sabia a quem eu estava me referindo por “visita”, era com certeza o único convidado que ela não se intimidaria em deixar sozinho com o Ron e sair.

—Estou sozinha, o Ron foi jogar bola hoje.

—Então até mais.

Encerrei a ligação e dirigi até lá pelo caminho mais longo, na menor velocidade possível. Não havia da minha parte nenhuma pressa em terminar o que eu ia fazer.

Segui minha cunhada para dentro da casa dela e nos acomodamos no sofá. Ouvi enquanto ela me contava coisas aleatórias e fiz o mesmo, deixando-a à par das poucas novidades da minha vida, e que basicamente incluíam minhas novas turmas na universidade. Decidimos poupar o trabalho de todo mundo e jantar pizza, que era muito mais rápido e nos dava a praticidade de comer no sofá sem nem precisar de talheres.

Quando não havia mais nada que eu pudesse falar além do motivo que me levou até ali, respirei fundo e a chamei.

—Mione…

Seu olhar sério indicava que a tensão na minha voz não foi tão bem disfarçada assim.

—Eu queria te pedir um favor.

—Se eu puder ajudar. - Falou cautelosa.

—Você pode, sim. - Respirei fundo e falei de uma vez. - Da entrada no meu divórcio para mim?

Ela não fez cara de surpresa, nem de decepcionada, só me olhou por um momento, tão séria quanto podia ser, daquele jeito que parecia que estava vendo minha alma.

—Tem certeza, Ginny?

—De novo esse papo, Mione? - Suspirei cansada. - Pra que continuar com isso? Não está fazendo diferença nenhuma além do fato de me fazer mentir toda vez que informo meu estado civil.

—Se você pensa assim. - Deu de ombros, colocando uma azeitona na boca. - Eu só não queria fazer parte disso, sinceramente, entre vocês dois não tenho como escolher quem representar. Desculpe.

Eu já esperava por essa relutância.

—Pode representá-lo, Mione, o Nev me representa. Eu só queria que você desse entrada, porque essa não é a área dele. Além disso, Harry e eu não vamos brigar por nada, eu tenho certeza absoluta.

—Tudo bem, se você diz. Quais os termos?

—O que é justo, vendemos a casa quando ele quiser e dividimos, é o único bem que temos juntos. E vou voltar a usar meu nome de solteira.

—Você adora o Potter.

—É lindo mesmo, mas não faz mais sentido.

Ela me observou por um momento, mas assentiu e deixou o assunto de lado.

Ron chegou minutos depois, todo suado, e tentou a todo custo me dar um abraço apenas para irritar. Depois de muito carinho fraternal demonstrado a gritos de “sai daqui, seu porco”, ele me deixou de lado e tentou fazer o mesmo com a esposa, mas ela apenas disse “nem pensar, Ronald!”, e ele se deteve.

—Bom saber que você manda em casa, Roniquinho. - Provoquei e ele me lançou um gesto obsceno, fazendo nós duas rirmos.

Fiz companhia enquanto ele comia os pedaços restantes da nossa pizza, fazendo piadas e conversando, as pernas apoiadas no colo da esposa. Os dois me acompanharam até o portão, se despediram e acenaram quando entrei no carro e arranquei com o veículo a caminho de casa.

Assim que fechei a porta atrás de mim e fiquei sozinha, não consegui mais adiar o momento de pensar no que agora estava feito. Enquanto era apenas uma intenção, meu divórcio não parecia tão real quanto agora, que já estava oficialmente solicitado e, em breve, em andamento.

Sem paciência para organizações, cruzei a sala com a luz apagada mesmo e joguei a bolsa sobre o sofá. Ignorei a porta do nosso quarto, que ainda parecia me chamar toda vez que eu estava indo me deitar, e entrei no meu. Deixei os sapatos e a roupa que estava usando de lado, tomei um banho quente e relaxante, saí do banheiro e me acomodei sob meu edredom rosa com estampas florais, completamente diferente daqueles que ficavam sobre a nossa cama, a maioria escolhidos por nós dois.

Como todas as vezes em que era impossível deixar essa lembrança de lado, esgotei minha mente de tudo o que ela queria pensar, imaginar e sonhar a respeito do meu ex marido. Fiz planos, o imaginei a um travesseiro de distância, pensei com tanto afinco na mão dele em mim que por um segundo quase a senti, desejei desesperadamente ainda sermos quem já fomos um dia, me permiti chorar um pouquinho para aliviar o aperto que as vezes ainda vinha, embora cada vez com menos frequência.

Tudo isso apenas até dormir, no dia seguinte eu acordei sem nenhum sinal daquilo no meu rosto, exatamente como tinha que ser.

Tomei meu café da manhã sem pressa, trabalhei nos meus planejamentos para as novas disciplinas, tirei um tempo para almoçar com o Nev e passar uma tarde ótima na companhia do meu melhor amigo, no caminho para casa passei no mercado e comprei algumas coisas que faltavam.

Quando cheguei em casa, minha primeira atitude foi ignorar o que havia acontecido no dia anterior e me dar uma noite melhor do que aquela, a começar pelo jantar. Tomei banho, procurei uma receita elaborada na internet e me dediquei pelas próximas duas horas a executá-la com perfeição.

No fim, meu esforço me recompensou com um belo prato, que aumentava minha fome apenas em olhar para ele.

Cortei um pedaço da minha carne e me preparei para colocar na boca, mas a campainha tocando me interrompeu no meio do caminho e eu pousei novamente o garfo no prato, disposta a ver quem era antes de voltar e aproveitar minha refeição sem interrupções.

Estranhei ao ver minha cunhada no portão, não era do nosso feitio visitas com tanta frequência, e a última tinha acontecido no dia anterior.

—Oi, Mione.

—Oi, Gin, não precisa se preocupar, só vim te entregar uma coisa.

Parei ao lado dela na calçada e olhei sem expressão para o envelope. Eu já sabia o que havia ali dentro, mas não queria acreditar.

—Como você me pediu, seu nome de solteira e a casa como bem comum, como você está morando, ele tem poder de decisão sobre a data da venda.

Tirei os papéis dali de dentro e me concentrei na primeira linha.

—Já? - Foi a única coisa que consegui perguntar, mais de um minuto depois e sem conseguir ler uma palavra sequer.

—Essas coisas são rápidas. Agora vocês dois assinam e assim que registrarmos já estarão divorciados e você pode tirar seus novos documentos, com o nome atualizado.

—Obrigada. - Nunca um agradecimento me soou tão vazio, porque eu não estava grata por nada.

—Não por isso. Vou levar os dele assim que puder, quando você assinar é só me devolver que eu mesma entro em contato com o Nev.

—Obrigada. - Respondi com a mesma inexpressividade de antes.

Senti quando ela se inclinou e grudou o rosto no meu, mas não respondi sua despedida. Antes que o carro dela tivesse saído dali, fechei o portão atrás de mim e voltei para dentro de casa com aquela tonelada nas minhas mãos.

Me sentei no sofá sentindo o mundo ao meu redor flutuar, nada parecia estar no lugar certo. Passei os olhos pelas informações vezes suficientes para decorar cada uma das palavras, mas elas me escapavam assim que as lia, tornando a interpretação praticamente impossível.

Depois de minutos na mesma posição, sacudi a cabeça para espantar meu ar letárgico e me coloquei de pé outra vez, afinal eu é que havia pedido por aquilo. A passos largos, atravessei a sala de jantar e entrei no pequeno escritório que raramente era usado. Apoiei os papéis sobre a mesa e puxei uma caneta, quanto antes eu acabasse com isso, melhor seria.

Posicionei minha mão sobre o papel, na linha assinalada com meu nome, mas não consegui assinar. O coração disparou, todos os meus músculos protestaram assiduamente contra aquela ação, e no fim meu corpo todo ganhou do lado racional que dizia que eu devia fazer o contrário.

Coloquei a caneta de volta onde estava e fechei os olhos por um instante, sem saber o que pensar a respeito de mim mesma. Fora que tudo aquilo que eu estava sentindo era patético, isso eu pensava o tempo todo.

Juntei as folhas novamente, todas sem nenhum pingo de tinta de caneta sequer, guardei tudo dentro do mesmo envelope e saí novamente dali. Eu não conseguia me forçar a fazer isso, mas também não precisava fazer agora.

Sem pensar muito no que estava fazendo, bati a mão na maçaneta da porta do nosso quarto e entrei no cômodo em que raramente eu pisava. Era totalmente psicológico, mas toda vez que eu fazia isso, o cheiro dele me invadia por completo tão logo eu dava um passo para dentro.

Abri a porta do armário que antes abrigava todas as roupas masculinas que eu conhecia de cor, disposta a soltar o envelope e todo seu conteúdo ali dentro, mas ironicamente o que vi assim que consegui colocar os olhos no interior do móvel, foi a foto do nosso casamento.

O sorriso radiante, a felicidade estampada no rosto de nós dois e aquela expressão de que aquilo duraria para sempre, me fez soltar uma risada sarcástica.

—Ainda bem que você aproveitou bem esse dia, porque não era nada do que você pensou. - Falei em voz alta para a minha própria imagem retratada.

Joguei o envelope sobre o porta retrato e os fechei ali dentro, saindo do quarto logo em seguida. Quando Mione me informar que já está com os papéis dele assinados, eu assino os meus e entrego.

Voltei à mesa de jantar e me sentei novamente em frente ao meu prato extremamente elaborado para os meus padrões. Agora, no entanto, ele já não me chamava mais tanta atenção e notei que a fome também não estava presente, muito menos a vontade de comer. Levantei da mesa, joguei todo o conteúdo do prato no lixo da cozinha, deixei a louça dentro da pia e fui para o meu quarto fazer a única coisa que eu queria nesse momento: me deitar no escuro e não pensar em nada.

Em breve eu não precisaria mais mentir sobre meu estado civil. Não porque o Harry havia voltado, como intimamente eu ainda desejava, mas porque ele também indicaria que agora estou sozinha.

 

POV Harry

 

A manhã provavelmente já ia alta, mas eu não estava com a menor vontade de sair da cama naquele início quente de sábado. O problema era a pessoa parada do outro lado da minha porta, e que não queria entender que eu estava ignorando de propósito o terceiro toque da campainha.

Vendo que minha visita ainda desconhecida não iria embora, deixei o pequeno lado desperto da minha mente me acordar por inteiro e me levantei, Vesti a calça leve do pijama por cima da cueca e fui até a sala ver quem me chamava. Pelo olho mágico rolei os olhos ao ver Hermione despreocupadamente parada do lado de fora.

—Bom dia. - Ela me saudou com um sorriso assim que abri a porta.

—Bom dia. - Respondi sem disfarçar a cara de sono.

—Seu cabelo está horrível. - Observou enquanto passava por mim.

—Obrigado. Já volto.

Fui até o banheiro, de onde voltei já mais apresentável. Não me preocupei em vestir uma camiseta e me juntei a ela na pequena sala, ocupando o outro assento do pequeno sofá de dois lugares.

—A que devo a honra da visita nesse horário apropriado? - Perguntei interessado, já que além da bolsa ela também carregava um envelope grande.

—Olha, Harry, acho que não é um assunto fácil...

Eu odiava quando Hermione fazia suspense, porque ela sempre falava tudo às claras, o que indicava que rodeios vindos da parte dele nunca eram um bom sinal. Instintivamente, a primeira pessoa que pensei quando a preocupação pela relutância dela surgiu, foi Ginny.

—Aconteceu alguma coisa com alguém? - Perguntei cauteloso, olhando para ela.

—Não, está todo mundo bem.

Suspirei aliviado.

—Só vim te entregar isso. - Me estendeu o envelope branco que estava segurando.

Me encostei no sofá para ver o conteúdo, o que foi ótimo, porque fiquei meio sem rumo quando entendi do que se tratava.

Olhei para a minha amiga com olhos arregalados, num pedido mudo de explicação que ela entendeu imediatamente.

—Ginny me pediu para dar entrada no pedido, mas eu vou te representar.

—E ela?

—O Nev vai representá-la, não é a área dele, mas não acredito que vocês dois irão brigar, então é só formalidade.

Assenti sem dizer nada, sem nem saber o que pensar.

—Como é que as coisas chegaram a isso, Hermione? - Perguntei como se ela tivesse a resposta exata para a minha pergunta.

—Você saiu de casa, Harry, não era isso o que queria? - Não havia ironia na voz dela, apenas dúvida.

—A situação estava insustentável e eu não sabia o que fazer, só sabia que tinha que fazer alguma coisa. Mas isso aqui. - Indiquei os papéis na minha mão. - Com certeza não era o que eu queria.

—E o que você queria, então?

—Uma solução, um milagre, um grito de "não vai", que ela me obrigasse a ficar, qualquer coisa, menos o divórcio, menos me separar definitivamente.

—Você sabe que ela não ia fazer isso.

—Por isso o milagre. - Constatei, apoiando os cotovelos nos joelhos, sem conseguir desviar o olhar daquele amontoado de folhas.

—Não está melhor assim?

—Eu a amo, como poderia estar melhor?

Ela não soube o que dizer por um tempo, apenas apoiou a mão no meu braço em sinal de apoio.

—Desculpe ser eu a te dar a notícia.

Neguei com um aceno antes de responder.

—Obrigado por ter sido você. Ela contrataria outro advogado de qualquer forma, e ninguém mais trataria a situação com tanto tato.

Mione não falou nada enquanto eu lia os detalhes do pedido.

—Se você quiser mudar alguma coisa nas condições, é só me dizer.

—Não tem o que mudar, está muito justo. - Olhei para ela antes de fazer a próxima pergunta. - Ela vai mudar de nome? - A vi concordar com um aceno. - Nenhum resquício mesmo, né?

Quando nos casamos, eu não fazia nenhuma questão de que Ginny adotasse meu sobrenome, mas ela sim, sob o pretexto de que dividiríamos tudo, até meu nome bonito.

—Você já entregou as vias dela?

—Já.

—E como ela reagiu? - A vi abrir a boca para responder, mas a cortei antes de ouvir. - Foi ela que pediu, como ela poderia reagir? Ela já sabia.

—Na verdade ela ficou bem chocada. - Olhei para ela em dúvida. - Não me peça para entender, Harry.

Ri da opinião sincera e ela me acompanhou.

—Eu preciso ir, vou almoçar com o Ron.

—Ta bom, Mione.

—Lê com calma, vê se está tudo certo. Você só precisa assinar e me devolver, o resto é comigo.

—Pode deixar, eu levo pra você.

Ela se levantou e eu fiz o mesmo para acompanhá-la até a porta.

—Se cuida, viu? - Recomendou enquanto me dava um abraço.

—Você também.

—Tchau, Harry.

Fechei a porta assim que ela passou e voltei ao sofá, de onde o pedido de divórcio da minha ex mulher ainda me encarava.

Me sentei onde até então minha melhor amiga estava acomodada e encarei as folhas com os braços cruzados, meus pensamentos um misto de sentimentos e lembranças que não me permitia pensar em nada além de um amontoado de cabelos vermelhos que emolduravam o rosto bonito demais que coloria a minha vida.

Com uma olhada em volta, encontrei minha carteira pousada na mesinha ao lado do sofá. Num movimento que era automático, a abri na divisão exata onde a foto dela estava e me permiti apenas olhar por um instante, sentindo o brilho daquele sorriso tão espontâneo me contagiar um pouco.

—Que porra, Gin. - Resmunguei como se ela pudesse me ouvir.

Com um movimento brusco, fechei a carteira e deixei em cima do móvel novamente. Sem olhar para o assento ao meu lado e o que o enfeitava, voltei ao quarto e me vesti com as primeiras peças de roupa que encontrei pela frente. No caminho até a porta, enfiei a carteira de qualquer jeito no bolso, peguei a chave do carro e saí sem saber direito aonde ir, dando voz à necessidade de ficar o mais longe possível daquela assinatura que enterraria tudo de vez.

Como resultado, tive um dia de merda.

Tomei café numa padaria ruim, visitei o parque municipal cheio de crianças e casais felizes, almocei num fast food barato, fiquei mais tempo que o necessário no banco da praça de alimentação do shopping, jantei pipoca enquanto assistia a um filme de terror no cinema e voltei para o meu apartamento apenas quando já estava com sono.

Não adiantou nada, porque assim que abri a porta a verdade me encarou como um tapa, trazendo novamente aquele nó insuportável na garganta e a vontade gritante de voltar para casa. O impulso eu não podia resolver, mas o nó se dissolveu à medida que as lágrimas caíam disfarçadas sob a água fria do chuveiro.

Meu último pensamento antes de adormecer foi ela: como ela estava, o que estava fazendo, se estava sofrendo também.

O resto do final de semana se arrastou entre fotos no meu celular e a leitura de todos os cartões comemorativos e cartas que Ginny me deu por sete anos, uma atividade mais deprimente que a outra.

À medida que eu lia, no entanto, conseguia entender melhor o motivo que me fez sair de casa: não éramos mais as mesmas pessoas, e não tínhamos a menor ideia de como voltar a ser.

Quando começamos a namorar, ela assinava qualquer coisa que escrevia para mim com um "Sua única", e dizia isso com plena convicção de que era enquanto eu fazia questão de mostrar que tinha razão. Aos poucos algumas coisas foram mudando: ela não deixou de ser a única, mas em algum momento eu parei de demonstrar.

Minha bolsa de trabalho tinha quilos a mais de peso apenas pelo envelope que adicionei antes de sair de casa na manhã de segunda. Talvez um ambiente mais formal e corporativo deixasse menos sentimental a rubrica que eu tinha que fazer naquela linha pontilhada.

Saí de uma reunião no fim da manhã, e aproveitando o silêncio do escritório quase vazio devido ao horário próximo do almoço, me dediquei à tarefa que eu precisava realizar.

Tirei o envelope da bolsa, li o documento todo mais três vezes, apenas para adiar mais um pouco, apoiei o papel sobre a mesa, destampei a caneta e posicionei sobre a linha destinada ao meu nome. Antes de encostar no papel, no entanto, me sobressaltei ao ouvir meu nome:

—Ei, Harry, vamos almoçar? - Helen convidou, em sua habitual voz alta.

Desviei os olhos do que estava fazendo e, num movimento rápido, puxei os papéis e guardei dentro da última gaveta, a que eu nunca abria. Eu não estava com a menor vontade de conversar sobre isso e o melhor seria evitar que ela visse.

—Achei que você já tivesse ido.

—Não, estava em reunião. Aliás, preciso conversar sobre isso com você.

—Vamos, você me fala durante o almoço.

A acomodei pelo caminho necessário até entrarmos no restaurante em frente ao prédio. Enquanto a comida era devorada, opinei no assunto da reunião que ela tinha participado e acenei automaticamente enquanto ela falava sem parar sobre todas as novidades. Eu já tinha desistido há muito tempo de acompanhar o falatório da minha colega de trabalho.

A tarde se estendeu em meio a um amontoado de trabalho que não me deu nenhum tempo livre e exigiu que estendesse meu expediente por minutos além do meu horário de saída.

Enquanto meu notebook se desligava para eu finalmente ir embora, relaxei no encosto da cadeira e passei as mãos no rosto, me sentindo cansado. Guardei o computador na minha bolsa, organizei em seus lugares as coisas espalhadas pela minha mesa e deixei tudo pronto para sair.

Sem ter mais por que adiar, abri a gaveta e encarei o pedido de divórcio de Ginny, ainda aguardando minha assinatura para se concretizar. Eu sabia exatamente o que tinha que fazer, e era uma tarefa fácil, mas não conseguia me forçar a executá-la.

Desistindo de me forçar a isso, fechei a gaveta com força, puxei a alça da bolsa e fui para casa.

Eu não tinha a menor intenção de atrasar ou atrapalhar a vida da minha ex mulher em nenhum sentido, então ela teria o divórcio sem nenhuma relutância, se é isso o que deseja. Mas foi ela que pediu, então que assine primeiro. Quando Hermione me cobrar, dizendo que só falta a minha via, eu assino e entrego.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
E esses dois que não se decidem, hein?
Um não consegue definitivamente soltar o outro, mas também não fazem nada para reatarem ao que era antes.
Ansiosa para saber as opiniões de vocês!
Beijos e até o próximo capítulo